domingo, 7 de junho de 2015

Livro: O Espiritismo Kardecista E Suas Incoerências



“Espiritismo: fraude cativante” (Rafael Gason, ex-espírita convertido à fé evangélica)

1ª Edição: 2014 

Rio de Janeiro/RJ

Pr. Joel Santana 


Copyright©2013 por Joel Santana
Direitos autorais salvaguardados pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro


SANTANA, Joel

O Espiritismo Kardecista e suas Incoerências

Rio de Janeiro/RJ

154 pp – 15cm x 21cm

Data

Religião



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PREÂMBULO



EM QUE CREEM OS KARDECISTAS
       O Espiritismo Kardecista prega a “boa-nova” de que “ninguém será condenado eternamente! Mais cedo ou mais tarde, todos, sem exceção alguma, seremos salvos! Um dia, todos atingiremos a perfeição moral e intelectual, e, então, viveremos felizes para sempre!” E, como alcançar essa tão desejada felicidade eterna com Deus (alvo este que, segundo o Kardecismo, não se atinge sem o nosso concurso, nem tampouco à parte de inúmeras reencarnações), constitui o que podemos chamar de O Evangelho dos Kardecistas, o qual está fundamentado em oito livros. Os adeptos dessa religião fazem ecoar em todos os rincões do mundo, que: “esse ensino não desdenha o sacrifício de Jesus, não colide com a razão, se harmoniza com a justiça de Deus, foi confirmado por espíritos superiores, e se calca nas palavras de Jesus Cristo”. O mentor dessa dogmática, cujo pseudônimo é Allan Kardec, chegou a dizer que “O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa” (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 109 Ed., 1994, p. 47). Porém, nestas linhas questiono o mérito dessas alegações. E o faço à luz da razão pura, sem, sequer, recorrer à Bíblia, como tira-teimas. Realmente, creio que a Bíblia é a infalível Palavra de Deus, mas não me valho dela neste livro. Sim, foge ao escopo deste trabalho, fazer apologias à Bíblia. E uma de minhas razões para isso, reside no fato de que, considerando que por ora me limito a trazer à baila as incoerências kardecianas, então o bom-senso nos basta.

A PROPOSTA DESTE LIVRO
       Nestas linhas questiono o mérito das alegações acima. E o faço à luz da razão pura, sem, sequer, recorrer à Bíblia, como tira-teimas. Realmente, creio que a Bíblia é a infalível Palavra de Deus, mas não me valho dela neste livro, nem lhe faço apologias. Uma de minhas razões para isso, reside no fato de que, considerando que por ora, me limito a trazer à baila as incoerências kardecianas, então o bom-senso nos basta. Sim, embora mui respeitosamente, o livro que você ora lê desmascara essa inverdade, exibindo provas documentais incontestáveis de que a incoerente dogmática kardeciana é diametralmente oposta ao genuíno Cristianismo.

O PORQUÊ DO PLEONASMO NA EPÍGRAFE
       Aos verdadeiros kardecistas parece que a locução “Espiritismo Kardecista” é pleonasmo desnecessário, visto entenderem que “se é Espiritismo, então tem que ser Kardecismo, e vice-versa”. E não é sem qualquer razão que assim argumentam, visto que “Espiritismo” (do francês spiritisme) é vocábulo cunhado pelo mentor do Kardecismo, a fim de denominar a codificação do que hoje conhecemos por este título, a saber, a doutrina espiritista por ele elaborada. Acontece, porém, que na conceituação dos que não são peritos em questões religiosas, “espiritismo” é substantivo comum, aplicável a todas as religiões que evocam espíritos e praticam a mediunidade. Por isso, não é raro os umbandistas, os candomblecistas, os quimbandistas, etc., se identificarem como espíritas. Isto se dá porque poucos sabem que só aos kardecistas cabe a legitimidade moral __ e não legal __ desta designação. Os termos “Espiritismo” e “espírita” são (ou foram) neologismos da autoria daquele que os kardecistas creem ter sido “o primeiro espírita do mundo, o pai do Espiritismo” __ Allan Kardec. Ora, um bom comunicador é aquele que se faz entender aos seus receptores. E é óbvio que eu não atingiria este objetivo, grafando apenas “Kardecismo”, ao intitular esta obra, já que muitos ignoram que se trata duma ramificação do que se conhece por Espiritismo. Também não seria inteligente grafar apenas “Espiritismo”, visto que poucos sabem que só o Kardecismo o é historicamente. Convenhamos, portanto, que certo ou errado, “Espiritismo Kardecista” é nome que o vulgo deu à seita que o seu heresiarca se limitou a chamar de “Espiritismo”. E, como bem o dizem os linguistas, “quem faz a língua é o povo”. Até mesmo o renomado dicionarista Aurélio, define o vocábulo Espiritismo como

Doutrina baseada na crença da sobrevivência da alma e da existência de comunicação, por meio da mediunidade, entre vivos e mortos, entre os espíritos encarnados e os desencarnados.

       Ora, esta certíssima conceituação parece englobar todas as instituições religiosas que praticam a mediunidade, não concedendo ao kardecismo o monopólio da denominação de “Espiritismo” (embora eu reconheça a ambiguidade da definição aureliana). Logo, está justificada a redundância constante do título deste livro. E esta informação é necessária, para que não se pense que este autor não está à altura de desempenhar, a contento, a tarefa a que se propõe, que é a de trazer a lume uma literatura capaz de ponderar o Kardecismo, de cadeira. Eu sei sim o que estou fazendo e não ignoro como devo fazê-lo. Se o leitor perscrutar todo este livro, verá por si mesmo que o presente compêndio é uma hábil circunspeção do Kardecismo.

O QUE NÃO ALVEJO

Ridicularizar os kardecistas
       Não alvejo afrontar e/ou ridicularizar os kardecistas, e sim, estender-lhes a mão amiga, objetivando ajudá-los a saírem do tenebroso labirinto que os confina. Evidências disso, reside no fato de que, em parte alguma deste livro, abro mão das boas maneiras; antes, primo pelo eufemismo e outros galanteios, embora Allan Kardec não tenha agido com a mesma lisura. Sim, ele comparou os evangélicos com os demônios. Contudo, não pagarei na mesma moeda, tachando Kardec e seus discípulos de demônios, pois estou seguro de que posso atingir o meu alvo __ que é levar a luz do verdadeiro Evangelho a todos, inclusive aos kardecistas __ sem descer a essa rispidez. Até porque o revanchismo nunca foi atitude digna de um cristão. É, pois, com boas maneiras, gentilezas, galantarias, muito amor e não pouco respeito, que exponho aqui o que penso do Kardecismo. Creio que se em algum ponto deste livro, eu tachasse os kardecistas de demônios, nenhuma pessoa inteligente e decente deveria gastar o seu precioso tempo lendo este compêndio. E se o leitor duvida que Kardec tenha sido tão atrevido, terminará dando as mãos à palmatória, se me conferir a generosa honra de ler esta obra do prólogo ao epílogo, pois exibirei a prova documental desta ousada declaração.

Condenar o Kardecismo
       Não devo, não posso e nem quero condenar o Kardecismo ou qualquer outra religião, pois, felizmente, existe no Brasil a liberdade de culto. Logo, por aqui, a liberdade de consciência não é só moral, mas legal também. Com efeito, há, na nossa querida Pátria, a liberdade de expressão, contanto que não se falte com a verdade e o devido respeito à pessoa (física ou jurídica) a que se refere. E folgo com estas conquistas! Quão bom é podermos agir de acordo com os ditames da nossa consciência, quer abraçando ou rechaçando esta ou àquela ideia! Não aspiro, pois, ressuscitar a famigerada “Santa” Inquisição, violentando a consciência de quem quer que seja; antes, anelo que o bom senso prevaleça. E até oro ao Senhor para que Ele, servindo-se deste singelo trabalho, arranque do kardecismo as pessoas bondosas e sinceras que, por não saberem que o Novo Testamento veio para ficar (2Co 3.11; Hb 13.20; Jd 3; Ap 2. 25), abraçaram o que chamam de Terceira Revelação de Deus à Humanidade -- o Kardecismo. Este é obra do já mencionado, Allan Kardec. Este criptônimo decorre do fato de que, segundo Kardec, um espírito lhe disse que “numa precedente existência” (isto é, numa das encarnações anteriores à daquele momento), este era o seu nome.

 

O QUE ALVEJO
       Empreendo prestar um serviço a Deus, à Sua Igreja, bem como aos que desconhecem a eficácia do sangue que Cristo verteu na cruz do Calvário. É, pois, imbuído destes nobres sentimentos que estendo a mão amiga aos kardecistas! Porém saliento desde já, que neste livro, mesclo amor e respeito com ousadia, coragem e franqueza. E tudo isso porque quero morar no Céu com os meus caros e respeitáveis leitores.
       Embora o revanchismo não seja o motor dos verdadeiros cristãos, o fato de Kardec tachar a mim e aos meus irmãos de demônios, somado ao fato de que seus ensinos são perniciosos às nossas almas, me conferem bons motivos para vindicar o meu direito de treplicar as suas réplicas à fé evangélica, da qual sou adepto com galhardia. Logo, sou impulsionado por três eixos propulsores: o direito de defesa que me assiste; o amor a Cristo, que jaz encerrado no meu peito (2Co 5.14); e o anelo pela libertação das almas sedentas de salvação, as quais levaram gato por lebre, isto é, o Espiritismo por Cristianismo.

MEU ÚNICO TEMA
       Embora, popularmente, o vocábulo Espiritismo designe todas as confissões religiosas que se comunicam com espíritos, evocando-os, nesta obra concentro minha atenção no Espiritismo Kardecista, não discorrendo sobre as demais ramificações espíritas (Umbanda, Quimbanda, Candomblé ...), senão de passagem.
       Este livro não é um confronto do Kardecismo com a Bíblia. E ajo assim, porque os kardecistas não reconhecem a Bíblia como autoridade; não tendo-a, pois, como regra de fé e prática. Com efeito, limito-me a salientar as incoerências kardecianas e a refutá-las à luz do bom-senso. Eu disse à luz do bom-senso, e não à luz da Bíblia. Sim, com sobejas exibições de fragmentos pinçados da literatura oficial da religião ora posta em xeque neste livro, este autor prova cabalmente que os kardecistas, por serem dignos de respeito, merecem algo melhor do que o Kardecismo. Este é indigno de seus adeptos. E, intuindo estabelecer isso como fato incontestável, exibirei provas cabais de que os livros kardecianos, apresentados ao público ledor como filosóficos, científicos e religiosos, não merecem senão o nosso desdém. Ver-se-á, portanto, através destas páginas, que creditar confiança nos livros da lavra do mentor da seita em lide, não é uma atitude louvável, visto tratar-se de um monturo de contradições. Logo, a fé nos escritos de Kardec não é capaz de sobreviver a um confronto com a razão.

COMO E QUANDO NASCEU O KARDECISMO
       Sob este cabeçalho identifico os progenitores e os genitores do Kardecismo.

Os genitores
       Assistindo às sessões espíritas a que foi convidado, Rivail consultou a diversos espíritos e anotou as respostas de seus consultores. Estes registros, mais alguns argumentos próprios, somados às anotações de alguns de seus amigos, contidas em cinquenta cadernos, se tornaram tão volumosos que ele decidiu publicá-los em forma de livro. Deste modo, em 1857 veio a lume O livro dos espíritos. Este é o primeiro, de um total de 8 livros, a título de codificar o Espiritismo. Então podemos considerar o ano de 1857 como a data de fundação (de fato e não de direito) do Kardecismo.

Irmãs Fox __ eis as progenitoras
       O que levou Kardec a assistir às sessões espíritas e a outros envolvimentos com o Espiritismo? Resposta: Em dezembro de 1847, duas irmãs norte-americanas, Kate Fox e Margaret Fox, de dez e doze anos respectivamente, do Estado de Nova York, U.S.A., disseram que tinham detectado coisas sobrenaturais no interior da casa onde residiam: pancadas em diferentes pontos da casa; cadeiras, mesas e lençóis sendo removidos por mãos invisíveis; e uma mão fria tocando o rosto de uma delas. As ditas meninas teriam então criado uma maneira de se comunicar com o autor de tais fenômenos, o qual teria passado a respondê-las, usando, para tanto, o código previamente combinado: pancadinhas. Os meios de comunicação de massa de então, anunciaram esse ocorrido, o que incrementou a propagação de sessões espíritas por todos os rincões da América do Norte. E as coisas não pararam por aí. Esses fenômenos viraram manchetes na Inglaterra também, e daí, irradiou para outros países da Europa, como, por exemplo, a França. Sessões espíritas, com mesas se movimentando por mãos invisíveis, seguidas de comunicações inteligentes através de códigos previamente estabelecidos entre os consulentes e os invisíveis consultores, tornaram-se comuns em toda a França, vindo a ser a febre daqueles dias. Então, Rivail, atendendo a um convite para comparecer a uma dessas sessões, ficou impressionado com o que viu e ouviu, e quis saber mais. Em decorrência, empreendeu a minuciosa pesquisa supracitada, donde nasceu a doutrina religiosa, ora questionada por este autor.
       Segundo muitos autores, as irmãs Fox se retrataram, confessando que tudo não passava de truques. Veja este exemplo: “Tanto Katie como Magie se retrataram [...] acerca da farsa que engendraram. [...]” (R. R. Soares. Os falsos profetas. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1 ed. 1985, p. 72). E como prova dessa afirmação, Soares cita os seguintes jornais: New York Herald, edições de 24/09/1888 e 10/10/1888; e The World, de 22/10/1888.
       As irmãs Fox falaram a verdade quando se retrataram? Há controvérsia, mas entrar no mérito dessa questão foge ao escopo deste livro. Aliás, não necessito disso para atingir os meus alvos, que são: a) Provar que o Kardecismo é incoerente e, por conseguinte, indigno de crédito. (E o leitor verá que para pensarmos assim, bastar-nos-á o uso da razão); e b) Uma vez provado que o Kardecismo não merece a nossa confiança, sugerir às suas vítimas que troquem Kardec por aquEle que disse: “Eu sou a verdade” __ Jesus.

NÃO SOU CRÍTICO GRATUITO
       À primeira vista, este livro tem por meta criticar o Kardecismo. Mas não é este o caso. A crítica aqui tecida é apenas o caminho a ser palmilhado para atingir a meta, que é ser útil à Igreja, aos kardecistas, aos simpatizantes dessa seita, e, sobretudo, a Deus. Até porque o Kardecismo é tão estapafúrdio que sequer merece minhas críticas. Contudo, por generosidade me dou ao trabalho de refutá-lo, tachando-o de incoerente e provando isso mediante amostras das contradições lavradas nos livros que consignam sua codificação, elaborada pelo seu pensador, que já sabemos ser aquele, cujo pseudônimo é Allan Kardec. E uma dessas discrepâncias é o fato de ele dizer uma coisa num livro, e outra diametralmente oposta, noutro. Há, inclusive, ocorrências de incoerências dentro de um mesmo livro, e até num mesmo parágrafo. Ademais, veremos que essas discrepâncias nem sempre advêm da ignorância (antes fosse), pois demonstrarei que Kardec agia assim maquiavelicamente, como se os fins justificassem os meios. Provo neste livro que Kardec subestimava a inteligência de seus leitores, aos quais mentia descarada e propositalmente. Mas se o respeitável leitor se melindrar por causa destas declarações, e, com efeito, desistir de prosseguir na apreciação desta obra, continuará nessa ilusão até à morte; por outro lado, se você prosseguir na leitura deste trabalho, e se for sincero, verá por si mesmo que este autor, longe de ser um detrator gratuito, questiona a seita em lide não só com muito conhecimento de causa e não pouca franqueza, mas também com respeito e altruísmo. Porém, se você persiste em parar com esta leitura, que pare; mas não se atreva a me retaliar. Aos que alegarem não terem “tempo a perder com o exame deste livro”, parece-me justo sugeri-los que também não o tenham para opô-lo.

EM QUE CONVERGIMOS
       Não ombreio os que dizem que “a suposta mediunidade é hiperestesia ou um fenômeno ainda inexplicável pela Ciência”. Antes, entendo que embora no Espiritismo não haja verdade, há, contudo, realidade, ou seja, os espiritistas, com muita frequência, realmente incorporam espíritos. E estes, por sua vez, de fato impressionam. Logo, não discuto aqui se os espíritas recebem ou não espíritos (este ponto é pacífico entre espíritas e evangélicos).

ASSISTINDO E/OU EQUIPANDO O POVO DE DEUS
       Este livro pretende auxiliar os obreiros de Cristo, no seguinte:

Armando a tropa de Cristo
       Uma de minhas indisfarçáveis finalidades é fornecer mais uma arma aos soldados do SENHOR dos Exércitos (isto é, meus irmãos em Cristo), tornando-os mais hábeis na renhida guerra contra Satã e suas hostes. Por isto empreendi ler a literatura espírita, agindo como espião, entrando no “campo” do Inimigo (Satã), a fim de descobrir onde está o seu “calcanhar de Aquiles” e informar isso aos meus colegas de “caserna”, a saber, os constituintes do Exército de Jeová, de cujo Pelotão sou componente. Logo, narrar o que lá encontrei, é, naturalmente, relevante aos meus “patrícios”, isto é, aos meus co-cidadãos do Céu. Estes sabem que os espíritas são vítimas do engano, querem ajudá-los, mas nem sempre se saem bem quando empreendem expor o Espiritismo segundo o Evangelho às vítimas do Evangelho segundo o espiritismo. Tal se dá porque, não raramente, os reencarnacionistas, além de se escudarem em vários versículos bíblicos isolados de seus respectivos contextos, ainda recorrem a fenômenos deveras intrigantes: paramnésia, crianças-prodígio, desigualdades sociais, exposições feitas em sono hipnótico, etc. Por tudo isso, amiúde encontramos irmãos em Cristo ávidos por maior preparo para evangelizar os adeptos do Espiritismo. E este livro (embora sem a pretensão de esgotar este tema, ou de ser a última palavra sobre este assunto, ou ainda de decifrar todos os enigmas) se ajusta a essa necessidade como uma luva.

Equipando os agropecuaristas do Senhor
       Qual foice nas mãos dos ceifeiros, este humilde trabalho ajudará aos que anelam maior habilidade quanto ao trabalho na Vinha do Senhor, do qual, um é o urgente labor nos campos que já estão brancos para a ceifa (Jo 4.35). Que, também, esta obra os ajude a arrebanhar as ovelhas perdidas, as quais, como presas fáceis dos predadores (Satanás e seus asseclas), vagueiam longe do Redil e distantes do Pastor (Mt 9.35-38).

Norteando os guerreiros
       Este livro é, por assim dizer, o mapa de um dos campos do arque Inimigo das nossas almas; viabilizando, por conseguinte, que os militantes comandados pelo Marechal dos marechais se orientem quanto ao campo de batalha, conhecendo, de antemão, as áreas minadas pelo Adversário.

Equipando os pescadores de almas
       Esta obra pode ser, ainda, comparável a uma bússola e/ou a um sonar, a serviço dos pescadores de almas para o Reino de Deus. Logo, compulsando suas páginas, e com Cristo no barco, partamos à pescaria! (Mt 4.19).

Instrumentar os enfermeiros do Dr. Jesus
       Conhecer as doutrinas erradas das falsas religiões é algo importantíssimo, pois é com veneno de cobra que se fabrica antídoto. E este autor coletou esse veneno quando compulsou a literatura oficial da confissão religiosa ora em análise. Li todos os livros espíritas de Kardec, dois livros de Xico Xavier, e diversas outras obras (livros, revistas, jornais...) alusivas ao tema ora trazido à baila. Com efeito, o presente livro é o antídoto que fabriquei, o qual pode e deve ser levado pelos auxiliares do Médico dos médicos, às vítimas da “Serpente” que, em Adão, nos picou e nos matou no Éden.

ELITE ESPIRITISTA
       Por ser Kardec portador de vasto saber científico e vernacular, compôs seus escritos com uma cadência tal, que impressiona a todos os que o leem. E, como se ao Kardecismo não bastassem os predicados de seu mentor, o tradutor da maior parte das obras desse erudito, para a nossa língua, foi o inteligentíssimo Dr. Guillon Ribeiro, que foi jornalista, engenheiro civil, poliglota, vernaculista, etc. Ribeiro se fez jus aos elogios do famoso jurisconsulto, estadista, orador inflamado e filólogo, a saber, o genial águia de Haia __ Dr. Rui Barbosa. Por tudo isso, os livros de Kardec, publicados pela FEB __ Federação Espírita Brasileira __ , jazem vertidos num português castiço, próprios para a elite social, por ser esta mais escolarizada. (Sim, “português castiço”, pois os pouquíssimos erros nelas existentes devem-se a irrelevantes equívocos de digitação, e não à inabilidade intelectual de Kardec e/ou de seus tradutores). Talvez se deva a essa inegável erudição o fato de que a maioria dos kardecistas praticantes é constituída de pessoas cultas, inteligentes e abastadas. Não é, por conseguinte, sem razão que, a meu ver, o Kardecismo deve sim, integrar ao chamado Alto Espiritismo. E, embora saibamos que o chamado Baixo Espiritismo (Candomblé, Umbanda, Quimbanda, Pajelança, Catimbó, Vodu, entre outros) também tenha adeptos cultos, ricos e famosos, não me parece justo negar que este é mais singelo do que aquele; sendo, por isso mesmo, mais atraente aos menos escolarizados do que a doutrina Kardeciana.
       Às nomenclaturas ”Baixo Espiritismo” e “Alto Espiritismo” não adiro, senão para fins de estudo; visto que, como o leitor verá, as mais diversas modalidades de Espiritismo nada mais são que farinha do mesmo saco. Realmente, o fato de os kardecistas: a) não crerem em Exu e na sua fêmea Pombajira; b) terem os preto-velhos e Zé Pelintra na conta de “Espíritos ainda atrasados”, mais carentes de instrução do que hábeis a ensinar; c) não fazerem “despachos” nas encruzilhadas; d) não desejarem o mal ao próximo; e e) trabalharem com “Espíritos superiores” como “São Luis”, “Santo Agostinho”, “Emanuel”, “André Luis”, etc., e ainda primarem pelo racionalismo, filosofando suas doutrinas, não encanta os que sabem que isso “não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz” (2Co 11.14).

“ESPÍRITA” É DIFERENTE DE “ESPIRITISMO"
       Eu disse acima que as muitas modalidades de Espiritismo nada mais são que farinha do mesmo saco. Porém, não confunda Espiritismo com espírita. Este autor desenha o Espiritismo, não os espíritas. Estes são, neste livro, objetos de amor, compaixão, respeito e justiça. Ademais, tachar todos os kardecistas de farinha do mesmo saco não seria uma generalização inteligente, pois conheço não poucos adeptos dessa crença que deveras são pessoas de brio, sérias, sinceras, generosas, humanas, sensatas, abnegadas, resignadas, altruístas, etc. Posso mesmo asseverar sem medo de errar que o kardecista que não comporta esses adjetivos é um falso kardecista. É o falso dentro do espúrio.

CONSOLADOR PAGINADO?
       Seguindo às orientações de seu Pioneiro, os kardecistas creem que o conteúdo dos oito livros acima mencionados, que constituem a codificação espírita elaborada por Kardec, é o Consolador que Jesus prometera, conforme consta dos capítulos 14-16 do Evangelho Segundo João.

“KARDECISMO” E “ESPIRITISMO”
       Rivail adotou o pseudônimo acima informado, ao publicar em forma de livros a sistematização de suas ideologias espiritualistas, as quais são vistas pelos espíritas como religiosas, filosóficas e científicas. Com efeito, esse corpo de doutrinas recebeu mais tarde o título de Kardecismo; Kardec, porém, limitou-se a intitulá-lo de Espiritismo, sendo ele o neologista deste vocábulo.

ESPÍRITA, ESPIRITISTA E ESPIRITUALISTA
       Espíritas e espiritistas são, segundo o Kardecismo, vocábulos que definem os adeptos do verdadeiro Espiritismo; já a palavra espiritualista, designa os que, embora não sejam materialistas, rejeitam as postulações do Kardecismo, como, por exemplo, a evocação de espíritos, a mediunidade, o dogma da reencarnação, entre outras, como é o caso deste autor. Ou seja, eu e todos os evangélicos somos espiritualistas, na concepção kardeciana. Neste caso, “espiritualista” é antônimo de “materialista”.

DE VOLTA AOS LIVROS DE KARDEC
       Kardec produziu muitos livros e artigos sobre diversos assuntos; mas neste livro, só cito os que ele elaborou visando codificar o Espiritismo. São, ao todo, os oito livros (produzidos originalmente em francês) a seguir relacionados:

1) A gênese
2) A prece segundo o evangelho
3) Obras póstumas
4) O céu e o inferno
5) O evangelho segundo o espiritismo
6) O livro dos espíritos
7) O livro dos médiuns
8) O que é o espiritismo.

NOTAS

Primeira nota
       Ao reportar-me à literatura kardeciana supracitada, não me submeto ao padrão acadêmico de citações, a saber, não anteponho ao título do livro o nome de seu autor, nem posponho o nome da editora e o endereço desta. Limito-me a pospor ao título da obra os dados que me parecem indispensáveis aos que queiram se certificar da autenticidade dos fragmentos pinçados, como, por exemplo, data de edição, número de página, etc. Nem mesmo na Bibliografia sou fiel à ABNT. Tomo a liberdade de fazê-lo. Por tudo isso, julgo indispensável notificar que, salvo outra possível indicação, as citações de Kardec aqui contidas são, sem exceção, extraídas das traduções oficiais do Kardecismo, editadas pela FEB, sediada no Rio de Janeiro/RJ.

Segunda nota:
       Abreviaturas usadas neste livro:
FEB __ Federação Espírita Brasileira; FESP __ Federação Espírita do Estado de São Paulo; ARA __ Almeida Revista e Atualizada (uma das versões da Bíblia traduzida por João Ferreira de Almeida); ARC __ Almeida Revista e Corrigida (uma das versões da Bíblia traduzida por João Ferreira de Almeida).
                                                                               O AUTOR


 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO I

 

OS NAIPES ESPIRITISTAS



       Embora estejamos agora no primeiro capítulo, observo que o mesmo também é preambular, ou seja, nele prosseguirei tomando medidas preliminares, como as que se seguem: a) disserto superficialmente sobre algumas das religiões que também se envolvem com “espíritos dos mortos”, exemplificando assim, que não se deve confundir o Kardecismo com outras instituições que também arrogam a si o título de Espiritismo; b) vindico o direito que me assiste de treplicar as réplicas de Kardec à fé evangélica, da qual sou adepto com galhardia; c) sintetizo as crenças kardecianas, antecipando sumariamente as questões que virão à baila nos capítulos subsequentes...

1.1. DEFININDO O KARDECISMO


O que é o Kardecismo
       O dicionarista Aurélio define o Kardecismo assim: “[...] Doutrina religiosa de Allan Kardec, pensador espírita francês [...]” (Grifo nosso). É, pois, evidente que o Kardecismo é uma ramificação do que hoje conhecemos por Espiritismo.

Data de fundação
       Essa confissão religiosa veio a lume em 18 de abril de 1857. (Tomo por base, não o momento em que essa religião tornou-se pessoa jurídica, mas a data do lançamento do primeiro livro espírita de Kardec, O livro dos espíritos).

Síntese doutrinária
       Prega a mediunidade, a caridade como tábua de salvação, a reencarnação, etc. Esta é considerada necessária à evolução dos espíritos. Estes, através das vicissitudes da vida e das boas obras, podem expiar suas culpas, reparar seu passado e acumular méritos e sabedoria até se tornarem perfeitos em termos morais e intelectuais. Essa anelada perfeição nunca se igualará à de Deus, pois se limitará à perfeição que a criatura comporta. Alcançar a salvação é, na linguagem espírita, atingir essa inevitável perfeição. Digo inevitável perfeição, porque o Kardecismo prega que ninguém será condenado eternamente, considerando que, mais cedo ou mais tarde, todos os espíritos avançarão rumo à perfeição e alcançá-la-ão indubitavelmente. A top model Raica Oliveira, referindo-se ao Kardecismo, do qual é adepta, disse: “Do que mais gosto em minha religião é que sempre temos uma segunda chance” (Época, nº 42413, de 03/07/2006, p. 66. Grifo nosso). Sempre temos uma segunda chance?! Ora, o que sucede à segunda, é a terceira, que, por sua vez, precede a quarta. Logo, essa expressão não está bem articulada; e, portanto, não é nem um pouco filosófica. Contudo, notifico à referida modelo que Deus realmente nos dá uma segunda chance, mediante o Calvário. A primeira chance nos foi dada no Éden; a segunda, no Calvário; e a terceira inexistirá. Sim, enganam-se os que contam com uma terceira oportunidade, ou com chances infindas!
       A revista supracitada observa que Kardec sustentava que a doutrina por ele sistematizada “unia os conhecimentos científico, filosófico e religioso” (Ibid., p. 71). E realmente, isso é doutrina espírita. Entretanto, seria uma displicência de minha parte olvidar de registrar que Kardec fez constar “que o Espiritismo não é da alçada da Ciência” (O livro dos espíritos, 74 ed. p. 29).
       Os kardecistas se consideram cristãos, pois se julgam adeptos da Terceira Revelação de Deus à Humanidade, da qual __ segundo creem __ Jesus falara ao prometer enviar o outro Consolador, conforme consta dos capítulos 14-16 do Evangelho segundo João.
       Embora o Kardecismo pregue que Deus já fez três grandes revelações à Humanidade, sendo o Antigo Testamento a primeira, o Novo Testamento a segunda, e o Kardecismo a terceira, nesta obra empreendo demonstrar que essas reivindicações não resistem a um confronto com o bom-senso. Assim, provarei que essa confissão religiosa, muito longe de ser a alegada Terceira Revelação de Deus, não honra o título de cristã que, injustamente ela arroga a si própria.

1.2. OUTRAS RAMIFICAÇÕES ESPÍRITAS

       Há muitas ramificações espiritistas, e nenhuma delas é, obviamente, igual às demais. Logo, é injusto não reconhecer tais distinções e diferenças. Vejamos, pois, os exemplos a seguir:

1.2.1. Os cultos afro-brasileiros

       Vejamos a seguir alguns dados que me parecem relevantes quanto às religiões oriundas do sincretismo do paganismo africano com o Catolicismo Romano, somados às crenças ameríndias.

Sobre os deuses
Quem são os orixás? Os adeptos dos cultos afro-brasileiros (candomblecistas, umbandistas, quimbandistas...) creem em muitos deuses, aos quais chamam de orixás. Talvez essa afirmação lhe surpreenda, mas os orixás são divindades (deuses) na ótica dos verdadeiros macumbeiros, ou seja, na ótica daqueles que realmente sabem em que creem. Daí, o dicionarista Aurélio definir orixá assim: “[...] Divindade africana [...].” E, como sabemos, quando, em termos religiosos, se afirma que um determinado ser é uma divindade, o que se quer dizer com isso é que o mesmo é uma deidade, ou seja, que é deus. Defino divindade como sendo a essência da natureza divina. Agora, veja as classificações de alguns desses deuses:
Xangô: Este é, segundo se crê, um dos orixás mais poderosos;
Orixalá ou simplesmente Oxalá: Esse espírito é visto pelos umbandistas como o grande Orixá que, geralmente, devido ao sincretismo do paganismo africano (que os escravos importados da África trouxeram para o Brasil) com as doutrinas da Igreja Católica Romana, é confundido com o Senhor Jesus Cristo.
Exu: Esse orixá, segundo o Novo Dicionário Aurélio “representa as potências contrárias ao homem”, isto é, os adeptos dos cultos afro-brasileiros sabem que ele é mau. Ademais, já ouvi alguns ex-candomblecistas dizerem que, antes de se converterem ao Evangelho, elogiavam a esse Orixá mais por temê-lo do que por acreditarem na sua bondade. E realmente, o dicionarista Aurélio afirma que Exu é “[...] assimilado ao Demônio [...] porém cultuado [...] porque o temem (Grifo nosso). Ora, quem estuda o Kardecismo sabe que o mesmo não admite essas crenças.
Iemanjá: Crê-se que essa deusa, cognominada Rainha do Mar, é mãe de quinze Orixás, entre os quais um tal de Ajé-Xalugá (ou Ajé-Xalucá). Esse “é o deus nagô da saúde, da medicina, juntamente com Ajá e Oxambim” (KOOGAN/HOUAISS. Enciclopédia e Dicionário. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1993, p. 920). Pouquíssimos são os que ainda cultuam a Ajé-xalugá e a seus irmãos, mas a deusa que lhes deu à luz tem milhões de adoradores no Brasil e no exterior.
       Os cultos afro-brasileiros são conhecidos por diversos nomes por esse Brasil afora: Catimbó, Pajelança, etc.
       Das muitas maneiras de o leitor se certificar da autenticidade das afirmações constantes deste subcapítulo, uma é consultar um bom dicionário, como, por exemplo, o Novo dicionário Aurélio, para, deste modo, se inteirar dos significados dos seguintes vocábulos: Orixá, Xangô, Orixalá, Oxalá, Candomblé, Quimbanda e Exu.
       Do exposto neste tópico, já se pode divisar uma nítida distinção entre o kardecismo e os cultos afro-brasileiros, também chamados de Baixo Espiritismo.

Cavalos e burros?
       É dificílimo definir as crenças dos adeptos dos cultos afro-brasileiros, visto que, via de regra, eles __ por serem mais práticos do que teóricos __ não têm um corpo de doutrinas definido. Até sobre Exu, há controvérsias entre eles. Por exemplo, entre os candomblecistas (que também cultuam a Exu), não é raro encontrarmos os que dizem que Exu não é um dos orixás, mas apenas seus (dos orixás) serviçais, e que não pode ser incorporado. Os umbandistas, porém, dizem que incorporam Exu. Quem está sendo enganado?
       Sou testemunha ocular de que na Umbanda, os médiuns são chamados de cavalos. Além disso, o Novo Dicionário Aurélio nos informa que uma das definições da palavra possessão é: “Nas religiões afro-brasileiras, ato em que o iniciado ou filho-de-santo recebe o seu orixá, tornando-se o seu cavalo e materializando a divindade” (Grifo nosso). E há registros de que na Quimbanda, os que incorporam os orixás são cognominados de burros (George A. Mather & Larry A. Nichols. Dicionário de religiões, crenças e ocultismo, São Paulo: Editora Vida, 2000, p. 82). Por tudo isso, perguntei certo dia a um adepto da Umbanda sobre o porquê de os espíritos defini-los assim. E ele me respondeu:

Nunca parei pra pensar nisso. Ignoro a razão de ser desses títulos, mas deve haver uma boa explicação pra isso.

       Certo adepto da Umbanda me disse que no seu Terreiro, Exu só faz o bem. Perguntei-lhe então se o Exu que se manifesta no seu Terreiro de Umbanda é o mesmo que faz atrocidades em outros centros espíritas. Ele, respondendo positivamente a esta pergunta, asseverou-me que há um só Exu. Ora, disse-lhe eu, sendo assim, o seu Exu tem dupla personalidade, ou, como se costuma dizer, ele tem duas caras. Aí ele se calou. Contudo, convém notar que o dito umbandista não me pareceu profundo conhecedor do assunto, pois, segundo me consta, a Umbanda admite que há muitos exus:

[...] na Umbanda os exus são [...] vistos como espíritos em estado de evolução [...] (Dicionário de religiões, crenças e ocultismo, op. cit., p. 157. Grifo nosso).

       Como o leitor pode ver, este texto fala da pluralidade dos exus.

1.2.2. O espiritualismo

       Nem todas as instituições religiosas que praticam a mediunidade são reencarnacionistas. Quanto a isso, algumas instituições espíritas, por não serem fundamentalistas, não se posicionam doutrinariamente, deixando seus adeptos bem à vontade. Outras, porém, pronunciam contra. Disse frei Battistini:

...os espíritas da Alemanha, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos, quase em bloco negam a reencarnação

Um famoso espírita, conhecido no mundo todo, [num] congresso internacional ... sobre espiritismo, disse: “posso dizer que a reencarnação tal como tem sido exposta até agora não passa de teoria boba para crianças de escola primária” (Frei Battistini. A Igreja do Deus vivo. Petrópolis: Editora Vozes. 33 ed. 2001, p. 35. Colchetes nossos).

       A esse ramo do Espiritismo, alguns preferem intitular de Espiritualismo, mas a maioria o chama de Espiritismo Inglês, ou ainda de Espiritismo Europeu. Estes títulos se fazem necessários para distingui-lo do kardecismo e outras ramificações espíritistas. Trata-se de um movimento religioso também datado do século XIX, oriundo dos EUA, segundo o qual, ao separar-se do corpo mediante a morte, o espírito não renasce num corpo físico, como o ensinam os reencarnacionistas, e sim, num corpo espiritual (Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, op. cit., pp. 152-153). Stainton Moses foi para esse tipo de espiritismo o que Kardec foi para o Kardecismo. Ele escreveu sob as orientações de dois espíritos, que se identificaram como Kabilla e Imperator.

1.2.3. O Racionalismo Cristão

       Embora o Racionalismo Cristão tenha muitos pontos em comum com o Kardecismo e com os cultos afro-brasileiros, diverge tanto destes como daquele quanto ao que ensina sobre Deus. Veja estes exemplos: a) Os kardecistas creem que há um só Deus e oram e adoram a Ele. Já o Racionalismo Cristão prega que cultuar a Deus é uma atitude tola e ridícula. Confessam textualmente que não adoram a nenhum Deus (Racionalismo Cristão. Centro Redentor, 30 ed., 1976, pp. 53, 55, 63 e 75 [Citado em Série Apologética. São Paulo: ICP - Instituto Cristão de Pesquisas -, vol. IV, 1 ed. 2002, pp. 134-137]); b) Como vimos, os racionalistas cristãos não admitem nenhuma divindade, enquanto os cultos afro-brasileiros não se contentam com um só Deus, prestando culto a diversas deidades africanas, às quais chamam de Orixás.

1.2.4. Sobre a LBV

       A LBV - Legião da Boa Vontade -, fundada oficialmente em 1950 pelo famoso Alziro Zarur, se julga a quarta revelação de Deus (Jesus- A Saga de Alziro Zarur III). Logo, embora essa religião não destoe do Kardecismo quanto à sequência das três primeiras revelações, colide frontalmente com o mesmo quanto à quantidade. Contudo, considerando que os legionários também veem o Kardecismo como a Terceira Revelação de Deus, era de se esperar que essas duas seitas convergissem em vários pontos doutrinários. E, de fato, de ambos se pode dizer que: a) são reencarnacionistas; b) negam que a Bíblia é a Palavra de Deus; c) são unitarianos e, portanto, rejeitam a Doutrina da Trindade, isto é, não creem que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Pessoas distintas, igualmente divinas, constituindo um só Deus. Não admitem, pois, a triunidade de Deus em hipótese alguma; d) não reconhecem como autêntica a fé evangélica sobre a eficácia e eficiência do sangue de Jesus na purificação de pecados; e) não veem o diabo como um anjo decaído e irrecuperável (a LBV prega que o diabo é nosso irmão e que precisamos amá-lo e orar por ele [para se certificar da veracidade desta denúncia, leia o “Poema do Irmão Satanás”, constante de um dos livros da LBV intitulado “Mensagem de Jesus Para os Sobreviventes”, pp. 29-31]), etc. Assim fica claro que os legionários da boa vontade têm muitos pontos em comum com os kardecistas, mas não podemos confundir estes com aqueles, pois são distintos e diferentes. Aliás, basta-nos saber que os adeptos da LBV creem que estão na quarta revelação de Deus, para entendermos que não são kardecistas.
       Outra relevante diferença entre os kardecistas e os legionários da boa vontade é que aqueles creem que o Consolador que Jesus nos prometeu é o Kardecismo, enquanto estes pregam que o Consolador é o senhor José de Paiva Neto, atual sucessor do Zarur na presidência dessa corrente espírita (cf.: José de Paiva Neto, Saga de Alziro Zarur, 10ª edição, p. 88).
                                                    ***
       Volto a registrar que não obstante os quatro exemplos acima expostos (de 1.2.1 a 1.2.4) serem uma acanhada demonstração, certamente deixam claro que revela falta de conhecimento confundir os kardecistas com os macumbeiros e demais espíritas. Como eu já disse, nenhuma das seitas espíritas pode ser confundida com as demais, pois cada uma, de per si, difere das outras, apesar de, em termos espirituais, serem tudo farinha do mesmo saco. Logo, não obstante os tão conhecidos termos “Baixo Espiritismo” e “Alto Espiritismo” serem apenas classificações humanas, são, contudo, necessários para fins de estudo, pois fazem saltar à vista que não é tudo igual, como geralmente pensam muitos dos que ainda não se deram ao trabalho de estudar as religiões.
       Muitos dos que se dizem kardecistas sequer sabem o que estão falando. Por exemplo, conheço “kardecistas” que fazem oferendas a Iemanjá. Logo, o que abordei acima, tem, entre outros, valor cultural.

1.3. É JUSTO CRITICAR O KARDECISMO?

       Tenho boas razões para responder positivamente a esta pergunta, e as exponho a seguir. Sou altruísta. A crítica construtiva é uma demonstração de amor, o que, por si só justifica a sua procedência e lhe confere o direito de, pelo menos, ser apreciada. Tenho um dever. Todos os cristãos autênticos têm o dever de lutar com todas as suas forças em prol da salvação de todo aquele que desconhece o poder do sangue de Jesus (Rm 1.14-15; 1Co 9.16). E, considerando que este é o caso dos kardecistas, aqui estou dando cumprimento à incumbência que, como cristão que sou, trago sobre os ombros. Crítica clássica. Neste livro, nem sempre uso o vocábulo “crítica” na sua moderna, popular e mordaz definição de “retaliação (ou malhação) da vida alheia”. Antes, o uso também na sua conceituação etimológica. Como bem observou a Drª Marilena Chauí,

Em geral julgamos que a palavra “crítica” significa ser do contra, dizer que tudo vai mal, que tudo está errado, que tudo é feio ou desagradável. Crítica é mau humor, coisa de gente chata ou pretensiosa que acha que sabe mais que os outros. Mas não é isso que essa palavra quer dizer.
A palavra “crítica” vem do grego e possui três sentidos principais: 1) capacidade para julgar, discernir e decidir corretamente; 2) exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem pré-julgamento; 3) atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um valor, um costume, um comportamento, uma obra artística ou científica [...]. (Marilena Chaui. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática. 13 ed. 1ª impressão, 2003, p. 18).

       Da transcrição supra se subentende que embora a crítica clássica possa ser tanto aprobativa quanto desaprobativa, nunca é, contudo, sinônimo de retaliação, mau humor, coisa de gente chata e pretensiosa, etc. Logo, elogiar um feito qualquer, é criticá-lo aprobativamente; e o contrário disso __ detratar, refutar, etc. __ é criticar desaprobativamente. O presente trabalho, por exemplo, é uma crítica desaprobativa, mas não passa de um “exame racional [...] sem preconceito e sem pré-julgamento”.
A deixa de Kardec. O próprio Kardec reconheceu o direito de expressão que deve ser assegurado ao indivíduo, porquanto ele também criticava àqueles de quem ele discordava; e com a agravante de às vezes criticar preconceituosamente, isto é, sem conhecimento de causa, qualificando-se, pois, como indigno de crédito, já que ele, longe de qualificar-se como crítico no sentido etimológico desta palavra, não passou de um detrator gratuito.
       Vejamos, pois, a seguir, as citações das provas documentais de que realmente ele também era um crítico:

a) Críticas à Igreja Católica

A Igreja tem caminhado sempre erradamente, não levando em conta os progressos da ciência (O céu e o inferno. 38 ed., capítulo 9, nº 9, p. 123);

Deus a julgou e a reconheceu inapta [...]. [...] a Doutrina Espírita causará dor viva ao papado [...] (Obras póstumas. 26 ed., pp. 310-311);

b) Crítica ao apóstolo Paulo

Todos os escritos posteriores, sem exclusão dos de S. Paulo, são apenas [...] opiniões pessoais, muitas vezes contraditórias [...] (Ibid., pp 121-122. Grifo nosso).

c) Crítica aos materialistas

[...] o materialismo [...] (é) um incentivo para o mal [...] (O evangelho segundo o espiritismo. 109 ed. pp. 47-48. Parênteses nossos).

d) Críticas aos evangélicos
       Kardec tachou os evangélicos de ignorantes e nos comparou com os demônios. Senão, vejamos:

Ignorantes:

Certas pessoas não admitem a prece pelos mortos [...]. Há neste modo de pensar uma ignorância da lei divina [...]. (A prece segundo o evangelho. 44 ed., pp. 58-59. Grifo nosso).

Demônios:

Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra? Se houvesse demônios, seriam obra de Deus. Mas, porventura, Deus seria justo e bom se houvera criado seres destinados eternamente ao mal e a permanecerem eternamente desgraçados? Se há demônios, eles se encontram no mundo inferior em que habitais e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo e que julgam agradá-lo por meio das abominações que praticam em seu nome (O livro dos espíritos. 76 Ed. Primeira parte, capítulo I, nº 131, p. 100. Grifo nosso).

