sexta-feira, 5 de junho de 2015

Livro: Lições soteriológicas, A Doutrina da Salvação à Luz da Bíblia



“Deus te criou sem ti, mas não te salvará sem ti” (Agostinho)

Do título deste compêndio se subentende que vamos discorrer sobre a Soteriologia Cristã, isto é, sobre a Doutrina da Salvação à luz da Bíblia. Por que “à luz da Bíblia”? Porque esta é a única Escritura Sagrada e oficial do Cristianismo clássico.

       A leitura destas lições pode levar os que ainda não entendem o Plano de Salvação esposado pela Bíblia a se refugiarem em Cristo antes que seja tarde demais; bem como pode ainda, habilitar os que já são salvos a evangelizar os perdidos com mais eficiência.


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SANTANA, Joel

Lições Soteriológicas

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SUMÁRIO


PRÓLOGO


       Do título deste compêndio se subentende que vamos discorrer sobre a Soteriologia Cristã, isto é, sobre a Doutrina da Salvação à luz da Bíblia. Por que “à luz da Bíblia”? Porque esta é a única Escritura Sagrada e oficial do Cristianismo clássico.
       A leitura destas lições pode levar os que ainda não entendem o Plano de Salvação esposado pela Bíblia a se refugiarem em Cristo antes que seja tarde demais; bem como pode ainda, habilitar os que já são salvos a evangelizar os perdidos com mais eficiência. Se você, pacientemente, nos conferir a honra de ler todas as lições aqui contidas, verá que a única e sólida base sobre a qual Deus se apoia para nos estender a mão, a fim de nos arrancar do Abismo, é o sangue de Jesus. E que, portanto, à parte do sangue de Cristo, Deus seria totalmente inoperante, no que diz respeito à nossa salvação.
       Como obtermos do único Salvador, a salvação da qual tanto carecemos, bem como, com notável eficiência, induzir outrem a também se esconderem em Jesus, único refúgio seguro, é o que nestas linhas empreendo.
       Jesus morreu para quê? Quando formulamos esta pergunta, muitos (católicos, evangélicos, ortodoxos, etc.) nos respondem prontamente: “Para nos salvar”. Mas, se perguntarmos o que tem a ver a morte de Cristo com salvação, veremos que não são poucos os que ficam sem saber o que dizer. Tal se dá porque a maioria dos cristãos sabe para que Jesus morreu, mas poucos entendem o porquê da morte do Senhor. Sabem para quê, mas ignoram o porquê. Estas lições, porém, objetivam responder de cadeira a estas duas interrogações.
       Neste livro (especialmente nas lições 1 e 2) provo que quando compreendemos com profundidade o Plano de Salvação do qual trata a Bíblia, chegamos à conclusão de que Deus não perdoa pecado. E é deste entendimento que decorre a verdadeira compreensão do porquê da morte de Cristo.
       Eu consigo perdoar aos meus ofensores sem ter que morrer numa cruz. Pergunto, pois: Por que Jesus não fez o mesmo? A resposta é que Deus, por ser justo, não pode deixar de punir o pecado. A crucificação de Cristo se deu então pela seguinte razão: O Deus que lavrou a nossa sentença por ser justo, cumpriu a pena em nosso lugar por ser amor. Ele não perdoou nossa dívida, mas pagou-a. Ele não perdoou os nossos pecados, mas castigou-os na Sua própria Pessoa. E devemos a nossa salvação exclusivamente a este recurso divino. E repito que é deste entendimento que nasce a verdadeira compreensão do porquê da cruz de Cristo. Sem compreendermos que Deus não perdoa pecado, facilmente prescindiremos do espetáculo da cruz do Calvário, julgando-o inclusive supérfluo.
       Não é difícil perceber que as lições elaboradas para a EBD __ Escola Bíblica Dominical – não abordam temas mais profundos, senão superficialmente. Deve-se isso ao fato de a Igreja ser heterogênea: letrados e iletrados; amantes da leitura e avessos aos livros, etc. Crê-se, pois, que a maioria dos membros da Igreja não está preparada para assimilar com profundidade os temas teológicos. Por isso, os assuntos mais complexos, bem como o aprofundamento dos mesmos, reservam-se às Faculdades Teológicas, sendo às vezes abordados na EBD de maneira mais concisa. Urge, pois, que todos os cristãos __ especialmente os que já passaram pela santa e maravilhosa porta da EBD __ anelem mergulhar mais fundo nas questões teológicas. E é com isso em mente que me dei à redação destas lições, ora disponibilizadas não só aos teologandos e teólogos, mas a todos os membros da Igreja, bem como aos que ainda não são salvos. Sim, “aos que ainda não são salvos”, pois este trabalho visa alcançar as almas perdidas, tanto direta quanto indiretamente. Diretamente, através da leitura deste livro; e, indiretamente, através dos fortes argumentos que a leitura este livro dará aos meus leitores.
       Este livro é singelo, e, concomitantemente, profundo. E isto porque este material, que pode ser usado sem dificuldade na EBD, nas Células, nos Cultos Domésticos, nos Grupos Familiares, nas Escolas de Líderes, etc., pode, também, ser usado nos institutos teológicos.
       É digno de nota que tratamos aqui de uma questão que todo crente precisa entender com profundidade __ a Doutrina da Salvação. É, sim, desejável que todo servo de Deus seja Doutor em Soteriologia. Assim pensavam os reformadores protestantes, que, por isso mesmo, enfatizavam em seus sermões o famoso moto das igrejas reformadas: Só a Escritura, só a graça, só a fé, só Cristo, e só a Deus glória! Ademais, é oportuno registrar que nenhuma especificidade pode prescindir da prática. E com a Teologia não é diferente, em nenhuma de suas especialidades. Com efeito, um Tratado Soteriológico __ o presente texto não tem a pretensão de sê-lo __ não se substancia sem que o autor do mesmo saiba, por experiência própria, o que é ser reconciliado com Deus. Quem discorre sobre a Doutrina da Salvação, sem estar de posse do perdão dos seus pecados, é um teórico que se assemelha a um papagaio, já que também fala do que não entende, visto que o seu conhecimento acerca do assunto sobre o qual disserta, não é empírico. E isso faz grande diferença. Muitos perdidos pensam que são salvos, mas os salvos têm certeza. . Isso porque salvo não é aquele que pensa que o é, mas sim, aquele que sabe que o é. (E somente a própria salvação, dá certeza de salvação).
       A consciência de salvação da qual falo não é um saber puramente intelectual, mas também, e principalmente, experimental. Um saber ideológico calcado tão-somente no intelecto, é meramente filosófico e, portanto, subjetivo. Entretanto, pelo menos para os que se relacionam pessoalmente com Deus, este relacionamento não é subjetivo. Não creio que sou salvo, sei que o sou. E não sei que sou salvo, porque creio nisso, mas sim, porque o sei por experiência própria, pois a salvação pode ser sentida literalmente, como se sente sede, fome, frio, calor, saudade, sono, cansaço, tristeza, ira, alegria, dor... Quando senti “a alegria da salvação” pela primeira vez, parecia até que eu ia morrer de felicidade. Contei, então, a um irmão, o que estava acontecendo, e lhe perguntei: “Isto é normal? Todos os crentes sentem isso?” Ele me garantiu que sim. Então me pus a ler a Bíblia, na esperança de encontrar nela alguma explicação para o gozo inexplicável que enchia todo o meu ser. Foi quando me deparei com Ed 3.13; Ne 12.43; Sl 16.11; 51.12; Lc 1. 15b, 44; 24.52; 1Pe 1.8, e outros textos correlatos. Estes trechos me levaram a concluir: Está explicado! Era Aquele que fizera João Batista saltar de alegria no ventre de sua mãe, que agora estava me “matando” de felicidade! Seu nome? Espírito Santo. Compreendi que em Lc 1.15b, temos uma predição angelical, segundo a qual, o precursor do Messias seria cheio do Espírito Santo desde antes de nascer; e no versículo 44 deste mesmo capítulo, temos o registro do cumprimento da dita profecia. E, sendo assim, concluímos que é o Espírito Santo quem produz a inexplicável alegria que nós, os salvos, sentimos. Todavia, que o Espírito Santo gera alegria nos que o têm, não é uma suposição, ou uma interpretação subjetiva, visto estar escrito com todas as letras. Por exemplo, Lc 10.21 diz que Jesus se alegrou “no” [ou “pelo” ] Espírito Santo”. Além disso, em Jo 14.16 Jesus chama o Espírito Santo de Consolador (ARC __ Almeida Revista e Corrigida). Ora, a alegria produzida pelo Espírito Santo, é, obviamente, um consolo, o que justifica o Seu cognome de Consolador. O consolo que dEle recebo, me convence que Ele é, realmente, o Consolador. Isto significa, que embora este livro seja mais fruto de meu dia-a-dia com Deus, do meu encontro pessoal com a Trindade Santa, do roçar da orla do vestido do Senhor na minha face, do meu arrostar com o Pai..., do que de minhas pesquisas teológicas, o mesmo não está, contudo, fundamentado apenas num empirismo místico, sem embasamento bíblico.
       Com o respeitável leitor, Lições Soteriológicas!
                                                                                        O autor