       Das transcrições supra se pode ver nitidamente que o Kardecismo sustenta que os evangélicos são ignorantes quanto à Lei de Deus sobre o verdadeiro estado dos mortos; e que os demônios não existem. Kardec acreditava que os demônios nada mais são que “esses homens [...] que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo [...]”. Isso significa que após negar a existência dos demônios, Kardec, ironicamente, passa a dizer que os demônios realmente existem, e os identifica: São aqueles que creem que os demônios existem, e que afirmam que eles (os demônios) serão eternamente atormentados no fogo do Inferno. Logo, os evangélicos o são, já que cremos que o diabo e os demônios existem, e que arderão no Inferno eternamente. E posso provar que não estou interpretando-o erradamente. Veja que Kardec afirmou que se os demônios existissem e estivessem fadados à desgraça eterna, então Deus não seria bom e justo. Disse ele: “Deus seria justo e bom se houvera criado seres destinados eternamente ao mal e a permanecerem eternamente desgraçados?” Ato contínuo, ele diz que os “que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo” são demônios. Em outras palavras: O diabo e os demônios são aqueles que, por pregarem que eles existem, que são irrecuperáveis, e que serão eternamente desgraçados no Inferno, projetam uma má imagem de Deus, visto que estas declarações equivalem a dizer que Deus é mau. Então, está claro: Eu sou um demônio, pois creio, prego e ensino que os demônios urrarão eternamente no Inferno. E a FEB é cúmplice de Kardec nessa ousada manifestação, já que ela chama esse intrépido homem de “Mestre amado, pensador arrojado [e] metódico”, etc. (O que é o espiritismo, 35 Ed. pp. 9-10. Colchetes nossos), além de traduzir e publicar seus livrescos, elogiando-os sobejamente e recomendando a leitura dos mesmos! E não me venham com essa de que “Kardec apenas registrou o que o Espírito superior ditou”, porque quem tem que responder pelo conteúdo desses escritos é o senhor Rivail (que os elaborou) e a FEB (que os edita com louvor), e não as almas do Além.
       Mas não pense o leitor que estou melindrado com a intrepidez do senhor Kardec; antes, trago à tona que, por respeito aos kardecistas, opto por não ser tão disfêmico na presente refutação ao Kardecismo, bem como brado por data venia para, comedidamente, me defender das acusações kardecianas.
       Embora o fato de Kardec nos criticar nos confira o direito a réplica, não o faço apenas por revanche, e sim, porque julgo que fazê-lo é um gesto altruístico. O amor é o meu único motor à elaboração deste livro. Por amor a Deus, a mim e ao próximo, selei com Cristo irrevogável pacto de jamais algemar a Mensagem da Cruz (Rm 1.14-15; 1Co 9.16).

1.4. ELES “DETESTAM” CRÍTICA

       Certo kardecista, ouvindo-me dialogar com um católico sobre a inconsistência do Catolicismo, educadamente me pediu licença para participar da nossa conversa, o que não lhe foi negado. E então, sugerindo-me respeito para com todas as crenças, aconselhou-me a parar de criticar a religião alheia. “Religião não se discute, Pastor Joel”, disse ele enfaticamente. Então lhe falei, exibindo provas, que o fundador de sua religião não pensava assim; e que, portanto, ele não será um verdadeiro kardecista enquanto não seguir o exemplo de seu mentor espiritual, o qual criticava todas as ideias religiosas que lhe pareciam erradas, bem como treplicava as réplicas de seus interlocutores. Eu disse-lhe ainda que no livro O que é o espiritismo consta o registro de um acirrado debate entre Allan Kardec e um Padre católico romano. E que, portanto, não foi com Kardec que ele aprendeu o silêncio que me sugeriu. Com estas e outras palavras lhe demonstrei que suas palavras nada mais eram que desarrazoado; e, então, ele silenciou-se.
       Há críticos que “detestam” críticas. Aspei detestam porque os tais adoram críticas, quando estas são endereçadas a outrem; odiando-as, apenas, quando são eles os destinatários das mesmas. Os tais não apercebem que estão sendo paradoxais. Eles não se dão conta de que sugerir aos críticos que parem de criticar, também é criticar. Eles não veem que quem critica um crítico se flagra na prática do ato que condena. Aliás, dizer-me que não devo criticar as falsas religiões equivale a criticar a minha igreja, já que este meu proceder, longe de ser um ato isolado, goza da sua sanção.
       Com certo senhor, que intentava me convencer que “é errado criticar religião dos outros“, conduzi o seguinte colóquio:
EU: A minha igreja me ensinou o contrário. Segundo ela, fazer isso é demonstrar amor às vítimas do engano religioso. Você diria então que a minha igreja está errada neste ponto?

Meu interlocutor: Claro que sim.

EU: Mas você não me disse há pouco, que não se deve “criticar religião dos outros”? Como então ousa dizer que a minha igreja está errada? Você não consegue ver que está sendo incoerente?

Meu interlocutor: Silêncio.

       Não há uma só religião que não critique as outras, mas em todas elas há os que, quando confrontados, se melindram e se sentem perseguidos; e, salvo raríssimas exceções, os kardecistas não são diferentes. Realmente, apesar de o Kardecismo ser franco, e até mesmo mordaz, em suas criticas, há inúmeros kardecistas que não aceitam que se critique o Kardecismo. Convém, então, informá-los que “quem fala o que quer ouve o que não quer”.

1.5. UM ALERTA AOS CATÓLICOS

       Tanto aqui no Brasil, como em toda a América Latina e noutros países dos demais Continentes, não é pequeno o número de católicos simpatizantes do Espiritismo, nas suas mais diversas modalidades. E a Igreja Católica é culpada disso, como veremos a seguir.

1.5.1. Diálogo com uma jesuíta

       Certa jovem senhora, adepta do Catolicismo, estudante de Teologia católica, membro da ordem Jesuíta, falou-me das aparições de santa Rita e outros santos. Então eu lhe disse que isso é Espiritismo, não Cristianismo.

1.5.2. Literatura elaborada pelo clero

       A Igreja Católica prega oficialmente que os mortos podem se comunicar com os vivos e vice-versa. Ora, repito que isso é Espiritismo. E, se o leitor duvida, lhe desafio a ler o livro Glórias de Maria, de autoria de “Santo” Afonso de Ligório, Doutor da “Igreja”, editado pela Editora Santuário, 14ª edição de 2002, pp. 42-43, 211. Nesse livro, “Santo” Afonso nos narra duas histórias de aparições de almas: a) uma alma apareceu pedindo Missas para sair do Purgatório; e, após ser atendida, reapareceu cheia de gratidão, “mais resplandecente do que o Sol”, e informando que já se despregara do Purgatório e que estava indo para o Céu; b) ainda segundo “Santo” Afonso, um espírito apareceu a uma mulher promíscua, acusando-a de ser a culpada por ele estar no Inferno. E Glórias de Maria é livro oficial da Igreja Católica? A resposta é “sim” por diversas razões, sendo a mais forte, o fato de constar do próprio livro que o mesmo foi aprovado pela Igreja Católica, após cuidadoso exame: “[...] a Igreja [...] aprovou-lhe os escritos depois de percorrê-los cuidadosamente” (p. 13). Todo bom católico é, pois, um bom espírita, já que a sua “igreja” promove práticas espíritas. Ou canonizar um homem que pregava que há comunicação entre mortos e vivos, elevá-lo a Doutor da “Igreja”, aprovar seu livro textualmente, traduzi-lo para diversos idiomas, prefaciá-lo com sobejos elogios, recomendá-lo e publicá-lo não é comprometedor? Existe cumplicidade maior do que essa?
       Também a literatura católica, elaborada com o fim de refutar o Espiritismo, falha nesse propósito, já que enquanto tenta provar que o Espiritismo é falso, ensina que os católicos podem aceitar as manifestações espontâneas dos espíritos, rejeitando apenas as que forem provocadas mediante evocações. Em outras palavras, o católico não deve chamar nenhum espírito, mas aqueles que aparecem por livre e espontânea vontade são bem-vindos e com eles se podem travar diálogos. Veja a prova:

Os cristãos admitem sem dificuldade as manifestações espontâneas, mas se negam a aceitar as provocadas mediante a evocação [...] (Frei Boaventura kloppenburg. Espiritismo. Orientação para os católicos. São Paulo: Edições Loyola. 7 Ed. junho de 2002, p.26).

1.5.3. As “bíblias” católicas

a) Perigo nos apócrifos
       Mas o perigo não para nos livros que os clérigos católicos escrevem “contra” o Espiritismo. Até mesmo as “bíblias” católicas são comprometedoras, visto conterem livros polêmicos __ que os evangélicos tacham de Apócrifos e os católicos intitulam de Deuterocanônicos __ , os quais, além de ensinar que os mortos oram a Deus por nós (2Macabeus, 15. 11-16), e que nós também devemos rezar por eles (Ibid., 12. 40-46), ainda sustentam que tais almas do Além podem nos contatar pessoalmente (Sabedoria, 8. 19-20; 9.15; Eclesiástico, 46.23). É nessas bíblias espúrias que os católicos se inspiram para falar das supostas aparições dos “Santos”, como já observei em 1.5.1; e em 1.5.2.

b) Perigo nas notas “explicativas”!
       Como nota explicativa de Eclesiástico, capítulo 46, versículo 23, consta do rodapé de uma “bíblia” oficial da Igreja Católica, um comentário sobre 1Sm 28 (In loco), que a alma de Samuel

foi evocada por meio de uma necromante e apareceu a Saul anunciando-lhe a derrota de Gelboé e a morte um dia depois [...].” (“Bíblia” traduzida pelo Padre Matos Soares, 9ª Edição de agosto de 1981, publicada pela Edições Paulinas, p. 788. Grifo nosso).

c) Perdoemos o “hagiógrafo”
       E há como provar cabalmente que os Apócrifos são falsos? A resposta está em 2Macabeus, 15. 38-39, onde o autor desse livro confessa que não escreveu sob a Inspiração Verbal e Plena, própria das Escrituras. Senão, vejamos:

[...] Porei aqui fim à minha narração. E se ela está bem organizada e como convém à história, isso é também o que eu desejo; mas se pelo contrário foi escrita com menos dignidade, deve-se-me perdoar (Bíblia de versão católica, traduzida pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Novo Brasil Editora LTDA).

       Ora, esse pedido de perdão prova tanto a humildade do autor, como a falta de inspiração divina. Claro, Deus não pede perdão. Perdão de quê, se Ele não erra? Logo, podemos dizer que o livro em questão, e o seu autor são réus confessos. Aliás, podemos até mesmo asseverar que o próprio Catolicismo já deu as mãos à palmatória, considerando que a versão de Figueiredo é patrimônio tombado dessa seita. Sim, a Igreja Católica e suas “bíblias” são indisfarçavelmente falsas.
       Provar que as “bíblias” católicas contém livros que induzem à abominável necromancia é relevante, visto que este fato pode impelir os católicos à troca de Bíblia, à abjuração do Catolicismo, e ao desencanto com o Espiritismo.
                                                        ***
       Ora, os fragmentos acima comprovam que o Catolicismo não é tão avesso ao Espiritismo, como geralmente insinuado pelos Padres. Realmente, a aparente oposição católica ao Espiritismo não devia impressionar nem os leigos em Teologia. Deveras, não há o alegado hiato entre a Igreja Católica e o Espiritismo; antes, daquela a este é um pulinho. Um autêntico católico é, necessariamente, um espiritista.

1.6. DE OLHO NAS INCOERÊNCIAS

       A seguir, considero algumas das muitas contradições kardecianas.

1.6.1. Por que considerar as incoerências?
       Como o prezado leitor já sabe, O Espiritismo kardecista e suas incoerências é o título deste livro. Isto, segundo me parece, deixa claro que a principal coisa que pretendo expor nestas linhas é que o Kardecismo é contraditório. E por que empreendo expor isso? Este empreendimento deriva do amor cristão que me impele, e objetiva provar aos kardecistas que o kardecismo não merece crédito, para, deste modo, prepará-los à exposição do Evangelho que os libertará (Jo 8.32).

1.6.2. Bastam-nos as incoerências
       Não trato aqui só das incoerências do Kardecismo, mas certamente me bastaria provar a veracidade de que o Kardecismo é contraditório, para subsidiar os meus leitores na emissão de precisos diagnósticos patológicos dessa seita. As discrepâncias kardecianas que virão à baila nos capítulos subsequentes deixam claro a qualquer pessoa de bom-senso que essa religião não merece crédito. Onde não há contradição, temos que examinar para sabermos se há ou não erros; mas a incoerência dispensa maior exame. Uma instituição auto-contraditória, expõe-se a si mesma ao ridículo, não necessitando, sequer, que alguém se dê ao trabalho de fazê-lo.

1.6.3. Imprescindíveis à iniciação
       Para que alguém possa se considerar adepto de uma religião, são imprescindíveis os seguintes passos: a) tal religião precisa existir. Claro, como ser adepto de uma religião inexistente? b) conhecer as doutrinas da mesma; c) concordar com os seus ensinos; e d) abraçar suas doutrinas. Logo, não posso dizer que sou muçulmano. O Islamismo existe e conheço as suas doutrinas, mas discordando das mesmas, refuto-as. Eu não creio em Alá (o deus dos muçulmanos), duvido do Alcorão (o principal livro sagrado dos muçulmanos) e rejeito Maomé (o fundador do Islamismo) como profeta do meu Deus. Mas eu assumo que não sou muçulmano. Então, os muçulmanos podem discordar de mim, mas não podem, com justiça, me tachar de incoerente. Tal não é, porém, a sorte dos kardecistas, já que dos quatro quesitos acima, expostos como condição sine qua non para o ingresso numa religião, eles só preenchem os dois primeiros: a) o Cristianismo existe; b) eles conhecem as doutrinas cristãs. Porém, eles não concordam com o corpo de doutrinas do Cristianismo, e, por conseguinte, rejeitam-no e o combatem. Ora, como pode uma pessoa discordar das doutrinas de uma religião e, portanto, rebatê-las veementemente e ainda assim se considerar membro da mesma? Ser kardecista equivale, pois, a dizer o seguinte: Sou cristão, mas discordo e desdenho o Cristianismo. O Cristianismo é uma religião ridícula e absurda, por cujo motivo o rejeito, o desdenho, o repilo ... embora eu também seja cristão.
       Neste livro não discuto se o Cristianismo é ou não verdadeiro; antes, empreendo tão somente salientar que os kardecistas precisam se posicionar. “Ser ou não ser: eis a questão”. Mas, como eles não o fazem, salta aos olhos que o Kardecismo é um sistema fraudulento à luz da razão.
       Obviamente, assiste aos kardecistas o direito de negarem todas estas doutrinas; mas eles podem rejeitar estes ensinamentos, e, ainda assim, se considerarem cristãos? Será que esse tipo de “cristão” não é comparável a um dicionário sem letras e a um rio sem águas? Será que estou mesmo equivocado quando concluo que um kardecista cristão é anômalo? Se existisse kardecista cristão, existiriam também ladrões que não roubam, assassinos que não matam e mentirosos verdadeiros. Será que os kardecistas não têm mesmo que escolher entre negar as doutrinas cristãs e assumirem outra fé, ou se propagarem cristãos, mas, concomitantemente aceitar as doutrinas da fé cristã? Sei que os kardecistas, respondendo negativamente a estas perguntas, dirão que este meu argumento não é consistente, porque [falo com minhas palavras] as doutrinas tidas por cristãs, das quais o Kardecismo diverge, não constituem, em grande parte, o Cristianismo original pregado por Jesus, e sim, interpolações e deturpações cometidas por Paulo, Marcos, Lucas, bem como por muitos outros através dos séculos. [Em defesa deste argumento, é possível que apelem para as diferenças entre os manuscritos]. Assim, o Espiritismo codificado por Kardec, é, não só a restauração do verdadeiro Cristianismo (e diga-se de passagem, um “cristianismo” tão “refinado” que nem os apóstolos conheceram coisa igual), mas, também, a revelação que estava por vir, conforme prometera o Cristo em Jo 16.12, ao falar do outro Consolador, promessa esta que se cumpre a partir de 1857, quando os livros de Kardec sobre o Espiritismo começaram a vir a lume.

1.7. UMA “SALVAÇÃO” EXÓTICA

       O Kardecismo prega que “os planetas são mundos semelhantes à Terra e, sem dúvida, habitados [...]” (A gênese, 37 ed. capítulo V, número 12, p. 100). Os kardecistas aguardam, pois, evoluírem, para, deste modo, se habilitarem a ocupar mundos melhores do que este no qual vivemos. Urge, portanto, que lhes preguemos o verdadeiro Evangelho, que os libertará dessas ilusões, mostrando-lhes que só pelo sangue de Cristo podemos ingressar desde já numa vida melhor (a nova vida em Cristo), bem como vislumbrar um futuro deveras brilhante. E é com isto em mente que elaborei este livro.
                                                    ***
Síntese das doutrinas bíblicas negadas pelos espíritas
       E é verdade que o Kardecismo, incoerentemente, rejeita os pilares do Cristianismo? É verdade que o Kardecismo, embora se propague cristão, rejeita e refuta o Cristianismo? A resposta é “sim”. E vou provar isso como dois mais dois são quatro. Para tanto, nada mais terei que fazer, além de provar que o Kardecismo nega as seguintes doutrinas do Cristianismo clássico: a) a veracidade da Bíblia como sendo 100% a Palavra de Deus; b) a triunidade de Deus; c) a Divindade de Jesus; d) a personalidade e Divindade do Espírito Santo; d) a unicidade de nossa existência neste mundo (ou seja, a doutrina bíblica de que não há reencarnação); e) a eficácia do sangue de Jesus na purificação de pecado; f) a ressurreição dos mortos; g) a segunda vinda de Jesus; h) o arrebatamento da Igreja; i) o Juízo Final; j) a existência do diabo e dos demônios segundo a Bíblia; k) o tormento eterno no Inferno para o diabo, os demônios e os homens que se perderem; l) a negação da mediunidade e, por conseguinte, a proibição de consulta aos mortos; m) batismo; n) a Santa Ceia do Senhor; o) que todos descendemos de um tronco único: Adão e Eva, etc.
       Concluo este capítulo considerando que, visto que as provas das denúncias acima nos bastam, posso, por ora, me limitar à decisão de exibi-las paulatinamente, ao longo dos capítulos que se seguem. Portanto, partamos aos demais capítulos deste livro e vejamos o que Deus ainda tem para nós. Com a ajuda do Espírito Santo, e com as armas que Ele nos disponibiliza nestas páginas, “entraremos no forte do Inimigo e tiraremos os cativos de lá”, como bem o diz um de nossos hinos.



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO II

 

BÍBLIA __ O LIVRO SAGRADO DO CRISTÃO



       Cristão sem Bíblia é soldado sem espada, pastor sem cajado, navegante sem bússola, viajor sem mapa, céu sem estrelas, rio sem água, matemática sem números, veia sem sangue e dicionário sem letras. E tal é o estado dos kardecistas.

2.1. O CRISTIANISMO TEM UM LIVRO

       Verdade ou mentira, certo ou errado, o Cristianismo tem a sua Escritura Sagrada __ a Bíblia. Segundo o Novo Testamento, Jesus __ o fundador e fundamento do Cristianismo __ autenticou todo o Antigo Testamento (Mt. 4: 4-10; 24:37-39; Mc. 12:24; Lc. 24: 25-27; Jo. 5:39, etc.), o que equivale a sancionar mais de 70% dos Escritos Sacros da fé cristã. Ainda no Novo Testamento encontramos provas textuais de que os seus hagiógrafos o compuseram sob o sopro divino (1Co 14:37; 1Tm. 5:18; 2Pe 3:15-16; Ap 1:11, etc.). É, pois, evidente que arrogar a si o título de cristão implica em crer na Bíblia, ainda que este Livro não fosse o que alega ser: a Palavra de Deus. Mas, pasme o leitor, ratifico o que já denunciei de passagem no primeiro capítulo, isto é, que o Kardecismo, embora também se professe cristão, afirma com todas as letras que a Bíblia não é a pura, santa, perfeita, inerrante e infalível Palavra de Deus. Por isso me vi na necessidade de elaborar este capítulo, o qual tem três finalidades: a) provar que o Kardecismo nega a Bíblia; b) provar que o Kardecismo é indigno de crédito, já que se diz cristão sem crer no Livro Sagrado do Cristianismo; e c) trazer à tona que Kardec fingia crer na Bíblia, deixando ao mesmo tempo claro que ele agia assim com segundas intenções, ou seja, para não espantar a presa. Ele cria, como sugerira Niccolò Machiavelli em O príncipe, que os fins justificam os meios. Ora, provar esta denúncia é provar que Kardec era incoerente e pérfido; e, por isso mesmo, indigno de crédito. E disso se pode inferir a importância deste capítulo, visto que o mesmo pode ajudar os sinceros a se livrarem dos engodos kardecianos. Vejamos, então, as linhas a seguir:

2.2. KARDEC NEGA A BÍBLIA EXPLICITAMENTE

       O leitor verá que: a) Kardec negava a Bíblia, no que é seguido pelos kardecistas; b) Kardec cometeu a incoerência de se dizer cristão, sem crer na Bíblia; c) Kardec se deu ao papelão de negar a Bíblia explicitamente, enquanto fingia crer nela. Eis as provas:

2.2.1. Era Moisés um impostor?
       Segundo afirmou Kardec, os Dez Mandamentos são, sim, a Lei de Deus; mas os outros mandamentos contidos no Pentateuco são decretados por Moisés e intitulados de Lei de Deus apenas para conter, pelo temor, um povo turbulento e indisciplinado (O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 1, nº 2). Essa declaração __ que tenta fazer de Moisés um embusteiro da mesma laia de Kardec __ não é, obviamente, de autoria de um cristão, já que Cristo e os cristãos, muito longe de pregarem isso, sempre sustentaram que Moisés escreveu sob inspiração divina.
       O fato de Cristo dizer que “nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” (Mt. 5:18) é um abono prévio ao título de “sagradas letras” (2Tm 3.15) que o apóstolo Paulo mais tarde atribuiria à Bíblia, ou, mais especificamente, ao Antigo Testamento.

2.2.2. Dos milagres

       Sabemos que a Bíblia registra vários milagres operados por Jesus. Ele ressuscitou a filha de Jairo (Mc 5.21-43), o filho de uma viúva (Lc 7. 11-17) e Lázaro (Jo 11). Mas, segundo Kardec, é impossível fazer um morto reviver; e que, portanto, Jesus não ressuscitou ninguém. Kardec afirma que a filha de Jairo, o filho da dita viúva, e Lázaro, não estavam mortos, mas apenas em letargia ou síncope; e que, portanto, eles foram curados, não ressuscitados (A gênese. 35 ed., capítulo XV, nº. 37-40, pp. 331-334);
       Kardec tentou provar ainda, que Jesus não transformou água em vinho, nem tampouco multiplicou pães e peixes (A gênese. 35 ed. capítulo XV, nº 47-51, pp. 337-342). Na cuca dele, o relato bíblico sobre a transformação de água em vinho, "Mais racional é se reconheça aí uma daquelas parábolas tão frequentes nos ensinos de Jesus [...]" (Ibid., nº 47, p. 338). Em outras palavras, Jesus teria proposto alguma parábola (onde "água" teria sido "transformada" em "vinho") que, ao ser narrada, foi deturpada pelo apóstolo João. E algo similar teria ocorrido acerca da multiplicação de pães e peixes. Esta narração, que, segundo Kardec, "tem de ser considerada como alegoria" (Ibid., nº 48, p. 340), também não é relato fiel.

2.2.3. Paulo era um impostor?
       O prezado leitor por certo se lembra que fiz constar do capítulo I que Kardec criticou os escritos do apóstolo Paulo, tachando-os de “opiniões pessoais e contraditórios”. Ora, isso é desdenhar o Novo Testamento, já que Paulo (o principal hagiógrafo neotestamentário) asseverou que suas epístolas eram “mandamentos do Senhor” (1Co 7.10; 14.37).

2.3. A FEB NEGA A BÍBLIA EXPLICITAMENTE

       O fato de Moisés registrar que Deus se arrependeu de haver criado o homem (Gn 6. 6-7), é visto pela FEB (Federação Espírita Brasileira) como uma monstruosidade: “Esta doutrina monstruosa é corroborada por Moisés [...]” (O céu e o inferno, 38 ed., p. 122, nota de rodapé).

                                                        ***
       Os exemplos acima provam cabalmente que Kardec e seus seguidores não veem a Bíblia como a Palavra de Deus. E, deste modo, está claro que essa instituição não é cristã, assim como eu não sou muçulmano. Mas, como Kardec e seus discípulos teimam em dizer que são cristãos, aqui está, pois, uma demonstração de incoerência.
       Muitos pensam que as divergências que há entre evangélicos e Kardecistas, apenas giram em torno das interpretações que cada um desses segmentos, de per si, tem da Bíblia. Pensam que ambos a reconhecem como a Palavra de Deus, embora a vejam de ângulos diferentes. Mas está claro que não é este o caso, e que isto prova que o Kardecismo não é Cristianismo, mas um sistema que discrepa de si próprio, não merecendo, por isso, que lhe creditemos nossa confiança. Conseguintemente, os kardecistas sérios e inteligentes (e muitos o são) devem renegar essa barafunda na qual se meteram.
       Atribuir ao “arrependimento” de Deus, uma monstruosidade, é ignorar a existência do que em Teologia chamamos de antropomorfismo, que é o ato de Deus “tomar” a Si atributos humanos para se fazer entender pelos mortais, ou, pelo menos, dar um vislumbre de uma grandeza transcendental, exclusiva do Infinito Ser Sempiterno.

2.4. KARDEC FINGIA CRER NA BÍBLIA

2.4.1. Fingindo crer

       Por que muitos pensam que os kardecistas também creem na Bíblia? A resposta é: Para que o dito fique pelo não dito, Kardec às vezes fingia que também tinha grande apreço pela Bíblia; e que, portanto, se identificava conosco, comungando da mesma fé. E ainda, propositalmente, ensinou os seus discípulos a forjarem a mesma ambiguidade, para, deste modo, não espantarem a presa. Senão, vejamos:

a) “O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa” (O evangelho segundo o espiritismo, 109 ed., Introdução, nº VII, p. 47);
b) “Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não permitem se duvide da realidade do fato” (A gênese, capítulo XV, nº 61, p. 349);
c) “[...] tudo o que está predito no evangelho tem de cumprir-se [...]” (Obras póstumas, 26 ed., p. 321);
d) referindo-se a Jo 16. 7-14, onde Jesus nos promete outro Consolador, Kardec disse: “Esta predição, não há contestar, é uma das mais importantes, do ponto de vista religioso, porquanto comprova, sem a possibilidade do menor equívoco [...]” (A gênese, capítulo XVII, nº 37, p. 386).
e) E, para não cansar o respeitável leitor com inúmeras transcrições comprobatórias do que afirmei na introdução a este tópico (2.3), veja só mais uma cópia de um texto de kardec, no qual se diz: “[o] Evangelho — garantia única da vossa crença — segura estabilidade da vossa fé!” (A prece segundo o evangelho. 44 Ed., p. 24. Grifo nosso).

2.4.2. Justificando o fingimento


[...] Se alguém tem uma convicção bem firmada sobre uma doutrina, ainda que falsa, necessário é lhe tiremos essa convicção, mas pouco a pouco. Por isso é que muitas vezes nos servimos de seus termos e aparentamos abundar nas suas ideias: é para que não fique de súbito ofuscado e não deixe de se instruir conosco. Aliás, não é de bom aviso atacar bruscamente os preconceitos [...]. (O livro dos médiuns. 58 ed, capítulo XXVII, nº 301, p. 392. Grifo nosso).

       Espertinho, não? Que astúcia! Que sagacidade! Que falta de vergonha! Contudo, Kardec deve o seu sucesso na arte do engano, a esse vergonhoso estratagema.
       Considere que Kardec, que já confessou não crer na inerrância da Bíblia, nos diz agora que não há como contestar o que está escrito em Jo 16. 7-14. Veja o leitor, que confusão dos infernos: Kardec nega a Bíblia, afirmando ao mesmo tempo que é cristão, o que podemos chamar de incoerência “a”; e citam um texto bíblico, observando concomitantemente que o mesmo é incontestável, o que podemos chamar de incoerência “b”. Ora, não há como dormir com um barulho desses. Afinal, a Bíblia é ou não é confiável? E, como vimos, essa barafunda tem alvo bem definido: fazer com que o dito fique pelo não dito, para, deste modo, não espantar a presa. É bonito isso?
       Kardec não acreditava na Bíblia, mas quando algum versículo parecia favorecê-lo, então ele lançava mão do mesmo, descontextualizando-o e construía sobre essa “base” mais uma cidadela, sob a alegação de que estava respaldado pela inquestionável Palavra de Deus exarada na Bíblia. Ele tinha jogo de cintura. E é desse molejo kardeciano que o diabo se serve para fazer suas vítimas em todo o mundo.

2.5. RÉUS CONFESSOS

       Que o fato de os Kardecistas negarem a Bíblia prova que essa seita não é cristã, é confessado pelo próprio Kardecismo. Veja as confissões abaixo.

2.5.1. Primeira confissão


Nem a Bíblia prova coisa nenhuma, nem temos a Bíblia como probante. O Espiritismo não é um ramo do Cristianismo como as demais seitas chamadas cristãs. Não assenta os seus princípios nas Escrituras. Não rodopia junto à Bíblia... Mas a nossa base é o ensino dos espíritos, daí o nome - Espiritismo (À margem do espiritismo, p. 214, citado em Análise do espiritismo kardecista [Apostila], elaborada pelo Pastor Natanael Rinaldi, pesquisador do ICP __ Instituto Cristão de Pesquisas -, p. 34. Grifo nosso).

2.5.2. Segunda confissão

       A bem da verdade, o próprio Kardec reconheceu que a seita por ele fundada não é cristã. Doutro modo, ele não diria que “O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa” (Grifo nosso). A presença da conjunção aditiva “e”, constante da locução “O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa”, é uma escapadela que funciona como gol contra. Kardec caiu na esparrela que ele mesmo confeccionou. Digo isso porque percebo que nesta estrutura frasal Kardec, sem querer, deixa vazar que ele sabia que o Cristianismo é uma coisa e o Espiritismo outra.

2.6. TERCEIRA REVELAÇÃO?!


2.6.1. Fragmento comprobatório

       É oportuno registrar que Kardec alegou que o Antigo Testamento é a primeira revelação; o Novo Testamento, a segunda; e o Espiritismo codificado por ele, a terceira. Esta teria sido prevista por Jesus em João 16. 12-13, bem como pelo autor do livro bíblico intitulado Atos dos Apóstolos. Veja a cópia abaixo.

Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido... O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo.
A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum. As duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio a pessoa alguma; ninguém, por consequência, pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais alta da escala, conforme esta predição registrada pelo autor dos Atos dos Apóstolos: “Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos terão visões, e os velhos, sonhos”. (Atos, cap. II, vv. 17, 18.) (O evangelho segundo o espiritismo, capítulo VI, nº 4, p. 128. Grifo nosso).

2.6.2. Reinventando a roda

       Segundo o Kardecismo, à medida que a Humanidade se evolui moral e intelectualmente, vai, por conseguinte, se habilitando a maiores revelações da parte de Deus. Logo, a Segunda Revelação é mais panorâmica do que a Primeira, assim como a Terceira é mais ampla e perfeita do que a Segunda. Porém, quando examinamos os escritos de Kardec, não encontramos nenhuma revelação nova, considerando que mediunidade, reencarnação, auto justificação, carma, incoerências e outros engodos, são mais velhos do que andar para a frente. O Kardecismo se gaba do reinvento da roda.

2.6.3. Nisso os pagãos já criam

       provei acima,com transcrição, que Kardec ensinou à “base” de Jo 16.12-13, que nos dias de Cristo o mundo ainda não estava preparado para receber as revelações que constituem o Kardecismo: “[...] por não estar maduro para o compreender”. Porém, esse parecer não sobrevive a um confronto com os fatos, visto que, segundo a História Universal, os pagãos (os gregos, os romanos, os indianos, etc.) sempre creram em reencarnação, carma, mediunidade, etc. Ora, como crermos que os contemporâneos de Cristo não estavam preparados para receberem uma doutrina na qual já acreditavam há milênios? Certamente que os apóstolos não teriam sofrido tantas adversidades, se tivessem pregado a “nova” revelação Kardeciana. Digo isso porque, nesse caso, apenas ratificariam o que o mundo já aceitava como verdade. Logo, ainda estou para saber o que o Kardecismo trouxe de novo, já que essa doutrina é anterior à Lei Mosaica.

2.6.4. Pregou ou não pregou?

       Veremos no capítulo X que Kardec alegou que Cristo era reencarnacionista. E, quando o leitor examinar o capítulo XI, verá que os kardecistas se valem de Mt 17.3 (onde consta que Jesus se comunicou com o espírito de Moisés) em defesa da mediunidade. E agora pergunto: Afinal, a consulta aos mortos e a reencarnação foram ou não foram praticadas e sancionadas por Cristo? Se sim, onde está a novidade na “Terceira Revelação?” E se não, por que dizem então que Cristo ratificou tanto a reencarnação quanto a mediunidade? Jesus disse que o nosso falar deve ser “Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mt 5.37. Logo, o kardecismo procede das trevas.

2.6.5. Uma “nova” e “profunda” revelação

       A Bíblia, que começou a ser escrita 3.500 anos atrás, e foi concluída há quase 2.000 anos, contém mistérios tão profundos que nenhum homem é capaz de entender só com a ajuda do intelecto. Sim, precisamos do Espírito Santo para estudar a Bíblia com aproveitamento. E, sendo os escritos de Kardec uma revelação tão profunda que o homem só se habilitou a receber a partir da segunda metade do século XIX, é de se supor então, que o Kardecismo contenha algo muito mais enigmático que os existentes na Bíblia. Contudo, li todos os livros de Kardec e consegui entender tudo quanto está escrito lá. Ler Kardec é ler discrepâncias que saltam aos olhos. Ouso afirmar que entre as coisas impossíveis, uma é entender a Bíblia (em sua totalidade), e a outra é não entender kardec. Quem lê kardec raciocinando com a sua própria cabeça, percebe que no Kardecismo não há nada que os inteligentíssimos homens de 2.000 anos atrás não pudessem entender. Aliás, o próprio Kardec confessou que deveras, a doutrina da reencarnação já havia sido difundida pelo mundo afora muito antes de Cristo vir à Terra.

Não há, pois, duvidar de que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação era ponto de uma das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cristo. Um dia, porém, suas palavras, quando forem meditadas sem ideias preconcebidas, reconhecer-se-ão autorizadas quanto a esse ponto, bem como em relação a muitos outros (O evangelho segundo o espiritismo, 109 ed., capítulo IV, nº 16, p. 89. Grifo nosso).

       Volto a perguntar: Se assim é, onde está a novidade? Que trouxe de novo o Kardecismo? Afinal, Cristo e os profetas pregaram ou não pregaram a reencarnação?
       Certo kardecista me disse que o Kardecismo levanta o véu, isto é, aclara ou explica os pontos obscuros da Bíblia, simplificando as coisas. Mas essa pronunciação é contraditória, visto que se essa doutrina é menos complexa que a Bíblia, por que só pôde ser dada à Humanidade XIX séculos após Deus nos dar a Bíblia? Por que se diz então que Cristo não pôde ensinar essas grandezas, em virtude da ignorância daquele tempo?

2.6.6. Da progressividade das revelações

       As revelações divinas constantes da Bíblia são, sim, progressivas, mas essa progressividade deve-se a um programa divino, indiferente ao progresso intelectual e moral da Humanidade. Até porque isso não existe.
       O que o kardecismo prega hoje, sempre pôde ser pregado, e, de fato, sempre houve quem o pregasse.
       As grandes realizações (boas e más) da Antiguidade provam que a Humanidade não evoluiu, no sentido kardeciano. O homem está mais sábio, não mais inteligente, nem tampouco mais espiritual e moral. Quanto a estas questões, está tudo estável. A promiscuidade, a prostituição, o adultério, a traição, a avareza, a desonestidade, a bruxaria, a idolatria, as heresias, a perversidade, o ateísmo... avolumam-se cada vez mais. Por tudo isso, se o mundo atualmente está preparado para receber essa tal de Terceira Revelação, então sempre o esteve; e se há 2.000 anos, a Humanidade ainda não estava em condição de assimilar tão “profunda revelação”, então ainda é assim. Saia disso, portanto, se você já caiu no conto do vigário. E não entre nessa, se ainda está de fora. E refugie-se em Cristo já, se ainda não o fez.

2.6.7. Embustes progressivos?

       Volto a bater na tecla de que o Kardecismo confessa que não reconhece a Bíblia como sendo a Palavra de Deus. Vimos que, segundo a FEB (Federação Espírita Brasileira), Moisés pregava monstruosidades. Vimos ainda que, segundo Kardec, Moisés mentiu propositalmente, quando inculcou nos judeus que o Pentateuco era a Palavra de Deus. E disso infiro, à luz da lógica, que, de acordo com o Kardecismo, Moisés era apenas o embusteiro que os judeus mereciam. Mas agora estamos vendo que essa seita, incoerentemente, finge reconhecer toda a Bíblia, assegurando que o Antigo e o Novo Testamentos constituem duas revelações distintas e progressivas, vindas de Deus. Disso nasce a seguinte pergunta: Afinal de contas, o Antigo Testamento é a primeira revelação que Deus nos deu, ou é um monstruoso embuste de autoria de um impostor chamado Moisés? Ora, embustes e monstruosidades jamais vêm de Deus, não é mesmo? Tampouco um impostor pode ser visto como Mediador e Emissário de alguma Revelação Divina, não é verdade?
       Segundo me consta, nenhum teólogo evangélico nega a progressividade das revelações de Deus nas páginas das Escrituras, pois a Bíblia no-lo demonstra categoricamente. Mas convenhamos que os embustes e as monstruosidades não podem ser reconhecidos como “progressivas revelações do Senhor”. As revelações do Senhor são, sim, paulatinas, porém, de modo algum são monstruosos embustes. Mas, como os kardecistas conseguem enxergar monstruosidades, embustes e contradições no Antigo Testamento, custa-me entender (se bem que estou entendendo tudo) como ousam intitulá-lo de “Primeira Revelação de Deus”.
       Interpretando bem, podemos dizer que de acordo com os Kardecistas, a Bíblia se divide em duas partes: Antigo Embuste e Novo Embuste. Sim, porque se de fato Cristo não tivesse transformado água em vinho, multiplicado pães e ressuscitado defuntos, seguir-se-ia que as falcatruas do Novo Testamento não seriam inferiores às do Antigo. Mas é justamente aí, a saber, no Novo Testamento, e, mais especificamente, em Jo.16:12-13, que Kardec, incoerentemente se “fundamentou” para construir sua cidadela, a qual estou reduzindo a frangalhos, ao exibir as denúncias aqui contidas, seguidas de minhas refutações. Afinal, o Novo Testamento é a segunda revelação de Deus, ou é o segundo embuste? Decidam lá os kardecistas como quiserem, mas deixem de ambiguidade. Saiam de cima do muro. Posicionem-se. Adotem partido único.
       Bem, os kardecistas ainda não provaram (e nem vão provar) que a Bíblia é o embuste que eles julgam ser, mas as linhas que ora redijo provam cabalmente que o Kardecismo é incoerente. E, se é incoerente, não merece crédito.

2.7. KARDECISMO __ A ÚNICA RELIGIÃO VERDADEIRA

       Apesar da babel kardeciana supra exibida, Kardec julgou dignas de nota certas mensagens mediúnicas, segundo as quais, o kardecismo não é uma instituição cristã igual às demais, nem tampouco a mais certa, e sim, a única verdadeira. Eis as provas:

Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana (Obras póstumas. 26 ed., p. 308).

‘[...] ensinarei a verdadeira fé, a fé espírita [...]” (O céu e o inferno, 2ª Parte, capítulo II, # I, nº 5, p. 177).

       Cria Kardec na legitimidade dessas mensagens, ou as registrou apenas para fins de estudo? Será que ele realmente cria na superioridade, singularidade e exclusividade do seu Espiritismo? Creio que sim, pelas seguintes razões:

A) o Kardecismo, visto por Kardec como vindo de Deus, não difere do Cristianismo bíblico apenas em questões periféricas, mas destoa do seu âmago. Logo, se somos cristãos, então os kardecistas não o são; e se os kardecistas são cristãos, então nós não o somos. Deste modo, ou os kardecistas creem na eminência e exclusividade do Kardecismo ou renegam-no;

B) na opinião dos kardecistas, Espiritismo mesmo é só o Kardecismo. Poucos sabem que em 2 de janeiro de 1978, a FEB (Federação Espírita Brasileira) declarou oficialmente que

é imprópria, ilegítima e abusiva a designação de espíritas adotada por pessoas, tendas, núcleos, terreiros, centros, grupos, associações e outras entidades que, mesmo quando legalmente autorizados a usar o título, não praticam [...] o conjunto de princípios básicos codificados por Allan Kardec (Espiritismo, orientação para os católicos, op. cit., p. 9)

C) O “jornal espírita”, órgão oficial da FESP __ Federação Espírita do Estado de São Paulo __, abril de 1996, num artigo intitulado “O primeiro espírita”, afirma textualmente: “[...] o primeiro espírita do mundo: Allan Kardec”.

D) Além disso, na revista Época consta que, segundo a FEB, “Chamar o espiritismo de kardecismo é [...] redundância” (Época, 03 de julho de 2006, nº 42413, p. 71). Em outras palavras: Se é Espiritismo é Kardecismo, e vice-versa. E por tudo isso, fica nu e patente que não é sensacionalismo afirmarmos que na ótica dos verdadeiros Kardecistas, a religião deles é a única tradição verdadeiramente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana, a única e verdadeira fé. Fora do Kardecismo não há sequer algo verdadeiramente humano. Espiritismo verdadeiro, religião ortodoxa, Cristianismo digno desse título, e instituição de fato humana, são grandezas que Deus outorgou ao Mundo a partir de 1857, e o fez na instrumentalidade do Mestre Kardec. Logo, ser kardecista implica em ser adepto de uma seita: a) ambígua __ Creem ou não creem na Bíblia?; b) exclusivista __ Até as seitas que, com o Kardecismo, formam farinha do mesmo saco (Racionalismo Cristão, Cultura Racional, Umbanda, etc.), não são vistas como realmente cristãs, divinas, e humanas. Há exclusivismo, pretensão e presunção superiores a isso?; c) hipócrita __ Confessa, por exemplo, que se deve fingir crer na Bíblia, para ludibriar os incautos, e, por conseguinte, não espantar a presa; d) incoerente __ O Kardecismo, longe de ser sistemático, é, de fato, um monturo de contradições. Uma colcha de retalhos.

2.8. O NOVO TESTAMENTO ESTÁ DE PÉ

       Respeitável leitor, não se deixe levar por esse negócio de “Terceira Revelação”. Realmente, Deus foi se revelando progressivamente nas páginas da Bíblia, mas o Novo Testamento, que é o ápice de Suas revelações até o momento, veio para ficar. Por consequência, pelo menos até que Cristo venha, a presente Dispensação estará em vigor. Logo, não aceitemos nenhuma novidade, sob pretexto de “Terceira Revelação”, ou qualquer outra alegação. Isso é balela. A Bíblia nos fala da “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3 [ARA]. Grifo nosso). Neste caso, “fé” refere-se à totalidade das doutrinas do Cristianismo. E o apóstolo Paulo, contrastando o Antigo Testamento com o Novo, nos diz que: a) aquele era transitório, enquanto este permanece (2Co 3.3-11 [ARC]); b) que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11. Grifo nosso); e c) que se ele e/ou os demais apóstolos, ou até mesmo se um anjo descer do Céu, pregando outro evangelho, deve ser anatematizado (Gl 1.8-9), isto é, amaldiçoado e excomungado da comunhão dos santos. E tudo isso é abonado por Cristo, que disse: “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha” (Ap 2.25). E: “Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim” (Mt 24.46). Isto mesmo, “servindo assim”, a saber, tal qual prescrito por Cristo há quase dois mil anos, e não à moda Kardec.
       Após ler livros, revistas, jornais, panfletos, etc., publicados pelas federações espíritas, dialogar com diversos adeptos dessa seita, e entrevistar vários ex-adeptos, concluí que em síntese o Kardecismo (falo com minhas palavras) prega o seguinte:

Assim como o Antigo Testamento findou há quase dois mil anos, quando da vinda de Cristo, o Novo Testamento, por sua vez, tem seu fim com o advento do Espiritismo Kardecista. A Era que Moisés inaugurara teria esbarrado na Era que Jesus inaugurou há quase dois milênios. Esta, por sua vez, expirou quando Kardec e seus espíritos-guia exibiram ao mundo o Novo Código, que é a Terceira Revelação, a qual estabelece uma Nova Era, a Era dos Espíritos! Essa Codificação Espírita, elaborada por Kardec, é o Novíssimo Testamento dado pelos Espíritos Superiores pela instrumentalidade do Grande Mestre, cujo pseudônimo é Allan Kardec! E quem quiser beber desta Nova Fonte, é só ler, estudar e praticar O evangelho segundo o espiritismo e as demais obras procedentes da pena do Grande Codificador, as quais, juntas, constituem o outro Consolador. Consolador este prometido por Jesus, o qual, na plenitude dos tempos, isto é, em 1857, veio nos consolar, falando-nos o que o Cristo não pudera dizer (devido à ignorância inerente aos espíritos dos seus contemporâneos), bem como aclarando os pontos velados (isto é, obscuros) do que Jesus dissera!

       É muita petulância!

2.9. MIRAGEM SOBERBA

       A crença nessa tal de Terceira Revelação faz com que os kardecistas nos olhem de cima para baixo. Já me disseram que nós somos “espíritos que ainda não se desenvolveram o suficiente para compreender esta grandeza”. Creem que nós, os evangélicos, já estamos quase chegando lá. Certo kardecista me disse que a evolução do Espírito se dá mais ou menos assim: “Primeiro o indivíduo se torna adepto de uma das religiões não cristãs (Budismo, Islamismo, Hinduísmo, etc.), depois se torna católico, posteriormente vira evangélico e, a seguir, se converte ao Espiritismo. O tempo que um espírito precisa, desde que é criado até se tornar Kardecista, varia de espírito para espírito, pois depende do esforço de cada um, e pode compreender muitos séculos e até milênios. Ora, por crerem os kardecistas nessa suposta evolução espiritual, e julgando estarem num patamar onde só eles alcançaram, sentem até dó dos evangélicos. Vê-se, portanto, que eles são infelizes e não sabem. E só Deus pode arrancá-los desse labirinto no qual se encontram. Evangelizemo-los, pois, e deprequemos por eles com fé e amor (1Tm 2.1). Sem dúvida, o nosso Deus arrancará a muitos desse “egito”, os libertará de “faraó”, e os conduzirá à “Terra” prometida. Isto ocorrerá quando aspergirem as aduelas de seus corações com o sangue do nosso Cordeiro Pascal __ Jesus (Êx 12.7).

2.10. CONTRADIÇÃO ENTRE OS DOIS TESTAMENTO?!


2.10.1. Porque parou?

       Muitos kardecistas já me perguntaram: “Se o Antigo Testamento não estava errado, por que tantas diferenças entre ele e o Novo? Por exemplo, por que não matamos ainda os adúlteros, os blasfemos, os assassinos, os idólatras, etc.?” Resposta: Para cada diferença, há pelo menos uma explicação teológica; e quem não aceita tal explicação, precisa tirar a máscara de cristão, parar de chamar o Antigo Testamento de “primeira revelação de Deus”, e assumir o seu cepticismo.
       Mas, respondendo à pergunta sobre o porquê de não podermos mais executar os criminosos e outros pecadores, informo que a Igreja não é um Estado, mas um conjunto de indivíduos.
       O motivo pelo qual a Igreja não pune os criminosos é o mesmo pelo qual ninguém podia matar Caim (Gn 4.15), a saber, só o Estado pode cuidar de punir os malfeitores. Como a partir de Noé, estabeleceu-se o Governo Humano, então a pena de morte entrou em vigor (Gn 9.6). A incumbência de punir os criminosos foi e é da competência do Estado (Rm 13.1-7). À Igreja compete: a) dar a outra face ao agressor (Mt 5. 39); b) não atirar a primeira (nem a última) pedra (Jo 8.7); c) louvar ao Senhor (Ef 1.12); d) adorar a Deus (Jo 4.23); e) orar ao Pai(1Tm 2.1); f) pregar o Evangelho (1Pe 2.9), etc. Mas isso não é um libelo contra a justiça, que é, repito, da competência da autoridade para isto constituída (Jo 19.11; Lc 23.41). E que o Estado desincumba da Missão que recebeu de Deus.

2.10.2. Só Deus pode matar?

       Certo kardecista argumentou dizendo que “sendo Deus o único que pode dar a vida, naturalmente só Ele pode tirá-la. Logo, não podemos crer que Moisés, Josué, Samuel e outros tenham recebido de Deus a ordem para ceifar tantas vidas. Mas, como eles mataram muitas pessoas sob a alegação de que o faziam por ordem divina, salta à vista que seus escritos não são a Palavra de Deus”. Refuto esse argumento dizendo que Deus, o único que pode tirar a vida, não está impossibilitado de incumbir um agente Seu, de fazê-lo. Ele pode matar, e não raramente, Ele mesmo o faz; mas às vezes Ele delega este poder a um anjo. Outras vezes o confere ao Estado. Por exemplo, Rm 13. 1-7 nos diz que o Estado está autorizado por Deus a punir os malfeitores com a punição que se fizer necessária, incluindo a pena capital. Logo, se um policial, em nome da Lei, está no encalço de um criminoso, deve trazê-lo vivo ou morto. Por conseguinte, se o dito marginal reagir à voz de prisão, o referido policial poderá até matá-lo, se isso se fizer absolutamente necessário. Neste caso, o autor da execução não pode ser visto como assassino, e sim, como mantenedor da ordem pública.
       Rm 13.5 nos diz que a autoridade não traz a espada debalde, isto é, em vão. Ela, a espada, não era enfeite. E, como não ignoramos, a espada (hoje metralhadora, fuzil, pistola, bazuca, etc.) não era instrumento de correção, como o cassete o é. Não! A espada existia para matar. Assim fica claro que Deus, o único que dá a vida, e, por conseguinte, o único que pode tirá-la, se vê no direito de fazê-lo através de um agente Seu, que pode ser ou um anjo, ou o Estado. Atualmente, Seus agentes, investidos deste poder, são apenas os anjos (At 12.23 ) e o Estado (Rm 13. 1-7). Este, por sua vez, usa os poderes Legislativo, Judicial e Executivo para fazer valer este mister. Aqueles, porém, o fazem por si mesmos, em nome do Senhor dos Exércitos.

2.10.3. A sanção de Cristo

       Volto a bater na tecla de que uma das muitas provas da autenticidade do Antigo Testamento é o fato de o mesmo ter sido reconhecido por Jesus (Mt. 5.18, etc.). Mas os kardecistas diriam: “Reconheceu mesmo? Tem certeza de que Mateus não pôs essas palavras na Sua boca? Você o ouviu dizer isso? Quem garante?” A resposta é: O Novo Testamento no-lo garante. E se não creem no Novo Testamento, então parem de dizer que a promessa de Jesus, constante de Jo 16.12-13, de nos enviar outro Consolador, se cumpre a partir de 1857, quando da Codificação Kardeciana. E digo isto porque se realmente a Bíblia não fosse confiável, já não saberíamos nem se Cristo teria mesmo feito alguma promessa. Além disso, um ateu pode se valer dessa deixa dos kardecistas e questioná-los nestes mesmos termos: “Têm certeza? Vocês viram?”. Quem garante?” Sim, porque afinal de contas, os kardecistas também não ouviram Jesus fazer qualquer promessa. Os kardecistas devem também parar de defender trechos bíblicos, dizendo sobre os mesmos que “não permitem se duvide da realidade do fato”;  “não há contestar, porquanto comprova, sem a possibilidade do menor equívoco”, e outras mais.
       Sendo a Primeira e a Segunda Revelações, dois monstruosos embustes, pergunto: A Terceira Revelação seria o terceiro monstruoso embuste? Claro que sim, visto que segundo os mais elementares princípios da lógica, a terceira coisa de uma série tem que ter vínculos com as que a precedem. A Terceira Revelação de Deus à Humanidade não tem que ser de Deus, se a Primeira e a Segunda, de Deus não são; a Terceira Revelação de Deus à Humanidade não tem que ser verdadeira, se a Primeira e a Segunda, verdadeiras não são. Pensem nisso os que ainda pensam!

2.11. ARGUMENTOS PRÓ BÍBLIA


2.11.1. Primeiro argumento

       Bem, os kardecistas questionam a Bíblia. E eu disse e repito que entrar no mérito desta questão foge ao escopo deste livro, pois por ora pretendo apenas desmascarar o Kardecismo, para, deste modo, levar suas vítimas a buscarem a verdade em Deus e no Seu Livro. Por isto, formulo aos kardecistas as seguintes interrogações: Vocês podem provar as alegadas adulterações que teriam sido cometidas pelos hagiógrafos e outros aventureiros ao longo dos séculos? Onde, como e quando ocorreram tais interpolações? Será que toda essa apelação não passa de grosseira especulação? Porventura, os achados arqueológicos não deixam evidentes que as inegáveis provas dos erros cometidos pelos copistas, não impediram que chegassem a nós textos expurgados, contendo apenas falhas banais que, portanto, não ferem a integridade dos originais? Será que os kardecistas não sabem que crer na Bíblia não implica em crer na infalibilidade dos copistas e tradutores das Escrituras, mas apenas na Inspiração Verbal e Plena dos originais?

2.11.2. Segundo argumento

       Introduzi o parágrafo imediatamente acima, dizendo que “os kardecistas questionam a Bíblia”. Mas qualquer pessoa está em condição de abrir os livros de Kardec e provar que os mesmos não suspeitam da autenticidade da Sagrada Escritura da fé cristã. Por que isso? Não ignoramos a resposta, pois sabemos que Kardec era hipócrita e que seus livros são a cara dele. Digo isso, porque já provei como dois mais dois são quatro que a literatura Kardeciana refuta a Bíblia tanto quanto a defende. E isso não é apenas um equívoco, mas sim, literalmente um erro estapafúrdio e inqualificável. Mas isso conta ponto para a Bíblia. É que esse gesto constitui mais uma demonstração de que a Bíblia ataca à hipocrisia, razão pela qual os hipócritas contra-atacam às suas ofensivas. E nessa luta desigual, apelam até para o vale-tudo, agindo desavergonhadamente. Por um lado, porém, isso é bom, pois facilita a detecção de fraudes. Quão difícil seria provar as falsidades de Kardec se ele fosse coerente! Diz-se que “nada é mais falso do que o idêntico”. Logo, se Kardec tivesse fundado uma falsa religião parecidíssima com o Cristianismo, seria mais difícil desvencilhar-se dela. Mas, graças a Deus, o Kardecismo tenta “pagar suas contas com notas de três reais”.
       Quando em litígio, alguém recorre a falcatruas para “provar” inocência e se defender da acusação, evidencia com esse gesto que não está de posse da razão. Logo, o Kardecismo é falso, considerando que não concatena coordenada e coerentemente sua exposição sobre a Bíblia, disparatando sem qualquer critério normativo, ora retaliando a Bíblia, ora “defendendo-a ardorosamente”.

2.11.3. Terceiro argumento

      A Bíblia é ou não é a Palavra de Deus? As muitas contradições de Kardec constituem prova esmagadora de que não é com ele que você vai obter uma resposta substanciosa. Não tenha, pois, Kardec por consultor; antes, descarte o “auxílio” desse parlapatão biruta e vá pesquisar e decidir por si mesmo sobre a Bíblia. O heresiarca do Kardecismo não está apto a lhe orientar na jornada da vida rumo à eternidade. Não confie o seu futuro eterno aos cuidados desse paroleiro. A sabedoria popular já sacramentou que “antes só do que mal acompanhado”. Nunca aceite ser consulente de quem sequer consegue concatenar suas ideias. Quem não fala coisa com coisa não merece ser ouvido. Fora, pois, com os livrescos kardecianos.

                                                     ***
       Quem quer que tenha pesquisado o Kardecismo, ainda que preliminarmente, sabe que o seu mentor foi um dos homens mais cultos que o mundo já conheceu. Contudo, provei que ele falava como tantã. Poucos conseguem ver isso, porque seus disparates se escondem por trás de um florido frasal deveras encantador. A sua erudição disfarça seus desarrazoados. Mas, por que um homem do quilate de Kardec se dá a esse papelão? A resposta é que de uma pessoa com o diabo no couro tudo se espera. Não faço estas declarações desaforadamente, mas sim, com dor no coração! Quão bom seria se a vida e obra de Kardec fossem diametralmente opostas a essa realidade! Mas aqui está a verdade nua e crua sobre ele. Podemos mentir sobre os fatos ou camuflá-los, mas não podemos mudá-los, tampouco torná-los inexistentes. E espero que o fanatismo não o impeça de enxergar isso. Aspiro ardentemente que o conhecimento dessa triste história real o livre da desdita de crer nO Evangelho Segundo o Espiritismo.



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO III

 

KARDEC NEGA A TRINDADE



      Neste capítulo não pretendo entrar no mérito da questão quanto a se Deus é ou não Trino. Tampouco objetivo argumentar em defesa do Cristianismo. Se o Cristianismo está certo ou não por pregar a Doutrina da Trindade, não vem ao caso no momento. Estas questões também são importantes, mas este tema foge ao escopo não só deste capítulo, mas também deste compêndio. Por ora, viso apenas fazer mais uma demonstração do quanto o Kardecismo é incoerente.

3.1. NEGANDO A TRINDADE

       Não existe cristão unitarista, assim como também não há cristão ateu. Se os kardecistas fossem ateus e, concomitantemente, afirmassem ser cristãos, eu os tacharia de incoerentes, ainda que eu também fosse ateu, visto que o Cristianismo não é uma instituição ateísta. Não se iluda, o fato de o Kardecismo negar a Doutrina da Trindade, sem abrir mão do título de cristão, fá-lo incoerente, e, por conseguinte, o descaracteriza como autêntico Cristianismo.
       Crer na Doutrina da Trindade não implica crer em três Deuses em um, antes significa reconhecer que o Deus da Bíblia não é uma unidade absoluta, e sim composta, constituída de três Pessoas distintas, igualmente divinas, constituindo uma só Deidade. Por “distintas” deve-se entender que nenhuma das três Pessoas é as outras duas; e por “igualmente divinas”, queremos dizer que cada uma destas três Pessoas é Deus na verdadeira concepção deste termo.
       O fato de a Bíblia dizer que há um só Deus (1Tm 2.5), sem negar tanto a distinção entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (14.16; Mt 26.39), quanto a Divindade de cada uma destas três Pessoas (O Pai é Deus [Jo 3.16], o Filho é Deus [Jo 1.1; 1Jo 5. 20], e o Espírito Santo é Deus [At 5.3-4]), nos impele a concluir que, segundo a Escritura Sagrada do Cristianismo, Deus é o que se convencionou chamar de Trindade.
       Na doutrina cristã, o vocábulo “Trindade” designa o dogma da união de três pessoas distintas em um só Deus. Logo, Deus é Trino quanto ao número de pessoas que O constituem, e Uno quanto à Deidade. Logo, quem nega a Doutrina da Trindade não pode se considerar cristão, visto que fazê-lo não é falar coisa com coisa. Deste modo, aqui está mais uma demonstração de que o Kardecismo não é Cristianismo.
       E o Kardecismo realmente nega a Doutrina da Trindade? Nega. E é fácil provar isso.

3.2. NEGANDO O FILHO E O ESPÍRITO SANTO

       Visto que crer na Doutrina da Trindade, implica em crer na Divindade de cada membro da Deidade, basta provar que o Kardecismo nega a Divindade do Filho e do Espírito Santo, para ficar claro que ele é diferente do Cristianismo. E este é o próximo passo.

3.2.1. Negando o Filho

       Sabemos que Jesus disse: a) que Ele, de Si mesmo, nada podia fazer (Jo 5.30); b) que se submetia à vontade de Deus (Mt 26.39); c) que Ele é inferior ao Pai (Jo 14.28); e d) que encomendou Seu espírito à proteção do Pai (Lc 23.46). Destas afirmações de Jesus e outras correlatas, Kardec infere e registra em Obras póstumas que Jesus e Deus não são a mesma pessoa, e que, portanto, Jesus não é Deus. Referindo-se a Jesus, ele diz textualmente: “[...] ele não é Deus [...]”. E: “[...] Jesus [...] não era Deus [...]” (Obras póstumas. 26 ed. pp. 131, 134). Mas os argumentos que Kardec apresenta à base destes fatos bíblicos, visando com isso subtrair a Deidade de Cristo, estão errados pelas seguintes razões: a) Kardec não pode citar a Bíblia no intuito de provar a “ortodoxia” de suas doutrinas, pois como já deixamos claro, ele não acreditava nela. Kardec não tem moral para recorrer à Bíblia para nada; b) os cristãos, desde os primórdios do Cristianismo sustentam que Jesus, por ser Deus (Jo 1.1-3,10; Cl 1. 14-17; 2.9) e homem (1Tm 2.5), pode falar tanto como Deus (Mt 18.20; Mc 2.10) quanto como homem (Jo 5.30); c) como já vimos, o Cristianismo clássico jamais ensinou que o Pai e o Filho são uma só Pessoa. Essa crença, estranha ao Cristianismo bíblico, bem como rechaçada pelos católicos, pelos ortodoxos, e pelos evangélicos, é velha conhecida dos teólogos trinitarianos, que a rotulam de Sabelianismo, Modalismo e Unicismo. E, sendo assim, por que Cristo não poderia entregar o Seu espírito humano aos cuidados do Pai, ou seja, aos cuidados da Divindade, da qual Ele é integrante? Salta, portanto, aos olhos que Kardec, das duas uma: Ou ignorava o que o Cristianismo prega, ou usou de má-fé. E, em se tratando de um homem da estirpe de Kardec, só nos resta a última alternativa. Isto digo porque entendo que para nos refutar, ele deveria solapar as bases sobre as quais nos fundamentamos, e não se valer de premissas também rejeitadas por todos os teólogos trinitarianos. Tentar refutar uma ideologia, sem pôr em xeque a premissa que lhe serve de sustentação, não é uma atitude filosófica, e sim, um desvario. Isso é desconversar. Isso é desonesto. Isso é esperteza. Isso é apelação. Isso é um papelão. Certamente, Kardec se viu sem argumento para refutar a Cristologia trinitariana, e, por isso, ao invés de trazê-la à baila e desbancá-la, saiu pela tangente, apostando mais na ignorância de seus leitores, do que nos seus “álibis”.
       Kardec alega que (falo com minhas palavras) se Jesus realmente fosse Deus e homem, de humano Ele teria o corpo, e de Divino Ele teria o Espírito; mas é justamente o Espírito que Ele entrega nas mãos do Pai, quando de Sua morte (Lc 23.46). Ora, como entregar Deus aos cuidados de Deus? Mas este argumento não é tão consistente como talvez possa parecer a uma pessoa desavisada. Senão, veja estas considerações:

A) Kardec “esqueceu” de considerar que o Cristianismo sempre pregou que de humano, Jesus não possuía só o corpo, mas também o espírito.
       Se de humano Jesus possuísse só o corpo, Ele não seria 100% homem, como o Cristianismo sempre sustentou, e sim, um ser parcialmente humano.

B) Jesus, à luz da Bíblia, é o Deus Todo-Poderoso, Criador dos Céus, da Terra e de tudo quanto neles há (Jo 1.1-3,10; 5.18; 20.28 Hb 1.8-12; Rm 9.5; Cl 1.14-17; 2.9; Tt 2.13; 2Pe 1.1, etc.);

C) Jesus existe desde a eternidade (Mq 5.2; Jo 1.1-3,10; 17.5); logo, não foi criado por ninguém, nem mesmo por Deus Pai, pois é Criador, e não criatura. Contudo, kardec, no seu inglório afã de “provar” que Jesus é criatura, serviu-se do fato de Jesus ser chamado na Bíblia de “o Filho de Deus”. A questão é: Se Ele não é criatura, e sim, Eterno em absoluto, por que diz então a Bíblia que Ele é o Filho de Deus? Resposta: A expressão “filho de”, nem sempre significa “gerado por”, ou “criado por”. Não comparando mal, assim como o diabo não criou ninguém, mas tem muitos filhos (Jo 8.44; At 13.10; 1 Jo 3.10, etc.), Deus não criou Jesus, mas Jesus é o Seu Filho. Jesus é o Filho de Deus por identidade de natureza (ou igualdade) com o Pai, ou seja, o fato de Jesus ser o Filho de Deus, fá-lo Deus com inicial maiúscula. Senão, atente para a exposição baixo:

a) Em Jo 5.18 podemos ler:

Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus (Grifo nosso).

       Segundo o texto supra, as razões pelas quais os judeus queriam matar a Jesus eram as seguintes: 1) Jesus quebrantava (ou violava) o Sábado; 2) Jesus disse que Ele era igual a Deus, por dizer que Deus era o seu Pai; 3) os judeus entenderam muito bem o que Ele estava dizendo; e 4) ao invés de crerem no que Jesus lhes dizia, isto é, ao invés de crerem que Jesus era de fato igual a Deus, acharam que Ele estava cometendo a blasfêmia de usurpar as prerrogativas divinas, razão pela qual o consideraram digno de morte. Aqui está, portanto, uma prova de que Jesus é o Filho de Deus porque é igual a Deus; e é igual a Deus, porque é o Filho de Deus.
Há quem diga que Jesus não se declarou igual a Deus em Jo 5.18, e sim, que “foram os judeus incrédulos que raciocinaram que Jesus procurava fazer-se igual a Deus por afirmar que Deus era seu Pai.” E concluem que “Jesus nunca afirmou ser igual a Deus”. Estas declarações constam de um dos livros da seita dos testemunhas-de-jeová, intitulado Raciocínios à base das Escrituras, p. 215, edição de 1.985. Mas os que assim dizem só estariam com a razão, se este texto dissesse assim: “[...] mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, o que fez com que os judeus pensassem que Ele estava fazendo-se igual a Deus.” Mas não é este o caso.

b) Dizer-se o Filho de Deus é blasfemar?
       Segundo Jo 19.7, os judeus tentaram convencer a Pilatos de que Jesus era digno de morte, pelo fato de Ele haver afirmado que era Filho de Deus. Isto é prova cabal de que esta afirmação, à luz das línguas originais em que a Bíblia foi escrita, não significa criado por Deus, e sim, igual a Deus. Caso contrário, os ímpios não se apoiariam nisso para acusar a Jesus de blasfêmia. Tampouco se serviria disso para induzir Pilatos a reconhecer que Jesus era malfeitor, e que, portanto, merecia morrer.

c) Jesus é um com Deus
       Está registrado em Jo 10.30-36, que Jesus disse que Ele e o Pai são um. Isto equivale a dizer que Ele é Deus e os judeus quiseram matá-lo por isso, por acharem que o fato de Ele se fazer Deus era uma blasfêmia. Em outras palavras: Ele confessou que é Deus e os judeus acharam que Ele estava blasfemando ao fazer esta confissão. Senão, vejamos: Logo após Jesus dizer que Ele e o Pai são um (v.30), os judeus ameaçaram apedrejá-lo (v.31). Jesus perguntou, então, por qual motivo queriam matá-Lo a pedradas (v.32), e eles disseram que era porque Ele havia cometido a blasfêmia de se fazer Deus (v.33). Nos versículos 34-35, Jesus argumenta citando e explicando o Sl 82.6, e formula uma pergunta que nos deixa claro que a afirmação “Eu e o Pai somos um”, equivale a dizer “eu sou o Filho Deus”. Veja o leitor que embora o debate entre Jesus e os judeus seja em torno do fato de Ele ter afirmado que Ele era um com Deus, Jesus não disse assim: “àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, dizeis vós: Blasfemas; porque eu disse: Eu e o Pai somos um?” (Confere com Jo 10.36). Deste modo, se compararmos os versículos 30, 33 e 36 de Jo 10, veremos que a expressão “Eu e o Pai somos um”, corresponde a “Eu sou o Filho de Deus”. Do contrário, Jesus e os seus interlocutores não falavam coisa com coisa. E, como já sabemos, neste caso, ser o Filho de Deus é ser Deus, segundo a índole das línguas semíticas (hebraico, aramaico e grego) nas quais se escreveu a Bíblia.

d) O Filho de Deus na ótica do diabo
       Mt 4.3 nos diz que o diabo, tentando a Jesus, disse-lhe: “Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães”. Isto significa que na opinião do diabo, ser o Filho de Deus implica, necessariamente, em ser onipotente. Será que Satanás estava equivocado? Sabemos que o diabo é o pai da mentira, e, portanto, indigno de confiança (Jo 8.44). Entretanto, às vezes os demônios fazem afirmações que não podem ser contraditadas. Exemplos: De Lc 8.28 e de Mc 1.24 consta que os demônios confessaram que Jesus é “o Filho do Deus Altíssimo”, bem como “o Santo de Deus”. Podemos refutar? Ademais, se Satanás estava tentando a Jesus, obviamente ele procurava ser o mais “lógico” possível. Daí podermos perceber que o diabo tentou o Senhor Jesus a se identificar como o Filho de Deus por identidade de natureza. Das palavras do diabo podemos “pescar” que ele estava argumentando à base da seguinte lógica: Se Jesus é o Filho de Deus, então Ele tem, natural e necessariamente, poder sobrenatural. Se neste ponto Satanás não estava incoerentemente equivocado, como equivocados não estavam os seus subalternos ao fazerem as confissões registradas em Lc 8.28 e Mc 1.24, Jesus não é Filho de Deus por criação, pois ninguém tem a obrigação de ser portador de poder miraculoso só por ter sido criado por Deus. Se Jesus fosse filho de Deus por criação, a exposição do diabo seria uma incoerência tão gritante quanto se alguém fizesse os seguintes desafios: 1) “se tu és mecânico, pinta a minha casa”; 2)“se tu és carpinteiro, faze uma muda de roupa para mim”; e 3) “se tu és eletricista, corta os meus cabelos e faze a minha barba”.

e) Outras filiações
       Além dos exemplos acima, medite no fato de a Bíblia nos falar dos “filhos deste mundo” (Lc 16.8), “filhos da luz” (Ef 5.8), “filhos das bodas” (Mt 9.15), “filhos da ressurreição” (Lc 20.36), “filhos da desobediência” (Ef.2.2), “filhos da ira” (Ef.2.3), “filhos dos homens” (Ef 2.5), etc. Em todos estes casos, certamente salta aos olhos que o vocábulo “filho” não traz em si o conceito de procedência, derivação, criação, geração, formação, etc., mas sim, a ideia de participação. Porventura, bodas têm filhos? Ressurreição possui filhos? Ira dá à luz filhos? Luz pare filhos? Pois bem, quando a Bíblia diz que Jesus é o Filho de Deus, está dizendo apenas que Ele é membro, integrante, componente ou participante da Divindade, ou seja, Ele é, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, constituinte da Deidade. Jesus é o Filho, e não um dos filhos, nem tampouco um filho.
       Relembro que por ora não está em discussão a autenticidade da Bíblia e do Cristianismo. O que nos interessa neste momento é: O Cristianismo prega ou não prega a Doutrina da Trindade? Estamos vendo que sim, e isto torna patente que o Kardecismo não fala coisa com coisa, já que nega uma das doutrinas centrais da fé cristã, que é a Trindade, e, simultaneamente quer se passar por cristão. Ora, se o Cristianismo é veraz, então os kardecistas devem abraçar a Doutrina da Trindade, já que se dizem cristãos e é isto que o Cristianismo prega. Por outro lado, se a Triunidade de Deus é um ensino espúrio, os kardecistas precisam abjurar o Cristianismo e assumir que não são cristãos. Amem-no ou deixem-no. Reneguem-no ou abracem-no.

3.3.2. Negando o Espírito Santo

       O Kardecismo tentou destituir o Espírito Santo de Sua Divindade e de Sua personalidade, conforme a seguir exposto.

Quem é o Consolador?
       Pela Bíblia sabemos que: a) Jesus nos prometeu outro Consolador (Jo 14.16-17,26; 15.26; 16.7-14) e informou que este é o Espírito Santo (Jo 14.26). Neste contexto, tudo que se diz do Espírito Santo, diz respeito ao Consolador, visto que estes vocábulos designam a mesma pessoa; b) Jesus mandou que os apóstolos aguardassem a vinda do dito Consolador ; c) Jesus garantiu que eles receberiam o referido Consolador dentro de breves dias, e que só podiam sair de Jerusalém para anunciarem o Evangelho ao mundo, após o recebimento desta bênção (At 1.4-5, 8; Lc 24.49); e d) eles (os apóstolos e outros cristãos do século I) foram, pois, a um cenáculo e lá permaneceram em oração (At 1.12-14) até que se cumpriu o que está exarado em At 2. 1-4. Não pode haver dúvida, então, de que o fenômeno do qual trata este último texto bíblico (At 2.1-4) é a vinda do outro Consolador, conforme Jesus prometera. Logo, a bendita promessa se cumpriu há quase dois mil anos, quando os cristãos receberam o Consolador, isto é, o Espírito Santo. O kardecismo, porém, alardeia aos quatro ventos que o Consolador que Jesus prometeu é o Espiritismo codificado por Kardec, isto é, a doutrina Espírita; e que, portanto, a dita promessa se cumpriu quando Kardec lançou os seus livros espíritas, dos quais O livro dos espíritos foi o primeiro a vir a lume (O evangelho segundo o espiritismo. 109 ed. capítulo 6, nº 4, pp. 128-129; O Reformador: FEB, abril de 1995, p. 6 [A revista O Reformador é órgão oficial da FEB]). Salta aos olhos, portanto, que o Kardecismo nega tanto a Personalidade quanto a Divindade do Consolador. Este não é (segundo o Kardecismo) uma Pessoa Divina, e sim, um corpo de doutrinas. Por isso exibo a seguir as evidências de que o Cristianismo clássico tem o Consolador como Pessoal e Divino. Ao fazer isto, não provo que o Cristianismo é veraz, nem tampouco a personalidade e Divindade do Espírito Santo, mas demonstro mais uma vez que o Kardecismo é incoerente. Limito-me a este feito porque creio que fazê-lo basta para demover a um inquiridor sincero de depositar sua confiança no Kardecismo. Veja, pois, a exposição abaixo e cientifique-se de que, segundo o Cristianismo, o Espírito Santo é Deus e Pessoal, não sendo, portanto, cristão, quem disso destoa. Aclarando: Se quem discorda dessa doutrina cristã está ou não com a razão, é discutível; mas que o tal não é cristão, é indiscutível, visto ser isso que o Cristianismo prega desde seus primórdios.

A personalidade do Espírito Santo
       Muitos são os que negam a personalidade e a Divindade do Espírito Santo; e os kardecistas pertencem a esse grupo. É oportuno, então, que tragamos este fato à baila.
       Atos pessoais são atribuídos ao Espírito Santo. Segundo o renomado teólogo Myer Pearlman, personalidade “É aquilo que possui inteligência, sentimento e vontade”. (Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. Flórida: Editora Vida. 16ª impressão, maio de 1991, p. 180). E assim fica fácil sabermos se o Cristianismo prega ou não a personalidade do Espírito Santo. Para tanto, basta lermos a Bíblia. Nela consta que o Espírito Santo tem:
Inteligência __ Segundo Jo 16.13, Ele fala do que ouve. E, como sabemos, só um ser portador de intelecto pode fazer isso;
Sentimento __ À luz de Ef 4.30, o Espírito Santo pode ser entristecido, pois aí se pede para não entristecermos a Ele. Ora, a ordem para não entristecermos o Espírito Santo, equivale a dizer que devemos mantê-lo alegre, já que qualquer cuidado para não entristecê-lo seria injustificável, se tristeza fosse o seu estado normal. Então o Espírito Santo pode se alegrar ou se entristecer. Além disso, Rm 15.30 assegura que o Espírito Santo ama. Ora, amor é um sentimento. Logo, o Espírito ama, e, portanto, se alegra com o nosso bem-estar, assim como se entristece com nossas desventuras. E alegria, tristeza e amor não são sentimentos? Pode uma doutrina fazer isto?
Vontade __ 1Co 12.11 garante que o Espírito Santo tem querer, pois diz que Ele distribui os dons espirituais “como quer”. E em Rm 8.27 consta que Deus sabe qual é a intenção do Espírito Santo. Vontade e intenção não são atributos pessoais? Pode um conjunto de doutrinas dar estes expedientes?
Além dos atos pessoais supra, atribuídos ao Espírito Santo, há outras ações corroborando com a crença na personalidade do Espírito Santo, das quais listamos apenas estes: 1) o Espírito Santo geme inexprimivelmente (Rm 8.26); 2) o Espírito Santo discorda (At 16. 6,7); 3) o Espírito Santo concorda (At 15.28); 4) o Espírito Santo intercede (isto é, ora) por nós (Rm 8.26); e 5) o apóstolo Pedro disse que Ananias mentiu ao Espírito Santo (At 5.3). Veja, mentira ou verdade só se fala a uma pessoa. Não se mente a um fluido, a uma energia, a um objeto, a um corpo de doutrinas, etc. Algo impessoal não realiza ações como gemer, discordar, concordar, orar, etc. Com efeito, o Espírito Santo satisfaz todas as exigências que um ser precisa satisfazer para caracterizar-se como pessoa, pois possui intelecto, volição e sentimentos. O que kardec entendia por pessoa?
No nosso vernáculo, “pessoa” significa “ser humano”, mas já deve estar claro que não é isso que queremos dizer quando afirmamos que o Espírito Santo é uma pessoa. O Espírito Santo não é um ser humano, nem tampouco um corpo de doutrinas, mas um ser portador de intelecto, vontade e sentimentos; e a isso, chamamos de pessoa. Esta palavra é pobre para conceituar este membro da Trindade, mas por não dispormos de um vocábulo melhor, definimo-Lo assim.

3.3.3. A divindade do Espírito Santo
       O apóstolo Pedro disse que Ananias mentiu ao Espírito Santo (At 5.3) e, por conseguinte, a Deus (At 5.4). Se mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus, então Ele é Deus.
       1Co 6.19 diz que nós, o conjunto dos cristãos, somos o templo do Espírito Santo. E, como sabemos, nenhuma frase será bem estruturada até que haja entre as palavras que a constituem, uma adequada associação de ideias, formando um todo. A palavra “gaiola” tem que ter alguma relação com pássaro. E o vocábulo “chiqueiro” tem que estar ligada de alguma forma ao substantivo “porco”. Igualmente, a palavra “palácio” lembra estadista e majestade. Quando isso não ocorre, diz-se que não se está falando coisa com coisa. Deste modo, se somos o Templo do Espírito Santo, então Ele é Deus, já que só a Deus se erige templo. Pense: Que seria o Espírito Santo, se fôssemos o seu chiqueiro? E se fôssemos a sua gaiola, não seria Ele um pássaro? E porventura, não constituiria mais uma prova de Sua Majestade, se a Bíblia dissesse que somos o seu palácio? Isto posto, então Ele é Deus, pois somos o Seu templo.
       A Bíblia diz que o Espírito Santo é Senhor (2Co 3.18 ARA). Este versículo, além de provar a personalidade do Espírito Santo, prova também a Sua Divindade. Claro, algo impessoal não pode ser Senhor. Ademais, no sentido religioso só Deus é Senhor.
       Há, na língua original do Novo Testamento, duas palavras equivalentes a “outro” em português: héteros e allos. Esta significa “outro” da mesma espécie, da mesma qualidade e da mesma natureza. Mas aquela significa “outro” diferente. João, por saber que os membros da Trindade são iguais, ao registrar que Jesus nos prometeu outro Consolador, grafou allos parácleto. Allos (outro), parácleto (consolador), querendo dizer com isto, certamente, que o Consolador que Deus nos deu mediante os rogos de Cristo, é igual a Jesus. Logo, o Espírito Santo tem que ser tão Pessoal quanto Jesus. Sim, se Jesus é pessoa, então o Espírito Santo também o é. E se o Consolador é apenas um conjunto de doutrinas __ como o imaginou Kardec __, então Jesus também é um conjunto de doutrinas. Deste modo temos em Jo 14.16 mais uma exibição da Deidade do Espírito. O raciocínio é o seguinte: Se Jesus é igual ao Pai (Jo 5.18), e não difere do Espírito Santo (Jo 14.6), então este é igual ao Pai e ao Filho, o que prova a Sua Personalidade e Divindade, já que o Pai e o Filho são Pessoas.
       Bem, estamos cientes de que kardec negou a Personalidade e a Divindade do Consolador, confundindo-o com os seus livros. Mas a coisa não para por aí. Literatura oficial do Kardecismo está confundindo as manifestações do Espírito Santo com mediunidade. Só para citar um exemplo, o senhor Durval Ciamponi, kardecista de renome entre os seus correligionários, afirmou:

No dia de Pentecostes todos os apóstolos foram envolvidos pelos espíritos, ocorrendo a maior sessão coletiva de manifestação mediúnica na história religiosa do mundo. [...] os [...] estudiosos irão descobrir que o Espírito Santo nada mais é que a alma dos homens que se foram [...] (Jornal Espírita, órgão oficial da FESP, junho de 1991. Grifo nosso).

       Sim, leitor, circula nos arraiais espiritistas que se deve distinguir o Espírito Santo do Consolador. Este seria a totalidade das doutrinas espíritas, e aquele o conjunto das almas dos defuntos. Um kardecista me disse que o Espírito Santo é o conjunto das almas desencarnadas que já atingiram a perfeição. O Cristianismo bíblico, porém, sempre entendeu que o Consolador é o próprio Espírito Santo, e que o mesmo é pessoal e divino, constituindo com o Pai e o Filho um só Deus.
       Outra relevante prova da Divindade do Espírito Santo é o fato de a Bíblia o chamar de Espírito de Deus (1Sm 10.10; 19.23, etc.). Já fiz constar acima que nenhum estudante da Bíblia pode ignorar que a Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego, e que, portanto, há, por detrás da fraseologia bíblica, expressões idiomáticas próprias de tais línguas. Não atentar para isso traz um prejuízo que só vendo. Por exemplo, as locuções Espírito de Deus, Espírito de Jeová e Espírito do Senhor, tão comuns nas páginas da Bíblia, equivalem a dizer que o Espírito Santo se identifica com Deus por ser da mesma essência, isto é, Ele é Deus, Jeová e Senhor; sendo, pois, Seu fiel representante, e, por conseguinte, capaz de torná-lo presente e real, e que está a fazê-lo. Uma prova disso jaz em Rm 8. 9, onde o Espírito Santo é chamado de Espírito de Cristo. Claro, “Espírito de Cristo”, neste caso, não se refere à alma de Jesus, e sim, que o Espírito Santo se identifica com Cristo e O representa, tornando real, concreta e tangível a presença de Jesus, isto é, Ele é, no que diz respeito à Divindade, tal qual Jesus, por cujo motivo O representa sem deixar a desejar. De igual modo, da expressão “Espírito de Deus” não se deve inferir que Deus tem espírito. Ora, do fato de a Bíblia dizer que Deus é Espírito (Jo 4.24), se deduz que Ele não tem espírito. Pode um espírito ter espírito? Logo, a locução “Espírito de Deus” apenas designa que o Espírito Santo é Deus, bem como o Agente de Deus, ou seja, Agente da Deidade, da qual Ele é componente, representando-O a contento.
       Do exposto até aqui, certamente está patente que se os Kardecistas são cristãos, então eu posso me considerar budista ou muçulmano. Não creio na Tripitaca, mas sou budista. Desdenho o Alcorão, mas sou muçulmano.
       Está, pois, claro que o unitarismo (que é uma das formas de negar o dogma da Trindade) pregado pelos Kardecistas, Russelitas, Judaístas, entre outros, não é cristão. Ademais, os trinitarianos (os que creem no dogma da Trindade), longe de serem antibíblicos, esposam o que o Cristianismo clássico sempre pregou.
       Repito que se quem nega o dogma da Trindade está ou não com a razão, é discutível; mas que o tal não é cristão, é indiscutível, já que é isso que o Cristianismo vem pregando através dos séculos desde de seu nascedouro.



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO IV

 

NÓS E JESUS JÁ FOMOS BICHOS?



       Neste capítulo pretendo trazer à baila duas contradições de Allan kardec: Primeira: Ele disse em A gênese que todos nós já fomos bichos em existências anteriores, mas negou isso em O livro dos espíritos. Segunda: não obstante esses absurdos, arroga a si o título de cristão.

4.1. O HOMEM JÁ FOI BICHO?!

       Kardec afirmou em A gênese, capítulo III, números 20-24, pp. 81-84, que todos os espíritos, ao serem criados, são simples e ignorantes, e que cabe a eles se evoluírem até alcançar a perfeição. Nessa trajetória rumo à perfeição os espíritos encarnam, desencarnam e reencarnam em corpos de animais. Ele disse que a luta pela sobrevivência entre os animais, onde um come o outro, serve para desenvolver os espíritos que ocupam seus corpos. Tais espíritos, quando atingem um certo grau de evolução, deixam de encarnar nos animais e ingressam no seio da Humanidade, ou seja, passam a encarnar em seres humanos. Está claro em A gênese, que as pessoas perversas são espíritos que, embora já tenham deixado o mundo animal, ainda não se despiram da lei do mais forte que vigora entre os irracionais. Senão, vejamos:

20. — A destruição recíproca dos seres vivos é, dentre as leis da Natureza, uma das que, à primeira vista, menos parecem conciliar-se com a bondade de Deus. Pergunta-se por que lhes criou ele a necessidade de mutuamente se destruírem, para se alimentarem uns à custa dos outros [   ].
       Objetar-se-á: não podia Deus chegar ao mesmo resultado por outros meios, sem constranger os seres vivos a se entredestruírem? [...].
22. — Uma primeira utilidade, que se apresenta de tal destruição, utilidade, sem dúvida, puramente física, é esta: os corpos orgânicos só se conservam com o auxilio das matérias orgânicas, matérias que só elas contém os elementos nutritivos necessários à transformação deles. Como instrumentos de ação para o princípio inteligente, precisando os corpos ser constantemente renovados, a Providência faz que sirvam ao seu mútuo entretenimento. Eis por que os seres se nutrem uns dos outros. Mas, então, é o corpo que se nutre do corpo, sem que o Espírito se aniquile ou altere. Fica apenas despojado do seu envoltório.
23. — Há também considerações morais de ordem elevada.
       É necessária a luta para o desenvolvimento do Espírito.
       Na luta é que ele exercita suas faculdades. O que ataca em busca do alimento e o que se defende para conservar a vida usam de habilidade e inteligência, aumentando, em consequência, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe; mas, em realidade, que foi o que o mais forte ou o mais destro tirou ao mais fraco? A veste de carne, nada mais; ulteriormente, o Espírito, que não morreu, tomará outra.
24. — Nos seres inferiores da criação, naqueles a quem ainda falta o senso moral, em os quais a inteligência ainda não substituiu o instinto, a luta não pode ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas dessas necessidades é a da alimentação. Eles, pois, lutam unicamente para viver, isto é, para fazer ou defender uma presa, visto que nenhum móvel mais elevado os poderia estimular. É nesse primeiro período que a alma se elabora e ensaia para a vida [...] (A gênese, capítulo III, números 20, 22-24. Grifo nosso).

[...] No homem, há um período de transição em que ele mal se distingue do bruto. Nas primeiras idades, domina o instinto animal e a luta ainda tem por móvel a satisfação das necessidades materiais. Mais tarde, contrabalançam-se o instinto animal e o sentimento moral; luta então o homem, não mais para se alimentar, porém, para satisfazer à sua ambição, ao seu orgulho, à necessidade, que experimenta, de dominar. Para isso, ainda lhe é preciso destruir. Todavia, à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade, diminui a necessidade de destruir, acaba mesmo por desaparecer, por se tornar odiosa. O homem ganha horror ao sangue.
.......Contudo, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, pois, mesmo chegando a esse ponto, que parece culminante, ele ainda está longe de ser perfeito. Só à custa de muita atividade adquire conhecimento, experiência e se despoja dos últimos vestígios da animalidade. Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna puramente intelectual. O homem luta contra as dificuldades, não mais contra os seus semelhantes (Ibid., cap. III, nº 24. Grifo nosso).

       A transcrição supra não deixa dúvida de que, segundo o Kardecismo, o homem já foi touro, cavalo, cão, rato, cobra, barata, etc., nas encarnações anteriores. Ora, quem crê nisso pode ser tudo, menos cristão, já que o Cristianismo nunca pregou isso.