LIÇÃO 1

 

DEUS NÃO PERDOA PECADO  I



INTRODUÇÃO
       Embora, o título da presente lição seja, deveras, inusitado (ainda mais por ser de autoria de um Pastor evangélico), tem os seguintes objetivos: 1) fazer com que os que já são salvos se convençam mais ainda, que, para não perecerem, dependem de Cristo e Sua cruz, visto que o sangue de Jesus é a única ferramenta que o Pai usa na confecção da nossa salvação; 2) alertar os que se auto justificam - sob pena de continuarem condenados, caso não se retratem -, que só o sangue de Jesus pode salvá-los; 3) habilitar os que já são salvos, a evangelizar com mais eficiência, pregando o que chamo de mensagens ensanguentadas (isto é, sermões que expliquem o porquê da morte de Jesus), pois só sermões assim, podem (a meu ver) ser reconhecidos como verdadeiramente evangelísticos.
       Se você, pacientemente, me conferir a indulgente honra de apreciar toda esta lição, verá, ao concluir a leitura da mesma, que este autor não nega a verdade bíblica de que Deus é perdoador; antes, defende que a sólida base sobre a qual Deus se apoia para nos estender a mão e nos arrancar do Abismo, é o sangue de Jesus. E que, à parte do sangue de Cristo, Deus não tem como nos salvar.
       O objetivo desta lição é contribuir para a compreensão da justiça de Deus no Evangelho (Rm 1.16,17), para que não se pense que Deus transige com o pecador. Saliento que precisamos entender em que consiste o perdão. E é quando chegamos a este patamar da compreensão do mistério de Deus encerrado no sangue de Jesus (mistério este, exposto, aclarado e desvendado neste livro), que passamos a entender porque Deus só perdoa pecado à base do precioso sangue vertido na cruz.
       Se eu lhe fizer uma ofensa, e depois me arrepender e lhe suplicar o perdão, você terá que morrer numa cruz para me perdoar? Claro que não, não é mesmo? E, por que Jesus não fez o mesmo? Por que Jesus não conseguiu nos salvar sem passar pelas torturas do Calvário? É isso que vou explanar neste livro. Sim, o porquê da cruz de Cristo, e não somente o para quê da Sua cruz, será desenvolvido ao longo desta obra. Este livro expõe o porquê da morte de Cristo.