4.2. JESUS JÁ FOI BICHO?!

       Todos os que leem Kardec, se são sinceros, reconhecem que ele admitia a possibilidade de até Jesus Cristo ter sido bicho nas suas supostas preexistências. Senão, vejamos: Kardec diz em Obras póstumas, sob o tópico “Estudo da Natureza de Cristo”, pp. 90 a 118, que Jesus Cristo é um espírito criado por Deus. Diz também, em O céu e o inferno, 1ª parte, capítulo III, nº 6, que os espíritos, ao serem criados, são simples e ignorantes. Agora raciocinemos: Se os espíritos, ao serem criados, são simples e ignorantes; e se na trajetória evolutiva, o encarnar-se em animais faz parte do programa, então Jesus também já foi minhoca, cão, porco, cobra, mosca, sapo, urso, macaco, barata, etc., nas encarnações anteriores, até galgar o patamar no qual se encontra hoje, já que Kardec sustenta que Jesus também é criatura. E comigo concorda o Dr. Américo Domingos Nunes Fº, articulista espírita, que num artigo de sua autoria, intitulado “Reencarnação __ Via Única para o Alcance da Plenitude”, disse: “[...] Cristo foi gerado simples e ignorante e se “instruiu nas lutas e tribulações da vida corporal, percorrendo todos os graus da escala evolutiva, despojando-se de todas as impurezas da matéria [...].’” (Correio Espírita. Ano IX, nº 104, Niterói, fevereiro de 2014, p. 7). Nesse mesmo artigo, o Dr. Américo disse que essa sua declaração se apoia em OLE, isto é, em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Quão contrária ao Cristianismo é essa doutrina! As informações que nos vêm da Bíblia acerca da Augusta Pessoa de Jesus, são diametralmente opostas às que provêm de Kardec. Senão, vejamos: A) de acordo com Miqueias 5.2, Jesus é desde a eternidade; B) segundo o apóstolo João, Jesus é: a) igual a Deus (Jo 5.18 ); b) digno de ser tão honrado quanto Deus (Jo 5.23); c) o verdadeiro Deus (1Jo 5.20 ); e) o Deus Criador dos Céus, da Terra e de tudo quanto neles há (Jo 1.1–3,10 ).
       À luz de Jo 1.1-3, Jesus não é criatura, pois que segundo este trecho, “sem” Jesus, “nada do que foi feito se fez”. Ora, se “sem Ele nada do que foi feito se fez”, então Ele fez tudo quanto foi feito. E se Ele criou tudo quanto foi criado, então Ele não é criatura, pois uma coisa que ainda não existe, não pode fazer-se a si mesma nem tampouco ajudar o seu criador a criá-la. Conseguintemente, do fato de a Bíblia dizer que “sem Ele nada do que foi feito se fez” podemos inferir que se Ele tivesse sido feito, não poderíamos chegar a nenhuma outra conclusão, se não às seguintes: Ou Ele fez-se a Si mesmo, ou pelo menos ajudou o seu Criador a criá-Lo. Você não acha que esse “raciocínio” é tão ilógico que nem merece ser reconhecido como tal? Este texto Bíblico (Jo 1.1-3) sustenta que Jesus é desde a eternidade. Jesus “estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele [...]” (Jo 1.1-3,10). Vejamos ainda as considerações abaixo:
      Segundo Hebreus 13.8, Jesus Cristo é hoje o que foi no passado eterno, e será por toda a eternidade o que hoje Ele é. Isto prova que, segundo o Cristianismo, Ele não evoluiu, não evolui e nem evoluirá jamais;
       Hebreus 1.8-12 diz que Jesus é o Jeová Deus, cujo trono subsiste pelos séculos dos séculos, ama a justiça, odeia a injustiça, fundou os Céus e a Terra, e é imutável. Este trecho (Hb 1.8-12) é constituído de cópias de duas passagens veterotestamentárias, a saber, os Salmos 45. 6-7; e 102.25-27. Do fato de as palavras destes Salmos se referirem a Jeová, o Deus de Israel, e o hagiógrafo neotestamentário interpretá-las como referentes a Jesus, se subentende que o Divino nome Jeová não é privativo do Pai, mas extensivo ao Filho, o que justifica a fé na Sua Divindade, a qual Lhe é natural e plena.
       Em Colossenses 1.14-17, o apóstolo Paulo diz que Jesus é o Criador dos céus, da Terra e de tudo quanto neles há;
       Eis aqui o que prega o Cristianismo. Ninguém é obrigado a ser cristão, mas quem se considera cristão tem que crer nisto, sob pena de merecer o título de incoerente, caso rejeite este ensino.

4.3. FOMOS BICHOS OU NÃO FOMOS?

       Convido o leitor para, juntamente comigo, ter a desdita de ver Kardec se contradizer.

       Vimos que Kardec disse em A gênese que nós já fomos bichos nas encarnações anteriores, ou seja, os espíritos que hoje animam nossos respectivos corpos, já animaram répteis, insetos, quadrúpedes, etc. Agora, porém, partamos ao subcapítulo seguinte e vejamo-lo se contradizer em O livro dos espíritos.

       Um espírito “superior” (bem sei que espírito é esse), respondendo às indagações de Kardec, assegurou-lhe que os espíritos dos animais jamais encarnarão em seres humanos, e que a recíproca é verdadeira. Disse ainda o mencionado espírito consultor, que tanto os espíritos dos animais, quanto os dos homens, evoluem paralelamente, mas a disparidade entre estas duas espécies de espíritos é mantida para sempre. Ambos (os espíritos que encarnam em seres humanos e os que encarnam em animais) chegarão aos mundos superiores (mundos estes habitados pelos espíritos perfeitos), mas os espíritos dos animais nunca serão tão perfeitos quanto os dos homens. Os espíritos dos homens serão perfeitos, e os espíritos dos animais serão aperfeiçoados. Estes nunca conhecerão a Deus; antes, para estes o homem será um deus. Esse ensino consta de O livro dos espíritos. Ora, como associar esse ensino, segundo o qual as almas dos animais são e serão eternamente inferiores às almas dos homens, com o que está contido em A gênese, já considerado no primeiro tópico deste capítulo?
       Para que o leitor veja que de fato as coisas são assim, queira ler o texto a seguir transcrito, o qual é constituído das perguntas que Kardec formulou a um espírito “superior”, assim como das respostas desse consultor. Tais perguntas constam de O livro dos espíritos e estão enumeradas. Ei-las:

Pergunta 597: “Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?” Resposta: “Há e que sobrevive ao corpo”;

a) – “[...] Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?” Resposta: “É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus”;

Pergunta 598: “Após a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a consciência de si mesma?” Resposta: Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu eu, não. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.

Pergunta 599: À alma dos animais é dado escolher a espécie de animal em que encarne?” Resposta: “Não, pois que lhe falta livre-arbítrio”.

Pergunta 600: Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se, depois da morte, num estado de erraticidade, como a do homem?” Resposta: “Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.

Pergunta 601: Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?” Resposta:Sim; e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores inteligentes. Nada há nisso de extraordinário. Tomemos os nossos mais inteligentes animais, o cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do homem?”

Pergunta 602: “Os animais progridem, como o homem, por ato da própria vontade, ou pela força das coisas?” Resposta:Pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação”.

Pergunta 603: “Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus?” Resposta: “Não. Para eles o homem é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para o homem”.

Pergunta 604:Pois que os animais, mesmo os aperfeiçoados, existentes nos mundos superiores, são sempre inferiores ao homem, segue-se que Deus criou seres intelectuais perpetuamente destinados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que todas as suas obras revelam”. Resposta: Tudo em a Natureza se encadeia por elos que ainda não podeis apreender. Assim, as coisas aparentemente mais díspares têm pontos de contacto que o homem, no seu estado atual, nunca chegará a compreender [...] (O livro dos espíritos. Parte 2ª, capítulo XI, números 597-604, pp. 296-297, grifo nosso).

                                                  ***
       Está, pois, claro que O livro dos espíritos diz e A gênese desdiz, e que a recíproca é verdadeira. E assim, acabo de provar que não faltei com a verdade, quando fiz constar do Prólogo que “Kardec diz uma coisa num livro, e outra, diametralmente oposta, noutro. E, para concluir este tópico, pergunto: Merece crédito o Kardecismo? Corra dessa barafunda, ó leitor! Pensem nisso os sinceros que ainda pensam!

4.4. NÃO HÁ CONVERGÊNCIA

       Bem, quanto a se fomos ou não animais no passado, Kardec diz “sim” e “não” concomitantemente; do que se subentende que ser kardecista implica em crer simultaneamente em duas “verdades” diametralmente opostas. Portanto, que dizem os kardecistas sobre essa incoerência de seu guia espiritual, ao qual intitulam de “mestre arrojado”? Resposta: Eles não veem nisso nenhum antagonismo; apenas divergem sobre a interpretação de tais textos discrepantes. Senão, vejamos o que disse o senhor Durval Ciamponi, articulista espírita:

Eles [os espíritos dos animais] serão sempre espíritos de animais? Alguns intérpretes da Doutrina Espírita [...] sustentam que sim. (Jornal Espírita, órgão oficial da FESP, abril de 1996. Grifo e colchetes nossos).

       Ato contínuo, Ciamponi, ombreando renomados espíritas que consigo convergem, como J. Herculano Pires e Gabriel Delantes, conclui que “A resposta é, portanto, não” (Ibid., grifo nosso). A seguir, o referido articulista, prosseguindo em sua dissertação sobre sua crença de que os espíritos que ora animam nossos corpos, antes de se habilitarem a tanto, já animaram insetos, répteis, aves, e animais diversos, didaticamente formula algumas perguntas e as responde respectivamente. São, ao todo, 8 perguntas, das quais só copio 5, e sem me prender à ordem original. Ei-las:

Primeira pergunta: “Os animais têm espíritos?” Resposta: “A resposta é sim”.

Segunda pergunta: “Os animais sofrem o processo da evolução através das encarnações?” Resposta: “[...] podemos dizer seguramente que sim [...]”;

Terceira pergunta: “[...] Eles serão sempre espíritos de animais? Resposta: “[...] a alma do animal é da mesma natureza que a humana, apenas diferenciada no desenvolvimento gradativo. A resposta é [...] não”;

Quarta pergunta: “Uma cobra poderá vir, em outra encarnação como outro animal, por exemplo: um animal doméstico?” Resposta: “[...] A natureza não dá saltos [...]. Logo não é concebível que uma cobra venenosa [...] venha a animar o corpo de um cão, mas poderá vir, em outra encarnação, animando o corpo de uma jiboia, mais mansa, passível e domesticável [...]”;

Quinta pergunta: “Assim como acontece aos homens, os animais encarnados têm destinos bem diferentes, quando na Terra. Uns são bem tratados, tendo lar e carinho, outros vivem nas ruas sendo chutados, famintos e sem lar. Pode-se dizer que isso seja dívida de vidas passadas?” Resposta: “Bela pergunta; resposta difícil. [...]. Não se pode dizer que ele sofre[1] por causa das dívidas passadas, mas a tendência de seu comportamento anterior deve ser de profundo interesse para a decisão dos espíritos encarregados da missão reencarnatória.” [1]NOTA: A palavra “sofre”, constante da resposta à quinta pergunta, é, no original, “sobre”, e não “sofre”. Mas, como o contexto indica tratar-se de uma errata, tomei a liberdade de efetuar a correção, grafando o vocábulo em questão corretamente.

4.5. A RESPEITO DA EVOLUÇÃO ZOO/PNEUMA

       Como o leitor pode ver, a confusão se estabelece quando se perde o precioso tempo lendo os escritos nefandos produzidos por Kardec e seus discípulos. Tais livros pregam duas doutrinas irreconciliáveis: ora a Humanidade já foi bicho, ora nunca fomos bichos e nem tampouco havemos de sê-lo um dia. Mas o senhor Ciamponi, como se pode ver ao ler a transcrição supra, não se atazana com isso; antes, faz de uma dessas heresias alvo de suas apologias, tentando provar que Kardec, longe de ser incoerente, está mesmo é sendo mal interpretado pelos que pensam que ele jamais afirmou que nós já fomos bichos nas existências precedentes.
       Muitos kardecistas teimaram comigo que Kardec não pregou que nós já fomos bichos nas encarnações anteriores. Entre as razões para se pensar assim, segundo me consta, figura o fato de que alguns espíritas (como bem o observou o referido senhor Ciamponi, no seu artigo supracitado) escrevem a palavra “espírito” de duas maneiras: com inicial minúscula (espírito) e com inicial maiúscula (Espírito). Esta grafia designa o espírito que já está pronto para ingressar na família hominal (isto é, já se habilitou a encarnar em seres humanos), e aquela indica o espírito que ainda estaria necessitando de mais alguns treinos nos corpos dos irracionais, a fim de se qualificarem a entrar na família hominal. Logo, qualquer espírita pode, mesmo crendo na transmigração da alma, afirmar que os espíritos dos animais não encarnam em seres humanos, visto que, “apoiando-se” em A gênese, inferem que os espíritos só passam a encarnar na espécie humana, quando se tornam Espíritos, ou seja, quando se habilitam a tanto. Consequentemente, enquanto o espírito não virar Espírito, não poderá animar um corpo humano. Tais kardecistas podem ainda dizer que nenhum Espírito encarna em animais, já que entendem que os espíritos nunca retroagem. Por conseguinte, muitos espíritas creem que todos os espíritos um dia param de animar corpos de animais e passam a animar corpos humanos, mas nenhum autêntico kardecista ensina que um Espírito pode animar um animal. Isto posto, boa parte dos kardecistas crê que os espíritos, ao emigrarem do “mundo” dos brutos, imigram no dos humanos, mas não me consta que alguém dentre eles confirme a recíproca. E se há quem o faça, isso se dá sem suporte kardeciano.
       Quanto ao assunto em pauta neste tópico, os kardecistas estão divididos em duas (ou três?) escolas: a) os que creem que Kardec não pregou que os espíritos que ora animam nossos corpos, tenham, num remoto passado, animado os brutos. Isso, a meu ver, ficou claro, quando informei acima que o Sr. Ciamponi afirmou que “Alguns intérpretes da Doutrina Espírita [...] sustentam que” os espíritos que animam os animais “serão sempre espíritos de animais”. b) os que creem que Kardec pregou que os espíritos que ora animam nossos corpos, um dia animaram os irracionais, e que ele nunca desdisse isso. Isso também ficou claro, quando informei que Ciamponi confessou que “Alguns intérpretes da Doutrina Espírita [...] sustentam que” os espíritos que animam os animais “serão sempre espíritos de animais”. Ora, se apenas “Alguns” sustentam isso, então há os que discordam disso. Ademais, vimos sob o subitem 4.4 que Ciamponi se pôs ao lado dos que sustentam que os nossos espíritos um dia animaram os animais, e que os espíritos que agora animam os brutos, um dia vão, também, animar seres humanos. c) da existência dessa terceira escola não estou convicto, mas de meu observatório pude divisar ao longe que há, entre os kardecista, os que admitem que Kardec foi infeliz em algumas de suas afirmações, das quais, algumas são até contraditórias. Os tais veem as obras de Kardec como boas, mas não sem carência de expurgos, por cujo motivo arrogam a si o direito de expurgá-las do que lhes parece contrário à razão, isto é, abraçam apenas os pontos que lhes soam razoáveis. Que há kardecistas pensando assim, não abrigo dúvida alguma; o que não posso garantir, é se essa postura já se qualificou como uma escola kardeciana, ou se ainda é vista apenas como um ato isolado, de somenos importância.

4.6. QUE JESUS É ESSE?

       Não é raro ouvirmos os kardecistas dizerem que também creem em Jesus. Porém, o que foi exibido até aqui, esclarece que o “Jesus” deles é diferente do nosso. O nosso Jesus é o único Deus vivo Todo-poderoso, Criador dos Céus, da Terra e de tudo quanto neles há. Ele é sem princípio, sem fim, auto-existente, imutável, onisciente, onipresente, inigualável, etc. Mas o “Jesus” dos kardecistas é um espírito comum, diferindo de nós apenas na idade e na evolução; do que se subentende que um dia todos nós seremos iguais a ele. O “Jesus” dos kardecistas já foi minhoca, barata, rato, etc., não tendo, pois, nada em comum com o nosso.
       Muitos dos que se dizem kardecistas não leem os livros de Kardec, pois são, na verdade, apenas simpatizantes dessa doutrina, e não kardecistas praticantes. E, por isto, nem sabem que ser kardecista implica, necessariamente, em negar a Cristo, destituindo-O de Sua Deidade natural, plena e própria. Não é, pois, a estes que eu me referi, quando disse que “o ‘Jesus’ dos kardecistas já foi minhoca, barata, rato, etc”.
       Acabei de exibir, pois, mais duas evidências de que o Kardecismo não é Cristianismo: a) prega doutrinas estranhas à fé cristã. Sim, dizer que nós e até o Senhor Jesus, já fomos bichos nas encarnações anteriores, não é portar-se como cristão; b) contradiz-se a si mesmo. Ora, o Cristianismo é um todo harmonioso, e não essa colcha de retalhos que, impropriamente, se faz passar por instituição cristã.
       A expressão “kardecista”, nesta obra, designa exclusivamente os que conhecem e praticam o que Kardec ensinou, não incluindo os que se dizem Kardecistas, mas creem que Jesus é Deus e O “adoram”. Estes não podem se considerar kardecistas, pois não o são; tampouco eu os vejo como tais. Antes, os vejo como ingênuos dignos de dó, pois que sequer sabem onde estão se metendo.
       O ponto alto deste capítulo é que o Kardecismo contradiz-se a si mesmo, visto que afirma em A gênese que já fomos animais, e nega isso em O livro dos espíritos. Digno de nota também, é o fato de que os kardecistas, ao invés de enxergarem essa contradição, se dividem em dois grupos: os que, inspirando-se em A gênese creem que somos egressos do mundo animal; e os que, à luz (ou às trevas?) de O livro dos espíritos, negam o óbvio, alegando que Kardec nunca ensinou que já fomos bichos. Assim, os kardecistas, fazendo vista grossa a essas contradições, não as denunciam; antes, cada um opta por uma das crendices em pauta, e a difunde e defende. E isso, sem falar daqueles “kardecistas” mais racionalistas do que seus correligionários, os quais, recusando seguir cegamente a tudo quanto consta das obras de Kardec, se veem no direito de pôr em xeque até mesmo o que os “Espíritos superiores” ditaram ao codificador do Espiritismo, mas que lhes parece contrário à razão. Tais heterodoxos creem que um verdadeiro kardecista não se guia cegamente pelas obras de Kardec ou de quem quer que seja; antes, aferra-se à razão. Estes entendem que pensar assim é ser verdadeiro kardecista.

                                                    ***
       Se há ou não reencarnação, se Jesus é ou não criatura, e se nós e o Senhor Jesus Cristo já fomos ou não baratas, ratos, cobras e outros bichos, é discutível; mas que os adeptos dessa metempsicose não são cristãos, deve ser indiscutível, visto que cada religião tem o seu próprio corpo de doutrinas, e que, portanto, ninguém pode se dizer adepto de qualquer delas, sem abraçar os seus dogmas; e com o Cristianismo não é diferente. Logo, que os kardecistas não são cristãos, não é uma questão subjetiva. O bom-senso que nos é comum, nos permite bater o martelo objetivamente. Mas, como eles instam em dizer que o são, aqui está mais uma incoerência kardeciana. E relembro que, invariável e necessariamente, onde há incoerência, há erro. Os criminalistas veem nas contradições do réu, uma evidência de seu envolvimento no crime de que é acusado.
       Eu disse na introdução a este capítulo que objetivava expor “nada menos que três contradições kardecianas”. E acho que paguei a promessa. Realmente, expus aqui as seguintes incoerências de Kardec: a) ele diz em O livro dos espíritos que nosso espírito jamais animou os brutos; b) ele desdiz isso em A gênese, onde assevera que já fomos bichos nas existências que precederam o nosso ingresso no seio da Humanidade; e c) voltei a observar que Kardec queria ser reconhecido como cristão, sem satisfazer as exigências de admissão na Igreja. Sim, quem crê nessa transmigração da alma, não preenche os requisitos de admissão no Cristianismo; e, portanto, não pode ser admitido no rol de membros da Igreja, até que se retrate. Aliás, vimos no capítulo II (2.5.1.), o que nos informou o renomado apologista Pr. Natanael Rinaldi, segundo o qual, na página 214 do livro espírita intitulado À margem do espiritismo, se confessa abertamente que de fato “O Espiritismo não é um ramo do Cristianismo como as demais seitas chamadas cristãs. Não assenta os seus princípios nas Escrituras. Não rodopia junto à Bíblia... Mas a nossa base é o ensino dos espíritos, daí o nome – Espiritismo” (Grifo nosso). Oxalá todos os espíritas fossem tão sinceros! Quem dera Kardec tivesse sido igualmente franco!



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO V

 

NEGA A EXISTÊNCIA DO INFERNO



       Ninguém pode ser tachado de incoerente só por negar a existência do tormento eterno para o diabo, os demônios e os homens que se perderem. Cheguei a esta conclusão pela seguinte razão: Já que ninguém pode ser forçado a se converter à fé cristã, então ninguém é obrigado a crer que o Inferno existe. Todavia, aquele que se diz cristão, mas não admite o Inferno como real, é sim incoerente. E só não seria assim, se deveras a doutrina do tormento eterno não fosse uma doutrina constante do patrimônio original do Cristianismo. Deste modo, o fato de o Kardecismo rechaçar a ideia da pena eterna, e, concomitantemente, se dizer cristão, denota que essa religião é um sistema discrepante consigo mesmo. E, considerando que nenhuma verdade pode emergir duma auto-contradição, salta aos olhos que o Kardecismo não é uma instituição cristã, na concepção teológica deste termo.
       Relembro que o propósito primário deste livro não é uma defesa do Cristianismo bíblico, mas apenas demonstrar que o Kardecismo é hipócrita e incoerente, já que se diz cristão sem arcar com as implicações desta postura. Portanto, a empreitada primária do presente capítulo é hastear mais uma vez as incoerências Kardecianas, tornando-as bem visíveis aos transeuntes da estrada da vida. Estou certo de que isso contribuirá para livrar os sensatos de palmilhar o falso caminho chamado Kardecismo. Logo, embora eu argumente aqui que a pena eterna não é incompatível com a bondade de Deus, faço-o de passagem, já que não alvejo provar e/ou justificar a existência do Inferno, e sim, demonstrar mais uma vez que Kardec se equivocou ao dizer que a crença no castigo eterno reservado aos ímpios não é uma doutrina genuinamente cristã. O que ele quis dizer com isso? Será que ele quer nos fazer crer que esta crença não fazia parte do patrimônio original do Cristianismo?
       Sintetizando o que Kardec escreveu (principalmente em O céu e o inferno), em seu inglório afã de provar a inexistência do Inferno como um lugar de suplício eterno, digo (com minhas palavras) que as “razões” por ele apresentadas são as seguintes: O castigo eterno não existe porque: a) Jesus Cristo nunca pregou isso; b) é contrário ao bom senso; c) é repugnante à justiça; d) é oposto ao amor de Deus; e e) desonra o Deus amoroso.
       Treplicarei as réplicas acima na mesma ordem aqui apresentadas:

5.1. JESUS E O INFERNO

       Vejamos, a seguir, as considerações kardecianas acerca do Inferno bíblico.

5.1.1 Jesus falou ou não falou?

       Kardec cria (cria mesmo?) que os contemporâneos de Jesus não estavam em condição de entender a verdade sobre a pena reservada aos culpados; e que, por isso mesmo, Cristo “absteve-se” de fazê-lo. Jesus, segundo Kardec, não retificou a crença em “castigos e suplícios corporais” eternos, nem tampouco ratificou-a, mas silenciou-se sobre a mesma, pois sabia que com o tempo isso havia de passar, ou seja, mais tarde o Homem iria se habilitar a ser iniciado “no verdadeiro estado das coisas”, quando então lhe seria demonstrado o quanto essa crença absurda está distante da verdade. E observou que o referido tempo de a Humanidade receber a verdade de que ninguém irá sofrer eternamente no Inferno, já chegou; e que o Espiritismo por ele codificado, exposto nos seus livros, cumpre, entre outros, esse sagrado ofício.
       Kardec confessou que Jesus falara “dos castigos reservados aos culpados”, mas observou que Jesus não afirmou que tais castigos são suplícios corporais eternos. Kardec sustenta que Jesus, ao falar “dos castigos reservados aos culpados”, o fez vagamente. Resumindo: Kardec concorda que Jesus falou “vagamente” sobre os “castigos reservados aos culpados”, mas que tais punições são “castigos e suplícios corporais” eternos, Kardec sustentou que Jesus não falou isso nem mesmo vagamente. Senão, vejamos:

Jesus encontrava-se, pois, na impossibilidade de os iniciar no verdadeiro estado das coisas; mas não querendo, por outro lado, com sua autoridade, sancionar prejuízos aceitos, absteve-se de os retificar, deixando ao tempo essa missão. Ele limitou-se a falar vagamente da vida bem-aventurada, dos castigos reservados aos culpados, sem referir-se jamais nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais, que constituíram para os cristãos um artigo de fé (O céu e o inferno. 1ª parte, capítulo IV, nº 6, p. 43. Grifo nosso).

       O fato de Kardec não falar coisa com coisa, dificulta a compreensão de suas exposições. Por exemplo, consideremos estes “raciocínios”:

Primeiro “raciocínio”: O que Kardec quis dizer quando afirmou que Jesus jamais se referiu “nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais”? Será que ele quis dizer que não há castigo algum reservado aos malfeitores? Certamente não foi isso que ele quis dizer, já que ele não negou que Jesus falou “dos castigos reservados aos culpados”. Além disso, todos os que estudam o Kardecismo sabem que Kardec afirmou que mais cedo ou mais tarde todos expiam suas culpas através de sofrimentos, e as reparam por intermédio das boas obras, nesta e/ou noutra (s) encarnação (ções). Kardec chegou a dizer que o perdão dos pecados nada mais que a graciosa força que Deus nos dá para que nós mesmos expiemos e reparemos nossos desvios. Senão, vejamos as três transcrições abaixo:


Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se o não for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si [...] (O céu e o inferno, capítulo VII, nº 9. Grifo nosso).

[...] O sofrimento é inerente à imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis [...]” (Ibid., nº 33. Grifo nosso);

Que é o que pedis ao Senhor, quando implorais para vós o seu perdão? Será unicamente o olvido das vossas ofensas? Olvido que vos deixaria no nada, porquanto, se Deus se limitasse a esquecer as vossas faltas, Ele não puniria, é exato, mas tampouco recompensaria. A recompensa não pode constituir prêmio do bem que não foi feito, nem, ainda menos, do mal que se haja praticado, embora esse mal fosse esquecido. Pedindo-lhe que perdoe os vossos desvios, o que lhe pedis é o favor de suas graças, para não reincidirdes neles, é a força de que necessitais para enveredar por outras sendas, as da submissão e do amor, nas quais podereis juntar ao arrependimento a reparação (O Evangelho segundo o espiritismo. 112 ed., capítulo X, nº 17, p. 179. Grifo nosso)

       É, pois, dificílimo, senão impossível, saber aonde Kardec quer chegar. É grande a barafunda!

Segundo “raciocínio”: Será que Kardec quis dizer que tais castigos e suplícios existirão, mas que não serão eternos? Bem, ele não informou isso, já que a palavra “eternos” não consta da sentença em pauta. Logo, podemos até inferir, à luz do contexto remoto, que ele admitia a existência de castigo, rejeitando apenas a eternidade da pena; mas no trecho em análise, que é o texto extraído de O céu e o inferno, 1ª parte, capítulo IV, nº 6, p. 43, constante acima, ele não entra neste mérito, limitando-se a dizer que Jesus jamais se referiu “nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais”. Há castigos, mas estes não são corporais? Não há castigo algum? Há castigos corporais, mas os mesmos não são eternos? Há castigos, mas estes, além de não serem eternos, ainda não são corporais? Durma com esse barulho. Como ele ficou sabendo desse é mas não é? Sei lá. Foi lendo a Bíblia que ele se inteirou disso? Claro que não, por duas razões: a) da Bíblia não advém nenhuma confusão; b) segundo a Bíblia, Jesus falou, sim, dos castigos e suplícios corporais reservados aos ímpios; c) segundo a Bíblia, além de Jesus falar que tais castigos e suplícios corporais reservados aos ímpios existirão de fato, ainda acrescentou que os mesmos serão infindos. Então, de que seara Kardec colheu o que nos passou? Ninguém sabe. Esse “segredo” Kardec não confidenciou a ninguém. Ele levou esse “mistério” consigo para a sepultura. Ao que tudo indica ele “leu” algum livro do além, ao qual ninguém, exceto ele, teve acesso. E isso lhe possibilitou acessar os arcanos de Deus, onde inteirou-se de coisas tão profundas, tão excelsas, tão sublimes... que até Deus ignora. Kardec sabia das coisas.

Terceiro “raciocínio”: Será que Kardec quis dizer que tais castigos e suplícios serão aplicados à alma fora do corpo, no estado que o Kardecismo chama de “erraticidade”? Obviamente que não foi isso que ele quis dizer, visto que, segundo os seus escritos (e todos os kardecistas sabem disso), as vicissitudes da vida corporal (doenças congênitas e adquiridas, assim como todas as mazelas pelas quais passamos neste mundo) existem por causa de nossas imperfeições, como já vimos. Ora, isso é pregar a existência de castigos e suplícios corporais. Logo, se ele tivesse acrescentado o vocábulo “eternos” ao seu texto, entenderíamos que ele teria aquiescido à existência de tais castigos e suplícios corporais, negando apenas a eternidade de tal punição. Mas, como ele não o fez, aqui o flagramos se contradizendo dentro de um mesmo parágrafo. Sim, ou ele está se contradizendo, ou está dissertando com uma profundidade e excelsitude tais, que nós, meros mortais, não somos capazes de assimilar a grandeza de seu raciocínio.

Quarto “raciocínio”: Será que Kardec quis dizer que isso não consta dos Evangelhos? Inadmissível, já que ele lia a Bíblia e, portanto, sabia que segundo Mateus, Jesus garantiu que Deus fará “perecer no Inferno a alma e o corpo” (Mt 10.28). Ora, isso é castigo corporal;

Quinto “raciocínio”: Será que Kardec quis dizer que Mateus faltou com a verdade quando escreveu isso? Bem, esta é uma interpretação possível, já que ele era dúbio quanto a crer ou não na Bíblia, como vimos no capítulo II (2.1 e 2.3). Mas, visto que, neste caso, ele não fez constar esta observação, esta possibilidade é apenas uma suspeita fundada;

Sexto raciocínio: Quem sabe Kardec quis dizer que o texto foi adulterado por algum copista? Bem, eu já provei no capítulo II que Kardec tanto negava como confirmava a Bíblia, conforme a conveniência do momento. Por conseguinte, há sim a possibilidade de ele estar querendo dizer que Mt 10.28 não é a expressão da verdade; que Mateus tenha se equivocado (de propósito ou por lapso), ou que algum copista (culposa ou dolosamente) tenha efetuado esta interpolação. Mas sobre todas essas possibilidades pairam inúmeras dúvidas que só Kardec podia dirimir. Mas, como ele não o fez antes de partir desta vida, agora é tarde. Sim, não há como sabermos o que Kardec queria dizer quando sustentou que Jesus não falou de castigos e suplícios corporais. Podemos conjeturar mais à luz de outros escritos seus, do que à luz do texto em apreço, segundo o qual “Jesus [...] jamais” se referiu “nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais [...]”.

Sétimo “raciocínio”: Mas será mesmo que quando Kardec falou que Jesus jamais se referiu “nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais”, não estava apenas querendo dizer que, por uma razão qualquer, são falsos os escritos que atribuem a Ele esta pronunciação? Insisto em dizer que não, porque nessa hipótese, em que se baseava ele para afirmar que Jesus “limitou-se a falar vagamente da vida bem-aventurada, dos castigos reservados aos culpados, sem referir-se jamais nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais, que constituíram para os cristãos um artigo de fé”? (Grifo nosso). Como ele ficou “sabendo” disso? Raciocinemos: Se os Evangelhos não são confiáveis, então não podemos ter certeza de coisa alguma. Mas, pelo visto, Kardec tinha certeza absoluta de que Jesus “limitou-se a falar vagamente... dos castigos reservados aos culpados, sem referir-se jamais nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais, que constituíram para os cristãos um artigo de fé”. Pergunto de novo: Como ele ficou sabendo disso? Em que autoridade ele se respaldava? Resposta: Ninguém sabe, visto que a história contada por Kardec não consta dos Evangelhos, nem tampouco de alguma outra alegada Biografia de Jesus.
       Volto a dizer que se a Bíblia não fosse confiável, o fato de constar de Mt 10. 28 que Jesus disse que perecerão no Inferno a alma e o corpo, não nos acrescentaria nada, já que não teríamos como sabermos se Ele realmente falou isso. Mas, se o que está escrito não é confiável, o que não está registrado em lugar algum é que o é? Se o que está escrito não é confiável, o que eu imagino que ele tenha falado é que o é? Crer ou não na autenticidade dos Evangelhos é uma questão de fé; mas escrever que os Evangelhos não dizem o que dizem, é um equívoco do qual se deve pedir desculpas aos leitores. Logo, Kardec morreu nos devendo essa; e jamais quitará essa dívida. Assevero, pois, que Kardec, ou subestimou a inteligência de seus leitores, ou não percebeu que estava sendo contraditório.

5.1.2. Jesus era covarde e impostor?

       Se Cristo realmente tivesse se abstido de retificar as crenças erradas de então (como, por exemplo, a crença no tormento eterno no Inferno), como Kardec o acusa, Ele teria sido covarde. Mas quem lê a Bíblia sabe não ser este o retrato que a Escritura nos pinta do nosso Herói. À luz da Bíblia podemos asseverar que Jesus jamais deixou de ensinar quaisquer verdades em respeito aos preconceitos, ignorância e tradições equivocadas existentes nos dias de Seu Ministério terreno: assentou-se à mesa com os publicanos e outros que, na ótica dos fariseus, viviam à margem da ortodoxia do Judaísmo (Mt 9.11; Lc.15.1-2); mandou um homem transportar a sua cama em dia de sábado, mesmo sabendo que dessa Sua atitude adviriam acirradas polêmicas (Jo 5.8-47), e, por fim, a morte de cruz; foi de encontro às tradições dos anciãos (Mt 15.1-11); falou a uma mulher, com a agravante de a mesma ser samaritana (Jo 4.9,27); expôs ao ridículo os charlatões, e isso, sob o impacto de Sua chibata (Mt 21.12-13); falou a verdade com autoridade jamais vista (Mt 7.29), possibilitando ao povo ouvir algo inédito (Jo 7.46); declarou Sua igualdade com Deus (Jo 5.18); exigiu para Si as honras reservadas exclusivamente a Deus (Jo 5.23); e disse ser um com Deus (Jo 10.30), o que equivale a dizer que Ele é Deus (Jo 10.31-33). [Ora, os judeus erraram ao pensar que Jesus estava blasfemando por se fazer Deus, mas acertaram por interpretar a afirmação “Eu e o Pai somos um” como equivalente a “Eu sou Deus” (confere com Jo 10.31-33)]. Quão diferente do nosso Jesus é o “jesus” do Kardecismo! Este é um covarde que agrada a gregos e troianos. Mas o Jesus da Bíblia andou na contra-mão do mundo, por cujo motivo foi odiado, desdenhado, zombado, maltratado e rejeitado pela maior parte de seus patrícios, os quais, por isso mesmo, o crucificaram. Ele bateu de frente com o mundo, mesmo sabendo que isso lhe renderia o suplício do Calvário.

5.1.3. Jesus e o Consolador

       Certo dia, enquanto eu expunha o raciocínio acima a um Kardecista, este, citando Jo 16.12 me rebateu dizendo que “Jesus deixou de ensinar algo que os apóstolos ainda não podiam suportar naquela época, devido às imperfeições de seus espíritos”. Mas então lhe fiz ver que o contexto demonstra não ser este o caso, visto que dentro de poucos dias após Jesus lhes falar o que consta de Jo 16.12, o outro Consolador veio e os guiou em toda a verdade (Lc 24. 49; Jo 14. 26; At 1. 4-5, 8; 2. 1-4 etc.). Logo, segundo o próprio Jesus, os apóstolos receberam a Doutrina completa, já que, de acordo com a Bíblia, o Consolador que, segundo Cristo, lhes daria maiores revelações tão logo viesse, veio dentro de um tempo inferior a dois meses e os guiou a toda a verdade. Ademais, não é de se duvidar que Cristo se referia também às perseguições que eles (os apóstolos) iriam enfrentar, as quais produziriam até mártires. Certamente não era prudente dizer a Pedro que ele um dia seria crucificado de cabeça para baixo; a Tiago, que ele seria decapitado; a Tomé, que ele seria transpassado por flechas e assim por diante; a André, que ele seria crucificado numa cruz em forma de xis. Bem, a que segredo se referia Jesus em Jo 16.12? Às perseguições que os apóstolos enfrentariam? Ou Cristo se referia também a maiores revelações da parte de Deus, revelações estas que redundariam na composição do Novo Testamento? Seja como for, a Bíblia é clara: Os apóstolos receberam o Consolador que Jesus lhes prometera; e, por conseguinte, foram guiados a toda a verdade, bem como habilitados a testificar de Cristo com propriedade e exatidão; e isso com dano de suas próprias vidas, visto que o Consolador que eles receberam os capacitou a tanto.
       O leitor já deve ter entendido que é sobre a falsa interpretação de Jo 16.12 que o Kardecismo foi construído. Na ótica dos kardecistas, o Consolador é o próprio Kardecismo, isto é, a doutrina exposta nos livros de Kardec. Acontece, porém, que Jesus não disse assim: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando estiverdes preparados para tanto, eu vos darei outro Consolador que o dirá”. Logo, os apóstolos não tinham que se preparar mediante sucessivas reencarnações para receberem o Consolador, mas sim, tinham que receber o Consolador para se habilitarem a maiores revelações. Ou seja, não é a evolução que trás o Consolador, e sim, é o Consolador quem trás a evolução. Ademais, vimos no capítulo 3 que, segundo a Bíblia, o Consolador veio no século I, e não na segunda metade do século XIX, como o ensinou kardec.

5.1.4. Cristo falou do Inferno

       Bastar-nos-á ler a Bíblia para sabermos que Kardec faltou com a verdade quando asseverou que Jesus se absteve de “referir-se [...] nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais”, visto que, à luz da Bíblia, Jesus falou sim dos castigos e suplícios corporais, e com a agravante de observar que tais punições serão eternas. Senão, veja estas transcrições:

  • [...] Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna (Mt 25.41, 46. Grifo nosso);

  • “[...] temei [...] aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10. 28, grifo nosso);

Nota: Embora de passagem, preciso esclarecer aos que não possuem formação teológica que a palavra original traduzida por “inferno” neste versículo (Mt 10.28) não é Sheol, não é Hades, e nem é Tartaroo, mas sim Gehenna. E que de acordo com a Escola escatológica da qual sou partidário, este vocábulo não designa o lugar para o qual, à morte, vão as almas dos perdidos; antes, trata-se do lago de fogo para o qual irão os ímpios após a ressurreição dos injustos, no Dia do Juízo Final (Ap 19.20b; 20.10, 15). E este é o motivo pelo qual Jesus nos diz que Deus fará “perecer no inferno” não só a alma, mas também “o corpo” (Mt 10.28). Seol é o mundo das almas dos mortos, em hebraico; Hades é a palavra grega equivalente a Seol; e Tártaro diz respeito a um profundo abismo existente no Hades (cf.: Orlando S. Boyer. Pequena enciclopédia bíblica, sob o verbete Inferno).

  • Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? (Mt 23.33);

  • [...] vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação (Jo 5.28-29);

  • Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó e todos os profetas, no reino de Deus, e vós lançados fora (Lc 13.28);

  • Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado (Mc 16.15, 16. Grifo nosso);

  • Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama (Lc 16. 22-24. ARA).

       Estas cópias constituem provas esmagadoras de que: a) Cristo falou do castigo de modo claro e incisivo, e não “vagamente”, como o quer o Kardecismo; b) Jesus falou, sim, de suplício e com a agravante de observar que o mesmo será infindo.

5.1.5. Kardec __ objetivamente falso

       Kardec não merece ser ouvido, pois se apoia em dois “álibis” nem um pouco confiáveis, a saber, em sua opinião pessoal (o que é uma subjetiva audácia) e em interpretação objetivamente falsa. Com o devido respeito à memória do falecido __ até porque ele não está presente para se defender de minhas refutações __, declaro que Kardec não falou coisa com coisa quando tentou provar que Jesus nunca se referiu aos castigos e suplícios corporais no Inferno. A conclusão de que ele errou quando assim falou não depende de interpretação, e sim, de não sermos analfabetos, para, deste modo, lermos a Bíblia com nossos próprios olhos. Portanto, o que quero dizer com a expressão “objetivamente falsa” é que se Kardec dissesse que a Bíblia mente quando nos diz que Jesus falou do suplício eterno para os ímpios, isso seria uma questão de ponto de vista, e, portanto, subjetiva; mas dizer que, segundo a Bíblia, Jesus não falou isso, é subestimar a nossa inteligência. Veja que Kardec não diz que Jesus se equivocou quando falou do tormento eterno; também não diz que os hagiógrafos faltaram com a verdade quando escreveram que Ele falara isso; nem tampouco nos diz Kardec que algum copista adulterou os textos de Mt 10.28; e 25. 41,46. O que esse infeliz diz, é que Jesus não falou isso. E expressar-se assim é faltar com a verdade propositalmente. Até porque, como já sabemos, Kardec não diz no texto em análise que Jesus silenciou-se sobre “castigos e suplícios corporais eternos”, mas sim, que Jesus silenciou-se sobre “castigos e suplícios corporais”, o que contraria outros textos de sua lavra, já que, como vimos, ele ensinou que as desventuras pelas quais ora passamos derivam de nossos erros e imperfeições. Logo as mazelas desta vida são, segundo Kardec, castigos corporais aplicados por Deus, embora a título de expiação. É grande a confusão kardeciana!

5.1.6. Jesus falou vagamente?

       Como Kardec ficou sabendo que Jesus falou vagamente da vida bem-aventurada? Não sei. Mas uma coisa está claro: Não foi das Escrituras Sagradas que ele extraiu essa “pérola”. Segundo a Bíblia, o destino da Igreja é ser arrebatada ao Céu (Jo 14. 1-3). Ora, uma promessa dessas não pode ser tachada de “falar vagamente da vida bem-aventurada”.
       Como já sabemos, Kardec disse que Jesus falou vagamente não só sobre a vida bem-aventurada, mas também “dos castigos reservados aos culpados”. Mas de novo digo que não foi lendo a Bíblia que ele aprendeu isso, já que, como vimos em 5.1.4, a Bíblia diz que Jesus falou que os perdidos serão atormentados em corpo e alma eternamente (Mt 10. 28; 25. 41,46). Ora, isso é falar “vagamente dos castigos reservados aos culpados?” Porventura, Mt 10.28 não fala de suplícios corporais? Porventura, Mt 25. 41,46 não nos diz que o tormento reservado aos perdidos será eterno? O que há de vago nisso? É possível concluir que Cristo não pregou o suplício eterno? Já sabemos que Kardec respondia positivamente a esta pergunta, mas essa postura não condiz com os fatos. A Bíblia, o Livro no qual Kardec se “refugiava” no intuito de provar a “autenticidade” se seus desarrazoados, muito longe de lhe ser solidária, apoiando suas teses, depõe contra ele.

5.1.7. Pense com a sua cabeça

       Os exemplos acima provam que Kardec se expressava enfronhado duma ignorância inqualificável. Contudo, talvez o leitor argumente dizendo que muitos homens inteligentíssimos e de vasto saber gramatical e científico têm se encantado com a beleza do estilo literário de Kardec! Mas aí eu lhe pergunto: Você vai pensar com sua própria cabeça ou vai deixar que tais homens pensem por você? Você se subestima a ponto de se julgar incapaz de raciocinar e tirar suas próprias conclusões? Você vai se depreciar a ponto de se deixar guiar cegamente por “homens inteligentíssimos e de vasto saber gramatical e científico”? Você vai deixar esse complexo de inferioridade se apossar de sua mente? Caro leitor, você também tem uma cabeça em cima do pescoço; logo, se você não é um pensador, é, pelo menos, um pensante. Portanto, não quero que você se guie cegamente por mim, ou por quem quer que seja, e sim, que você não tenha medo de pensar e decidir por si mesmo se o que ora exponho é ou não racional. Se a Bíblia é ou não a verdade, é, até certo ponto, uma questão de fé; mas que Kardec não falava coisa com coisa, é uma questão de bom-senso. E porventura, os disparates também são belos estilos literários? Pensem nisso os que ainda pensam!

5.1.8. Eis a calda dele

       O mentor do Kardecismo foi um dos homens mais cultos que o mundo já conheceu: doutor em Medicina; bacharel em Letras e Ciências; linguista; poliglota; professor de Astronomia, Física, Química ... Mas como pode um homem dessa envergadura falar de modo tão disparatado? A resposta é que assim como ninguém consegue transformar água em ouro, também é impossível converter mentira em verdade. Logo, os que tentam fazê-lo, conscientes disso ou não, mais cedo ou mais tarde se revelarão estultos. Mais cedo ou mais tarde, ficará nu e patente que laboram no engano. O próprio Kardec reconheceu ser impossível “falsificar o verdadeiro saber [...] sem deixar vestígio que denuncie a fraude” (O livro dos médiuns, primeira parte, capítulo 4, nº 46). E pelo menos nesse caso temos que concordar com Kardec. É como dizia o ex-Padre Aníbal: “O Diabo não consegue esconder o rabo”.

5.2. OUTROS ARGUMENTOS INFERNAIS

       Os argumentos de Kardec abaixo considerados são duas vezes infernais pelas seguintes razões: 1) porque discorrem sobre o Inferno; 2) porque procedem do “Inferno”. Neste último caso, “Inferno” é um jargão evangélico que designa procedência satânica, embora, etimologicamente, os vocábulos originais (Seol, Hades, Geena e tártaro) na maioria das vezes traduzidos por inferno, etimologicamente não sejam sinônimos de o diabo e seus demônios.

5.2.1. É contra-senso

       Vimos na introdução a este capítulo que Kardec via a crença na existência do Inferno como um contra-senso. Mas, para sabermos se existe ou não o castigo eterno, não podemos nos limitar à consulta do “bom-senso”; de outro modo, poderíamos fazer acerca da existência do Inferno as seguintes afirmações: a) Existe realmente; b) Não existe realmente; e c) Não sabemos se existe ou não. Por que cheguei a essa conclusão? Porque encontramos pessoas igualmente inteligentes esposando estas ideias, alegando todas, contarem com a corroboração do bom-senso. E aí? Qual das três opiniões é a correta? Resposta: Quando o pecador se entrega a Cristo, livra-se na hora da pena reservada aos perdidos, independente dessa pena ser ou não eterna. Portanto, mais importante do que se doutorar em Infernologia, é ser reconciliado com Deus. E é com prazer que informo ao caro leitor que, segundo a Bíblia, esta reconciliação só é possível mediante o sangue de Jesus. Consequetemente, descarte os métodos supostamente salvíficos apresentados pelo Kardecismo, e refugie-se às pressas no sangue do Senhor.
       A verdade é absoluta. Logo, ou o Inferno existe, ou não existe. Isso não depende do nosso parecer. Portanto, se o Inferno inexiste, não passará a existir só porque eu o proclamo como real. Por outro lado, se o Inferno é real, não deixará de existir por causa daqueles que o consideram lendário. A teoria da relatividade da verdade é uma das estultices dos boçais. Não há duas verdades diametralmente opostas. Portanto, necessariamente, pelo menos uma de duas opiniões antagônicas tem que estar errada. Logo, o fato de não sabermos por qual delas optarmos, não significa que estamos diante de duas verdades relativas. Por conseguinte, se você pensa que crer na existência do tormento eterno é uma loucura, saiba que pessoas inteligentes como você têm chegado a outras conclusões. E estas conclusões não são mais subjetivas do que as suas.

5.2.2. É repugnante à justiça

       O que é justiça? O extinto programa de tv intitulado “Você Decide” é um nítido exemplo do quanto a consciência humana está atrofiada; e, portanto, impossibilitada de decidir por si só entre o justo e o injusto: milhões de pessoas diziam “sim” e milhões diziam “não”. E se alguém se achar no direito transformar sua opinião em lei, não poderá impedir que outra pessoa faça lei do seu adverso ponto de vista. Sim, visto que embora divergentes entre si, ambos se julgam de posse da razão, e têm, de per si, milhões de simpatizantes. Assim fica claro que o homem necessita duma autoridade suprema que lhe sirva de padrão, com a qual possa gabaritar suas ações, bem como se certificar da autenticidade ou não de tudo aquilo que se intitula justiça. Mas, como não quero lhe impor o meu ponto de vista, sugiro apenas que você não se dê sossego enquanto não tiver certeza de que já encontrou a Âncora da alma __ Jesus. Ore a Deus, pedindo-lhE para lhe mostrar a verdade. Minhas experiências pessoais com Deus me provam que Ele vai lhe iluminar, se a Ele você invocar com fé, sinceridade e amor. Experimente e depois me conte o resultado.
       A você que acha o Inferno um exagero, pergunto: Você é mais amoroso do que Deus? Você é mais justo do que Deus? Já pensou na possibilidade de você estar equivocado?

5.2.3. É oposto ao amor de Deus

       O que a Bíblia afirma com muita clareza, é que existe a pena eterna e que Deus é amor. Por conseguinte, se temos dificuldades para compreendermos o porquê da severidade de Deus para com o pecado, o problema deve estar em nós. O próprio Kardecismo diz: “Por que haveis de avaliar a justiça de Deus pela vossa?” (O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 5, nº 21).
       Certamente, a passagem bíblica que mais enfatiza, simultaneamente, a perdição eterna e o amor de Deus, é Jo 3.16. Este versículo diz:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Ora, se Deus nos deu Seu Filho para não perecermos, está provado que Ele viu que se não no-Lo desse, pereceríamos inevitavelmente; e, visto que Ele realmente é amor, e portanto não deseja essa tamanha catástrofe para nós, tomou medidas drásticas e radicais contra o pecado, em defesa do pecador. Sim, este texto bíblico (Jo 3.16) nos assegura que Deus nos deu o Seu Filho com a seguinte finalidade: Livrar-nos de perecer e, por conseguinte, nos dar a vida eterna. A esta altura eu pergunto aos kardecistas: O que é perecer? Vejam que estava para nos suceder uma desgraça, o nome da mesma é perecer, e que Deus nos deu o Seu Filho Jesus para anular tal desventura. Se não existe a pena eterna, a que desgraça se refere Jo 3.16? Se todas e quaisquer faltas pudessem ser reparadas através de boas obras e sofrimentos nesta e/ou noutras encarnações, neste e/ou noutros mundos, como o ensina o Kardecismo, asseguro que não haveria nenhuma necessidade de Deus nos dar o Seu Filho unigênito para nos livrar de perecer, pois já teríamos em nós mesmos a solução desse inconveniente: a abnegação e a resignação. Logo, Deus nos teria dado o Seu Filho em vão.
       Se o sacrifício de Jesus não quitasse para com Deus o pecador que arrependido crer, seguir-se-ia que a vinda de Cristo ao mundo teria sido inteiramente ineficaz e inoperante, não tendo, portanto, produzido nenhum efeito positivo sobre nós. Logo, poder-se-ia dizer, acertadamente, que ainda estamos sujeitos a tudo quanto estaríamos, se Ele não tivesse vindo em nosso auxílio. Acontece, porém, que Jesus Cristo disse “que todo aquele que nEle crê” não perece, mas tem “a vida eterna”. O que é “não perecer"? O que é “ter a vida eterna"? “Não pereça” significa que não sofrerá a pena eterna? Mas para que nos daria Deus o Seu Filho para nos livrar da pena eterna, se esta não existisse? Há! “Não pereça” significa que o cristão não terá que sofrer as consequências dos seus pecados? Como não, se Kardec disse que o homem não se livra de pagar o que deve, nesta ou noutra encarnação, neste ou noutro mundo? Respondam-me, ó kardecistas, o que é o “não pereça” a que Jesus fez menção? Está claro, quem crer vai se livrar de uma coisa ruim chamada perecer. Essa coisa ruim não seria uma pena eterna, pois esta não existe (segundo o kardecismo); também não é deixar de sofrer uma pena temporal, até que o pecador expie as suas culpas, pois segundo o kardecismo, o homem sofrerá inevitavelmente as consequências de suas faltas, como já vimos e voltaremos a ver. Então, que é o “não pereça”?
       É digno de nota que o “não pereça”, está em aposição com o “tenha a vida eterna”, o que por si só já nos informa que quem não perece tem a vida eterna, e que quem não tem a vida eterna, perece.
       Uma vez que nós (os evangélicos) e os kardecistas cremos na imortalidade da alma, e por “vida eterna” entendemos uma existência feliz com Deus para sempre, “pereça” não seria o contrário disso, ou seja, uma existência consciente, sem Deus, infeliz, para todo o sempre? Se o leitor é kardecista, por certo está pensando: “Não pode ser, pois Deus é amor!” Mas aí eu lhe pergunto: O fato de Deus nos ter dado o Seu Filho unigênito para nos livrar da pena eterna, à qual estávamos sentenciados, não é, porventura, uma grande prova de amor? Sendo a pena, eterna ou não, ao nos dar Deus o Seu Filho para nos livrar dessa pena, Ele prova o Seu imensurável amor por nós, você não acha? E se Deus nos deu o Seu Filho para nos livrar da pena, ainda que esta não fosse eterna, estaria extinta por Jesus, continuando Kardec a assumir o sacrílego posto de falso profeta, considerando que mais de dezoito séculos após Deus nos ter dado o Seu Filho para nos salvar, ele (Kardec) escreveu o que lemos em 5.1.1. A, a saber, que mais cedo ou mais tarde, teremos que expiar e reparar nossos desvios inevitavelmente. E como já sabemos, os reencarnacionistas ensinam que a expiação se dá mediante sofrimentos correspondentes ao erro cometido, e a reparação através de um bem diametralmente oposto ao mal praticado.
       Por que é inevitável as consequências das nossas faltas, se Deus nos amou de tal maneira que nos “deu o Seu Filho unigênito para que” ao nEle crermos deixemos de perecer e tomemos posse da “vida eterna”?
       Além do que já ponderamos sobre Jo 3.16, trazemos ainda à memória que quando o Senhor Jesus Cristo mandou pregar o Evangelho a todas as pessoas, assegurou que “quem crer e for batizado será salvo”; e que “quem não crer será condenado” (Mc 16.15-16). Logo, os kardecistas precisam saber o seguinte: a) Jesus salva (Hb 7.25; At 10.43; 2.48; Mc 2.9; Ef 2.5, 8-9; 1Jo 1.7; Rm 3.23-28; Rm 6.23; 8.1); b) Quem crê em Jesus não perece, tem a vida eterna, é salvo e não é condenado. E que significa ter a vida eterna, ser salvo, não perecer, e não ser condenado? Significa ter que pagar a dívida nesta e/ou noutra encarnação? Então vocês atiraram Mc 16. 15-16; e Jo 3.16 na lixeira?
       Se não há pena eterna, e sim, a inevitabilidade duma punição que termina tão logo o penitente pague o que deve através de boas obras e das borrascas da vida, pergunta-se: Quem crer no Evangelho será salvo de quê? E quem não crer será condenado a quê?.
       Eu estou apelando para a Bíblia, e os kardecistas devem considerar isto relevante, pois como já sabemos, Kardec recorre à Bíblia frequentemente. Para saber isto, basta ler seus livros. Quem examina as obras de Kardec sabe que seus livros estão recheados de textos bíblicos. Claro, já vimos no capítulo 2 que Kardec o fazia com segundas intenções, mas, de um jeito ou de outro, isso nos confere o direito de também irmos à Bíblia, para certificarmos se de fato a Bíblia dá ao Kardecismo o apoio que essa seita alega receber do Livro dos livros. Sim, já que Kardec invocou o testemunho bíblico, vejamos o que a testemunha tem a dizer. Ouçamo-la, pois!

5.2.4. Desonra a Deus

Pecado: Um hediondo crime na ótica divina. notifiquei que o Kardecismo prega que a crença na existência do tormento eterno desonra o Deus amoroso. Mas esse parecer é subjetivo, ou seja, essa era a sua opinião pessoal. Sim, dependendo do ponto de vista de cada um, a verdade pode ser é diametralmente oposta. A severa punição eterna, aplicada sobre o pecado, por si só demonstra quão hediondo crime o pecado é; o que, por sua vez, testifica da magnificência de Deus, bem como da magnitude da Sua Lei. Como assim? Da seguinte maneira. A severidade divina exibe com naturalidade a magnificência de Deus, cuja Lei não pode ser ultrajada sem horríveis consequências. O pecado, por ser contra Deus, o qual é infinito em todos os Seus atributos (justiça, santidade, bondade, etc.), é um crime de hediondez infinita que reclama punição infinda. Uma punição dosada (deficiências físicas, doenças, pobreza, entre outras desventuras), como a sugerida pelos kardecistas, seria algum tipo de misericórdia e subsequente afrouxamento da justiça divina, o que só ocorrerá no dia em que Deus deixar de ser Deus. Mas, como o Senhor é Deus de eternidade a eternidade (Sl 90.2), isto é, de um passado infinito a um futuro infindo, o fogo que se acendeu na Sua ira (Dt 32.22) jamais apagará (Mc 9.43-48); o que perpetua infinitamente o tormento dos perdidos. Lembremo-nos que “o juízo será sem misericórdia” (Tg 2.13). A pena temporal pregada pelos kardecistas nada mais é que uma sugestão a Deus. Mas dar essa peruada ao Supremo Juiz é se meter aonde não foi convidado.
Pecado: um equívoco irrelevante somente na ótica humana. De acordo com a Bíblia, o tormento eterno não é contrário ao amor de Deus, mas sim, oposto às consciências cauterizadas (1Tm 4.2) dos homens naturais que, por isso mesmo, não podem compreender as coisas do Espírito de Deus, que lhes parecerem loucura (1Co 2.14).
       Embora Kardec tenha, incoerentemente, afirmado que Jesus jamais falou de “castigos e suplícios corporais”, os Kardecistas também creem que Deus fará justiça, punindo o pecado. O que eles não admitem mesmo, é que a punição seja tão severa. Todavia, o castigo ao pecado terá a duração que Deus julgar necessária, e não a duração que gostaríamos que tivesse. Quem é o Juiz, nós ou Deus?
       Não nos deve causar estranheza o fato de os padrões da justiça divina não coadunarem com os nossos pontos de vista, com o que também concorda Kardec: “Por que haveis de avaliar a justiça de Deus pela vossa?”. Este conselho foi dado por um “Espírito superior” (sei quem é), e os kardecistas fariam bem em acatá-lo, porque neste ponto o diabo está certo.
       Ainda, a respeito da alegação de que o tormento eterno é oposto ao amor de Deus, respondo que Deus preferiu nos dar Seu Filho Unigênito para nos livrar do Inferno, a diminuir o castigo devido ao pecado. Deus preferiu nos dar o Seu Filho Amado, a apagar a fogueira.
O Inferno __ o desagravo que santifica o nome de Deus. A eternidade da pena do pecado santifica o nome de Deus, pois evidencia que Ele nem de longe compactuou com o pecado, deixando de sentenciá-lo a altura de seus méritos.
       Deus não precisa afrouxar a pena do pecado para demonstrar o Seu amor por nós, visto que o Seu infinito amor já se descortinou no Calvário (Rm 5.8). Aliás, Deus não é obrigado a nos amar. Ele nos ama por bondade (a benignidade Lhe é inerente), e não por dever. Lembremo-nos que nós não merecemos nada de Deus, nem mesmo o Seu amor. Logo, deixemos que Ele externe o Seu amor por nós como Ele bem quiser (e Ele já o fez dando-nos o Seu Filho Unigênito), e não atrevamos a ensiná-Lo a nos amar.

O Inferno demonstra o valor da cruz. Os horrores do tormento eterno provam o valor do sacrifício de Jesus, visto que a grandeza de um livramento é proporcional ao tamanho do perigo do qual se livrou. São os livramentos das grandes catástrofes que, geralmente, nos deixam grandemente emocionados. Quando nos livramos de um pequeno inconveniente, não nos emocionamos muito. Assim podemos perceber quão grande é o livramento que Jesus nos deu! Ele nos livrou dos horrores eternos! Logo, infinito é o valor do Seu sacrifício por nós!
       O sacrifício de Jesus é de valor infinito porque o sacrificado infinito é, pois se trata do sacrifício do Deus-Homem. Este sacrifício de valor infinito se fez necessário porque a pena é infinita. A pena é infinita porque o pecado é crime de hediondez infinita. E o pecado é crime de hediondez infinita porque infinita é a magnificência do Deus contra o qual pecamos. Este Deus de magnificência infinita, por ser infinitamente justo, lavrou uma sentença infinita contra o crime de hediondez infinita. E por ser infinitamente bom, provê salvação infinita, através do sacrifício de preciosidade infinita, a todos os que arrependidos aceitam a graça infinita, oriunda do hediondo espetáculo da cruz de Cristo (Lc 23.48), de valor infinito. Deste modo, o sacrifício infinito prova que a pena é infinita, pois do contrário seria desperdício. E a pena infinita prova o valor infinito do sacrifício, pois de outro modo seria insuficiente, isto é, por não ser correspondente, não substituiria o pecador; e, portanto, não quitaria a dívida contraída por nós.
       Para que o sacrifício que se efetuou no Calvário fosse válido, três condições teriam que ser satisfeitas: a) A vítima teria que ser perfeita. Um pecador não pode expiar os pecados dos demais transgressores, e sim, ser condenado com eles; b) a vítima teria que ser humana. Foi a Humanidade que se perdeu; logo, só um ser humano perfeito faria uma compensação a altura do prejuízo; c) a vítima teria que ser divina. Uma criatura inocente pagar pelo erro das demais é uma injustiça. Isto posto, por uma questão moral e legal, só o próprio Deus poderia comprar a nossa briga. E este é um dos motivos pelos quais o nosso Salvador é Deus-Homem. Por ser Deus e por ser homem perfeito, Jesus reuniu em Si as condições para oferecer um sacrifício de peso. E Ele o fez na cruz. E só se salvará quem se refugiar nesse sacrifício substitutivo.
Ser ou não ser, eis a questão. Ser ou não ser cristão é possível; mas é impossível ser espírita e cristão simultaneamente. Conheço muitos cristãos, bem como inúmeros espíritas, mas cristão-espírita ou espírita-cristão, eu ainda não vi, sequer, um.
       Ser ou não ser cristão é possível, mas é impossível ser cristão sem crer na Bíblia. E é impossível (ou pelo menos deveria ser) crer na Bíblia sem admitir o Inferno como real.
Crer ou não crer, eis a questão. Crer ou não crer na Bíblia é coerente, mas é incoerente não crer nela, e, ao mesmo tempo, recorrer a ela. E pior ainda, é dizer que ela não diz o que diz, como é o caso de Kardec que tentou provar que o dogma cristão sobre os “castigos e suplícios corporais” eternos não se fundamenta nas palavras do Cristo, que não retificou e nem ratificou essa crença errada, mas silenciou-se, dando tempo ao tempo, o que faz do nosso Herói um covarde.
Cabeça pequena, eis o porquê do estorvo. A finita mente humana, muito aquém da de Deus, pode não entender a coexistência do demonstrado amor de Deus, com a pena eterna; mas Jesus nos provou cabalmente que ambos co-existem. O sacrifício de Cristo para nos salvar do Inferno prova duas coisas ao mesmo tempo: Deus é amor e o Inferno existe. Até porque Deus não teria que mover sequer uma palha para nos livrar de um perigo inexistente.
       Ora, uma questão que esteja acima da lógica humana não é, necessariamente, ilógica. E porventura, o Kardecismo desvenda todos os mistérios? O próprio Kardec reconheceu que deveras há mistérios intransponíveis, e que, portanto, é errado avaliar a justiça de Deus pela nossa. Eis as provas: a) “Por que haveis de avaliar a justiça de Deus pela vossa?” (O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 5, nº 21); b) “[...] as coisas aparentemente mais díspares têm pontos de contacto que o homem, no seu estado atual, nunca chegará a compreender [...]”? (O livro dos espíritos. Parte 2ª, capítulo XI, nº 604); c) “Procuremos, portanto, em tudo, a sua justiça e a sua sabedoria e curvemo-nos diante do que ultrapasse o nosso entendimento” (A gênese, capítulo III, nº 21). Deste modo, o Kardecismo nos poupa do trabalho de demoli-lo, visto que ele é capaz de sua autodestruição. O Kardecismo é suicida.
Morte substitutiva de Jesus. O entendimento de que a morte de Jesus foi um ato substitutivo integrava o patrimônio original do Cristianismo; e a principal prova disso é o fato de que isso se acha escriturado no Evangelho. E não me venham com essa de que a morte de Cristo não foi um ato substituinte, mas apenas um exemplo de amor, cujo objetivo era despertar na Humanidade um maior interesse à prática do bem, acelerando deste modo o nosso processo evolutivo em direção à perfeição, porquanto essa doutrina não fazia parte do patrimônio original do Cristianismo. A Bíblia prega o contrário disso. E se ela não parece confiável em matéria de fé, pergunto: Por que Kardec amidadamente citava referências bíblicas (textos isolados que ele julgava apoiá-lo) em abono às suas doutrinas? Se a Bíblia é confiável, não preguemos essa salvação barata que pode ser comprada com boas obras e sofrimentos, e proclamemos a eficácia e a eficiência do sangue de Jesus (1Jo 1.7); e se não, abandonemo-la. Ame-a ou deixe-a. Fazendo isso, o Kardecismo será menos incoerente e não levará para o Inferno pessoas bondosas, sinceras e inteligentes que, não obstante, se emaranham nos seus tentáculos. Os milhões de kardecistas espalhados pelo mundo afora demonstram quão sutil o Kardecismo é. Ele é a cara do pai (Satã).
       Muitos Kardecistas já me disseram que “se nem nós que somos maus, teríamos coragem de submeter um filho rebelde a torturas intérminas, é sensato inferirmos disso que Deus também não o fará; e que, portanto, o Inferno é lenda.” Retruco-os, porém, informando-lhes que para o Inferno só irão os filhos do diabo (Jo 8. 41-42,44). Os filhos de Deus, mesmo os mais fracos e falhos, serão todos recebidos no Seu Reino eterno, onde usufruirão dos infindos afagos e cafunés do Pai.

5.3. SÓ DEUS SABE SE O INFERNO EXISTE OU NÃO

       Quem nos pode dar uma posição, senão subjetiva, quanto a se o Inferno existe ou não? As religiões não estão devidamente preparadas para nos dar uma posição confiável sobre esta questão, pois esposam ideias desencontradas sobre este assunto. Considerando que os filósofos divergem acerca de quase tudo, salta aos olhos que a Filosofia também fracassa nessa área. Aliás, a missão da Filosofia é mais indagar, intuindo nos levar à reflexão, do que responder aos questionamentos humanos. Basta sabermos que nada sabemos, para sermos um Sócrates na vida. Sustento, pois, que nenhuma das ciências antropológicas __ a Filosofia, a Sociologia, a Psicanálise, a Psicologia __ é autoridade nesse campo. Logo, se o Inferno existe ou não, nenhuma criatura (e isso inclui Kardec & Seus Guias) está a altura de nos dar uma posição objetiva. Só o próprio Deus pode fazê-lo. Portanto, ouçamo-Lo, se é que Ele nos disponibilizou a Sua voz em algum lugar. Mas não percamos o nosso tempo, ouvindo os que negam a existência do Inferno em seus próprios nomes e não em nome de Deus. É bem verdade que um “Espírito da mais alta ordem” garantiu a Kardec que o Inferno não existe, mas se tal consultor fosse mesmo tão excelso, e não um incoerente da mesma laia de seu consulente, teria lhe corrigido o erro de tentar provar à luz dos Evangelhos que Jesus não falou da pena eterna. Sim, porque se Jesus não falou da pena eterna, então os Evangelhos são mentirosos; e se os Evangelhos são mentirosos, é impróprio recorrer a eles no intuito de provar a autenticidade de uma doutrina, ainda que tal doutrina contasse com sua solidariedade. Aqui há, pois, erro ao quadrado, visto que Kardec se vale das irrefutáveis provas de seu crime para provar sua inocência. Ele nos exorta a ouvir a testemunha que depõe contra ele, como se ela estivesse falando a seu favor. Logo, que Espírito superior é esse que não consegue sequer enxergar as incoerências daquele que se voluntariou como seu Emissário?
       Há quem diga que o Kardecismo é tragicômico, este autor, porém, não comunga dessa ideia, visto que algo que leva à desgraça eterna, longe de despertar risos e caçoadas, deve mesmo é ser combatido com tenacidade, denodo e seriedade. O Kardecismo só seria cômico se não fosse trágico. Sim, o Kardecismo deve ser refutado com respeito, semblante sisudo, e não com chacotas. Lembre-se: Estamos combatendo o diabo e os demônios, e isso é muito sério. Não subestimemos o Inimigo; antes, imitemos o Arcanjo Miguel que, escudando-se em Deus, disse ao Arque-inimigo: “O Senhor te repreenda” (Jd 9).
                                                       ***
       Do que já expus neste capítulo o Inferno é uma questão de justiça; e a cruz de Cristo, um mesclado de justiça e amor: justiça para com o pecado, e amor para com o pecador. E é dessa mescla __ e só dela __ que nasce a gloriosa salvação da qual tanto carecemos.
       Uma das máximas dos kardecistas é: “Reencarnação, uma questão de justiça. Leia Kardec”. Mas a verdadeira justiça divina é encontrada principalmente em dois lugares: Pura, no Inferno; e mesclada com amor, no Calvário. E quem não usufrui da junção que se deu na cruz, amargará (caso não se corrija em tempo) a justiça pura que é derramada no Inferno.
       Que tal dizermos aos kardecistas: Inferno, uma questão de justiça. Leia a Bíblia. Ou: Calvário, uma mescla de justiça e amor. Sirva-se dele.



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VI

 

RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DE KARDEC



       Tentando provar que os espíritos que acorrem às sessões espíritas não são demônios, Kardec formulou nove perguntas, daquelas que já trazem a resposta no seu bojo. Tais questionamentos constam de O livro dos médiuns, primeira parte, capítulo 4, nº 46, pp. 59-61. A seguir, transcrevo as ditas interrogações e as respondo respectivamente.

PRIMEIRA PERGUNTA

Há ou não espíritos bons e maus?

Resposta
       Há.

SEGUNDA PERGUNTA

Deus é ou não mais poderoso do que os maus espíritos, ou do que os demônios, se assim lhes quiserdes chamar?

Resposta
       É.

TERCEIRA PERGUNTA

Afirmar que só os maus se comunicam é dizer que os bons não o podem fazer. Sendo assim, uma de duas: ou isso se dá pela vontade, ou contra a vontade de Deus. Se contra a Sua vontade, é que os maus espíritos podem mais do que Ele; se por vontade Sua, por que, em sua bondade, não permitiria Ele que os bons fizessem o mesmo, para contrabalançar a influência dos outros?

Resposta
       Não prego que só os maus espíritos se comunicam conosco, pois creio que os anjos e o Espírito Santo podem nos contatar (Êx 3.2 ; Dn 9. 21-22 ; Lc 1. 13, 26-28 ; At 8. 26; 13. 2; Jo 16. 13, etc.). Em se tratando, porém, dos espíritos dos mortos, nem os maus e nem os bons vêm a nós, mas sim, os demônios (Lc 16. 27-31).
       As manifestações do Espírito Santo e dos anjos ocorrem sob a vontade absoluta de Deus, e as dos demônios sob a que os acadêmicos da especificidade teológica chamam de “vontade permissiva de Deus”.
       Os anjos não são almas dos mortos, visto que seria incoerente Deus nos proibir o contato com os mortos (Dt 18.9-14) e, ao mesmo tempo, permitir que eles nos venham ao encontro.
       Claro que Deus pode mais do que os demônios, mas Ele permite, por causa do livre arbítrio que Ele mesmo nos deu, que desobedeçamos à Sua Lei (Dt 18. 9-14; Ap 21.8; 22.15). E a opção pela desobediência a Deus põe-nos sob a maldição divina, de cuja deixa os demônios se servem para ludibriar os incautos. Aliás, o próprio Kardec ensinou que as más ações atraem os maus espíritos, e as boas, os bons (O livros dos espíritos, 74 ed. Introdução, nº VIII, pp. 31-32). Pois bem, é isso que está acontecendo. A má ação da transgressão da Lei de Deus atrai os demônios, os quais com muita habilidade imitam os mortos.
       Para contrabalançar a influência dos maus espíritos, temos, não a influência das almas dos que já se foram desta vida, mas sim, a Bíblia (2Tm 3. 16-17), o Espírito Santo (Jo 16.13) e os anjos (Hb 1.14).

QUARTA PERGUNTA

Que provas podeis apresentar da impossibilidade em que estão os bons Espíritos de se comunicarem?

Resposta
       Nenhuma, pois como já vimos, os bons espíritos (os anjos) estão a serviço dos servos do Senhor e nos assistem constantemente. Mas os mortos, nem os bons e nem os maus têm acesso a nós, e a prova disso é o fato de que Deus nos proibiu contatá-los. Os mortos salvos estão no paraíso e os perdidos no inferno; logo, nenhum deles está zanzando por aqui (Lc 16. 19-31; 23. 42-43; 2Co 12. 2-4; Ap 6. 9-11, etc.).
       Certo dia, enquanto eu argumentava baseado em Dt 18. 9-14 que os mortos não se comunicam conosco, disse-me um dos meus interlocutores: “Eu creio que é possível comunicarmos com os mortos, e que Deus nos proibiu fazê-lo para nos livrar duma possível farsa demoníaca, porquanto os demônios bem podem imitar o falecido com quem desejaríamos falar”. Então eu lhe disse que me parece mais evidente que o porquê da dita proibição não é nos resguardar duma possível farsa, mas sim, para nos livrar dos demônios, os únicos que atendem às evocações aos mortos. Se este não fosse o caso, Deus nos proibiria comunicar com os anjos também, já que o diabo pode imitar um anjo de luz (2Co 11.14).
       É digno de nota ainda que, salvo os anjos e o Espírito Santo, os bons espíritos não se comunicam conosco, visto que, se são bons, obedecem a Deus e ainda querem que façamos o mesmo.

QUINTA PERGUNTA

Quando se vos opõe a sabedoria de certas comunicações, respondeis que o demônio usa de todas as máscaras para melhor seduzir. Sabemos, com efeito, haver Espíritos hipócritas, que dão à sua linguagem um verniz de sabedoria; mas, admitis que a ignorância pode falsificar o verdadeiro saber e uma natureza má imitar a verdadeira virtude, sem deixar vestígio que denuncie a fraude?

Resposta
       Realmente, a ignorância não pode falsificar o verdadeiro saber, nem tampouco uma natureza má pode imitar a verdadeira virtude, sem deixar vestígio que denuncie a fraude, mas lembremo-nos que:

A) De ignorante o diabo não tem nada. O diabo é mau, não bobo. O diabo está em condição de imitar quaisquer cientistas. Para se cientificar e certificar da autenticidade desta afirmação, bastar-nos-á lermos O consolador, fruto da “mediunidade” do senhor Francisco de Paula Cândido Xavier (Chico Xavier), onde um demônio, dizendo chamar-se Emanuel, fala como um verdadeiro cientista, respondendo com muita sabedoria às perguntas sabiamente formuladas, acerca das seguintes ciências: Química, Física, Biologia, Psicologia, Sociologia e Filosofia. Nesta mesma obra, não obstante não ter conseguido esconder o rabo, o dito “Emanuel” entra na área religiosa e fala dos profetas, dos anjos, dos apóstolos, de Jesus Cristo, e assim por diante.

B) Uma natureza má pode imitar a verdadeira virtude, pois escreveu o seguinte o apóstolo Paulo: “E não é de espantar, porque o mesmo Satanás se transforma em anjo de luz” (2Co 11. 14 [Bíblia de versão católica, traduzida pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Novo Brasil Editora Ltda.]).

C) Kardec reconhece, como podemos ver através da pergunta em pauta, “que a ignorância pode falsificar o verdadeiro saber e uma natureza má imitar a verdadeira virtude”; o que ele não admite é que tal falsidade se dê “sem deixar vestígio que denuncie a fraude”. Ora, o diabo, quando demonstra a sua sabedoria, não pode deixar vestígio de ignorância, porquanto, à luz da Bíblia ele é mau, não tolo (Ez 28. 11-19).

D) Quanto à objeção de que “uma natureza má” não pode “imitar a verdadeira virtude sem deixar vestígio que denuncie a fraude”, respondo que eu também entendo assim. Mas quem disse que os espíritos que acorrem às sessões espíritas, fazendo-se passar por São Paulo, São Luiz, Santo Agostinho, Emanuel, André Luiz... não deixam vestígios de que são fraudulentos? Kardec não enxergou esses vestígios, mas eles existem. Ou pensam os espíritas que nós, os evangélicos, criticamos a tais espíritos gratuitamente? Não é assim. Afirmamos que tais espíritos são demônios, porque temos conseguido, com a ajuda de Deus, mediante a instrumentalidade da Bíblia, enxergar o “rabo” deles. Senão, vejamos: Como podemos crer que esses espíritos são bons, se eles negam o perdão, dizendo que o perdão de Deus não significa o olvido dos pecados, mas apenas forças para que os expiemos e os reparemos, quando a Bíblia diz com clareza que os pecados daquele que se entregou ao Senhor Jesus estão esquecidos por Deus, por terem sido expiados e reparados pelo sacrifício substitutivo efetuado por Jesus na cruz? (Mq 7. 19; Hb 10.17-18, etc.). Porventura, estas contradições entre a Bíblia e tais espíritos não constituem fortes vestígios de que são demônios? Só não enxerga isto quem não quer ver. Tenho visto os “pés de pato”, as “asas de morcego”, os “chifres”, os “rabos”, os “garfos”, etc. desses espíritos e eis a razão porque os denuncio.
       Eu disse no parágrafo acima, bem como no capítulo V, que, segundo os espíritos que se comunicavam com Kardec, o perdão dos pecados não significa o olvido __ esquecimento __ dos mesmos, mas sim, forças para que os expiemos e reparemos. E para que se veja que de fato as coisas são assim, transcrevo de novo o que já copiei no capítulo imediatamente anterior:

Que é o que pedis ao Senhor, quando implorais para vós o seu perdão? Será unicamente o olvido das vossas ofensas? Olvido que vos deixaria no nada, porquanto, se Deus se limitasse a esquecer as vossas faltas, Ele não puniria, é exato, mas tampouco recompensaria. A recompensa não pode constituir prêmio do bem que não foi feito, nem, ainda menos, do mal que se haja praticado, embora esse mal fosse esquecido. Pedindo-lhe que perdoe os vossos desvios, o que lhe pedis é o favor de suas graças, para não reincidirdes neles, é a força de que necessitais para enveredar por outras sendas, as da submissão e do amor, nas quais podereis juntar ao arrependimento a reparação (O evangelho segundo o espiritismo. 112 ed., capítulo X, nº 17, p. 179, grifo nosso).

       Deus não perdoa as nossas dívidas em termos humanos, mas as perdoa em termos divinos, isto é, Ele anula a nossa sentença mediante o pagamento efetuado por Jesus na cruz.
       À luz da Bíblia, a salvação não é uma forma de pagar ao homem pelo bem que ele fez, nem tampouco uma maneira de retribuir pelo bem que não foi feito, mas um presente de Deus concedido aos que se valem do que Cristo fez por nós na cruz.

SEXTA PERGUNTA

Se só o demônio se comunica, sendo ele o inimigo de Deus e dos homens, por que recomenda que se ore a Deus, que nos submetamos à vontade de Deus, que suportemos sem queixas as tribulações da vida, que não ambicionemos as honras, nem as riquezas, que pratiquemos a caridade e todas as máximas do Cristo, numa palavra: que façamos tudo o que é preciso para lhe destruir o império, dele, o demônio? Se tais conselhos o demônio é quem os dá, forçoso será convir em que, por muito manhoso que seja, bastante inábil é ele, fornecendo armas contra si mesmo.

Resposta

Não é de admirar. A resposta a esta pergunta foi dada pelo apóstolo Paulo em 2Co 11.14: “Não é de admirar; pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz”.

A falsa vontade de Deus. Tais espíritos “aconselham” submissão à vontade de Deus, mas, paralelamente impelem suas vítimas à desobediência, induzindo-as a fazerem o contrário do que nos manda a Bíblia. Senão, vejamos:

A) Sobre a oração
       Ora, dedicar-se à oração não endereçada exclusivamente a Deus __ conforme nos ensinou Jesus (Mt 6.9) __, mas também ao “anjo guardião” e aos “espíritos protetores” __ conforme registrou Kardec (O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 28, nºs 11-12,14) __, não equivale a se submeter aos conselhos de Deus, tampouco isto representa uma arma contra o império de Satanás; porém, muito pelo contrário.

B) Sobre resignação
       O homem que suporta sem queixas as tribulações da vida, mas não aceita a Jesus Cristo como seu único e todo suficiente Salvador e Senhor pessoal, é semelhante a um réu que foi condenado à forca, mas não reclama do júri e nem do juiz: nem por isso deixará de ser enforcado. A nossa salvação está exclusivamente em reconhecermos que o sacrifício de Jesus é substituinte, e que, portanto, o Seu sangue nos purifica de todo o pecado, quitando-nos para com a justiça Divina junto ao Fórum Celestial, se recorrermos ao dito sacrifício. Nisto, nenhum reencarnacionista crê; e, portanto, nenhum kardecista dispõe de alguma arma capaz de destruir o império de Satanás. O diabo sabe que se o homem não se lavar no sangue do Cordeiro de Deus, nunca se salvará, por mais que sejamos abnegados, resignados, caridosos, humildes, praticantes das máximas de Cristo, e outras mais. Por isso, Satã tudo faz para entreter os incautos com religiões alienadas da cruz (Hb 9.22b), indiferentes ao precioso sangue vertido no madeiro, às quais, ele __ Satanás __ enche de fachadas, intuindo torná-las atraentes.

C) Sobre a salvação pela graça
       Está escrito que a salvação é pela graça, por meio da fé; que não vem de nós mesmo, não vem das obras, e que é dom (presente) de Deus (Ef 2. 8,9); mas Satanás tem ensinado o contrário aos espiritistas:

Afirma a teologia que os homens são filhos do pecado, maus desde a origem e, portanto, incapazes de se salvarem a não ser pela graça. Já o Espiritismo sustenta que eles são filhos de Deus, essencialmente bons e, como tais, suscetíveis de alcançarem a perfeição pelo próprio esforço e merecimento (Rodolfo Calligaris. Páginas de espiritismo cristão, p. 26).

       Do exposto, podemos dar, como resposta à sexta pergunta ora em consideração, que de inábil na arte do engano, Satanás nada tem; tampouco forneceu ele qualquer arma contra si mesmo; pelo contrário, disfarçando-se em anjo de luz, conseguiu enganar o inteligentíssimo Kardec, e, através deste, muitos milhões de pessoas pertencentes às mais diversas camadas sociais: do iletrado aos grandes gramáticos, estadistas, cientistas, etc.

SÉTIMA PERGUNTA

Pois que os Espíritos se comunicam, é que Deus o permite. Em presença das boas e das más comunicações, não será mais lógico admitir-se que umas Deus as permite para nos experimentar e as outras para nos aconselhar ao bem?

Resposta
       Não existe no Espiritismo as boas comunicações, mas somente as más. Como bem o diz certo adágio, “nem tudo que reluz é ouro”.
       Quando se quer pegar uma galinha, não se pode dizer “xô”. Nessa hipótese, ela se sentirá enxotada e fugirá. Deve-se, então, atirar milho ao chão. Pois bem, é exatamente isso que o diabo faz aos seus consulentes: dá-lhes o “milho” dos “bons” conselhos para que eles pensem que ele é um bom espírito, e assim continuem escravizados por ele. Tal escravidão se concretiza da seguinte maneira: Dando o diabo “bons” conselhos, os espíritas se convencem que estão no caminho certo, até ao dia em que partirem deste mundo e ingressarem no Inferno. Então, não haverá mais jeito, visto que Cristo só perdoa pecados na Terra, isto é, antes de morrermos (Mc 2.10). Depois da morte será tarde demais (Tg 2.13; Lc 16.26; Ap 20.15; 22.11).
       Para nos aconselhar ao bem, Deus nos deixou a Bíblia (Jo 20.31; 2Tm 3.16-17), não os expedientes kardecianos.
       Parece-me lógico que as manifestações dos demônios sejam permitidas por Deus para nos pôr à prova, mas o autor destas linhas já escapou, e o leitor, se ainda não se livrou, pode sair dessa arapuca agora, refugiando-se no sangue de Jesus.

OITAVA PERGUNTA

Que diríeis de um pai que deixasse o filho a mercê dos exemplos e dos conselhos perniciosos, e que o afastassem de si; que o privasse do contato com as pessoas que o pudessem desviar do mal? Ser-nos-á lícito supor que Deus procede como um bom pai não procederia, e que, sendo ele a bondade por excelência, faça menos do que faria um homem?

Resposta
       Seria um monstro, o pai que deixasse o filho a mercê dos exemplos e conselhos perniciosos e o privasse do contato com pessoas de bem que o pudessem desviar do mal. Não! Deus não procede como um bom pai não procederia! Não! Sendo Deus a bondade por excelência, não faz menos do que faria um homem! Mas, e daí? O que Kardec queria dizer com essas perguntas? Essas interrogações não constituem um bom libelo contra os que creem que os espíritos que se deixaram consultar por Kardec são demônios. Esses questionamentos não provam que pelo menos alguns de tais espíritos sejam bons, para contrabalançar a influência dos maus espíritos. Deus não quis se valer desse expediente, é o que nos diz categoricamente a Sua Palavra:

E, quando vos disserem: Consultai os magos e os adivinhos, que murmuram em segredo nos seus encantamentos, (respondei): porventura o povo não há de consultar o seu Deus? Há de ir falar com os mortos acerca dos vivos? Antes à lei e ao testemunho (é que se deve recorrer). Porém, se eles não falarem segundo esta linguagem não raiará para eles a luz da manhã. Andarão errantes, cairão e terão fome” (Is 8.19 -21a [Bíblia de versão católica, traduzida pelo Padre Matos Soares. São Paulo: Edições Paulinas, 1981]).

NONA PERGUNTA

A Igreja reconhece como autênticas certas manifestações da Virgem e de outros santos, em aparições, visões, comunicações orais, etc. Essa crença não está em contradição com a doutrina da comunicação exclusiva dos demônios?

Resposta
       A “Igreja” que reconhece como autênticas certas manifestações que se fazem passar como sendo da mãe de Jesus e outros santos, e até de espíritos diversos, é tão incoerente quanto o Kardecismo. Logo, quem tem de responder por essa discrepância, são os católicos; não, a Igreja de Cristo. Eu não creio nisso; e, portanto, o filho não é meu.
       Clérigos católicos __ Frei Battistini, Frei Boaventura, Dom Estêvão Bettencourt, e outros tantos __ elaboraram diversos textos (livros, panfletos, livretos, etc.) contra o Kardecismo, mas isso nada mais é que “o porco falando mal do toicinho”. Realmente, é gritante contradição os clérigos católicos combaterem o kardecismo e outras ramificações do Espiritismo, e ao mesmo tempo sustentarem que é possível se comunicar com as almas do Além. Eles precisam repensar, sim.
       Vimos no capítulo I (1.4.2 a 1-4-3) que a Igreja Católica prega oficialmente que os mortos (tanto os que estão no Céu, como também os que jazem no Purgatório, e até os que padecem no Inferno) podem nos contatar e intercambiar conosco. Relembro que o Catolicismo só não sanciona a evocação aos mortos, isto é, não se admite que os chamemos. Entretanto, se o contado com uma alma do Além se der por iniciativa desta, o colóquio que daí decorrer poderá vir a ter não só a aquiescência da “Igreja”, mas até a sua sanção. E Kardec percebeu que a essa atitude falta coerência, e argumentou forte, mostrando de maneira irrefutável a inconsistência da mesma. E realmente, se as almas do Além podem vir ao nosso encontro até sem ser evocadas, por que não poderiam vir, e até com mais frequência, urgência e em maior número, se provocássemos tais aparições, pela evocação? Aliás, invocar os Santos não é invocar os mortos? E se é permitido invocá-los, por que não evocá-los também? E se Deus permite que eles venham a nós até sem ser chamados, por que não permitiria que acorressem às nossas evocações? Nessa briga, porém, não necessito me meter. Isso é lá com os católicos e os espíritas. “Vocês que são brancos que se entendam.” “O filho não é meu.”



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VII

 

ENTREVISTA REVELADORA



       A um companheiro de trabalho (omito seu nome por questão de ética), kardecista convicto e portador de considerável conhecimento de sua religião, formulei, ao longo de diversos colóquios travados no decurso dos anos em que trabalhamos juntos, inúmeras perguntas, daquelas que já trazem a resposta no seu bojo. Suas respectivas respostas me pareceram tão relevantes que decidi trazê-las à apreciação dos meus leitores. Espero, com isso, espargir mais luz sobre o tema em lide.

PRIMEIRA PERGUNTA
      Vocês creem que Jesus é o Deus Todo-poderoso, Criador dos Céus, da Terra e de tudo quanto neles há, como atestam Is 9.6; Mq 5.2; Jo 1.1-4, 10; 5.18; Cl 1.14-17; Hb.1.8-12 e outros textos bíblicos?

Resposta
       Não. Os apóstolos estavam equivocados. Devido às suas limitações, eles pensaram que Jesus (o qual nada mais é que um dos espíritos perfeitos) fosse Deus. O correto é dizermos que quando Deus criou o planeta Terra, Jesus (que já atingira a perfeição) o ajudou. Os apóstolos Paulo e João enxergaram isto de longe, o que os impossibilitou de terem uma visão real da coisa. Lembremo-nos que o outro Consolador ainda não havia vindo. Só no devido tempo (isto é, no século XIX) ele veio e revelou, ampliou, aclarou..., o que não pôde ser feito antes, devido ao fato de a Humanidade ainda não ter se desenvolvido o bastante, para entender a Terceira Revelação.

SEGUNDA PERGUNTA
       Vocês dizem que todos os espíritos são criados simples e que cabe a eles se desenvolverem. Sendo Jesus um espírito criado por Deus, como vocês creem, é lógico crermos que Ele já foi tão ignorante quanto nós atualmente; e que Ele também passou pelo processo evolutivo em outros mundos, encarnando, desencarnando e reencarnando repedidas vezes, até se tornar perfeito?