I. Deus não perdoa pecado

       Muitos pensam que Deus é tão bom, que por maior que seja o pecado, se o pecador se arrepender e pedir perdão, Deus o perdoará. Mas a verdade solene é que a Bíblia diz que Deus é tão justo, que não perdoa nem mesmo o menor dos pecados, por mais que o pecador se arrependa e peça perdão. É inútil arrepender dos pecados, chorar, pedir perdão, se regenerar, espernear, implorar misericórdia a Deus, etc. O pecado é, na opinião de Deus, uma dívida que não pode deixar de ser paga em hipótese alguma. Segundo o infalível parecer de Deus, perdoar um pecador (mesmo estando o pecador arrependido) é tão errado quanto punir um inocente. E o porquê disso é que Ele é justiça e santidade. Com afeito, a Humanidade entrou num beco tão sem saída, que dele não se sai nem mesmo pela entrada. Em outras palavras, o ser humano tornou-se irremediavelmente perdido! Que poderá o homem fazer para se salvar? Nada, é a resposta honesta, pois tudo quanto fizermos será ineficaz. Nenhuma de nossas tentativas para sairmos do estado de perdição eterna, no qual nos metemos lá no Éden, mudará o nosso destino. Nenhuma ação humana, objetivando a neutralização da condenação eterna, à qual fomos sentenciados por Deus desde o Éden, surtirá o efeito desejado. Perdemos na instância suprema. O pecado, por menor que ele nos aparenta ser, é, na ótica divina, crime hediondo, e recebe sentença à altura de seu mérito, a saber, a irrecorrível e irrevogável sentença de tormento eterno no inferno. Deus entende que é pecado perdoar pecado. Sim, segundo Deus, perdoar pecado é injustiça, posto tratar-se de impunidade, e, portanto, algo contrário à Sua natureza. E salta aos olhos então que não há mais jeito para nós. Agora, é inferno ou inferno.

II. Há esperanças para nós!

       Apesar da estarrecedora verdade acima exposta, nem tudo está perdido! Ainda nos resta uma esperança! Há uma possibilidade de não irmos para o inferno, visto que Deus, por ser amor, concebeu um plano para mudar a nossa sorte! O dito plano, longe de ferir a justiça de Deus, se harmoniza com a Sua santidade. O referido plano não consiste em fazer vista grossa aos pecados do pecador arrependido, pois já deixei claro que Deus, por ser justo e santo, não pode perdoar a nossa dívida. Ele não pode abrir mão de Sua justiça e santidade. Como já vimos, Deus não transige com o pecador. Mas, em que consiste então o mencionado plano? Resposta: Em dar-nos um substituto; e Jesus o é. Todos os que apelam para o sacrifício substitutivo que Jesus efetuou na cruz, ficam, na hora, não só quitados para com a justiça divina, mas também inocentados, e, por conseguinte, absolvidos. Realmente, na opinião de Deus, as dívidas dos verdadeiros cristãos não foram perdoadas, mas pagas por Jesus. Sim, os pecados dos que recorrem a Jesus, não foram perdoados, mas castigados na Pessoa de Jesus. Faça disso a sua única tábua de salvação, agora, e saia da condenação neste exato momento (Rm 8.1; Jo 3.16; Lc 23.43). Aquele, cujos pecados foram punidos em Jesus, é reconciliado com Deus num nível tal, que Deus, sequer o vê como perdoado, mas sim, como um inocente que nunca cometeu um só pecado em toda a sua vida. A quitação mediante o sangue de Jesus não deixa saldo devedor na conta do quitado, nem tampouco lembranças na memória de Deus (Hb 10.17).
       Quando Adão e Eva caíram em pecado lá no Éden, eles e nós, seus descendentes, nos tornamos irremediavelmente perdidos. Mas Jesus, nosso único Advogado, recorreu da decisão, entrando com um recurso imbatível - a substituição; e Ele o fez na cruz. O argumento que o Dr. Jesus apresenta em defesa dos seus clientes é fortíssimo - o Seu precioso sangue vertido no lenho por nós!
       Na Bíblia há parábolas, alegorias, metáforas, símiles, e outras expressões simbólicas. Por isso, quando dizemos que Cristo nos substituiu na morte e no sofrimento, muitos pensam que essa substituição não deve ser entendida ao pé da letra. Creem tratar-se de um termo figurativo, e não literal. Mas é ledo engano. Jesus é o nosso substituto na verdadeira concepção deste termo. O que o leitor entende por substituto? Qual o significado desta palavra no nosso vernáculo? Pois é isso que Cristo é, em relação a nós. Ele é nosso substituto. O que você entende por substituição? Pois é isso que Cristo fez por nós na cruz (1Pe 2.24). Que Cristo nos substituiu literalmente na cruz, é a verdade nua e crua, sem qualquer retórica, figura de linguagem, e simbolismo. Cristo é o nosso substituto, e, neste caso, substituto significa substituto. O que você entende por substituição? Pois é isso que Cristo fez por nós na cruz. Isso não é parábola! Isso não é metáfora! Isso não é alegoria!