Resposta: Sim.

TERCEIRA PERGUNTA
       Não sabemos se Jesus foi ou não um espírito mau, pois segundo o que vocês dizem, todos os espíritos são criados simples, mas nenhum é criado mau, tendo todos eles o livre-arbítrio, isto é, o poder para optarem pelo mal ou pelo bem. Assim sendo, você acha certo admitirmos a possibilidade de Jesus __ nos mundos em que ele viveu, antes de atingir a perfeição __ ter sido mau, como, por exemplo, estuprador, assassino, invejoso, egoísta, suicida, etc.?

Resposta
       Ainda não vi nada no kardecismo que explique isso; mas o que você está falando é tão lógico quanto 2+2 são 4. Logo, a resposta que eu tenho para você, é “sim”.

QUARTA PERGUNTA
       Vocês creem na ressurreição, como pregada pelos profetas (Dn 12. 2), Jesus (Jo 5.28-29 ) e os apóstolos (1Ts 4.13-18; At 24.15; 1Co 15; Ap 20.11-15, etc.)?

Resposta
       Não. O que os profetas, Jesus e os apóstolos chamavam de ressurreição, nada mais é que germens da doutrina da reencarnação.

QUINTA PERGUNTA
       Vocês também estão esperando a vinda de Jesus para serem arrebatados aos céus?

Resposta
       Estamos, mas não como vocês creem. Para nós, a vinda de Jesus é a morte. Quando morre uma pessoa, pode-se dizer com muita propriedade que para essa, Jesus já veio.

SEXTA PERGUNTA
       Adão foi o primeiro homem?

Resposta
       Não. Espíritos atrasados foram expulsos de mundos mais evoluídos do que o nosso, e enviados para a Terra. Ao encarnarem aqui, restou-lhes a intuição de que haviam vindo de algum lugar melhor. A lenda de Adão e Eva sendo expulsos do paraíso foi inspirada aí.

                                                    ***
Consideração
       O que o meu consultor disse sobre Adão e Eva difere um pouco do que Kardec registrou sobre o assunto. Veja:

[...] O homem, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que revolveram em diversas épocas a superfície do globo, e se constituiu tronco de uma das raças que atualmente o povoam [...] (O livro dos espíritos, 74ª edição, FEB, no 51, P.67).

Observações: a) para maiores informações sobre o que o Kardecismo prega a respeito da espécie humana e suas raças, leia também as perguntas 50-54 de O livro dos espíritos; b) o mais importante dessa entrevista é que as respostas de meu consultor, salvo pequenas variantes, representam relativamente bem, as crenças oficiais do kardecismo. E, como sabemos, embora o conhecer uma religião não seja imprescindível aos ganhadores de almas para Jesus, este conhecimento é, entretanto, de grande valia aos proclamadores do Evangelho; c) como vimos, o dito consultor crê que Jesus já atingiu o status de Espírito perfeito. Realmente, consta da codificação cardeciana que Jesus é “o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo” (O livro dos espíritos, questão 625), e que já alcançou o patamar de “Espírito bem-aventurado; puro Espírito.” (Ibid., questão 170). Diz ainda um dos jornais espíritas: “A Doutrina Espírita é riquíssima em informações a respeito da necessidade da reencarnação como caminho primordial e exclusivo para o espírito na busca do Infinito dentro de si; empreitada já conquistada pelo excelso Mestre Jesus, situando-se na primeira ordem da escala evolutiva que é a dos espíritos bem-aventurados ou puros.” (Correio Espírita, Ano IX, nº 104, Niterói, fevereiro de 2014, p. 7); d) a título de refutação às respostas do meu consultor, as quais não são cristãs, observo apenas que aqui está mais uma demonstração de incoerência, o que já não nos surpreende mais. E relembro que tacho isso de incoerência, porque os kardecistas reivindicam o título de cristão.



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VIII

 

JOÃO BATISTA ERA ELIAS?


       Sabemos que os kardecistas aprenderam com Kardec a citar passagens bíblicas a fim de “provar” que extraíram suas doutrinas das páginas das Escrituras Sagradas. Não ignoramos ainda que isso é desonesto por, pelo menos, duas razões: a) Citam-na fora do contexto; b) confessam não crer nela. Contudo, ei-los novamente “indo” à Bíblia.

8.1. JOÃO __ O ELIAS QUE HAVIA DE VIR

       O Kardecismo se “funda” em Mt 11.14. Este versículo diz que João Batista era “o Elias, que estava para vir”. Isso, segundo Kardec, prova que o precursor do Messias era uma reencarnação do profeta Elias (O evangelho segundo o espiritismo, 109 ed. capítulo IV, nº 3-4, p. 84). Ora, isso é apelação, já que esta passagem bíblica se explica assim: Referindo-me a um fervoroso servo de Deus, posso dizer que o mesmo “é o apóstolo Paulo do século XXI”. E quem inferir dessa expressão que sou reencarnacionista, estará equivocado, visto que com a mesma viso apenas aquilatar a envergadura de um destacado servo do Senhor, da atualidade.

8.2. JOÃO __  NO ESPÍRITO E PODER DE ELIAS

       Quanto ao texto de Lc 1.17, ao qual talvez queiram também apelar, já que o mesmo nos diz que João Batista foi adiante de Cristo “no espírito e poder de Elias”, posso explicar assim: Isto significa apenas que João era espirituoso, virtuoso, corajoso e franco como Elias o fora. Para apercebermos isso, bastar-nos-á o inteirar dos significados do vocábulo “espírito”. Este, segundo o Novo Dicionário Aurélio, não significa apenas seres incorpóreos, como é o caso da nossa parte imaterial, que chamamos de alma, mas também “ânimo, índole, finura, graça...”. Além disso, a Pequena enciclopédia bíblica, de Orlando S. Boyer, editada pela Editora Vida, também dá a esta palavra várias definições, entre as quais, “ente imaginário, aptidão para, tendência, disposição”. Com isto concorda Nm 14.24, que nos diz que em Calebe havia outro espírito, isto é, melhores predicados: fé, atitude nobre, boa índole, louváveis adjetivos, etc.
       Se a palavra “espírito” significasse apenas a nossa parte imaterial, Eliseu teria recebido a alma de Elias multiplicada pelo algarismo dois, já que em 2Rs 2.9-12, Eliseu pediu e recebeu dobrada porção do espírito de Elias. Veja o leitor, que em todas as traduções da Bíblia, o vocábulo “espírito”, constante deste texto, está grafado com inicial minúscula, o que prova que todos os tradutores reconhecem que “espírito”, neste caso, não é uma referência ao Espírito Santo. Também, neste caso, “espírito” não pode ser a alma de Elias, já que Eliseu o recebeu em dobro. Isto posto, fica claro que se trata de, com a ajuda do Espírito Santo, tornar-se duas vezes mais do que Elias no fervor, no dinamismo, na coragem, na franqueza. E basta comparar os milagres que Deus fez através de Elias, com os que Ele realizou na instrumentalidade de Eliseu, para se ver que, deveras, Eliseu foi mais espirituoso do que Elias. Glórias, porém, ao Senhor.
       Se Eliseu não pedisse “porção dobrada do teu espírito”, mas apenas “o teu espírito”, provavelmente os falsos profetas já estariam dizendo por aí que Eliseu incorporou a alma de Elias. Mas, como é “porção dobrada”, eles têm evitado esse ridículo.
       Realmente, o fato de a Bíblia dizer que João Batista foi adiante de Jesus “no espírito e virtude de Elias”, não constitui prova alguma de que este reencarnara naquele. Doutro modo, poder-se-ia dizer que a alma de Elias se desdobrou em duas e que Eliseu as incorporou. Há outra explicação mais convincente, a qual, além de não colidir com as Escrituras, ainda se harmoniza com os princípios estabelecidos pela Hermenêutica, entre os quais, que todo texto deve ser interpretado à luz do seu contexto. Portanto, assim como Eliseu tinha o espírito de Elias, sem, contudo, ser uma reencarnação deste, também João Batista agiu “no espírito e poder (ou virtude) de Elias” sem ser aquele profeta reencarnado. Ademais, o próprio João Batista respondeu negativamente quando lhe perguntaram se ele era Elias (Jo 1.21). Certo kardecista disse-me que João Batista se expressou assim, porque o reencarnado, por providência divina, não se lembra das encarnações precedentes. Mas, felizmente, dessa vez ele não pôde “recorrer à Bíblia” para “provar” mais essa tese.
       Como bem o disse o Frei Battistini, “Quem acredita na reencarnação não é cristão, mas pagão” (A Igreja do Deus Vivo. Op. cit., p. 35). Portanto, sempre que um kardecista inquirir sobre o porquê de não crermos em reencarnação, respondamos que é porque somos cristãos. E se ele tentar provar que a Bíblia é um livro reencarnacionista, lembremos a ele que os kardecistas não podem ir à Bíblia sem faltar com a honestidade e sem ser incoerentes, pois assumem que não a reconhecem como autoridade.
       Acabamos de ver que os kardecistas são reencarnacionistas e que, portanto, não são cristãos. Deste modo, aqui está mais uma demonstração de incoerência. Querem ser vistos como cristãos sem se qualificarem a tanto.


 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO IX

 

ACERCA DO ESPÍRITO DE “SAMUEL”



       É veraz a crença de que a alma de Samuel, em atenção ao chamado da “mãe-de-santo”, voou do Seol ao point de catimbó? É o que veremos neste capítulo.

9.1. IDENTIFICANDO O FALANTE

       Inspirando-se em 1Sm 28, vários kardecistas me disseram que a mediunidade é respaldada pela Bíblia. Mas a verdade solene é que na sessão espírita da qual trata 1Sm 28, quem falou a Saul foi um demônio, e não Samuel. Mas, se de fato não foi Samuel o falante, por que diz então a Bíblia que “Samuel disse a Saul? [...]”. Resposta: No capítulo 3º do Gênesis consta que a serpente falou a Eva, mas o contexto bíblico não deixa dúvida de que quem confabulou com ela foi o diabo, não a cobra (Gn 3. 15; Ap 12.9; 20.2; 2Co 11.3). Temos em 1Sm 28 um caso similar. Em outras palavras: Trata-se do registro de um fato baseado na impressão visual, sem entrar no mérito da autenticidade ou não do que se vê, cuja interpretação fica a cargo do contexto que, neste caso, é tanto o imediato quanto o remoto.
       Desde os primórdios do Cristianismo que os cristãos veem em Gênesis 3.15 uma antevisão da morte vicária de Jesus (“tu lhe ferirás o calcanhar”) e da aceitação do Seu sacrifício por parte do Pai, aceitação esta evidenciada com a Sua ressurreição dentre os mortos (“esta te ferirá a cabeça”), “esmagando” assim a “cachola” de Satanás, isto é, frustrando-lhe os maquiavélicos planos para levar a Humanidade à bancarrota, salvando o homem da “boca da serpente”.
       Vimos acima que há bons motivos para se crer na autenticidade desta interpretação, já que há textos bíblicos que identificam o diabo com a serpente, como, por exemplo, Ap 12.9; e 20.2. E, isto posto, é só perguntarmos: Cristo foi picado por cobra? E esmagou o Senhor a cabeça de alguma serpente?

9.2. RESPALDO BÍBLICO?

       Além disso, nunca é demais relembrarmos que os kardecistas não podem recorrer à Bíblia, sem faltar com a honestidade, pois assumem que não a reconhecem como autoridade. Assim sendo, quando eles se “respaldam” em 1Sm 28, não estão sendo sinceros, honestos, coesos e coerentes, mas sim, astuciosos. Seria o caso de perguntarmos a eles por que não se respaldam também naquelas passagens bíblicas que categoricamente sustentam que a reencarnação, além de desnecessária é inexistente, como: a) Lc 23.43, que nos fala de um ladrão que foi para o Paraíso imediatamente após a morte; b) Rm 8.1, que nos diz que “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”; c) Jo 5. 28-29 que nos assevera que haverá ressurreição de todos os que estão nos sepulcros; d) 1Ts 4.16-17 e 1Co 15. 52-53, que sustentam que Cristo virá outra vez e que então, os dEle que estiverem mortos serão ressuscitados, para juntamente com os dEle que estiverem vivos, subirem ao Céu para morarem com Ele; e e) Hb 9. 27 que, como um tiro de misericórdia no Kardecismo, garante que “aos homens está ordenado a morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo” (ARA, grifo nosso). Por tudo isso, o fato de os kardecista citarem 1Sm 28 é apenas mais uma demonstração de incoerência, e, subsequentemente, mais uma prova de que não são cristãos na verdadeira concepção deste termo. Ora, apresentar-se como cristão, sem sê-lo de fato, é hipocrisia. E, segundo me consta, a hipocrisia ainda não se converteu à fé cristã; logo, ela ainda não é minha amada e querida irmã em Cristo.

9.3. POR QUE NÃO A NÓS TAMBÉM?

       Sempre que um espírito se manifesta em alguém que esteja assistindo aos nossos cultos, identifiquem-se eles como quiserem, são, sem exceção, tachados de demônios e expulsos em nome de Jesus. Isto seria impraticável, se alguns desses espíritos fossem, de fato, almas desencarnadas, como o querem os kardecistas. Claro, como expulsar (por exemplo), em nome de Jesus, o espírito do apóstolo Paulo, caso este fosse incorporado por um de nós num de nossos cultos?
       Espíritos da mais “alta ordem” acorrem às sessões espíritas e dão conselhos e instruções diversos. Pergunto: Por que tais espíritos não nos conferem a honra de se manifestarem a nós também? Por que essa acepção de pessoas? Realmente eles nunca nos fizeram uma visitinha, visto que os que se atreveram a passar por tais espíritos, levaram fogo no chifre e foram expulsos em nome de Jesus. Ora, isto seria impossível, se alguns desses espíritos fossem, de fato, espíritos enviados por Deus para nos orientar.

9.4. VOCÊ QUER A “BÊNÇÃO” DE SAUL?

       Já que os kardecistas querem usufruir de 1Sm 28 quanto à consulta aos mortos, sugiro que também desfrutem de 1Cr 10.13-14 que diz: “Assim morreu Saul [...] porque buscou a adivinhadora para a consultar. E não buscou ao SENHOR, que por isso o matou [...]”. Se você, ó leitor, quer receber a “bênção” que Saul recebeu, conforme registrado em 1Cr 10. 13-14, faça o que ele fez, dentro dos moldes de 1Sm 28.

9.5. SHEDD EXPLICA

       Maiores e relevantes informações sobre 1Sm 28, constam da Bíblia de estudo intitulada A Bíblia vida nova, cujo comentarista é o erudito Dr. Russell P. Shedd __ piedoso Pastor batista __, editada pela S. R. Edições Vida Nova. Em refutação à crença de que foi Samuel quem falou a Saul, Shedd discorre com muita propriedade sobre o que ele classifica como “Argumento Gramatical, Argumento Exegético, Argumento Ontológico, Argumento Escatológico, e Argumento Doutrinário.” Sugiro, pois, que o leitor a consulte. Esse comentário consta também da Bíblia Shedd.

Concluímos que o “Samuel” que dialogou com Saul, fala até hoje aos que lhe dão ouvidos. Logo, a “benção” de Saul ainda está de pé e disponível aos que a querem. Mas há algo melhor para nós: a Bênção de Deus.



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO X

 

O SANGUE DE JESUS VERSUS KARDECISMO



       Como se tornar espírito perfeito __ alvo este que não se alcança sem o nosso concurso, tampouco se concretiza sem inúmeras reencarnações __, constitui uma sinopse do que podemos chamar de O Evangelho dos Kardecistas. Estes fazem ecoar em todos os rincões do mundo que “esse ensino não desdenha o sacrifício de Jesus, não colide com a razão, e se harmoniza com a justiça de Deus.” Relembro que o mentor dessa dogmática chegou a dizer que “O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa”. (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 109 Ed., 1994, p. 47). Neste capítulo, porém, questiono o mérito dessas pretensiosas alegações.

10.1. O FUNDAMENTO DAS REENCARNAÇÕES


10.1.1. Fundamento “filosófico”

       Veja abaixo as perguntas 167-171, que Kardec formulou a um “Espírito superior”, bem como as respostas que obteve de seu Guia Espiritual:

Pergunta 167: “Qual o fim objetivado com a reencarnação?” Resposta: “Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

Pergunta 168: “É limitado o número das existências corporais, ou o Espírito reencarna perpetuamente?”! Resposta: “A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal”.

Pergunta: 169: “É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos?”. Resposta: Não; aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito”.

Pergunta 170: “O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação?” Resposta: “Espírito bem-aventurado; puro Espírito”

Pergunta 171: “Em que se funda o dogma da reencarnação?” Resposta: “Na justiça de Deus e na revelação [...]” (O livro dos espíritos, 74 ed., nº 167-171, p. 121. Grifo nosso).

       Como se vê acima, Kardec prescindiu do sangue de Jesus. Este se tornou supérfluo. Tudo se resolveu por intermédio de sucessivas reencarnações. “A cada nova existência, o Espírito” dá “um passo para diante na senda do progresso” até limpar-se “de todas as impurezas”, quando cessará a “necessidade das provas da vida corporal”, isto é, passará a progredir sem a necessidade de se reencarnar. E, finalmente, tornar-se-á “Espírito bem-aventurado; puro Espírito”, a saber, alcançará o status de espírito perfeito, e será feliz para sempre! Mas não é isso que nos ensina a Bíblia. Esta nos garante que a bem-aventurança eterna só será possível aos que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro (Ap 22.14).

10.1.2. Fundamento “bíblico”

       Após recorrer à lógica humana, Kardec procura abrigo sob o manto do Nazareno; e, para tanto, recorre à Bíblia mais uma vez.

Reconheçamos, portanto, em resumo, que só a doutrina da pluralidade das existências explica o que, sem ela, se mantém inexplicável; que é altamente consoladora e conforme à mais rigorosa justiça; que constitui para o homem a âncora de salvação que Deus, por misericórdia, lhe concedeu.
As próprias palavras de Jesus não permitem dúvida a tal respeito. Eis o que se lê no Evangelho de São João, capítulo III:3. Respondendo a Nicodemos, disse Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se um homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus... (O livro dos espíritos. 74 ed., Parte 2ª, capítulo V, nº 222, p. 153. Grifo nosso).

       Das transcrições supra se pode ver que o Kardecismo prega que a âncora da salvação não é o sangue de Jesus, e sim, a reencarnação. Através desta, o espírito vai progredindo intelectual e moralmente até atingir a perfeição. A Bíblia, porém, assevera que só o sangue de Jesus pode nos purificar dos nossos pecados (Mt 26.28; At 4.12; Rm 3.25-26; 11.6; Ef 2. 8-9; 1Jo 1.7, etc.). Os kardecistas diriam que este meu argumento não os demove, visto que não reconhecem a Bíblia como autoridade. Porém, aí levanto as seguintes questões: a) mas vocês não se consideram cristãos? b) se não aceitam a Bíblia, rejeitam o Cristianismo, e, portanto, vocês não podem se considerar cristãos; c) vocês fizeram um “cristianismo” só para vocês? d) vocês possuem um “cristianismo” de propriedade particular? e) além disso, se a Bíblia não é confiável, porque Kardec, citando Cristo falando do novo nascimento, e associando isso à reencarnação, afirma que “As próprias palavras de Jesus não permitem dúvida a tal respeito”, como consta da cópia acima? f) veja, se a Bíblia não é confiável, não sabemos sequer se Jesus realmente falou de novo nascimento. Ora, como ousam fundar uma religião sobre algo tão incerto? Pensem nisso os que ainda pensam.

10.2. OS KARDECISTAS CREEM NO SANGUE DE JESUS?!

       Como se todas as incoerências acima exibidas não bastassem, Kardec registrou que Jesus derramou Seu sangue para nos salvar.

Diante da grande responsabilidade que assumimos para com o nosso Criador, quando nos comprometemos a defender a Doutrina do seu amado Filho, selada com o seu próprio sangue no cimo do Calvário, para redimir as culpas dos homens; [...] elevo o meu pensamento [...] ao nosso Criador e Pai, e suplico [...] que se estendam as asas do seu amado Filho sobre a Terra, colocando-vos à sombra do seu Evangelho — garantia única da vossa crença — segura estabilidade da vossa fé! (A prece segundo o evangelho. 44 Ed., p. 24. Grifo nosso).

       O Kardecismo me surpreendeu. Ele me deixou embasbacado, atônito, boquiaberto, de queixo caído, maravilhado, pasmado, perplexo, etc., pois foi muito além das minhas expectativas. É que, por eu saber que a literatura kardeciana é reencarnacionista, eu imaginava que a mesma negasse que Cristo verteu Seu sangue para nos redimir dos nossos pecados. Mas, para meu assombro, vi que os escritos oficiais do Kardecismo também afirmam que Jesus derramou Seu sangue para nos salvar. Era só o que faltava! Como Satã é astuto e sujo! Como pode alguém afirmar que o sangue de Cristo redime “as culpas dos homens” e, simultaneamente, pregar a reencarnação? Os que não ignoram o porquê da cruz de Cristo sabem que, a menos que se sacrifique a coerência, isso é impossível. Mas convenhamos que nem todas as pessoas pensam assim. Por que isso? A resposta é que os tais, embora talvez não ignorem o para quê da morte de Jesus, não sabem, contudo, o porquê disso. Convém, então, que se teça um comentário, ainda que ligeiro, visando aclarar esta questão. Portanto, norteando-se por esta meta, rumemo-nos aos tópicos abaixo.

10.3. O PORQUÊ E O PARA QUÊ DA CRUZ

       Jesus morreu para quê? Quando formulamos esta pergunta aos que se consideram cristãos (católicos, evangélicos, ortodoxos, coptos, etc.), recebemos de imediato a seguinte resposta: “Para nos salvar”. Mas, se perguntarmos “o que tem a ver a morte de Cristo, com salvação?”, veremos que não são poucos os que ficam sem saber o que dizer. Tal se dá porque a maioria dos cristãos sabe para quê Jesus morreu, mas poucos entendem o porquê da morte do Senhor. Sim, sabem para quê, mas ignoram o porquê. Vou, então, provar, que quando compreendemos com profundidade o Plano de Salvação, concluímos em nossas mentes que, deveras, Deus não perdoa pecado. E é deste entendimento que nasce a verdadeira compreensão do porquê da cruz de Cristo. Sem compreendermos que Deus não perdoa pecado, facilmente prescindiremos do espetáculo da cruz, julgando-o inclusive supérfluo. É porque há pessoas que “sabem” apenas para que Jesus morreu, ignorando completamente o porquê de Sua morte, que muitos conseguem conciliar o sangue de Cristo com reencarnação, com purgatório, com os supostos “méritos” das boas obras, auto justificação, etc. Tenho bom motivo, portanto, para empreender a habilitar o leitor a responder de cadeira e sem pestanejar, a estas duas perguntas, aparentemente iguais, mas que, de fato, são diferentes, e devem ser respondidas de maneira diferentes. Perguntas diferentes, respostas diferentes.

10.3.1. Para quê Jesus morreu?

       Bem, quanto à pergunta “para quê Jesus morreu?”, por ora não sou prolixo, porque, segundo me parece, respondê-la dizendo que foi para nos salvar, é uma boa e completa resposta. Mas, acerca da próxima interrogação, que é “Por que Jesus morreu?” já não devo ser tão sucinto.

10.3.2. Por que Jesus morreu?

       Demonstrarei que foi o pecado, mais a justiça divina, somados ao amor de Deus, que redundaram na morte de Cristo por nós. É deste triângulo que nasceu a cruz. A ausência de qualquer um destes três elementos tornaria a cruz sem qualquer razão de ser.

A) O estado calamitoso do homem
       O leitor há de convir que há um mistério na morte de Jesus. Veja, se eu lhe fizer uma ofensa e lhe suplicar o perdão, você não terá que morrer numa cruz para me perdoar, mas simplesmente me liberará o perdão, caso queira fazê-lo. Pergunta-se: Por que Jesus não fez assim também? Por que Jesus só consegue perdoar, se morrer numa cruz? A resposta clara, sintética e objetiva, que se deve dar a esta pergunta é: Porque Deus não perdoa pecado. Você se assustou? Pois fique sabendo que eu vou lhe provar que é isso que a Bíblia ensina. Sim, leitor, muitos pensam que Deus é tão bom, que por maior que seja o pecado, se o pecador se arrepender e pedir perdão, Deus, por isso mesmo, o perdoará. Mas a verdade solene é que Deus é tão justo, que não perdoa nem mesmo o menor dos pecados, por mais que o pecador se arrependa e peça perdão. É inútil arrepender dos pecados, chorar, pedir perdão, se regenerar, etc. O pecado é, na opinião de Deus, uma dívida que não pode deixar de ser paga em hipótese alguma. Segundo o infalível parecer de Deus, perdoar a culpa, mesmo estando o pecador arrependido, é tão errado quanto punir o inocente. E o porquê disso, é que Ele é justiça e santidade. Com afeito, o ser humano entrou num beco sem saída, e, portanto, tornou-se de pés e mãos não só amarrados, mas quebrados, isto é, o homem tornou-se irremediavelmente perdido. Que poderá o homem fazer para se salvar? Que podemos fazer para sairmos dessa situação embaraçosa e desesperadora? Nada, é a resposta honesta à luz da Bíblia! Entramos num labirinto do qual não sairemos, por mais que lutemos para isso! Agora, é Inferno ou Inferno! Não há mais jeito para nós! Estamos irremediavelmente perdidos!

B) O sacrifício vicário de Cristo

a) Nem tudo está perdido
       Apesar do exposto no parágrafo acima, nem tudo está perdido. Ainda nos resta uma esperança. Há uma possibilidade de não irmos para o Inferno, visto que Deus, por ser amor, concebeu um Plano para mudar a nossa sorte. Plano este que, longe de ferir a Sua justiça, se harmoniza com a Sua santidade. Obviamente que este plano (que nos inocenta perante o fórum celestial) não consiste em fazer vista grossa aos pecados do pecador arrependido, visto que já está claro que Deus não abre mão de Sua justiça e santidade. Mas, em que consiste então o dito Plano? Resposta: Em dar-nos um substituto; e Jesus o é. Todos os que apelam para o sangue de Jesus (isto é, para o Seu sacrifício substituinte), ficam, na hora, quitados para com a justiça divina, e, por conseguinte, absolvidos. E isso porque, na opinião de Deus, neste caso, nossas dívidas não foram perdoadas, mas sim, rigorosamente pagas por Jesus. Os nossos pecados não foram perdoados, mas rigorosamente castigados na Pessoa do nosso substituto. E se você fizer disso a sua única tábua de salvação, sairá da condenação neste exato momento (Rm 8.1; Jo 3.16; Lc 23.43).
       Quando Adão e Eva pecaram, eles e todos nós, sua prole, fomos destituídos da glória de Deus (Rm 3.23), isto é, nos tornamos irremediavelmente perdidos. Mas Jesus, nosso único Advogado, recorreu da sentença, entrando com um recurso imbatível: a substituição. E Ele o fez na cruz. O álibi do Dr. Jesus em defesa dos seus clientes é fortíssimo: o Seu precioso sangue vertido no lenho por nós!

b) Sem retórica
       Na Bíblia há parábolas, alegorias, metáforas, símiles, ironias, sinédoques, e outras expressões simbólicas. Por isso, quando dizemos que Cristo nos substituiu na morte e no sofrimento, muitos pensam que essa substituição não deve ser entendida ao pé da letra. Creem tratar-se de um termo figurativo, e não literal. Mas é ledo engano. Jesus é o nosso substituto na verdadeira concepção deste termo. O que o leitor entende por substituto? Qual o significado desta palavra no nosso vernáculo? Pois é isso que Cristo é, em relação a nós. O que você entende por substituição? Pois é isso que Cristo fez por nós no madeiro (1Pe 2. 24). Que Cristo nos substituiu literalmente no lenho, é, segundo a Bíblia, a verdade nua e crua, destituída de qualquer retórica e simbolismo. Cristo é o nosso substituto, e, neste caso, substituto significa substituto, e nada mais. E saber isso é muito importante, pois faz saltar aos olhos que até o mais vil dos pecadores pode ser salvo mediante essa substituição, já que Cristo substituiu a Humanidade, e não uma parte desta.

c) Três grupos em perigo
       Muitos vão para o Inferno porque ignoram o Plano de Salvação. Não sabem o porquê da morte de Jesus. Os tais se subdividem em pelo menos três grupos, os quais pensam mais ou menos assim:
Primeiro grupo: “Deus é justo, e nós, miseráveis pecadores; logo, não há jeito para nós”. Estes morrem de sede dentro de um caudaloso rio __ o rio da salvação mediante o sangue de Jesus!
Segundo grupo: “No final, ninguém será condenado eternamente, visto que Deus, por ser um Pai bondoso, dará um jeitinho”. Mas como estão enganados! Aquele que não deu um jeitinho nem para o Seu Filho unigênito, antes o entregou por nós (Mt 26. 36-46), dará jeitinho na nossa situação? Mc 16 15-16 nos diz que não.
Terceiro grupo: Creem que podem salvar-se a si mesmos, suportando com paciência as vicissitudes da vida, e praticando benemerências. Estes não creem que Jesus morreu para pagar a nossa dívida, e sim, para nos lecionar com seu exemplo de vida, estimulando-nos à prática do amor. Isto é, creem que ao suportar a morte de cruz sem odiar e revidar, Jesus estava como que dizendo à Humanidade o seguinte: “Siga meus passos! Faça como eu! Pague o mal com o bem! Ame a Todos sem distinção!”, etc. Entretanto, nada está mais longe da verdade do que essa inferência!

10.4. MAIS LUZ SOBRE O PERDÃO SOTERIOLÓGICO

       Nós, os evangélicos, realmente cremos que Deus perdoa pecado, pois a Bíblia o diz claramente (Is 55.7; Mt 6.12; Mc 2.5; Sl 103.3, etc.). Mas, neste caso, deve-se entender que perdão é um termo simples que designa a mudança de relacionamento que se dá entre Deus e o pecador, quando este se vale do sacrifício de Jesus. Há registro de várias ocorrências similares nas páginas da Bíblia. Por exemplo, está escrito que Deus se esquece dos pecados por Ele perdoados (Mq 7.19; Hb 10.17). Naturalmente, neste caso entendemos que esse esquecimento é conotativo, ou seja, não deve ser interpretado literalmente, e sim, como uma força de expressão, intuindo salientar a perfeição do perdão. Esta palavra (refiro-me ao vocábulo “perdão”), por sua vez, também não pode ser entendida fora do âmbito da Soteriologia Bíblica. Neste sentido, nada mais é que um dos nomes que a Bíblia dá à mudança de relacionamento que ocorre entre Deus e o pecador, quando este apela para o sangue de Jesus, isto é, quando “reivindica” (digamos assim) a sua absolvição à base do pagamento efetuado por Cristo, na cruz. Esta interpretação que acabo de apresentar sobre os verbos perdoar e esquecer, nos casos em lide, tem que estar certa, por, pelo menos, duas razões: Primeira: Se o esquecimento em questão fosse ao pé da letra, Deus seria portador de amnésia. Logo, o que Hb 10.17 está dizendo, é que em Cristo Deus nos dá um “perdão” tão perfeito, que até se “esquece” dos nossos pecados. Segunda: Ainda sobre a palavra perdão, observo que se Deus, para nos perdoar, exigisse apenas fé, arrependimento, conversão e regeneração, Jesus teria morrido em vão. Então, Deus exige tudo isso, mas não se dá por satisfeito só com isso. Aliás, esses expedientes não O satisfazem nem mesmo parcialmente. E o porquê disso reside no fato de que em nenhuma dessas coisas, e nem mesmo no conjunto delas, há qualquer valor salvífico. Valor salvífico só se encontra no sangue de Cristo, isto é, na substituição efetuada na cruz.
       O leitor certamente notou que aspei as palavras perdão e esquece. Porém, não o faço para subestimar o perdão, mas sim, para tornar protuberante que o perdão de Deus em Cristo, é diferente do perdão na ótica humana. Em termos humanos, perdoar é decidir por não punir o erro. Já em termos soteriológicos bíblicos, Deus nos “perdoa” sendo punido em nosso lugar. Ele “anulou” a nossa sentença, cumprindo a pena em nosso lugar. Deste modo, o perdão não é mera decisão em não punir o erro; antes, refere-se ao árbitro divino de eximir o errado da devida punição, punindo o seu erro na Pessoa de seu substituto, que, no caso, é a Pessoa do próprio Deus (2Co 5.19). É isso que esta última referência bíblica quer dizer, quando nos diz que “[...] Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo [...]”. Então, o que ocorre, é muito mais pagamento da dívida, do que perdão da dívida. Ou ainda, longe de ser uma impunidade, é a rigorosa punição do erro, mas sempre na Pessoa do substituto do cristão, que, como já sabemos, é Jesus. Sendo assim, embora não seja errado dizer que Deus perdoa pecado, muitos cometem o erro de dizerem isso sem saber o que estão falando. Falam sem conhecimento de causa, como o fazem os papagaios.
       Até mesmo quando eu sustentei acima que “Ele ‘anulou’ a nossa sentença, cumprindo a pena em nosso lugar”, tive que aspar anulou, visto que, a rigor, cumprir a pena em lugar de alguém, não é o mesmo que anular a sentença desse alguém, e sim, ser passivo da execução da pena. É ser substituto. Isto significa, que dizer que Deus anulou a nossa sentença, sem conhecimento de causa, é tão errado quanto afirmar que Deus perdoou os nossos pecados, sem entender o porquê da cruz de Cristo. A perfeita salvação que se obtém em Cristo (Hb 7.25), só é possível porque Jesus pagou o preço. A fé, o arrependimento, a conversão e a obediência são condições impostas e indispensáveis, mas não são a causa meritória. Esta é o fato de Jesus ter sido condenado em nosso lugar. E isto é coerente, porque se Deus (repito), para perdoar o pecador, exigisse tão-somente o arrependimento, o pedido de perdão e a regeneração, Cristo teria morrido em vão. Este argumento pode parecer ilógico aos que, longe de verem na morte de Jesus um ato substitutivo, pensam que a mesma é apenas uma aula exemplificada sobre o amor. digo, porém, que a Bíblia deixa claro que a razão pela qual Jesus morreu é: O homem é pecador e Deus é justo; por cujo motivo nos tornamos irremediavelmente perdidos. Então o Senhor desceu do Céu para cumprir a pena em nosso lugar. E devemos a nossa salvação exclusivamente a este gesto do Senhor Jesus. É por isso que Jesus é o Salvador. Ele não salva com Sua Palavra, nem tampouco com Seus exemplos, mas com Seu sacrifício expiatório. Se Ele fosse apenas o Grande Mestre que é, não poderia nos salvar, visto que Deus exige que a dívida que contraímos seja paga. Mas graças a Deus, Jesus, além de grande educador, é, também, o nosso “Cordeiro” Pascoal ou o nosso “Bode” expiatório. Logo, a morte de Jesus é, sim, um ato substitutivo. E ai de nós se não o fosse.

10.5. DA RETROSPECTIVIDADE DO CALVÁRIO

       Talvez você queira perguntar: “Se não há salvação à parte do sangue de Jesus, como se salvaram os que morreram antes de Sua crucificação?” Resposta: Eles se salvaram pelo sangue que no futuro seria derramado por eles, assim como nós, servos de Deus da atualidade, somos salvos pelo sangue que no passado foi derramado por nós. Eles foram comparados a crédito, digamos assim. Foi como se Cristo passasse um cheque pré-datado, a ser compensado quando Ele provesse os fundos no Calvário! Os que morreram salvos antes da morte de Cristo, olhavam para a frente; o ladrão retratado em Lc 23. 43, olhou para o lado onde Jesus agonizava por nós; e nós, hodiernos servos de Deus, olhamos para trás. Logo, nossos olhares convergem, sem exceção, para a cruz, visto que dela, e só dela, procede a reconciliação com Deus para todos os descendentes de Adão! Ai de Abel, Moisés, Abraão... se o Calvário fosse apenas prospectivo. Mas, à luz da Bíblia, ele é retrospectivo também. Ele abrange o passado, o presente e o futuro.

10.6. DEUS NÃO PERDOA MAS “PERDOA”

       Seria correto o seguinte paradoxo: Deus nunca perdoou, não perdoa, e jamais perdoará; mas sempre “perdoou”, ainda “perdoa”, e por muito tempo prosseguirá “perdoando” (Is 55.6). Senão, vejamos:

a) Sobre o perdão em Cristo
       O leitor deve ter observado que grafei o verbo perdoar com aspas, e sem elas. O porquê disso, também já está claro, segundo me consta, visto que já expliquei que Deus não perdoa em termos humanos, e sim, em termos próprios da Soteriologia bíblica. Em outras palavras: Deus perdoa em Cristo, e não perdoa fora de Cristo. Mas, que é perdoar em Cristo? Já sabemos que não é o que muitos pensam. Geralmente pensa-se que Deus simplesmente arbitra, como o faz um Juiz, e pronto. Mas não ignoramos que a verdade é outra. Vimos que se Deus pudesse fazer isso, Cristo não teria que morrer por nós. Também a Bíblia não diria que Deus perdoa em Cristo, mas apenas diria que Deus perdoa. Relembro que a justiça e a santidade de Deus não permitem que Ele simplesmente arbitre em nossa defesa. Se Ele fizesse isso, negaria a Si mesmo. Portanto, à pergunta “que é Deus perdoa em Cristo?”, podemos dar as seguintes respostas: 1) Deus se vale ou se serve da substituição efetuada por Cristo para não punir o pecador que se converte; 2) Cristo cumpre a pena em nosso lugar, e, por conseguinte, a justiça e a santidade de Deus não são afetadas quando Ele absolve os que creem em Jesus; 3) Deus considera como rigorosa e devidamente punidos, os pecados dos que apelam para o sacrifício vicário de Jesus. Ora, isso é diferente de tudo que, em termos humanos, conhecemos como perdão. O perdão através de Cristo não foi dado de mão beijada, ou servido de bandeja, mas vendido por Deus Pai, comprado e pago por Deus Filho, e presenteado aos que arrependidos creem na eficácia do pagamento efetuado por Jesus na cruz. Logo, Deus não pode dar ao pecador arrependido e convertido à fé cristã, aquilo que nós, seres humanos, conhecemos por perdão; mas Ele pode nos considerar quitados para com a Sua justiça, mediante o pagamento efetuado por Jesus, e, consequentemente, nos reconciliar consigo. E é a esta reconciliação com Deus, mediante o pagamento efetuado por Jesus, que a Bíblia chama de perdão. Logo, o que, neste caso, a Bíblia intitula de perdão, não é o que geralmente conhecemos por este nome. Ora, quando o motivo pelo qual Fulano não deve mais nada a Sicrano, é porque Beltrano pagou a Sicrano o que Fulano devia, não dizemos que Sicrano perdoou a dívida de Fulano. Mas a Bíblia o diz. Realmente, embora nós, os cristãos, devamos a quitação da nossa dívida ao pagamento efetuado por Jesus, a Bíblia diz que Deus perdoou a nossa dívida (Mt 6.12a). Então, embora perdão de dívida e pagamento de dívida sejam termos diametralmente opostos, contrários e auto-excludentes em termos humanos, não o são, contudo, em termos soteriológicos. Por que isso? A resposta é: O pagante é o próprio credor. Não temos aqui, nenhum Beltrano pagando ao credor Sicrano, a dívida de Fulano; mas sim, o próprio Credor pagando a dívida do seu devedor inadimplente. É como se um banqueiro depositasse na nossa conta bancária, um valor capaz de saldar nosso débito junto ao Banco de sua propriedade. Neste caso, tanto seria correto dizer que o dito banqueiro perdoou a dívida, como também dizer que o mesmo pagou a dívida. Quanto a nós, Ele perdoou nossa dívida; e junto ao Banco Central, houve um crédito na nossa Conta Corrente, saldando o nosso débito. Similarmente, podemos asseverar que Cristo pagou nossa dívida, como também podemos afirmar que Cristo perdoou a nossa dívida, desde que por “perdoou” entendamos a quitação da nossa dívida mediante o pagamento por Ele efetuado. Nós somos o Fulano, que mais nada deve a Sicrano (justiça divina), porque Beltrano (o Deus contra o qual pecamos) literalmente pagou a nossa dívida! Sim, Deus creditou no Seu próprio “banco” a importância que Lhe devíamos, isto é, sofreu em Seu próprio Ser, as nossas desventuras. E, por tudo isso, fica mais que claro que quando a Bíblia diz que Deus perdoou a nossa dívida, está se referindo a algo bem diferente de tudo que, nos relacionamentos humanos, conhecemos pelo nome de perdão. E é por isso que afirmo que Deus não perdoa pecado. O perdão que Deus nos dá não é o que, em termos humanos, conhecemos por este nome. Temos, nestes casos, um homônimo. É algo similar com o que se dá com a palavra manga, que, dependendo da frase, pode significar a parte do vestuário por onde se enfiam os braços, ou pode se referir ao fruto da mangueira, ou ainda pode tratar-se do verbo mangar, sinônimo de debochar. Logo, eu como manga, mas não como manga. Aclarando: Como manga (fruto da mangueira), mas não como manga (parte do vestuário por onde se enfiam os braços). Ou ainda, Deus “perdoa”, mas não perdoa, ou seja, Ele nos reconcilia conSigo mediante o sacrifício de Si próprio, mas não o faz de nenhuma outra maneira.
       O exposto acima nos ajuda a entender tanto o para quê, como o porquê da morte de Jesus. Para que Jesus morreu? Resposta: Para nos salvar. E: Por que Jesus morreu? Resposta: Porque Ele, por ser justo e santo, não pode perdoar a nossa dívida. Ele pode pagar a dívida, mas não pode perdoar a dívida, salvo se por perdoar entendemos o ficar bem com Deus mediante o pagamento que Ele efetuou na cruz. Concluo, pois, que: Não é errado dizer que Deus perdoa, mas é errado dizer isso, sem saber o que se está falando. Do mesmo modo, não é errado dizer que Deus se esqueceu dos nossos pecados, mas não é certo firmar isso, sem saber o que se está dizendo. Interpretar esse esquecimento ao pé da letra, faz de Deus um débil mental. E, de igual modo, interpretar o perdão que Deus nos dá, sem entender o porquê da cruz de Cristo, faz de Deus um injusto.
       A salvação é pela graça, mas graça sem cruz não existe. Graça sem cruz seria  um ato irresponsável, uma impunidade, e não uma graça.

10.7. A RELAÇÃO FÉ/OBRAS


Nenhuma boa obra salva
       Vimos que fé, arrependimento, e conversão não podem nos salvar. Sim, em nenhuma dessas atitudes __ e nem mesmo no conjunto dessas ações __ há qualquer valor salvífico. Mas, se assim é, por que então tenho que fazer isso para me salvar? A resposta é que se eu não entrar com o meu vale nada, Cristo entra com o Seu vale tudo, que é o ato de creditar em minha conta, digamos assim, os benefícios provenientes da substituição efetuada na cruz. E é o vale tudo de Cristo que nos salva. Isso posto, ninguém se salva sem se converter, e ninguém se salva por se converter. Ninguém se salva sem crer, arrepender e se converter; e ninguém se salva por crer, arrepender, e se converter. Sim, fé, arrependimento, e conversão não salvam a ninguém. O que nos salva é o sangue de Jesus. Devemos nossa salvação exclusivamente à cruz de Cristo.

Salvação não é galardão
       A Bíblia diz que as boas ações realizadas pelos salvos, estão sendo computadas por Deus para efeito de galardão (1Co 3.10-15; Ap 22.12), mas ao mesmo tempo nos informa que os perdidos que tentam se salvar através de boas obras, estão redondamente enganados (At 10.1-6; 11.12-14), e que serão condenados. Isto prova que a fé no sangue de Jesus vale o “perdão” dos nossos pecados, e a consequente salvação, a qual é um presente; e que os bons feitos que daí nascerem, serão recompensados, isto é, serão pagos. Logo, salvação não é o mesmo que galardão. Salvação é presente; e galardão é recompensa ou pagamento pelo serviço prestado. Salvação é pela fé (Rm 3.25; 11.6; Ef 2.8-9; Tt 3.5), e galardão é pelas obras (Ap 22.12; 1Co 3.14-15). Sobre estes galardões, pouco sabemos agora, mas quando chegarmos Lá, veremos que não são irrelevantes, pois tudo que Deus faz é importantíssimo. E, enquanto aguardamos por aquele Dia, sirvamos destes textos bíblicos que categoricamente nos dizem que salvação e galardão são coisas distintas e diferentes, para expormos a verdade bíblica de que a salvação não se obtém pelas obras. Estas não possuem nenhum valor salvífico. As boas obras não salvam, nem tampouco ajudam Cristo a nos salvar. Obras não salvam; e fé mais obras, também não. Devemos nossa salvação exclusivamente ao sangue de Jesus.

Paulo versus Tiago?
       O apóstolo Paulo disse que a salvação não é pelas obras, mas uma graça da qual se apossa exclusivamente mediante a fé (Rm 11.6; Ef 2. 8-9). Já Tiago afirma que a salvação só se concretiza mediante a soma da fé às obras (Tg 2. 20,24,26). Há contradição? Não. Então, como se explica isso? Resposta: Paulo e Tiago não falam do mesmo tipo de fé. Paulo fala da fé salvífica, e Tiago discorre sobre a fé natural. Esta consiste em apenas crer na existência de Deus, já aquela retrata a conversão ao Evangelho. Ora, claro está que ninguém se salva só porque crê que Deus existe. A salvação é pela fé em Jesus. E ninguém tem moral para dizer que crê em Cristo sem se arrepender de todos os seus pecados e se converter ao Cristianismo bíblico. A fé, da qual Paulo nos fala, é a conversão ao Cristianismo, o que não se concretiza sem arrependimento e conversão ao Cristianismo ortodoxo. E é claro que quem está arrependido de seus pecados não vive na prática dos mesmos. Logo, todos os salvos fazem boas obras, ora por comissão, ora por omissão, e não raramente, por omissão e por comissão. Não praticar um determinado pecado é fazer uma boa obra por omissão. E fazer algo oposto a um determinado pecado é obrar por comissão.
       Muitos concluíram que Tiago e Paulo tinham opiniões diferentes. Por isso, uns ficaram com Paulo, e outros optaram por Tiago. Este autor, porém, pertence ao rol dos que concordam com ambos.
       Considerando que Paulo disse que para a efetivação da salvação basta a fé; e Tiago sustentou que a fé sem as obras não salva ninguém, há os que tentam harmonizar estes dois apóstolos assim: Basta a fé, mas não a fé morta, que é a fé sem as obras; mas sim, a fé viva, que é a fé somada às obras. Os tais se dividem em dois grupos, que, de per si, esposam as seguintes opiniões: Grupo a) Pela fé viva se faz as obras necessárias à salvação; grupo b) pelas obras se obtém a fé viva, e, pela fé viva obtida mediante as obras, se alcança a salvação. Mas estes dois grupos estão errados, visto que em ambos se atribui valor salvífico às obras. Então, qual é a sequência correta? Resposta: Pela fé viva __ a qual não existe à parte de arrependimento e conversão __, se obtém a salvação. Assim sendo, a verdadeira fé é constituída de duas obras positivas: arrependimento e conversão a Cristo. Ademais, da salvação que se obtém mediante a fé viva, decorrem obras e mais obras. A questão é que da fé viva deriva a salvação, a qual, por sua vez, também redunda em obras que decorrem da salvação. De sorte que, onde faltam as obras, faltou, de antemão, a salvação; e onde falta a salvação, faltou, de antemão, a fé aludida por Paulo.
       Quando a Bíblia diz que “a fé sem as obras é morta”, não quer dizer com isso que a fé depende das obras para ser viva, mas sim, que a existências das obras dignas de um salvo, depende de uma fé viva. Só a fé viva é capaz de realizá-las; a fé viva as realiza invariavelmente; logo, a falta de obras pressupõe a ausência de fé viva. Relembro que a verdadeira fé é constituída de obras __ arrependimento e conversão __ que, por sua vez, gera real salvação, da qual jorram nobres ações, dignas de um filho de Deus.
       A crença na salvação mediante as obras não subsiste com a história do ladrão que, não obstante ter se convertido na última hora da sua vida (Lc 23.43), foi para o Paraíso naquele mesmo dia. Mostrei isso a um simpatizante do Kardecismo, o qual me disse que “essa é uma história de impunidade, visto fazer de Deus um injusto, já que o marginal em questão não pagou pelos seus crimes”. Há muitas maneiras de se refutar esse argumento espiritista, sendo um deles, o fato de que Kardec (embora com segundas intenções) disse que não há como contestar o Evangelho. Outro argumento forte, é mostrar que Deus também discorda da impunidade, e que este é o motivo pelo qual Ele veio ao mundo ser punido em nosso lugar. Digamos sem delonga que a dívida do ladrão em lide não foi perdoada, e sim, paga por Jesus. Informemos que os pecados do dito bandido não foram perdoados, mas castigados em Cristo.
       O que ora digo sobre o valor da fé e a importância das obras, pondo-as em seus devidos lugares, visa jogar por terra tudo quanto o Kardecismo tem ensinando a respeito de Tg 2.14-26. Já sabemos que segundo o Kardecismo, o homem tem que expiar e reparar os seus pecados. Essa expiação se dá, segundo eles, através de sofrimentos, e a reparação ocorre mediante a realização de boas obras a título de compensação. E se a pessoa morrer antes de quitar-se para com a justiça divina, saldará seu débito nas encarnações por vir. Mas, como esse não é o Evangelho que Jesus mandou pregar, urge que, por amor, alertemos as vítimas desse engodo.

“Fora da caridade não há salvação”
       É da falsa interpretação do porquê da cruz de Cristo, que deriva o postulado kardeciano de que “fora da caridade não há salvação” (Obras póstumas, 26 ed., p. 17). Mas essa proposição colide frontalmente com o verdadeiro Cristianismo, cuja divisa é: “Fora do sangue de Jesus não há salvação” Rm 3. 25; Cl 1.14; Ap 5.9; 22.14; At 4.12).

O Mestre que faz
       Muitos pensam que Jesus veio ao mundo tão somente para nos ensinar o que precisamos fazer para sermos salvos, mas essa conclusão está errada. Cristo veio fazer o que precisava ser feito para sermos salvos. Ele veio fazer, e não ensinar a fazer. Ele não veio nos mostrar o caminho, e sim, fazer o caminho. Ele veio nos salvar, e não nos ensinar a fazer algo para sermos salvos. Cristo não veio ensinar você a se salvar, mas sim, salvar você.

Aclarando sobre a fé
       Repito que a salvação não é pelas obras, nem tampouco pela fé mais obras, e sim, exclusivamente pela fé. Mas a “fé” da qual falo não é uma simples crença na existência de Deus. Falo da fé cristã, a fé salvadora, que nos é apresentada pela Bíblia como o bastante para a nossa salvação (Rm 11.6; Ef 2.8-9). E ninguém pode se considerar portador desta fé sem ter dado os seguintes passos: a) reconhecer que Deus existe (Hb11.6); b) reconhecer que é pecador (IICr 6. 36); c) Reconhecer que Deus é justo. A justiça de Deus vai além do que pensamos e falamos, e às vezes colide com os nossos pontos de vista; d) reconhecer que está condenado. Sim, contrário ao que muitos pensam, a justiça divina não condenou apenas os grandes pecadores. Não! Deus condenou todos ao Inferno. Disse Jesus: “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis...” (Lc. 13:5). Disse o apóstolo Paulo: “[...] todos pecaram e estão privados da glória de Deus” (Rm 3.23 ARA). Isto evidencia que a justiça divina vai além do que cogitamos, e não raramente diverge dos nossos padrões de justiça. e) reconhecer que a morte de Jesus foi substitutiva, como já vimos; e f) reconhecer e receber a Jesus como Salvador e Senhor pessoal. Alguém já disse acertadamente que Cristo não é o Salvador de quem Ele não é o Senhor.

Só o sangue de Jesus salva
       Já afirmei que se Jesus não morresse por nós, não seríamos salvos, por mais que, arrependidos, implorássemos o perdão. E uma verdade do mesmo tamanho desta, é que de nada nos adiantará Jesus ter morrido por nós, se não nos convertermos. É a graça salvadora decorrente do sacrifício de Jesus, canalizada pela nossa fé nesse sacrifício, que muda a nossa sorte. Não que a fé, o arrependimento e a conversão, tenham, em si mesmos, algum valor salvífico, mas sim, que os méritos oriundos do sangue de Cristo, só nos são conferidos mediante a nossa fé nesse sangue. A salvação depende do lado divino e do lado humano. De nós exige-se a passividade. Sim, passividade, visto que embora a fé, o arrependimento e a conversão sejam positivos, fazer isso não ajuda Cristo a nos salvar, mas apenas permite que Ele nos salve. Sim, o sangue de Cristo, e só ele, é o agente ativo na transação da salvação. Assim sendo, podemos dizer que é da junção o sangue de Cristo, mais a nossa fé nesse sangue, que provém a nossa salvação. Mas neste caso, a conjunção aditiva “mais”, não se destina a somar o sangue do Senhor à fé, visto que a fé atua apenas como condutor pelo qual o precioso sangue é escoado (digamos assim) até nós. E isso posto, então a salvação não é mediante o sangue de Cristo mais a nossa fé nesse sangue, e sim, só mediante o sangue. O sangue de Cristo é absoluto e onipotente quanto ao propõe: salvar o pecador. Nós não podemos entrar com nada, a não ser o nosso vale nada que, por nada valer, não é aproveitado por Jesus como coadjuvante no processo da salvação.

Os passos da salvação
       Os passos que conduzem à salvação, dos quais tratamos no parágrafo acima, podem ser resumidos em um só passo: receber a Cristo como único e todo suficiente Salvador e Senhor pessoal. Porém, os detalhes aqui aventados se fazem necessários porque não são poucos os que pensam que já aceitaram a Jesus, mas que, de fato, não sabem nem o que é isso.
       Espero que esta exposição tenha deixado claro que os que pregam que Cristo derramou Seu sangue para nos redimir dos nossos pecados, sem abrir mão da tal de reencarnação, sabem, da morte de Cristo, o seguinte: muito pouco do para quê, e nada do porquê. Aos tais não podemos sonegar a informação de que Cristo não salva com o brilhante exemplo que Ele nos deu na cruz; Cristo não salva com Seus sermões; Cristo não salva com Suas lágrimas, etc., e sim, com o sofrimento até a morte que Ele suportou em nosso lugar no ensanguentado lenho (Is 53. 4-6). E é por não aceitar isso, que os kardecistas conseguem conciliar a assertiva de que “Jesus derramou o seu sangue para nos redimir”, com a auto-justificação, obtida mediante gestos caritativos reparadores e vicissitudes expiatórias, ambos efetivados ao longo das mais diversas existências, tanto neste, como noutros mundos.
       Concluo que a imprescindibilidade do sacrifício de Cristo para a nossa salvação reside no fato de que Deus não perdoa pecado. Donde se vê que é impossível conciliar a fé no sangue de Jesus, com a auto-expiação kardeciana. Pode-se até fazer isso, mas não sem sacrificar a coerência.



 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO XI

 

OUTROS ERROS E INCOERÊNCIAS



       Neste capítulo abordo diversos equívocos kardecianos, refutando-os conforme os trago a lume.

11.1. RENASCER DO ESPÍRITO OU REENCARNAR?

       O Kardecismo proclama que o fato de Jesus afirmar que “aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”, prova que Ele via esse expediente como a âncora da salvação, ou seja, como algo confiável, em termos salvíficos.


Reconheçamos, portanto, em resumo, que só a doutrina da pluralidade das existências explica o que, sem ela, se mantém inexplicável; que é altamente consoladora e conforme à mais rigorosa justiça; que constitui para o homem a âncora de salvação que Deus, por misericórdia, lhe concedeu.
As próprias palavras de Jesus não permitem dúvida a tal respeito. Eis o que se lê no Evangelho de São João, capítulo III:3. Respondendo a Nicodemos, disse Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se um homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus [...]” (O livro dos espíritos. 74 ed., Parte 2ª, capítulo V, nº 222, p. 153. Grifo nosso).

       Alega Kardec que Jesus chamou de nascer de novo o que o Espiritismo chama de reencarnação. Mas, à luz de Lc 23. 42-43, nascer de novo não é o mesmo que reencarnar, já que Jesus disse ao bandido que suplicou Sua graça, o que se segue: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”. Ora, por ter ido o ex-ladrão naquele mesmo dia para o Paraíso, torna evidente que o novo nascimento não é o que Kardec supôs. O raciocínio é: Se o dito ladrão se salvou naquele dia, então ele nasceu de novo naquele dia; e se ele nasceu de novo naquele dia, então nascer de novo não é reencarnar.
        O novo nascimento é a experiência da salvação, a qual se dá mediante a conversão a Cristo. Por que não? Por que Cristo não poderia chamar a transformação resultante de seu perdão, de “nascer de novo”? Porventura, o contexto bíblico não nos dá bons motivos para se chegar a esta conclusão? E, sendo assim, os kardecistas devem, pelo menos, admitir esta possibilidade e ficar de pé atrás com o veredicto de Kardec. Até porque, como todos os demais mortais, Kardec nunca foi o dono absoluto da verdade. Ou, como se não nos bastasse a suposta “infalibilidade papal”, criou-se a infalibilidade kardecal?
       Já denunciei que o Kardecismo nega a Bíblia. Ora, se a Bíblia fosse o que os espíritas dela dizem, eles não teriam porque se apoiarem nela para justificar suas doutrinas. Logo, por que o fazem? Certamente esse desonesto gesto é uma incoerência. E bem sabemos desde o capítulo II (2.3) porque Kardec o fazia: ele era hipócrita, ardiloso, espertinho, astuto, etc. Aliás, não bem ele, mas os demônios que o usavam. Contudo, isso não o inocenta, já que o diabo só monta em quem lhe oferece o cangote.

11.2. SOBRE O DIABO E OS DEMÔNIOS

       Como os Kardecistas conceituam o diabo e os demônios? Embora já tenhamos tratado disso no capítulo I, reconsidero-o aqui, visando mais luz sobre este ponto. Disse Kardec:

Satã, segundo o Espiritismo e a opinião de muitos filósofos cristãos, não é um ser real; é a personificação do Mal, como Saturno era outrora a do Tempo [...] (O que é o espiritismo. 35 ed., p. 138).

Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra? Se houvesse demônios, seriam obra de Deus. Mas, porventura, Deus seria justo e bom se houvera criado seres destinados eternamente ao mal e a permanecerem eternamente desgraçados? Se há demônios, eles se encontram no mundo inferior em que habitais e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo e que julgam agradá-lo por meio das abominações que praticam em seu nome (O livro dos espíritos. 76 ed. Primeira parte, capítulo I, nº 131, p. 100. Grifo nosso).

[...] os demônios [...] são [...] as almas dos homens perversos, que ainda se não despojaram dos instintos materiais [...] (O evangelho segundo o espiritismo. 112 ed., capítulo XII, nº 6, p. 201).

       Das transcrições supra se pode ver nitidamente que o Kardecismo sustenta que o diabo e os demônios não existem. O diabo seria “a personificação do Mal”; e os demônios, “as almas dos homens perversos”, ou seja, espíritos ainda maus, quer encarnados, quer desencarnados. Kardec acreditava, pois, que os demônios nada mais são que “esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo [...]”. Relembro que isso significa que após negar a existência do diabo e dos demônios, Kardec ironiza, dizendo que eles existem, e os identifica: É todo aquele que crê que eles realmente existem, e que estão fadados ao tormento eterno no Inferno. Logo, nós, os evangélicos, somos demônios, já que cremos que o diabo e os demônios sofrerão eternamente no fogo do Inferno. Esta interpretação não está errada não. Veja que Kardec registrou com todas as letras que se os demônios existissem e estivessem fadados a serem desgraçados eternamente, então Deus não seria bom e justo. Kardec registra: “Deus seria justo e bom se houvera criado seres destinados eternamente ao mal e a permanecerem eternamente desgraçados?” Ato contínuo se diz que os demônios são aqueles “que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo”. Em outras palavras: O diabo e os demônios são aqueles que pregam que eles existem, que são irrecuperáveis, e que serão eternamente desgraçados no Inferno. E a FEB ombreia esse infeliz, já que ela o chama de “Mestre amado” e publica seus escritos, elogiando-os sobejamente e recomendando-os ao público ledor! E não me venham com essa de que ele apenas registrou o que o Espírito superior ditou, porque o ônus de nossas ações recai sobre nós, e não sobre as almas do Além.
       Crer ou não na existência de Satanás como um ser real, não é uma questão de interpretação da Bíblia, e sim, de crer ou não nela. Os mencionados “filósofos cristãos” que afirmam que “Satã [...] não é um ser real”, mas apenas “a personificação do Mal”, são tão cristãos quanto eu sou muçulmano. Há subjetividade quanto a se estão ou não certos, bem como total objetividade na afirmação de que não são cristãos.
       Realmente, há quem diga que o diabo é apenas “o mal que há dentro de cada um de nós”. Mas os tais precisam atentar para o fato de que a Bíblia diz que Jesus foi tentado pelo diabo (Mt 4.1-11). Ora, então Jesus foi tentado pelo mal que havia dentro dEle? Inadmissível! Que blasfêmia!

11.3. DA IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÍRITOS

       Assim disse e desdisse Kardec:

É extremamente fácil:

Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil.
Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade [...] (O livro dos espíritos, 74 ed. p. 26. Grifo nosso)

É difícil:

Inegavelmente a substituição dos Espíritos pode dar lugar a uma porção de equívocos, ocasionar erros e, amiúde, mistificações.
Essa é uma das dificuldades do Espiritismo prático (O livro dos espíritos. 74 ed. p. 38. O grifo não é nosso).

É impossível:

Dir-se-á, sem dúvida, que, se um Espírito pode imitar uma assinatura, também pode perfeitamente imitar a linguagem. É exato; alguns temos visto tomar atrevidamente o nome do Cristo e, para impingirem a mistificação, simulavam o estilo evangélico e pronunciavam a torto e a direito estas bem conhecidas palavras: Em verdade, em verdade vos digo (O livro dos médiuns. 58 ed., nº 261, p. 320. Grifo nosso).

       As cópias acima demonstram o quanto o Kardecismo é incoerente. Primeiramente Kardec diz que “é extremamente fácil” identificar os espíritos (O livro dos espíritos, 74 ed. p. 26.). Depois ele admite que “Essa é uma das dificuldades do Espiritismo prático” (O livro dos espíritos. 74 ed. p. 38). E a seguir ratifica que deveras um espírito pode cometer uma falsidade ideológica, imitando vozes e assinaturas “perfeitamente”. Daqui emergem, pois, três questões comprometedoras: Primeira: Há incoerência, e isso é indício de fraude, pois onde há contradição não há verdade. Identificar os espíritos é, segundo Kardec, uma coisa fácil, difícil, e impossível. Segunda: Podemos inferir que o próprio Kardecismo adverte: Você pode estar sendo enganado. E o pior é que não há como saber se sim, ou se não. Terceira: Um kardecista, tentando convencer-me que o Kardecismo é, deveras, o Consolador prometido por Jesus, disse-me: “Certa senhora, emocionada, derramou copiosas lágrimas ao contatar numa sessão espírita, o espírito de seu filhinho que morrera há pouco tempo. Este falou à referida senhora palavras verdadeiramente emocionantes. Pode haver consolo maior do que este?” Mas, lhe objetei, assim: Ora, como chorar de emoção, ao se contatar um espírito que se identifica como sendo o de um ente querido que tenha falecido, se o próprio Kardecismo nos previne que pode estar ocorrendo uma falsidade ideológica? E, para acabar de desmascarar o Kardecismo, a Bíblia diz categoricamente que os espíritos que acorrem às sessões espíritas, não são os de nossos parentes, amigos e conhecidos que já se foram desta vida (Lc.16:26; Ap. 20:13). Segundo Dt 18. 15 é a Jesus que devemos ouvir, não a esse ou àquele espírito que se faz passar por alma do Além. E Is 8.19-20 nos diz que devemos recorrer à Lei de Deus, não aos mortos. Quer consolo? Leia a Bíblia. Quer consolo? Aceite a Jesus como seu Salvador, ou seja, como seu pagante. Quer consolo? Receba o Espírito Santo. Quer consolo? Sinta a presença de Deus.

 

11.4. REENCARNAÇÃO - UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA?

       Muitos Kardecistas e outros reencarnacionistas, argumentaram dizendo que por ser Deus imparcial, a reencarnação explica e justifica diversas situações que, doutro modo, seriam inexplicáveis ou provariam que Deus é parcial, pelas seguintes razões: Primeira: “Se um neném nasce sadio, e outro demente, das duas uma: Ou Deus faz acepção de pessoas, ou esses dois nenéns tiveram uma existência anterior, na qual um fez o bem e o outro o mal, sendo agora um recompensado, e o outro devidamente castigado. Além disso, Deus, por ser justo, estaria, se não houvesse reencarnação, impossibilitado de condenar ou salvar o referido demente, visto que este não pode responder pelos seus atos. Como condená-lo por ele não ser um cristão? Ele tem culpa de não ter conseguido assimilar o Cristianismo devido às suas debilidades mentais? Salvá-lo seria também injusto, pois como recompensá-lo pelo bem que ele não fez? Como exigir dos sadios uma carga enorme de boas obras, para que mereçam a salvação, e do demente não exigir nada? A doutrina da reencarnação, porém, explica e resolve esta questão assim: O demente em questão está expurgando o seu passado e avançando rumo à perfeição, à qual chegará, mais cedo ou mais tarde, indubitavelmente”. Segunda: “Muitos se arrependem de seus pecados na última hora da vida, enquanto outros levam toda uma vida de abnegação e resignação. Ora, como dar aos que se convertem no fim da vida, o mesmo Céu a que têm direito os que possuem longas décadas de bons serviços prestados a Deus e ao próximo?”.
       Refutando os argumentos acima, faço constar o que se segue:

A) Há outras razões
       Em Jo 9.1-3 consta o seguinte:

Passando Jesus, viu um homem que era cego de nascença; e seus discípulos lhe perguntaram: Mestre, que pecado fez este, ou fizeram seus pais para este nascer cego? Respondeu Jesus: Nem foi por pecado que ele fizesse, nem seus pais, mas foi para se manifestarem nele as obras de Deus (Grifo nosso).

       Esta passagem bíblica prova que além do “das duas uma”, hipótese esta sugerida pelos reencarnacionistas, existe a razão que Cristo apresentou. E, Quanto à alegação de que é injusto salvar ou condenar os dementes, respondo que este argumento é um contra-senso, considerando que sempre que é justo condenar a uma pessoa, é injusto absolvê-la; e sempre que é injusto absolvê-la, é justo condená-la. Logo, a salvação ou a condenação de qualquer débil mental pode ser um problema para o homem, não para Deus, que sabe o que é justo, e o que não o é. Portanto, o homem pode até não saber como Deus vai arbitrar sobre esta questão, mas Deus sempre soube que atitude tomar nesses casos.
       Certamente, dependendo do grau da deficiência mental, os dementes não serão condenados. Mas, se serão ou não absolvidos, isso é lá com o Meritíssimo. Eu não me atazano com isso, pois a causa está nas mãos daquEle que sabe o que faz ___ Jesus. Não nos preocupemos com isso, pois essa tarefa não nos será confiada no Dia do Juízo Final. Fiquem calmos, ó kardecistas, pois já está tudo sob controle: Jesus será o Juiz.
       Deus não precisa submeter os dementes a um processo de reencarnação para salvá-los, pois dispõe de um recurso melhor: o sangue de Jesus. Se um demente teve razões justas para não se converter à fé cristã, Cristo tomará a dianteira e o defenderá, usando como argumento em seu favor, o Seu sacrifício expiatório, efetuado em prol de toda a Humanidade, inclusive dos débeis mentais (2Co 5.14-15). Lá no Inferno só há um tipo de pessoas: os que recusaram a se lavar no sangue de Jesus. Mas no Paraíso há dois tipos de pessoas: os que se lavaram e os que foram lavados. Dos que se converteram, digo que se lavaram; e dos que não puderam fazê-lo por razões justas, como é o caso das criancinhas, e, provavelmente, de muitos portadores de retardo mental, digo que foram lavados.
       Realmente, o fato de uma pessoa nascer com deficiências físicas não constitui prova de que ela está sofrendo as consequências de supostos males praticados numa imaginária existência anterior, pois há outras razões para isso. O autor destas linhas já viu diversos animais aleijados de nascença. Será que estes também estão expiando os pecados praticados noutras existências? Lembremo-nos que a natureza está amaldiçoada (Gn 3.17; Rm 8.19-23), e que agora só nos resta aguentarmos o rojão até que a redenção do nosso corpo, bem como a de todo o Universo, se concretize (Rm 8.23). E esta redenção só é possível mediante o sangue de Jesus (Ef 1.7). E os kardecistas que se cuidem.
       Muitos dos que hoje seriam paralíticos, são pessoas normais, graças à vacina poliomielite que erradicou a paralisia infantil do Brasil e em outros países. Deduzo, pois, que se a vida presente fosse o carma da anterior, poderíamos dizer que os cientistas puderam mais do que Deus, visto que, os que Ele pretendia submeter a deficiências físicas para expiarem seus pecados, se livraram de tais punições com a ajuda da Ciência.
       O recurso da Medicina chamado teste do pezinho permite que se detecte precocemente certa anomalia congênita e, por conseguinte, pessoas que seriam especiais, levam uma vida normal, graças à Ciência. Estaria a Ciência contra Deus, bem como contra nós, impedindo-nos de ficarmos quites para com a justiça Divina e alcançarmos sem delonga os mundos melhores dos quais falou Kardec? Logo, o slogan “O acaso não existe. Leia kardec”, embora não esteja totalmente errado, visto que deveras não há efeito sem causa, salta aos olhos que nem tudo pode ser espiritualizado, já que há o lado natural das coisas. Devido ao pecado, a natureza está amaldiçoada, como já fiz constar acima. Deste modo, tudo de ruim que acontece no mundo, e inclusive a necessidade de o próprio Deus se humanizar para reunir em Si as condições para sofrer até morrer em nosso lugar na cruz, decorre do ingresso do pecado no Mundo. Logo, os males não ocorrem por acaso, tampouco são carmas de vidas pregressas. Sim, as coisas não são como os reencarnacionistas cogitam; doutro modo, até os cães terão lá seus carmas, sendo que os vira-latas, os sem-donos, os portadores de deficiências congênitas e/ou adquiridas, entre outros, também estariam expiando suas más ações das vidas passadas.
       E ainda sobre a afirmação de que é injusto salvar os dementes, visto que eles não fazem as obras necessárias à salvação, respondo que esse argumento teria lógica, se a salvação fosse pelas obras. Mas, à luz da Bíblia, a salvação é um presente, e não um galardão. Logo, alicerçado no sangue de Jesus, Deus está livre para estender a Sua dadivosa mão e salvar (Is 59.1): a) as criancinhas (Lc 18.16); b) os dementes (Is 35:8); c) àqueles que não ouviram o Evangelho, mas agiram de forma correta, em harmonia com as suas consciências (Rm 2.12-16) [Se é que os tais existem]; e d) os normais, portadores de discrição que não desfeitearem ao Senhor, rejeitando o seu presente, por julgarem que podem comprá-lo e pagá-lo com os seus próprios esforços em sucessivas reencarnações (Confere: Jo 3.16; Mc 16.15-16; Ef 2. 8-9; Rm 11.6, etc.);
       Vimos que um dos argumentos apresentados pelos reencarnacionistas, é que é injusto dar aos que se arrependem na última hora da vida o mesmo Céu a que têm direito os que dedicaram longas décadas à prática do bem. Ora, os que assim se expressam, das duas uma: ou ignoram os ensinos bíblicos ou não os têm como confiáveis. Sim, pois estas questões já foram tratadas por Aquele que Kardec chamava de Mestre, a saber, o Senhor Jesus Cristo. Basta-nos, portanto, ler o capítulo 15 do Evangelho segundo Lucas e aprendermos com o Mestre. Neste texto, o grande Mestre nos propõe três parábolas: A da dracma perdida, a da ovelha desgarrada e a do filho pródigo. Nestas três parábolas o grande Mestre nos dá uma lição diametralmente oposta à que nos querem inculcar os reencarnacionistas. Ao invés de a dracma perdida, a ovelha desgarrada e o filho pródigo serem desdenhados, foram alvos de especial atenção, bem como patrocinadores de festas. Oh! Como os reencarnacionistas precisam aprender com o Mestre! Eles necessitam aprender com o Mestre que Ele é o Grande Salvador, capaz de salvar instantaneamente! Eles precisam aprender que Jesus não perdoa progressivamente!
       Para enxergarmos o quanto esse argumento é errado, basta considerarmos as seguintes questões acerca do perdão que Jesus nos oferece: a) Ele perdoa ou não perdoa? b) O seu perdão é perfeito ou não é? c) O seu perdão é total ou é parcial? d) O seu perdão é instantâneo ou ao lapso de intérminos milênios? E se como respostas a estas perguntas, dissermos que o perdão que Jesus nos dá é perfeito, total e instantâneo, não podemos imaginar que Cristo dispense tratamento diferenciado aos seus perdoados, permitindo a uns livre acesso à Sua Casa (o Céu), e ordenando a outros que aguardem à porta até que os últimos rancores se esvaiam. Deste modo, os argumentos dos reencarnacionistas só teriam lógica se a salvação fosse como eles pensam: pelas obras. Mas, como já visto, a salvação é pelo sangue de Jesus, e não decorrente de nossas ações.
       Diferente de tudo que os kardecistas dizem sobre o perdão, o Grande Mestre nos ensinou no capítulo 15 do Evangelho segundo Lucas, que foram exatamente a dracma recuperada, a ovelha resgatada, e o filho esbanjador que regressou ao lar, que motivaram grandes alegrias e patrocinaram festas. As nove dracmas que nunca se perderam, as noventa e nove ovelhas que sempre se mantiveram sob o cajado do Pastor, e o filho que jamais abandonou o Pai, não causaram tantas emoções. Estas parábolas __ que não foram narradas para incentivar à prática do mal, mas para encorajar os pecadores ao arrependimento __ asseguram-nos que, se arrependermos, seremos bem recebidos no Reino de Deus, mesmo sem termos longo tempo de casa.
       Ora, quando (por um exemplo hipotético) um casal constata a morte de um dos seus dez filhos, este traz, obviamente, tristezas que os nove jamais trouxeram. Mas, se na hora de depositar a urna na cova, o defunto for ressuscitado, seguramente produzirá alegrias que os seus irmão jamais conseguirão produzir, a menos que também morram e sejam ressuscitados. E esta afirmação se apoia na palavra do Mestre, que nos diz que

haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento (Lc 15.7).

       Suponhamos que há 20 anos o senhor “A” e o senhor “B” me tenham feito uma grave ofensa. E que, cinco anos após, portanto há 15 anos, o senhor “A” tenha se arrependido, me pedido perdão e que eu o tenha perdoado de todo o meu coração. Vamos supor ainda, que há um minuto o senhor “B” também tenha se arrependido, me pedido perdão, e que eu o tenha perdoado da mesma maneira que há 15 anos perdoei o senhor “A”. Pergunto: Será que não serei incoerente se eu dispensar a este, um tratamento diferente do conferido àquele? Afinal, perdoei a ambos de igual modo ou não perdoei? Pensem nisso os que ainda pensam!
       Relembro aos reencarnacionistas que não há ninguém melhor do que Deus para saber o que é justo e o que não o é. Sendo assim, deixemos de lorotas e aceitemos o dom gratuito que Ele nos está oferecendo através do sangue de Jesus, totalmente à parte de nossos méritos, até porque não os possuímos (Rm 3. 23-24; 6.23; Ef 2. 8,9), e sonhar em tê-los é utopia. A salvação é assim: Ou o pecador a aceita de graça, ou morre sem ela, já que Deus não a vende, mas a dá gratuitamente aos sequiosos (Ap 22.17).
       Nada mais injusto do que infligir pena por um erro do qual o condenado nem se lembra. Portanto, teríamos que lembrarmos de nossas encarnações anteriores, bem como de nossos erros então cometidos. E disso decorre que nada é mais injusto do que a expiação kardeciana. Deduz-se, pois, que a tal de reencarnação, longe de ser “uma questão de justiça”, é um desdém ao Calvário. É um vaidoso “deixa comigo que eu darei o meu jeito”. É desfeitear o Dadivoso Deus de amor, que quer nos presentear com o que não podemos comprar e pagar, tampouco produzir com a nossa desqualificada mão-de-obra.

11.5. SOBRE A CRIAÇÃO DO UNIVERSO

       Kardec perguntou a um Espírito “superior”: “A matéria existe desde toda a eternidade, como Deus, ou foi criada por Ele num certo momento?”. Resposta: “Só Deus o sabe [...]” (O livro dos espíritos. Parte 1ª, capítulo II, pergunta 21, p. 58).
       Todo bom kardecista crê que este autor é um espírito suficientemente subdesenvolvido para não entender a grandeza do Espiritismo, e que um dia terei que expiar e reparar as críticas que ora endereço ao kardecismo. Acontece, porém, que não obstante todo o “atraso” inerente ao meu espírito, estou certo de que sou incomparavelmente mais evoluído (desculpe-me pela minha “jactância”) do que o dito espírito consultor que deu a resposta acima registrada. É que, apesar das minhas ignorâncias, já sei que tudo quanto existe além de Deus, foi por este criado, e que, portanto, teve um princípio. Sabemos que é irracional crer que uma criatura existe desde toda a eternidade, como Deus. O consultor disse que “Só Deus o sabe”, porque não quis dar a Deus a glória que Lhe é devida. Afinal, Deus é ou não é o Criador do Universo? Ele criou o Céu e a Terra do nada, ou se valeu de matéria pré-existente? Afinal, os kardecistas creem no Criador, ou apenas num construtor ou arquiteto? Afinal, Deus é o Criador de todas as coisas, ou há algo além dEle tão eterno quanto Ele?

 

11.6. O SILÊNCIO DO CRISTO?!

       Kardec alegou que Cristo nunca disse: “Não consulteis os mortos”. Na sua opinião, o Cristo que condenou o roubo, o adultério, o homicídio, a inveja, e assim por diante, não esqueceria de condenar a consulta aos mortos, se os espíritos que acorrem às sessões espíritas fossem realmente demônios. Segundo ele, o Mestre não esqueceria de combater tão grave erro, se deveras fosse impossível contatar os mortos.

Não veio Jesus modificar a lei mosaica, fazendo da sua lei o código dos cristãos? Não disse ele: — “Vós sabeis o que foi dito aos antigos, tal e tal coisa, e eu vos digo tal outra coisa?” Entretanto Jesus não proscreveu, antes sancionou a lei do Sinai, da qual toda a sua doutrina moral é um desdobramento. Ora, Jesus nunca aludiu em parte alguma à proibição de evocar os mortos, quando este era um assunto bastante grave para ser omitido nas suas prédicas, mormente tendo ele tratado de outros assuntos secundários (O céu e o inferno. Primeira parte, capítulo XI, nº 6, § 3).

       Se o fato de Cristo não haver dito: “Não consulteis os mortos”, justificasse a mediunidade, os kardecistas deveriam praticar a astrologia, já que Jesus nunca disse: “Não consulteis os astros”. Mas, contraditoriamente, basta ler o que Kardec registrou em A gênese, 37ª edição, capítulo V, número 12, para notar que ele e seus discípulos rechaçam a Astrologia, tachando-a de superstição. Na página 100 dessa edição, a FEB diz, como nota de rodapé, o seguinte: “Cai assim a ideia supersticiosa da influência dos signos”. Relembro aos kardecistas que o Consolador veio por volta do ano 29 do século I, para guiar a Igreja a toda a verdade (Jo 16. 12-13) e que foi sendo guiado por este Consolador que o apóstolo Paulo exortou os coríntios a não receberem “outro espírito” (2Co 11.4).

 

11.7. UMA PROFECIA KARDECIANA

       Segundo Kardec, uma pessoa boa é aquela cujo espírito é bom; e uma pessoa ruim, é aquela cujo espírito é maldoso. Quando um espírito bom reencarna, dá-se no seio da Humanidade a aparição de uma pessoa boa. E, quando um espírito mau reencarna, não é surpresa se aparece entre os homens mais um perverso. Pois bem, um espírito revelou a Kardec que estava chegando a hora da Terra ser transformada em um lindo paraíso, pois que os espíritos maus não mais iriam encarnar no planeta Terra, e sim, noutros mundos. Daquele dia em diante, cada criança que nascesse neste planeta, seria a encarnação de um espírito adiantado e propenso ao bem. Consequentemente, ao passar a geração da qual ele era contemporâneo, surgiria na Terra uma geração justa. Veja a prova, consultando as seguintes obras de Kardec: A gênese, capítulo XVIII, números 6, 20 e 27; e Obras póstumas, sob o tópico “Regeneração da Humanidade”, pp. 244-249). Acontece, porém, que a referida geração já passou há muito tempo, e os espíritos adiantados propensos ao bem ainda não chegaram. Isto, à luz de Dt 18.20-22, é mais que suficiente para provar que essa previsão não procede de Deus. Veja também Jr 1.12; Nm 23.19; 1Pe 1.25; Ap 21.5, etc. Baseando-se nos escritos de Kardec, os Kardecistas podem se defender dizendo que os espíritos não são Deus, mas criaturas finitas e falíveis. Todo mundo erra, etc. (O que é o espiritismo. 35 Ed. p. 17, sob o cabeçalho “Biografia de Allan Kardec”). Mas aí, pergunto: Por que não encontramos na Bíblia nenhuma profecia falível? A resposta a esta pergunta é que a Bíblia é a Palavra de Deus.
       Da Bíblia disse Jesus:

[...] em verdade vos digo que até que o céu e a terra passem, nem um jota nem um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido (Mt 5.18).

 Podemos dizer o mesmo dos escritos de Kardec?
       É oportuno relembrar o que eu disse no capítulo II, isto é, que Kardec alegou que o Antigo Testamento é a primeira revelação de Deus; o Novo Testamento, a segunda; e o Espiritismo codificado por ele, a terceira. Esta teria sido prevista por Jesus em Jo. 16.12-13; bem como pelo autor dos Atos dos Apóstolos. Relembro ainda que afirmei no capítulo II que o Kardecismo prega a hipótese de que conforme a Humanidade evolui moral e intelectualmente, vai, por conseguinte, se habilitando a maiores revelações da parte de Deus. Logo, a segunda revelação é mais panorâmica do que a primeira, assim como a terceira é mais ampla e perfeita do que a segunda. Ora, se das profecias constantes da alegada Primeira Revelação, Jesus diz que se cumprirão à risca (Mt 5.18), o que não deveríamos esperar das predições da Terceira Revelação, já que esta está dois degraus acima daquela? Mas não é o que estamos vendo. Por que isso?

11.8. DIGA “NÃO” À MEDIUNIDADE

       A Bíblia condena a consulta aos mortos, e neste tópico consideramos esta questão.

A Bíblia proíbe:
       Quem lê a Bíblia sabe que Moisés tachou a consulta aos mortos de abominação, isto é, nojeira ou sujeira. Disse ele:

Entre ti se não achará quem [...] consulte os mortos [...], pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor [...].
       O Senhor, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis (Dt 18. 10-12,15. Grifo nosso).

       Neste texto, Moisés não só proíbe a consulta aos mortos, mas também notifica que ao invés da prática mediúnica, os seus patrícios deviam se limitar a ouvir o profeta que estava por vir, a saber, Jesus (At 3.22-23; 7.37). Então Moisés (o instrumento que Deus usou para o estabelecimento do Antigo Testamento), além de predizer o nascimento de Jesus e, conseguintemente, o advento do Novo Testamento deixa subentendido que a proibição à mediunidade seria repetida no Novo Pacto e, portanto, observada pelo povo de Deus da Nova Aliança, a saber, a Igreja.

Kardec “explica”
       Mas, segundo Kardec, o porquê das proibições mosaicas à prática da mediunidade, reside no fato de que a consulta aos mortos não estava sendo efetuada com o devido respeito aos mesmos; antes, era objeto de charlatanismo. Mas, se fosse este o caso, certamente Deus tão somente “regulamentaria o assunto para evitar abusos”, como bem o observou o Dr. Russell Shedd, nA Bíblia Vida Nova, em seu comentário a ISm 28, como informei no final do capítulo IX deste livro.
       O prezado leitor já sabe que este autor procura documentar todas as denúncias aqui efetuadas. E desta vez não será diferente. Veja, pois, o fragmento abaixo.

[...] Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição que motivou a proibição de Moisés. O moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da questão, pelo descrédito a que lançou essa exploração, elevou a mediunidade à categoria de missão.
       A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente”...(O evangelho segundo o espiritismo. 112 ed., capítulo 26, nºs 9 e 10, p. 367. Grifo nosso).

Um kardecista “explicou”
       Certo kardecista me disse que o fato de a Lei Mosaica proibir a consulta aos mortos, constitui evidência de que contatá-los é possível, considerando que é ilógico proibir que se faça o impossível. Moisés jamais diria “não consulteis os mortos” se isso não fosse pelo menos possível. Porém, esse raciocínio nos levaria a admitir que de fato existem muitos deuses, visto que o politeísmo é repudiado em toda a Bíblia (Êx 20.3; 1Co 8.6; 1Tm 2.5). Mas, como sabemos, tais deuses não existem, senão na cabeça de seus adoradores. Não seria a proibição à consulta aos mortos um caso similar? Obviamente que sim. Portanto, assim como do fato de a Bíblia dizer “Não terás outros deuses diante de mim”, não se deve inferir que tais deuses existam realmente, também é má interpretação deduzir que da proibição à consulta aos mortos se deva subentender a possibilidade de contatá-los para um colóquio. Mas sendo ou não possível contatar os mortos, essa questão não é tão relevante quanto a obedecer a Deus. Deus nos proibiu consultar os mortos, e isso basta aos que querem obedecê-Lo.

Vários kardecistas “explicaram”
       O espírito de Moisés se comunicou com Jesus (Mt 17.3). Por isso já vi vários kardecistas se servindo disso para engrossar seus argumentos em defesa da mediunidade. Todavia, esse argumento é fraco pelas seguintes razões: a) Jesus é Senhor não só dos vivos, mas também dos mortos (Rm 14.9). Os mortos, especialmente os salvos, podem ter livre acesso a Cristo, já que são seus servos; b) Nem tudo que Cristo fez e faz, nós podemos fazer também. Por exemplo, Ele aceita adoração (Mt 8.2; 28.9,17; Hb 1.6). Somos nós também dignos de sermos adorados? c) Mt 17.3 registra que Moisés falava com “Ele”, e não com “eles”. Logo, Tiago, Pedro e João não participaram do colóquio. A conversa se deu entre Moisés, Elias (este não pode ser citado como exemplo, visto não ter morrido [2Rs 2]) e Cristo; d) Cristo não atuou como médium, isto é, como intermediário entre os discípulos e o espírito de Moisés, transmitindo àqueles, a mensagem deste; e) Os apóstolos e todos os cristãos do século I não viram nisso nada que favorecesse a prática da mediunidade. A prova disso é o fato de que nunca os encontramos comunicando com os mortos. Em todo o Novo Testamento, não encontramos nada que nos induza a crer que os cultos da Igreja Primitiva eram sessões mediúnicas. Quando os cristãos primitivos se reuniam, não se manifestavam entre eles os espíritos de Abel, de Isaías, de Sara, de Abraão, etc. Logo, se os kardecista estão certos, então os apóstolos foram negligentes; e, se os apóstolos não foram negligentes, então os kardecistas estão exagerando.

11.9. SOFRE OU NÃO SOFRE?

       Fiz constar do capítulo V deste livro que o kardecismo nega a existência do tormento eterno para os perdidos. Naquele mesmo capítulo observei que isso é discrepante, considerando que, uma vez que o Cristianismo prega o tormento eterno, não podemos (coerentemente) reconhecer como cristão quem rejeita esta doutrina. Porém, como se essa barafunda não bastasse, o Kardecismo se revela dúbio quanto a se existe ou não sofrimento após a morte. Em A gênese, 37 Ed. capítulo XV, nº 65, p. 353, podemos ler: [...] “o Espírito, sem corpo material, não pode experimentar os sofrimentos [...]”. Mas, em O céu e o inferno, 44 ed. 2ª parte, capítulo IV, nº 3, p. 286, consta que um espírito disse: “[...] Eu urro de dor [...].” Afinal de contas, há ou não há sofrimentos para os espíritos que se encontram no estado que os espiritistas chamam de erraticidade, ou seja, entre a morte e a reencarnação? Talvez os kardecistas saiam pela tangente, dizendo que kardec apenas tomou nota de tal ocorrência para fins de estudo. Mas esse subterfúgio esbarraria no fato de que, como já vimos no capítulo XI (11.3), não há como averiguar, mediante estudo, a autenticidade ou não de qualquer afirmação vinda dos espíritos, posto ser possível tratar-se de uma falsidade ideológica.