III. Considerando três equívocos soteriológicos

       Muitos vão para o inferno porque ignoram o Plano de Salvação. Não sabem o porquê da morte de Jesus. Os tais se subdividem em pelo menos três grupos, que, de per si, pensa mais ou menos assim: Primeiro grupo: “Deus é justo, e nós somos miseráveis pecadores. Logo, não há jeito para nós. Estamos irremediavelmente perdidos”. Já encontrei várias pessoas que pensam assim, mas estes morrem de sede dentro de um caudaloso rio __ o rio da salvação pelo sangue de Jesus!. Segundo grupo (falo com minhas palavras): “No final, ninguém será condenado eternamente, visto que Deus, por ser um Pai bondoso, dará um jeitinho”. Há até algumas religiões (Espiritismo kardecista, Legião da Boa Vontade, diversas seitas universalistas, etc.) ensinando algo equivalente a isso. Mas como estão enganados! Aquele que não deu um jeitinho nem para o Seu Filho, antes o entregou por nós (Mt 26. 36-46), vai dar jeitinho na nossa situação? Não! Deus dá jeitão, não jeitinho! E quem se valer do jeitão de Deus, será salvo; mas quem o negligenciar, será condenado (Mc 16.15-16), visto ter desdenhado o único recurso salvífico - o sangue de Jesus. Terceiro grupo: Creem que podem salvar-se a si mesmos, suportando com paciência as vicissitudes da vida, e praticando boas obras. Estes não creem que Jesus morreu para pagar a nossa dívida; pelo contrário, pensam que o sacrifício de Jesus foi apenas uma aula com audiovisual sobre o amor. Isto é, creem que ao suportar a morte de cruz sem odiar e revidar, Jesus estava como que dizendo à Humanidade o seguinte: “Siga meus passos! Faça como eu! Pague o mal com o bem! Ame a Todos sem distinção, e vocês serão salvos!” Entretanto, nada está mais longe da verdade! A Bíblia deixa claro que a razão pela qual Jesus morreu é: Porque o homem é pecador, e Deus é justo, nos tornamos irremediavelmente perdidos. Então Jesus desceu do Céu para cumprir a pena em nosso lugar.

                                                    ***
       Lamento dizer, mas os integrantes dos três grupos acima mencionados estão correndo sério risco de irem para o inferno, visto que estão rejeitando o único recurso deveras salvífico, do qual a Bíblia é um tratado - Jesus crucificado e ressuscitado (Lc 7.50; 19.9; Jo 14.6; At 4.12; Rm 4.25; Ef 2.8-10; 1Co 1.18; 15.2 etc.).

IV. Deus perdoa, ou não perdoa?

       Vejamos abaixo mais luz sobre esta questão.

4.1. Deus não perdoa, mas “perdoa”

       Nós, os evangélicos, realmente cremos que Deus perdoa pecado, pois a Bíblia o diz claramente e sem arrodeio (Is 55.7; Mt 6.12; Mc 2.5; Sl 103.3, etc.). Mas entendemos que, neste caso, perdão é um termo simples que designa a mudança de relacionamento que se dá entre Deus e o pecador, quando este se vale do sacrifício de Jesus. Há registro de vários casos similares nas páginas da Bíblia. Por exemplo, está escrito, como já vimos, que Deus se esquece dos pecados por Ele perdoados (Mq 7.19; Hb 10.17). Naturalmente, neste caso, entendemos que esse esquecimento é conotativo, ou seja, não deve ser interpretado ao pé da letra, e sim, como uma força de expressão, intuindo salientar a perfeição do perdão. Esta palavra (refiro-me à palavra “perdão”), por sua vez, também não pode ser entendida fora do âmbito da especificidade teológica, nem tampouco, à parte da especialidade soteriológica. Neste sentido, nada mais é que um dos nomes que a Bíblia dá à mudança de relacionamento que ocorre entre Deus e o pecador, quando este apela para o sangue de Jesus, isto é, quando reivindica (digamos assim) a sua absolvição à base do pagamento efetuado por Cristo, na cruz. Esta interpretação que acabo de apresentar sobre os verbos perdoar e esquecer, nos casos em questão, tem que estar certa, por duas razões: 1ª) se o esquecimento em questão fosse literal, Deus seria portador de amnésia. Logo, o que Hb 10.17 está dizendo, é que em Cristo Deus nos dá um “perdão” tão perfeito, que até se “esquece” dos nossos pecados; 2ª) ainda sobre a palavra perdão, observo que se Deus, para nos perdoar, exigisse apenas fé, arrependimento, conversão e regeneração, Jesus teria morrido em vão. Logo, Deus exige tudo isso, mas não se dá por satisfeito só com isso. E o porquê disso reside no fato de que em nenhuma dessas coisas, e nem mesmo no conjunto delas, há qualquer valor salvífico. Valor salvífico só se encontra no Calvário, já que só nele o pecado foi punido na Pessoa do nosso substituto. Só nele, se pagou a dívida do pecador. Só nele, um o Justo sofreu no lugar dos injustos. Só nele se deu plena satisfação do pecado à justiça divina.
       O leitor certamente notou que aspei, no parágrafo imediatamente acima, as palavras perdão e esquece. Porém, não o faço para subestimar o perdão, mas sim, para salientar que o perdão de Deus em Cristo, é diferente do perdão na ótica humana. Em termos humanos, perdoar é decidir não punir o crime. Já em termos soteriológicos bíblicos, Deus nos “perdoa” punindo o nosso crime. Ele castiga o nosso pecado em Si mesmo, ou seja, em Sua própria Pessoa, sendo castigado em nosso lugar. Ele “anulou” a nossa sentença, cumprindo a pena em nosso lugar. Deste modo, o perdão não é mera decisão em não punir o pecado do pecador arrependido; antes, refere-se ao árbitro divino de eximir o pecador, da devida punição, punindo o seu pecado, na Pessoa de seu substituto, que, no caso, é a Pessoa do próprio Deus (2Co 5.19). É isso que esta última referência bíblica quer dizer, quando nos diz que “[...] Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo [...].” Então, o que ocorre, é muito mais pagamento da dívida, do que perdão da dívida. Ou ainda, longe de ser uma impunidade, é a rigorosa punição do pecado, mas sempre na Pessoa do substituto do cristão, que, como já sabemos, é o próprio Deus. Sendo assim, embora não seja errado dizer que Deus perdoa pecado, muitos cometem o erro de dizerem que Deus perdoa, sem saber o que estão dizendo. Falam sem conhecimento de causa, como o fazem os papagaios. Até mesmo quando sustentei acima que “Ele ‘anulou’ a nossa sentença, cumprindo a pena em nosso lugar”, tive que aspar anulou, visto que, a rigor, cumprir pena em lugar de alguém, não é anular a sentença desse alguém, e sim, ser passivo da execução da sentença. Isto significa que dizer que Deus anulou a nossa sentença, sem conhecimento de causa, é tão errado quanto afirmar que Deus perdoou os nossos pecados, sem entender o porquê da cruz de Cristo, ou seja, sem compreender o motivo pelo qual a morte de Jesus é imprescindível no processo da salvação.
       É verdade que Deus nos perdoa perfeitamente em Cristo (Hb 7.25; 1Jo 1.7,9), mas isto só é possível porque Jesus pagou o preço. A fé, o arrependimento, a conversão, a obediência, etc., são condições impostas e indispensáveis para obtermos o perdão, mas não são a causa meritória da nossa salvação. A causa meritória da nossa redenção é o fato de Jesus ter sido literalmente condenado em nosso lugar. E isto é coerente, porque (repito) se Deus, para perdoar o pecador, exigisse apenas fé, arrependimento, pedido de perdão, regeneração, conversão... Jesus Cristo teria morrido em vão. Este argumento pode parecer ilógico aos que, longe de verem na morte de Jesus um ato substitutivo, pensam que a mesma é apenas uma aula, com exemplos, sobre o amor. Repito, porém, que a Bíblia deixa claro que a razão pela qual Jesus morreu é: O homem é pecador e Deus é justo, por cujo motivo fomos devida e irreversivelmente sentenciados ao sofrimento eterno, o que nos tornou irremediavelmente perdidos. Então o Senhor desceu do Céu para cumprir a pena em nosso lugar. E devemos a nossa salvação exclusivamente a este gesto do Senhor Jesus. É por isso que Jesus é o Salvador. Ele não salva com Sua Palavra, nem tampouco com Seus exemplos, mas com Seu sacrifício expiador. Se Ele fosse apenas o Grande Mestre que é, não poderia nos salvar, visto que Deus exige que a dívida que contraímos seja paga. Mas graças a Deus, Jesus, além de Grande Educador, é, também, o nosso “Cordeiro” Pascoal ou o nosso “Bode” expiatório. Logo, a morte de Jesus é, sim, um ato substitutivo. E ai de nós se a morte de Cristo não fosse uma substituição.