11.10. SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS

       Certo kardecista me disse que Jesus não nasceu de uma virgem, como o ensina a Bíblia. E argumentou dizendo ser “óbvio que Deus não iria sustar uma lei por Ele mesmo estabelecida. Deus determinou que a reprodução da espécie humana se dê pelo concurso natural de um homem e uma mulher, e, portanto, com Jesus não foi diferente; sendo, pois, lenda o que se diz de seu nascimento virginal”. E esta sua pronunciação não me parece um ato isolado, visto que de fato a FEB fez constar do frontispício de A gênese que “Deus prova a sua grandeza e seu poder pela imutabilidade de suas leis e não pela ab-rogação delas” (35ª Ed., p. 4).
       Outro Kardecista me falou que “Kardec não se posicionou sobre esta questão, e, portanto, eu não sei. Não tenho opinião formada sobre este assunto, que eu considero irrelevante. O importante é a prática da caridade que o Cristo recomendou”.
       Realmente, quem já teve a desdita de ler todos os livros espíritas procedentes da pena do senhor Kardec, como é o caso deste autor, sabe que deveras ele não foi categórico sobre este tema, revelando-se ambíguo acerca do mesmo. Contudo, como o diz certo poeta, ele ficou “mais pra lá do que pra cá”. Falando do corpo de Jesus, ele nos dá uma leve impressão de que concorda (pelo menos parcialmente), com Apolinário, herege do 4º século d.C., já que após longo comentário sobre o corpo de Cristo, ele disse:

Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.
       [...] Não é nova essa ideia sobre a natureza do corpo de Jesus. No quarto século, Apolinário, de Laodiceia, chefe da seita dos apolinaristas, pretendia que Jesus não tomara um corpo como o nosso, mas um corpo impassível, que descera do céu ao seio da santa Virgem e que não nascera dela; que, assim, Jesus não nascera, não sofrera e não morrera, senão em aparência (A gênese, 37 ed. capítulo XV, nºs 66-67. Grifo nosso).

       Como se vê, o apolinarismo foi abraçado e ampliado por Kardec. Este deu a Cristo dois corpos, um carnal e outro fluídico, enquanto aquele conferiu a Jesus um corpo impassível, isto é, não sujeito às mazelas e intempéries desta vida, como dor, sede, frio, fome, morte, etc.

11.11. SOBRE AS ORDENANÇAS

       O Kardecismo é um “cristianismo” tão diferente daquele ensinado por Jesus, que nem mesmo o Batismo e a Santa Ceia do Senhor são observados pelos adeptos dessa religião. “Estamos noutra!”, ufanam-se eles. Jactam de estarem sob a “Terceira Revelação.” Pensam que entendem o que os apóstolos não entendiam. Assim sendo, nada de Batismo e Santa Ceia do Senhor. Estes cerimoniais são obsoletos! A observância destes mandamentos arcaicos, é coisa de quem ainda está debaixo da Segunda Revelação, e não de quem já galgou um patamar mais elevado. Entretanto, o Novo Testamento veio para ficar, e ficará pelo menos até que Cristo desça do Céu e estabeleça a Nova Dispensação, no Milênio (2Co 3.6-11; Ap 2.25).
       Com o argumento acima, os kardecistas cavam a própria sepultura. Eles não percebem que essas alegações (visando justificar as diferenças entre o Kardecismo e o Cristianismo) são uma confissão de que, deveras, o Cristianismo e o Kardecismo não pregam a mesma coisa, e que eles sabem disso. Afinal de contas, o Kardecismo não difere do Cristianismo, ou dispõe de bons motivos para ter as diferenças que tem? Negar uma diferença, e, ao mesmo tempo, justificá-la, não é um disparate?

11.12. ACERCA DA CRIAÇÃO DOS ESPÍRITOS

       O Kardecismo ensina que Deus cria espíritos permanentemente.

A criação dos Espíritos é permanente, ou só se deu na origem dos tempos? É permanente. Quer dizer: Deus jamais deixou de criar (O livro dos espíritos, 76 ed. 2ª parte, capítulo I, nº 80, p. 81).

       Muitos de meus consulentes sobre Heresiologia já me perguntaram sobre que dizem os reencarnacionistas quanto à provisão de espíritos para atender à demanda da explosão demográfica mundial. Isto me prova que há muitos curiosos querendo saber o que os espíritas têm a dizer sobre isto. Daí a importância deste tópico.
       Vale fazer constar que a respeito da ininterrupta criação de espíritos não há controvérsia alguma entre espíritas e evangélicos. Sim, pois cremos que o ato de fazer uma pessoa no ventre materno, implica na criação não só de um novo corpo, mas também em trazer à existência mais uma alma. Se Deus está fazendo novas pessoas todos os dias, então cria novos espíritos diariamente.

11.13. A SALVAÇÃO CRISTÃ É FÁCIL?

       Os kardecistas creem que a salvação não se consegue sem muito suar a camisa. Da criação de um espírito até o momento em que lhe é permitido o ingresso no Mundo dos Espíritos perfeitos, muitas águas passam sob a ponte. Um número quase infindo de reencarnações e muitas benemerências fazem parte do programa evolutivo. Daí ficarem boquiabertos diante de nossos sermões, segundo os quais, a salvação pode ser obtida num piscar de olhos, sem o auxílio das obras (Ef 2.8-9; Rm 11.6). Já me disseram diversas vezes: “Se fosse como o senhor diz, seria muito fácil”. Porém, a verdade solene é que nós, cristãos bíblicos, cremos que a salvação, no que depender de nós, não é algo fácil, nem tampouco difícil, mas impossível (em termos humanos, é claro [Mt 19.26]). Porém, nem tudo está perdido, pois Cristo comprou a nossa briga! A salvação é instantânea, e relativamente fácil para nós, porque algo infinitamente difícil, maravilhoso e estupendo foi feito, a saber, Deus se fez homem e cumpriu a pena em nosso lugar! E este é o Evangelho que Jesus mandou pregar; no qual, segundo a Bíblia, quem crer será salvo, e quem não crer será condenado (Mc 16. 15-16; Jo 3.16). Neste Evangelho os kardecistas não creem, mas tudo farei para que troquem Kardec por Cristo! Está, portanto, claro que cremos numa salvação tão difícil de se obter que só Cristo pôde consegui-la para nós. Ela é tão cara que só Jesus nos pôde comprá-la. E não foi nada fácil. É fácil morrer pregado numa cruz?!
       É a vaidade humana que leva o homem a rejeitar a gratuidade da salvação. O homem quer se gloriar de salvar-se a si mesmo (Ef 2.9) e, por isso, rejeita o dom gratuito de Deus (Rm 6.23).

11.14. O ESPÍRITO SANTO E O CONSOLADOR

       Vimos repetidas vezes que Kardec proclamava que o Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus, como consta de Jo 16. 12-13. Vimos ainda que, segundo Jo 14.26, o Consolador é o Espírito Santo. Isto faz com que muitos pensem que os kardecistas creem que quando a Bíblia se refere ao Espírito Santo, está aludindo ao Espiritismo. Mas não é bem assim. E o porquê disso é que, segundo os kardecistas com os quais tenho dialogado, o Espírito Santo não é o Consolador. Eles me disseram que o Consolador é o Kardecismo, mas o Espírito Santo é o conjunto dos espíritos perfeitos. Uma prova de que realmente os kardecistas creem (ou há kardecistas crendo) que o Espírito Santo é o conjunto dos espíritos dos que morreram, é a transcrição constante do capítulo 3 deste livro (3.2.2. letra “C”). Consta lá, que o senhor Durval Ciamponi, kardecista de renome entre os sectários dessa confissão, afirmou no “Jornal Espírita” de junho de 1991 que “o Espírito Santo nada mais é que a alma dos homens que se foram [...]”. Vimos lá que Ciamponi vê o fenômeno sobrenatural abordado em At 2, como “manifestação mediúnica”. Portanto, leitor, não pense que eu tenha me esquecido de sobrepor o sinal gráfico na conjunção aditiva “e”, constante da epígrafe deste tópico. Não foi à toa que a grifei. É que literatura oficial do Kardecismo distingue entre o Espírito Santo e o Consolador: Este é o Espiritismo, e aquele as almas dos defuntos.

11.15. DAS QUESTÕES ESCATOLÓGICAS

11.15.1. Morremos várias vezes?

       A Bíblia nos diz em Hb 9.27 que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo”. (ARA, grifo nosso) Ora, se existisse reencarnação, o homem morreria várias vezes, pois tantas quantas vezes reencarnasse, uma vez mais morreria. Logo, este texto é um ótimo libelo contra o reencarnacionismo. Porém, certo kardecista disse que

este versículo não opõe à doutrina da reencarnação, porquanto não se refere à morte do espírito, que não morre nenhuma vez; e sim, à morte do corpo, que de fato morre uma só vez, visto que uma vez morto um corpo, jamais morrerá de novo.

       No entanto, embora este texto verdadeiramente não trate da morte do espírito (já que o espírito é imortal), convém que se note que também não se refere à morte do corpo, considerando que o corpo morto fica inconsciente e, portanto, não pode entrar em juízo. O versículo em apreço diz textualmente: “vindo, depois disso, o juízo”. E considerando que o texto não está falando da morte do espírito, muito menos do óbito do corpo, de que morte nos fala então? Fala da morte do homem em sua totalidade, isto é, esta passagem está dizendo que o ser humano experimenta o que se convencionou chamar de “morte” uma só vez. Isto posto, o trecho em análise prova sim que não há reencarnação.
       A morte, da qual se trata aqui, é aquela que o Espiritismo chama de “desencarnar”, enquanto a Teologia a chama de “morte física”, a saber, refere-se à separação entre a alma e o corpo. Sim, refere-se à separação em si, entre os dois elementos, e não aos elementos de per si, nem ao conjunto desses componentes. Só para me fazer entender, digo que se déssemos à morte o errôneo nome que o Espiritismo lhe dá, verteríamos o versículo em apreço assim: “aos homens está ordenado desencarnarem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo”.
       E é errado chamar a morte de desencarnar? Entendo que sim, porque o homem não é um espírito encarnado, ou seja, o nosso lado espiritual não entrou em nós, mas foi criado quando da criação do corpo. A criação do corpo e do espírito se dá em conjunto e simultâneo. A minha alma tem a mesma idade do meu corpo. Ela não veio do Além para entrar em mim, mas é o meu verdadeiro “eu” e parte integrante do meu ser. Logo, “morrer” não é um simples desencarnar, mas sim, a separação das partes de um todo. E este é um dos motivos pelos quais haverá a ressurreição da carne, como consta do Credo Apostólico, rechaçado pelo Espiritismo. Mas esse credo é ortodoxo. Não há nele erro algum.

11.15.2. Do arrebatamento da Igreja

       Quem crê que está em evolução, e que, portanto, ainda tem muito que reencarnar para se tornar digno de habitar no mundo dos espíritos perfeitos, não está, obviamente, aguardando Cisto para arrebatá-lo ao Céu, conforme previsto na Bíblia (1Ts 4. 13-18; 1Co 15. 51). Que prejuízo! Que dano! Como é triste não aguardar “a bem-aventurada esperança”! (Tt 2.13). Foram enganados por Kardec, e, por isso, não aguardam o segundo advento de Jesus. Não esperam ser transformados (1Co 15.51) e arrebatados ao encontro de Jesus nos ares! (1Ts 4.17).

11.15.3. Do tribunal de Cristo

       A Bíblia nos diz que Cristo galardoará os Seus naquele grande Dia, segundo o que tivermos feito por meio do corpo (no singular [1Co 5.10]). Ora, se existisse reencarnação, o homem teria vários corpos e, naturalmente, a recompensa seria segundo o que o espírito fizesse por meio dos corpos, e não, do corpo.
       Diante dessas incoerências, pode-se ver que o Kardecismo não é cristão, visto que cristão não é quem “segue” a Cristo à sua maneira, e sim, quem se pauta pela Bíblia, já que certo ou errado, verdade ou mentira, este é o livro sagrado do Cristianismo. Em Jo 7. 38 Jesus nos diz que devemos crer nEle segundo a Escritura, e não à nossa moda.

11.15.4. Da segunda vinda de Jesus

       Certo Kardecista disse-me que a vinda de Jesus é a morte. “Quando morre uma pessoa, pode-se dizer que para essa, Jesus já veio”, disse ele. Mas, o que a Bíblia ensina, mesmo, é que, quando Jesus voltar, os dEle que estiverem mortos, serão ressuscitados. Ato contínuo, o Senhor transformará os dEle que estiverem vivos, os quais, juntamente com os mortos previamente ressuscitados, serão arrebatados ao Céu. E esses vivos, que serão transformados e arrebatados ao Céu, nunca morrerão (1Co 15. 51; 1Ts 4. 16-17). Ora, se a vinda de Cristo fosse a morte, poder-se-ia dizer que para os salvos que estiverem vivos no dia do arrebatamento da Igreja, Jesus nunca virá. No entanto, a Bíblia diz que Jesus virá para todos os salvos, tanto para os vivos como para os mortos, e os arrebatará aos Céus (1Ts 4. 13-18; 1Co 15. 51). Desta maneira, pregar a vinda de Jesus é ser bíblico. Logo, as pessoas devem, ou fazê-lo com fidelidade ao texto Sagrado, ou negar abertamente esta doutrina. Portar-se de outra maneira é agir incorretamente. O referido kardecista foi, pois, incoerente; mas, como sabemos, isso é normal entre os kardecistas.

11.15.5. Do Juízo Final

       Já está massificado neste livro que, segundo o Kardecismo, ninguém será condenado eternamente. As punições divinas duram apenas até que o espírito faltoso se arrependa, expie seus pecados (sofra as consequências de suas más ações) e repare suas faltas (faça boas obras para compensar as más). Isso não coaduna com o que a Bíblia nos fala acerca do Juízo Final, quando os perdidos serão lançados no lago de fogo eterno, onde sofrerão eternamente, como já comentei no capítulo V.

11.15.6. Ressurreição versus reencarnação

       Segundo Kardec, a Bíblia corrobora a doutrina da reencarnação, sob o título de ressurreição. Mas neste subcapítulo veremos que, muito pelo contrário, a doutrina bíblica da ressurreição é incompatível com essa teoria, golpeando-lhe mortalmente.

       Disse Kardec:

Não há, pois, duvidar de que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação era ponto de uma das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cristo. Um dia, porém, suas palavras, quando forem meditadas sem ideias preconcebidas, reconhecer-se-ão autorizadas quanto a esse ponto, bem como em relação a muitos outros (O evangelho segundo o espiritismo, 109 ed., capítulo IV, nº 16, p. 89. Grifo nosso).

Incoerência ao cubo
       Este texto é a incoerência elevada ao cubo, pelas seguintes razões: a) sabe-se que a crença na suposta reencarnação é incompatível com a doutrina bíblica sobre o Inferno e da salvação mediante o sangue de Jesus. Logo, Kardec se revela incoerente quando, dizendo-se cristão, faz apologias desse dogma, considerando que o tormento eterno para os perdidos, assim como a salvação mediante o sacrifício do Senhor, verdade ou mentira, fazem parte do corpo de doutrinas do Cristianismo clássico. Logo, é impossível ser cristão e reencarnacionista concomitantemente; b) Kardec eleva essa incoerência à segunda potência, quando recorre exatamente ao Livro-texto da fé cristã - a Bíblia -, cuja autoridade ele negou até à morte. Isso é como se o réu dissesse ao juiz: “Meritíssimo, tenho uma testemunha indigna de ser ouvida, capaz de provar a minha inocência”; c) a partir daí, Kardec eleva essa incoerência ao cubo, visto que a testemunha para a qual ele apela, embora depondo contra ele, o infeliz procede como se a mesma testificasse a seu favor. Entenda-o, quem puder. A essa altura, creio que está na hora de formularmos aos kardecistas a seguinte interrogação: Vocês têm certeza que o Kardecismo é filosófico e científico?
                                                            ***
       Bem, vimos que Kardec concluiu que uma das provas bíblicas de que Jesus era reencarnacionista é o fato de que Ele pregou a ressurreição. Esta, segundo Kardec, difere da reencarnação apenas no nome, isto é, quando Jesus falava da ressurreição, tinha em mente a reencarnação. Mas, à luz de Lc 20. 35-36 Jesus afirmou que os ressuscitados não se casarão e nem morrerão, o que prova que Jesus não cria que o termo ressurreição é sinônimo do vocábulo reencarnação. Um reencarnado pode __ segundo os kardecistas __ plantar, colher, comer, beber, casar, gerar filhos... e, por fim, morrer de novo. E nem poderia ser diferente, visto que reencarnar não é o mesmo que receber ou incorporar espírito. A isto se dá o nome de mediunidade. Reencarnar é reassumir (o espírito) um novo invólucro, numa nova existência corporal. É literalmente nascer de novo.
       São muitas as passagens bíblicas que negam a reencarnação, sendo Zc. 12:1, uma das tais. Segundo este texto, o espírito do homem é formado dentro dele. Isto é mais que suficiente para provar que cada corpo tem seu próprio espírito e que este veio à existência, quando o corpo estava em formação no ventre materno. Logo, nós não somos um espírito encarnado, e sim, um ser constituído de alma e corpo.
       Relembro que Kardec se mostra incoerente sempre que apela para a Bíblia, considerando que ele disse repetidas vezes que nela ele não confiava.

Haverá escassez de corpos
       Inquestionavelmente, a ressurreição de todos os mortos é uma doutrina cristã. Jesus Cristo disse que “[...] vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação” (Jô 5.28-29). Ora, se houvesse reencarnação, não haveria ressurreição, pois que então faltariam espíritos para ocupar os corpos ressurrectos. Raciocine: Como ressuscitar os diversos corpos que, em épocas diferentes foram, respectivamente, animados por um único espírito? Lembre-se ainda que no Dia da ressurreição o dito espírito poderia não se encontrar na tal de erraticidade, da qual fala o kardecismo, mas sim, reencarnado entre nós. E aí? O vivo morrerá para que o morto ressuscite, ou o morto (ou os mortos) não poderá viver por escassez de espírito?
       Como vimos acima, Kardec ousou dizer que Jesus era reencarnacionista e que Ele chamava de ressurreição o que o Espiritismo chama de reencarnação. Ora, há pelo menos três razões palas quais concluo que esse incoerente argumento não resiste a um confronto com o contexto bíblico e com o bom senso: ele é irracional, duas vezes incoerente, hipócrita e anticristão. E penso assim pelas seguintes razões: a) é irracional, porque basta uma pitada de bom-senso para se perceber que quando Jesus falava da ressurreição, não tinha em mente a tal de reencarnação. b) duas vezes incoerente, já que Kardec recorre à Bíblia sem reconhecê-la como autoridade, e nega a Bíblia, dizendo-se cristão. Afinal de contas, a Bíblia é ou não é autoridade? Se sim, por que a nega? E se não, por que recorre a ela? Kardec era ou não era cristão? c) só sendo muito hipócrita para lançar mão de um expediente desses; e d) é claro, esse emaranhado é, sim, anticristão. Os kardecistas nomeiam isso cristianismo, mas eu o rotulo de barafunda.

11.16. O PRIMEIRO HOMEM

       No capítulo I informei que o Kardecismo não aceita que Adão tenha sido o primeiro homem. Mas, se a Humanidade descende de um tronco único, como explicar as muitas raças dentro da espécie humana? Tenho para essa objeção duas respostas: 1ª) Nem tudo é explicável. Há mistérios que intrigam a todos nós (inclusive aos kardecistas), e a decifração do enigma não está em dar asas à imaginação. E, pior ainda, fazer das conjecturas que daí nascerem, dogmas que contradigam a Palavra de Deus. 2ª) O próprio Kardecismo diz que “as diferenças físicas [...] que caracterizam as raças humanas na Terra” originaram do “clima, da vida e dos costumes” (O livro dos espíritos, 74 ed. capítulo III, nº 52, p. 68. Grifo nosso).

11.17. DOS PARANORMAIS

       A seguir disserto acerca de alguns casos deveras curiosos, dos quais os reencarnacionistas se servem para consubstanciar o dogma da reencarnação. Ei-los:

11.17.1. Da paramnésia

       Já ocorreram diversos casos, em que alguém, ao visitar um lugar pela primeira vez, se convencer de que já o conhecia, e até dar evidências disso. Esse fenômeno, conhecido pelo nome de “paramnésia”, tem feito com que muitos deem asas à imaginação. E enquanto “viajam” nesses devaneios, cogitam a possibilidade de o mesmo ser a prova científica do dogma da reencarnação. Os tais alegam que a pessoa pode estar reconhecendo o que já havia visto numa existência anterior. Contudo, veja estas ponderações: A) o próprio Kardec registrou acertadamente que “o Espiritismo não é da alçada da Ciência” (O livro dos espíritos, 74 ed. p. 29). Estão, portanto, extrapolando os limites estabelecidos pela própria codificação espírita, os que a esse expediente se reportam, intuindo um parecer acadêmico sobre o reencarnacionismo, o qual é apenas uma questão de “fé”; B) enquanto muitos adeptos do reencarnacionismo se servem disso, intuindo provar alguma coisa, os que rechaçam o dogma da reencarnação, apresentam diversas possíveis explicações para o mesmo caso. Eis alguns exemplos: a) a pessoa pode ter visitado o local quando era criancinha. O seu consciente não reteve o fato, mas tudo fora armazenado no inconsciente; b) a pessoa pode ter visto fotos do lugar, e nem se lembrar disso; c) Didier Julia (filósofo e dicionarista francês) define o vocábulo paramnésia assim: “[...] perturbação da memória, caracterizada por uma falsa ilusão de reconhecimento [...]. O fenômeno só é encontrado [...] nos casos de confusão mental e nos delírios de perseguição” (Didier Julia. Dicionário da Filosofia. Rio de Janeiro: Editora Larousse do Brasil. Trad. de José Américo da Motta Pessanha, 1969, p. 242). E esta é, sem dúvida, uma boa explicação para os casos de paramnésia. E, considerando que esta conceituação consta de um dicionário de Filosofia, aqui está uma definição acatada por Pensadores; d) pode ser um caso de hiperestesia. Esta palavra, dependendo do contexto, designa a suposta capacidade de ler o inconsciente de outrem. Neste caso, a pessoa impressionada teria estado junto de alguém que já tivesse estado lá e copiado para o seu cérebro o que jazia no do próximo. (Não estou dizendo que creio na existência da hiperestesia, mas sim, informando que os estudiosos do fenômeno em questão, apresentam essas e outras explicações). E tudo isso junto, nos induz a crer que o apelar para a paramnésia a fim de consubstanciar o dogma da reencarnação, é uma atitude rechaçada até por renomados Pensadores. Contudo, o mais importante não é o que os eruditos dizem da paramnésia, e sim, o fato de que Jesus deixou claro, em Lc 20.35-36; 23.43 que o reencarnacionismo é falso. E, sendo assim, “parafraseio” Kardec nestes termos: “Pregar a reencarnação é negar as palavras do Cristo. Um dia, porém, suas palavras, quando forem meditadas sem ideias preconcebidas, reconhecer-se-ão autorizadas quanto a esse ponto, bem como em relação a muitos outros”. E: “Estes versículos, não há contestar, são dos mais importantes, do ponto de vista religioso, porquanto comprovam, sem a possibilidade do menor equívoco, que o reencarnacionismo é ilusão”.

11.17.2. Dos gênios

       Seriam os gênios espíritos comportando grande soma de conhecimentos acumulados no decurso de numerosas existências precedentes? A resposta é que o dogma da reencarnação é uma questão de fé, fugindo, pois, ao escopo da Ciência, como bem o observou Kardec. Logo, busquemos entender as crianças-prodígios e todos os gênios à luz de pesquisas dentro dos moldes da Metodologia Científica, e não à base de especulações religiosas. E, se dessas pesquisas não brotar resposta imediata, não inventemos moda, mas persistamos em perquirir cientificamente. Talvez, um dia a Ciência desvende esse mistério. Mas, decifrando-o ou não, que nos importa, se para garantirmos nossa felicidade eterna, bastar-nos-á fugir da ira de Deus pela senda da fé e esconder sob o sangue de Cristo?

Apressado fugi, em Jesus me escondi, E abrigo seguro nEle achei (Hino de número 15, constante do cancioneiro Harpa Cristã, hinário oficial da Assembleia de Deus).

       Assim como algumas pessoas vêm ao Mundo portando retardos mentais, outras podem ser superdotadas de nascença. E isso é totalmente natural. Ademais, há pessoas aparentemente superdotadas que, de fato, são apenas extremamente dedicadas ao estudo perspicaz e sem dispersão. Além disso, já se comprovou cientificamente que o que a ginástica é para os músculos, o estudo o é para o cérebro. Este se desenvolve quando forçado à assimilação de coisas novas e complexas. Ser gênio é tão normal quanto ser alto, gordo, baixo, magro, robusto, etc.

11.17.3. Aprender lembrando

       Há os que aprendem com uma facilidade tal, que de fato impressionam. Mas este caso é similar ao visto no tópico acima, onde consideramos a questão dos gênios, como é o caso das crianças-prodígio. Ora, o estudo é uma atividade psicossomática, relacionando-se com as condições físicas e psíquicas. Logo, não precisamos apelar ao “mundo dos espíritos”, às “encarnações anteriores” e coisas assim, para entendermos porque uns são mais inteligentes do que outros. Esta questão pode, sim, ser totalmente material e natural. Até porque, não raramente, deparamos com pessoas aparentemente menos aquinhoada em termos intelectuais, cujas mentes parecem bloqueadas para aprender Matemática, Química, Astronomia ... mas que, de repente se despontam como grandes advogados, famosos arquitetos, escultores de peso, pintores fenomenais, oradores inflamados, etc. Não seria precipitado considerá-las menos prendadas? Claro que sim, já que ninguém é excelente em tudo.

                                                ***
       As questões abordadas neste tópico (11.17.1-11.17.3) são similares àquelas que já consideramos num capítulo anterior, quando observei que o “autor destas linhas já viu animais aleijados de nascença” E perguntei: “Será que estes também estão expiando os pecados praticados nas encarnações anteriores?” Claro que não. Mas, pelo que me consta, já há quem cogite isso. Por exemplo, relembro o que já vimos no capítulo IV (4.4), a saber, que o senhor Ciamponi levantou a seguinte questão: “Assim como acontece aos homens, os animais encarnados têm destinos bem diferentes, quando na Terra. Uns são bem tratados, tendo lar e carinho, outros vivem nas ruas sendo chutados, famintos e sem lar. Pode-se dizer que isso seja dívida de vidas passadas?” Ato contínuo, o senhor Ciamponi responde: “Bela pergunta; resposta difícil. [...]”. Por que será que ele acha difícil responder a esta “bela pergunta”? Imagino que é porque ele não se sente a altura de responder a esta interrogação com segurança. Contudo, Ciamponi aventurou: “Não se pode dizer que ele sofre por causa das dívidas passadas, mas a tendência de seu comportamento anterior deve ser de profundo interesse para a decisão dos espíritos encarregados da missão reencarnatória”.
       Ora, assim como é totalmente natural a desigualdade entre os irracionais, devemos encarar como normal as diferenças entre os humanos. Eu disse acima (11.4), que “a natureza está amaldiçoada (Gn 3.17; Rm 8.19-23); e agora, só nos resta aguentarmos o rojão até que a redenção do nosso corpo, bem como a de todo o Universo, se concretize (Rm 8.23). E esta redenção só é possível mediante o sangue de Jesus (Ef 1.7)”. Logo, advirto: Se você, deveras, não quer dar com os burros n’água, não by-pass a cruz que foi fincada no cimo do Calvário, no alto da qual Cristo abriu o único Caminho de regresso ao Pai, o qual é o “Cordeiro imolado no Altar” da cruz __ Jesus (Jo 14.6).


 

 

 

 

 

 

CAPÍULO XII

 

NÃO TROQUE O CERTO PELO DUVIDOSO



       Bem, depois de tantas incoerências encontradas no Kardecismo, ficou mais que evidente que ninguém pode ser cristão e kardecista simultaneamente. Não é possível crer na Bíblia e nos escritos de Kardec a um só tempo. Kardec sabia disso, e ele realmente não cria nessas duas coisas. Ele tentou esconder isso e mostrar isso ao mesmo tempo, mas acabou se expondo ao ridículo aos olhos dos bons observadores, como é o caso deste autor. E porventura, um inescrupuloso da laia de Kardec, merece ser reconhecido como Mestre amado, pensador arrojado e metódico, benfeitor da Humanidade, etc., como injustamente o louvam os kardecistas? Por acaso, não provei cabalmente que Kardec era sofismático? Mas, talvez você ainda tenha algumas dúvidas. Neste caso, não troque o certo pelo duvidoso; antes, siga as orientações a seguir sugeridas:

12.1. POR QUE SER ESPÍRITA?

       Você tem pelo menos dois bons motivos para não ser espírita: a) o Espiritismo prega que ninguém será condenado eternamente. Logo, todos nós seremos salvos, independente de sermos ou não espíritas. Ora, o supérfluo pode ser descartado sem problema algum; b) e, considerando essa superfluidade do Espiritismo, não hesitemos de nos poupar de envolvermo-nos com algo tão incerto quanto desnecessário. Sim, incerto, já que o Kardecismo não se responsabiliza por nenhuma comunicação mediúnica, confessando que ter certeza de que o espírito falante é mesmo a pessoa que ele diz ser, é algo fácil, difícil e impossível; e desnecessário, pois assegura a universalidade da salvação (isto é, que todos seremos salvos), inevitavelmente.

12.2. OPTE PELO SANGUE DE JESUS

       É Preferível confiar no sangue de Jesus, a crer em reencarnação. Pense: Se de fato existe reencarnação, por ela eu passarei inevitavelmente, visto que, segundo os kardecistas eu não preciso crer em coisa alguma para me reencarnar. Para eu me reencarnar basta-me a morte. O mesmo, porém, não se dá com a salvação em Cristo. De acordo com a Bíblia, se eu não me “esconder” sob o sangue de Jesus nesta vida, serei um eterno desgraçado no Além. Deste modo, em caso de dúvida, opte pelo sangue de Cristo. Isso é uma questão de inteligência.

12.3. A EMPÍRICA PRESENÇA DE DEUS

       Quando cremos em Cristo dentro dos moldes bíblicos (isto é, que ele é Deus; que Seu sangue purifica de todo pecado; e que Seus mandamentos estão contidos na infalível Bíblia) recebemos um gozo glorioso e inexplicável (1Pe 1.8). Não seria isto o cumprimento da promessa que Jesus nos fez, de nos dar outro Consolador (isto é, o Espírito Santo), se nEle crêssemos segundo a Escritura? (Cf.: Jo 7.38-39; 14. 16). João Batista recebeu o Espírito Santo antes de nascer, e, por isto, pulou de alegria no ventre de sua mãe (Lc 1.15,44). E já que nós, os cristãos bíblicos, sentimos a mesma alegria que João sentiu quando ainda estava no ventre, não seria isto uma prova tangível de que o Cristianismo é real e verdadeiro? Não prova isso que estamos no Caminho certo? A experiência da qual lhe falo é empírica, pois de fato é pessoal e intransferível, mas saiba que não é menos real do que empírica. E posso garantir que a mesma é comum aos salvos; é privilégio exclusivo destes; e que os que ainda não se converteram ao verdadeiro Evangelho não sabem o que estão perdendo. Você também quer sentir o consolo do Espírito Santo? Então, peça-o a Cristo já, e receba-o agora. Se você pedir com fé e contrição, Deus lhe fará sentir Sua presença, traduzida numa alegria indizível, agora. Uma alegria diferente de tudo que você já sentiu, tornar-se-á real na sua vida neste exato memento. Ore. Tente. Converse com Jesus sobre isso. Diga a Ele que se isso é verdade, então você também quer sentir. Vamos! Abra o seu coração! Ore!

12.4. VOCÊ ESTÁ SEGURO DISSO?

       Para que se ceda o corpo a um espírito que se diz, por exemplo, o da mãe de um consulente, ter-se-á que assegurar de não estar sendo enganado. E, como vimos em 9.5, Kardec reconheceu que não é possível se certificar com precisão e invariável inerrância da identidade dos espíritos. Ora, quando se soma a proibição bíblica à prática da mediunidade, às incertezas espíritas, porventura não se chega ao resultado de que é preferível não se envolver com isso?

12.5. UMA INFALÍVEL RECEITA

       Seja um cristão de verdade e você jamais receberá espírito de “defunto”. Por exiguidade de espaço, dou apenas duas provas disso: a) o fato de que não encontramos em toda a Bíblia nenhum servo de Deus incorporando as almas dos mortos. Não é isto digno de nota? b) o livro Nos bastidores dos espíritos narra a história da conversão do senhor Héber Soares, o qual, por ser católico, e, portanto, não se simpatizar com o Espiritismo, recusou por longo tempo a proposta de um espírito que se lhe aparecia, dizendo-lhe que ele (Héber Soares) havia sido eleito para uma grande e sublime Missão de caridade. Mas Soares teve que ceder aos apelos do dito espírito, pois percebeu, após passar por diversos reveses, que se não assentisse aos assédios do dito cujo, iria a óbito por acidente ou por loucura. Então passou a incorporar um espírito que, usando suas mãos, realizava nos que aceitavam se valer desse expediente, cirurgias diversas, o que o tornou famoso no Brasil e no exterior. Os jornais da década de sessenta do século passado, amiudadamente estampavam notícias como estas:

Médium amazonense que já curou 85 mil pessoas está na Guanabara (Caio Fábio. Nos bastidores dos espíritos. Niterói: Produção independente. 2 Ed., 1986. Capa);

Centenas de pessoas buscam e obtêm diariamente na casa de HÉBER SOARES a cura que a Ciência humana lhes negou (Ibid.);

Médium repete em Manaus os fenômenos de Zé Arigó (Ibid.).

       Mas, num belo dia, Soares creu no verdadeiro Evangelho, e recebeu a Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal! E nem preciso dizer que esse passo marcou o fim da atuação do “espírito de luz” que por tanto tempo o escravizara nas trevas.


EPÍLOGO


Nem todas as heresias kardecianas são abordadas neste livro; mas as que aqui catalogo, refuto academicamente.
       Creio que provei o que asseverei no Prólogo e na quarta capa, a saber, que a asserção kardeciana de que “O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa” (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 109 Ed., 1994, p. 47) não sobrevive a uma análise séria e imparcial. De fato, embora mui respeitosamente, não me parece exorbitante e jactancioso asseverar que desmascarei o Kardecismo, expondo suas incoerências e refutando-as com cadência. Sim, a incoerente “dogmática” kardeciana é diametralmente oposta ao genuíno Cristianismo. São, pois, felizes os autores dos fragmentos abaixo pinçados:

A macumba é o veneno para os que querem morrer [...]. Todavia, o espiritismo kardecista é o jantar gostoso que se serve ao homem que ama a vida e que não deseja morrer. Ambas são estratégias do diabo para atingir pessoas diferentes. Com a macumba, ele oferece veneno aos desesperados. Com o espiritismo, um jantar envenenado aos bem-intencionados. (Nos bastidores dos espíritos. Op. cit. p. 68).

Espiritismo: Fraude cativante. (Rafael Gason, ex-espírita convertido à fé evangélica).

       Fraude cativante é o título de um livro (ver detalhes na Bibliografia de [referência], no final deste livro) de autoria do irmão Rafael Gason, no qual este autor descreve a sua trajetória das trevas para a luz, ou seja, dá o maravilhoso testemunho de sua conversão ao verdadeiro Evangelho. Gason era um famoso adepto do Espiritismo Europeu, mais conhecido por Espiritualismo, e atuava na Inglaterra, sua terra-natal.
       Aspiro ardentemente que o conhecimento dessa triste história real o livre da desdita de crer nO Evangelho Segundo o Espiritismo.
       Embora o presente livro priorize o Kardecismo, certamente está claro ao leitor que o mesmo pode levar luz a todos os espíritas (umbandistas, candomblecistas, legionários da boa vontade, etc.), já que a Bíblia __ e, por conseguinte, o Cristianismo clássico __ é rejeitada por todas as correntes espiritistas. Este livro pode, também, como já visto, ser útil aos católicos e outros simpatizantes do Espiritismo. E não me parece exagerado dizer que os evangélicos têm aqui um forte companheiro no labor evangelístico. Recomende-o, pois, irmão, aos seus amigos e irmãos em Cristo. Use esta obra como livro-texto na Escola Dominical e em Seminários Semanais nas igrejas e nas instituições teológicas. Baseando-se neste Tratado, dê palestras nas igrejas, nas faculdades, nos retiros espirituais, etc. Convide seus parentes, visinhos, amigos, etc., para estudarem juntos, este livro. Nestes casos, é importante que cada participante tenha um exemplar deste Tratado.
       Estudar este livro na Escola Dominical? Sim. Por que não? Considerando que o Preâmbulo deste livro tem material suficiente para se intitular Capítulo I, podemos dizer que, de certo modo, este livro é constituído de treze capítulos. Ora, num trimestre há exatamente treze domingos. Poucos são os trimestres com catorze domingos.
       Finalmente, dou a redação deste livro por concluída, entregando-o ao usufruto e juízo do público ledor. E desde já, agradeço aos que me conferirem a generosa honra de compulsar estas singelas páginas.
       Quanto aos inevitáveis frutos espirituais que este livro pode render ao Reino de Deus, vê-los-emos na eternidade.

P.S.: Prezado leitor, dê-me o prazer de encontrá-lo no Céu! Sentir-me-ei bem recompensado se estas linhas contribuírem para a sua salvação. Dispa-se dos preconceitos! Renegue a paixão pelo erro!
       Se você é espírita, saiba que o seu envolvimento com o poder das trevas o tornou muito íntimo de Satanás. Por isso, é de se esperar que tão logo ele note que Deus lhe abriu os olhos do entendimento, e que você deseja trocá-lo por Cristo, que ele faça algo para não perder a presa. Certamente que ele tentará até mesmo matá-lo. Porém, não o tema. Ore mais ou menos assim: “Senhor Jesus, cobre-me com o Teu sangue! Perdoa os meus pecados mediante o Teu sacrifício na cruz! Salva a minha alma!”. Diga a Satã e a todos os demônios: “Saiam em nome de Jesus”. Fique firme na fé. Não desista da jornada rumo ao Céu! Ver-nos-emos na Casa do Pai! Até lá, na Paz do Senhor!


BIBLIOGRAFIA:



I –Obras (livros, revistas, jornais) espíritas:

Allan Kardec, livros de:
_____O livro dos espíritos
_____O livro dos médiuns
_____O evangelho segundo o espiritismo
_____O céu e o inferno
_____A gênese
_____O que é o espiritismo
_____A prece segundo o evangelho
_____Obras póstumas

Outros autores espíritas:
CALLIGARIS, Rodolfo. Páginas de espiritismo cristão

PIRES, J. Herculano. Visão espírita da Bíblia

XAVIER, Francisco de Paula Cândido (Chico Xavier). O consolador

XAVIER, Francisco de Paula Cândido (Chico Xavier). Vozes da outra margem

Periódicos espíritas:
O reformador (revista editada pela Federação Espírita Brasileira)

Revista internacional de espiritismo (revista editada pela Casa
Editora O Clarim)

Jornal espírita – (periódico editado pela Federação Espírita do Estado de São Paulo. Diversos exemplares)

Visão espírita (revista espiritista editada pela SEDA Produções)

II - Livros evangélicos e outros
ALMEIDA, Abraão de. O sábado, a Lei e a graça. Rio de Janeiro:
         CPAD. 1980.
BATTISTINI (Frei). A igreja do Deus vivo. Petrópolis: Editora
        Vozes, 33 Ed., 2001.
BETTENCOURT, Estêvão. Católicos perguntam. São Paulo: O
         Mensageiro de Santo Antônio. 7 Ed., 1997.
______Crenças, religiões, igrejas & seitas: quem são? São Paulo: O
           Mensageiro de Santo Antônio. 6 Ed., 2003.
Bíblia - Várias versões, e inclusive diversas Bíblias de estudo, tanto
           católicas quanto evangélicas.
BOYER, Orlando S. Pequena enciclopédia bíblica. Flórida: Editora Vida. 10 Ed. 1986.
CABRAL, J. Religiões, seitas e heresias. Rio de Janeiro: Editora e
         Gráfica Universal. 4 Ed. 2000.
CARUSO, Elizabeth. Axé. Das trevas para a luz. Rio de Janeiro:
         Editora e Gráfica Universal, 1994.
Catecismo da Igreja Católica. Petrópolis: Editora Vozes. 1 Ed. 1993.
Compêndio do catecismo da Igreja Católica. Ipiranga: Edições
          Loyola, 1 Ed. 2005.
Compêndio do Vaticano II. Petrópolis: Editora Vozes, 29 Ed. 2000.
COSTA, Jefferson Magno da. As grandes defesas do Cristianismo.
          Rio de Janeiro: CPAD. 4 Ed. 1994.
FÁBIO, Caio. O espiritismo segundo o Evangelho.
______Nos bastidores dos espíritos. Rio de Janeiro/RJ. Produção
           independente. 2 Ed. 1986.
GASON, Rafael. Espiritismo: fraude cativante. Rio de Janeiro:
           Emprevan Editora, tradução de Edgar S. da Cunha, 1 Ed.
           1969.
HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Rio de Janeiro: Novo
          dicionário Aurélio. 1 Ed. 14ª impressão. Editora Nova
          Fronteira S.A.
JUSTUS, Amilto. Vinte razões porque não sou testemunha-de-jeová.
          Curitiba: A. D. Santos e CIA Ltda. 8 Ed.
KLOPPENBURG, Boaventura (Frei). Espiritismo. Orientação para
          os católicos. São Paulo: Edições Loyola. 7 Ed., 2002.
LIGÓRIO, Afonso Maria de. (“Santo” católico). Glórias de Maria.
          Aparecida: Editora Santuário, 14 Ed. 2005.
LIMA, Delcyr de Souza. Analisando crenças espíritas e
          umbandistas. Rio de Janeiro: JUERP, 4 Ed. 1979.
MATHER, George A; e NICHOLS, Larry A. Dicionário de religiões,
           crenças e ocultismo. São Paulo: Editora Vida, 2000.
Mensageiro da paz (Periódico evangélico). Rio de Janeiro: CPAD.
           Órgão oficial das Assembleias de Deus no Brasil.
OLIVEIRA, Raimundo F. de. Seitas e heresias, um sinal dos tempos.
           Rio de Janeiro: CPAD, 1994.
KOOGAN, Abrahão/HOUAISS, Antônio. Enciclopédia e
          Dicionário. Rio de Janeiro:Editora Guanabara Koogan, 1993.
Série Apologética. Jundiaí: ICP_ Instituto Cristão de Pesquisas. 1 Ed.
           2002, Volumes I, II, IV e V.
SOARES, R. R.. Os falsos profetas. Rio de Janeiro:Graça Editorial,
           1985.
WELDON, John; ANKERBERG, John. Os fatos sobre os espíritos
           guias. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia-
           Noite, 1996.
_______Os fatos sobre a vida após a morte. Porto Alegre. Obra
              Missionária Chamada da Meia-Noite, 1997.



       O Espiritismo Kardecista prega a “boa-nova” de que “ninguém será condenado eternamente! Mais cedo ou mais tarde, todos, sem exceção alguma, seremos salvos! Um dia, todos atingiremos a perfeição moral e intelectual, e, então, viveremos felizes para sempre!” E, como alcançar essa tão desejada felicidade eterna com Deus (alvo este que, segundo o Kardecismo, não se atinge sem o nosso concurso, nem tampouco à parte de inúmeras reencarnações), constitui o que podemos chamar de O Evangelho dos Kardecistas, o qual está fundamentado em oito livros. Os adeptos dessa religião fazem ecoar em todos os rincões do mundo, que: “esse ensino não desdenha o sacrifício de Jesus, não colide com a razão, se harmoniza com a justiça de Deus, foi confirmado por espíritos superiores, e se calca nas palavras de Jesus Cristo”. O mentor dessa dogmática, cujo pseudônimo é Allan Kardec, chegou a dizer que “O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa” (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 109 Ed., 1994, p. 47). Porém, nestas linhas questiono o mérito dessas alegações. E o faço à luz da razão pura, sem, sequer, recorrer à Bíblia, como tira-teimas. Realmente, creio que a Bíblia é a infalível Palavra de Deus, mas não me valho dela neste livro. Sim, foge ao escopo deste trabalho, fazer apologias à Bíblia. E uma de minhas razões para isso, reside no fato de que, considerando que por ora me limito a trazer à baila as incoerências kardecianas, então o bom-senso nos basta.
                                                                                            O autor
1) Analisando a congregação cristã no Brasil; 2) Análise bíblica do catolicismo romano; 3) Análise da “cristologia” dos testemunhas-de-jeová;
4) A teoria da evolução à luz da Bíblia, da ciência e da razão; 5) A “Virgem” Maria é uma deusa?; 6) Evangelismo e discipulado; 7) Igreja Adventista do Sétimo Dia: que seita é essa?; 8) Igreja Messiânica: que seita é essa? 9) Igreja mórmon: que seita é essa?; 10) Lições soteriológicas; 11) O culto a Maria à luz da Bíblia e da História; 12) Pode um cristão ser maçom?; 13) considerando as doutrinas da Igreja Católica na Escola Dominical; 14) Sinopse escatológica em ordem cronológica; 15) Só 144.000 vão morar no céu? (Esgotado); 16) Testemunhas de Jeová __ que seita é essa?; 17) Transfusão de sangue não é pecado (Esgotado);

DADOS DO AUTOR
O autor pertence à Assembleia de Deus de Angra dos Reis/RJ e colou os seguintes graus de teólogo: 1) Bacharelado (livre); 2) Bacharelado (meciano); e 3) Mestre Honoris Causa. Ademais, é acadêmico de Letras, Professor de Teologia, conferencista, apologista da fé cristã, e autor de 18 títulos, dos quais, o presente livro é o décimo a vir a lume.