4.2. Deus nunca perdoou, mas sempre “perdoou”

       Talvez você esteja a se perguntar: “Se não há salvação à parte da morte substitutiva de Jesus, como se salvaram os que morreram antes dEle morrer por nós?” Resposta: Eles se salvaram pelo sangue que no futuro seria derramado por eles, assim como nós, servos de Deus da atualidade, somos salvos pelo sangue que no passado foi derramado por nós. Eles foram comprados a crédito. Foi como se Cristo passasse um cheque pré-datado, a ser compensado quando Ele viesse ao mundo prover os fundos. E Ele os proveu ao morrer na cruz por nós. Os que morreram salvos antes da morte de Cristo, olhavam para a frente; o ladrão retratado em Lc 23.43, olhou para o lado onde Jesus agonizava por nós; e nós, servos de Deus da atualidade, ou seja, os servos de Deus pós calvário, olhamos para trás. Mas os nossos olhares convergem, sem exceção, para a cruz de Cristo, visto que dela, e só dela, procede a reconciliação com Deus! Dela, e só dela, advém a vitória para todos nós.
       Seria correto o seguinte paradoxo: Deus nunca perdoou, não perdoa, e jamais perdoará; mas sempre “perdoou”, ainda “perdoa”, e por muito tempo prosseguirá “perdoando” (Is 55.6). (O leitor deve ter observado que grafei o verbo perdoar de duas maneiras: com aspas, e sem aspas. O porquê disso, também já está claro, segundo me consta, visto que já expliquei isso em 4.1). Quero dizer com isso que Deus perdoa em Cristo (Ef 4.32), e que Ele não perdoa fora de Cristo (At 4.12). Mas, que é perdoar em Cristo? Não é o que muitos pensam. Geralmente pensa-se que Deus simplesmente arbitra, como o faz um Juiz, e pronto. Mas a verdade é outra. A justiça e a santidade de Deus não permitem que Ele aja dessa maneira, como já sabemos. Se Ele fizesse isso, que seria de Sua justiça e santidade? Ademais, poderíamos até intitular isso de perdão, mas não de perdão em Cristo. Na locução perdão em Cristo, está embutida a ideia da quitação para com Deus, mediante o pagamento efetuado por Cristo, e nem de longe sugere uma arbitração divina. Se Deus tivesse nos perdoado arbitrariamente, à revelia da Sua justiça e santidade, não haveria porque chamar isso de perdão em Cristo. Perdão em Cristo por quê? Perdão é uma coisa, e perdão em Cristo é outra bem diferente. Portanto, à pergunta: “que é perdoar em Cristo?”, podemos dar as seguintes respostas: 1) Deus se vale ou se serve do sacrifício de Cristo para não punir o pecador que se converte; 2) por ter Cristo cumprido a pena em nosso lugar, a justiça e a santidade de Deus não são afetadas quando Ele (Deus) absolve os que creem no Seu Filho; 3) Deus considera como rigorosa e devidamente punidos, os pecados dos que, com os seus corações compungidos, apelam para o sacrifício vicário efetuado por Jesus; 4) perdão em Cristo é o mesmo que perdão via Cristo, perdão através de Cristo, perdão mediante Cristo.
       Por perdão mediante Cristo deve-se entender que Cristo é o Mediador (Medianeiro ou Intermediário) do perdão. E, como sabemos, foi na cruz que Cristo se pôs entre Deus e nós, pleiteando com Seu sangue a nossa absolvição. Logo, o perdão que sai de Deus com destino ao pecador é via Calvário. Ora, isso é diferente de tudo que, em termos humanos, conhecemos por perdão. O perdão através de Cristo não foi dado de mão beijada, ou servido de bandeja, mas vendido por Deus, comprado e pago por Jesus, e presenteado aos que arrependidos creem na eficácia do pagamento efetuado por Jesus na cruz. Logo, embora Deus não possa dar ao pecador arrependido e convertido à fé cristã, aquilo que nós, seres humanos, conhecemos pelo nome de perdão, pode, contudo, nos considerar quitados para com a Sua justiça, mediante o pagamento efetuado por Jesus, e, consequentemente, nos reconciliar consigo. E é a esta reconciliação com Deus, através da quitação da dívida, mediante o pagamento efetuado por Jesus, que a Bíblia chama de perdão. Logo, o que, neste caso, a Bíblia chama de perdão, não é o que, geralmente, conhecemos por este nome. Por exemplo, quando o motivo pelo qual Fulano não deve mais nada a Sicrano, é porque Beltrano pagou a Sicrano o que Fulano devia, não dizemos que Sicrano perdoou a dívida de Fulano. Mas a Bíblia o diz. Sim, embora nós, os cristãos, devamos a quitação da nossa dívida ao pagamento efetuado por Jesus, a Bíblia diz que Deus perdoou a nossa dívida (Mt 6.12a). Perdão de dívida e pagamento de dívida são termos diametralmente opostos e mutuamente excludentes (ou seja, uma coisa elimina a outra) em termos humanos, mas não em termos teológicos. No âmbito da especificidade teológica, mais incisivamente no da especialidade soteriológica, estes termos (dependendo do contexto) não são incompatíveis. Por que isso? É que embora o Fulano, o Beltrano e o Sicrano supracitados, sejam distintos, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, são, contudo, da mesma essência, transfundindo entre si de uma forma transcendental (isto é, que vai além das fronteiras da razão humana) e constituindo uma só Divindade. Deus é tanto Uno, quanto Trino. É Trino quanto às personalidades que o constituem, e Uno quanto à Divindade. Ou seja, as Pessoas que compõem a Deidade, são em número de três, e são igualmente Divinas, mas não há três Deuses, e sim, um único Deus. A Divindade é, pois, unidade composta, e não absoluta. Não é impróprio, portanto, dizer que Deus, por ser justo, lavrou a nossa sentença; e que, por ser amor, cumpriu a pena em nosso lugar. Deste modo, não temos aqui, nenhum Beltrano pagando ao credor Sicrano, a dívida de Fulano; mas sim, o próprio credor pagando a dívida do seu devedor inadimplente. É como se um banqueiro depositasse na nossa conta bancária, um valor capaz de saldar nosso débito junto ao Banco de sua propriedade, do qual somos clientes. Nesse caso, tanto seria correto dizer que o dito banqueiro perdoou a dívida, como também dizer que o mesmo pagou a dívida. Similarmente, podemos asseverar que Cristo pagou nossa dívida, como também podemos afirmar que Cristo perdoou a nossa dívida, se por “perdoou” entendemos a quitação da nossa dívida, mediante o pagamento por Ele efetuado. Nós somos o Fulano que mais nada deve a Sicrano (justiça divina), visto que Beltrano (o Deus contra o qual pecamos) pagou a nossa dívida, sofrendo como Deus-homem em nosso lugar, no alto da rude cruz que se erigiu no cimo do Gólgota! Ali, Deus creditou no Seu próprio “banco” a importância que Lhe devíamos, isto é, sofreu em Seu próprio Ser as consequências dos nossos pecados. E, por tudo isso, fica mais que claro que quando a Bíblia diz que Deus perdoou a nossa dívida, está se referindo a algo bem diferente de tudo que, nos relacionamentos humanos, conhecemos pelo nome de perdão. E é por isso que afirmo que Deus não perdoa pecado. O perdão que Deus nos dá não é o que, em termos humanos, conhecemos entre nós por este nome. Temos, nestes casos, um homônimo, isto é, coisas diferentes, com o mesmo nome. É algo similar ao que se dá com a palavra manga, que, dependendo da frase, pode significar a parte do vestuário por onde se enfiam os braços, ou o fruto da mangueira, ou ainda, o presente do indicativo do verbo mangar, sinônimo do verbo debochar. Logo, eu como manga, mas não como manga. E não há nisso qualquer contradição. É que, como manga (fruto da mangueira), mas não como manga (de camisa, paletó, casaco, etc.). Aclarando: Deus nos dá aquilo que Ele chama de perdão, mas Ele não nos dá aquilo que nós chamamos de perdão. Ele veio até nós, cheio de ternura, nos oferecendo salvação, e isso é perdoar; mas Ele não fez isso sem satisfazer as exigências da justiça que lhe é inerente. Ou seja, Ele não recorreu a transações escusas, mas sim, a trâmites legais e a expedientes mais que justos e morais: Houve julgamento, sentença, e execução da pena, já que Ele nos julgou, nos condenou, e aceitou ser condenado em nosso lugar.
       Deus, em Sua Majestade, nada pode fazer por nós, míseros pecadores, senão nos julgar, lavrar a nossa sentença, e executá-la; logo, temos nEle um inimigo. E quão grande é este inimigo! Como livrarmo-nos dessa onipotência totalmente adversa a nós? Resposta: Escapar-nos-emos de Suas garras se conseguirmos um defensor da mesma envergadura que Ele, ou seja, também onipotente. Livrar-nos-emos dEle, se conseguirmos um refúgio nada menos poderoso do que Ele, e, portanto, capaz de nos pôr a salvo de Sua fúria. E este refúgio existe, e se chama Jesus, o qual exerceu os poderes Legislativo (sim, Ele é o dador da Lei, pois é, com o Pai e o Espírito Santo, constituinte do Deus Trino), Judiciário (Ele nos julgou e nos condenou) e Executivo (Ele executou a nossa sentença em Si mesmo). Este último ato confere-Lhe poderes Advocatícios (Ele nos advoga à base do Seu sacrifício na cruz). Sim, Jesus, como Juiz, nos julgou e nos sentenciou; como Executor, executou a nossa sentença no Seu próprio Ser, substituindo-nos na cruz; e como nosso Advogado, apresenta em defesa de seus clientes, o álibi de que o nosso pecado já foi castigado nEle. Portanto, agora temos como escaparmos de Sua fúria contra nós, a saber, fugindo dEle, correndo em direção a Ele e escondendo dEle, nEle. Fujamos, pois, de Deus, correndo em direção a Ele; e escondamo-nos dEle, nEle. E, feito isso, digamos com júbilo: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1); “SENHOR, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração” (Sl 90.1). Temos, pois, em Cristo, um Parceiro do tamanho do Adversário, visto que o próprio Cristo os é (sim, “os é”, já que Ele é, ao mesmo tempo, nosso Inimigo [e que Inimigo!] e amigo [e que Amigo!]; um Refúgio do tamanho do Perigo, já que embora infinita seja a Sua justiça que nos é adversa, infinito é, também, o peso da substituição que Ele efetuou na cruz. Sim, Jesus é um Refúgio do tamanho do Perigo, considerando que o perigo advindo do nosso crime de lesa majestade (que é o pecado) contra a Sua Majestosa Divindade, não é capaz de transpor a fortaleza da substituição efetuada pela própria Divindade, por nós lesada. Temos um Refúgio seguro, já que a Divindade vestiu-se de humanidade, tornando-se Deus-Homem, viabilizando assim a expiação que Ele efetuou no Calvário. Ele não deu um jeitinho no problema, mas eliminou-o. Ele não deu um perdão irresponsável, mas expiou os nossos pecados na cruz. E é oportuno registrar que o nosso saudoso dicionarista Aurélio fez constar que no nosso vernáculo, expiar significa “remir (a culpa) cumprindo pena; pagar; sofrer as consequências de.”
       Deus não só nos deu um substituto, mas deu-se-nos em substituição. Ou seja, Ele não transferiu para terceiro, a missão de nos salvar, mas Ele mesmo nos salvou, com o sacrifício de si próprio. Tal se dá, porque (como já vimos) Jesus, embora distinto do Pai e do Espírito Santo, constitui, com aqueles, uma só divindade.

4.3. Deus perdoa o pecador, não o pecado

       A afirmação acima, que deu título a este tópico, tem tudo a ver com o que já dissemos nos tópicos precedentes. Esta epígrafe traz no seu bojo a ideia de que nós, os pecadores, só podemos ser absolvidos, mediante o castigo aplicado sobre Jesus, nosso substituto (Is 53.5). A nossa dívida para com Deus só pode ser dada por quitada, por meio do pagamento que Jesus efetuou na cruz. Logo, sempre houve como absolver o pecador do Inferno (pelo sangue de Jesus), mas nunca houve como livrar Jesus da cruz, e, ainda assim, nos salvar da perdição eterna. Ou Cristo, ou o pecador, tem que ser punido inevitavelmente. Nenhum membro da Santíssima Trindade, ou ainda a própria Trindade, é capaz de realizar o milagre da nossa salvação, sem a cruz de Cristo. Sim, reverentemente declaro que Deus, por ser justiça e amor ao mesmo tempo, se viu como que num beco sem saída: como não punir o pecador, já que sou justiça? E como não salvá-lo, já que sou amor? “A cruz de Cristo!”, foi a resposta retumbante. Sim, é impossível a um justo juiz (e Deus o é) absolver um réu deveras culpado (e nós o somos), sem fazer injustiça. Absolver os que não são inocentes, é impunidade. E, obviamente, não se pode esperar isso de Deus. Isso seria tão errado quanto punir um inocente. Mas a cruz de Cristo resolveu o problema de Deus; e é disso que o apóstolo Paulo falava, quando disse:

Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus (Rm 3. 24-26. Grifo nosso).

       Deus não tem dificuldade alguma em ser justo, pois a justiça lhE é inerente. Mas ser justo e justificador de pecadores ao mesmo tempo, foge das Suas alçadas, visto que Ele não pode negar-Se a Si mesmo (2Tm 2.13b). Contudo, o sangue de Cristo tirou-o dessa situação embaraçosa. O sangue de Jesus resolveu o problema de Deus. E a solução do problema de Deus é a solução do problema do pecador. O problema de Deus é nos absolver sem prejuízo de Sua justiça, e o problema do pecador é a necessidade de absolvição. Ora, por ser a cruz de Cristo a solução do problema de Deus, então Deus já resolveu o Seu problema, pois já dispõe de um recurso capaz de nos absolver, sem que Ele tenha que abrir mão de Sua justiça e santidade. Logo, a cruz de Cristo é, também, a solução, em potencial, de nosso problema, o qual permanecerá só até que recorramos a ela. Logo, agora só depende de nós! Sim, está perdoado, todo aquele, cujo pecado, já foi castigado em Cristo; e esta é a sorte do cristão.
       Se alguém quisesse tachar Deus de injusto, acusando-O de impunidade, Ele poderia se defender, alegando em Sua defesa que perdoou o pecador, mas não perdoou o pecado.

4.4. A segurança que provém da cruz

       Sem a cruz de Cristo seríamos condenados inevitavelmente, pois seria, na ótica divina, uma injustiça nos absolver. De igual modo, se recorrermos à cruz de Cristo, seremos salvos inevitavelmente, pois é injusto condenar os que se põem à sombra do Calvário. Logo, a mesma justiça que impossibilitou Deus de absolver os sem-cruz, O impossibilita de condenar os com-cruz. Deste modo, a salvação do cristão está tão garantida quanto a perdição do não cristão, pois têm a mesma base __ a justiça divina. Deus, por ser justo, tem que me punir, já que é isso que eu mereço; e, pela mesma razão, não pode me condenar, pois tenho quem foi condenado em meu lugar na cruz __ Jesus.

4.5. Recorrermos a Cristo __ condição sine qua non

       Deus não pode perdoar o pecador que não se converte ao Evangelho, já que este não está à sombra do Gólgota. Tal se dá, porque Jesus é o pão que tem que ser comido; a água que tem que ser bebida; o caminho que tem que ser percorrido; Advogado que tem que ser ajustado; Senhor que tem que ser servido e obedecido; Mestre, do qual temos que ser discípulos; Benfeitor que tem que ser louvado; refúgio, no qual se deve refugiar impreterivelmente; Deus, que tem que ser adorado e cultuado, etc. E se não nos enquadrarmos nestas condições impostas, seremos condenados. Embora a submissão a estas condições não nos confira, por si mesma, qualquer mérito salvífico, são, contudo, condições impostas; e, quando satisfeitas, Cristo nos confere os méritos que advêm da Sua cruz, pelos quais somos reconciliados com Deus.

4.6. Justiça e amor juntos __ eis o porquê da cruz

       Se Deus fosse somente justiça, Jesus jamais morreria por nós, antes, lançando-nos no Inferno, daria o problema por resolvido; igualmente, se Deus fosse somente amor, não haveria necessidade de Jesus morrer por nós, visto que, nesse caso, Deus poderia nos perdoar, exigindo para tanto apenas arrependimento, conversão, regeneração e o pedido de perdão. Logo, a salvação é filha da Cruz e neta do casal Amor e Justiça. A nossa salvação tem por genitor o Gólgota, e por progenitores, o amor e a justiça de Deus. Foi por entender muito bem esse arranjo divino, que o autor do hino 18, constante do cancioneiro dos assembleianos, intitulado Harpa cristã, disse:

Luz divina, resplandece!
Mostra ao triste pecador,
Que na cruz estão unidos
A justiça e o amor.
(Harpa cristã, hino 18, grifo nosso).

4.7. Deus perdoa tanto o pecado, quanto o pecador

       A rigor, podemos lançar mão dos seguintes paradoxos: a) Deus não perdoa o pecado, nem tampouco o pecador, pois tanto o pecador convertido à fé cristã, quanto os seus pecados, não foram perdoados, mas sim, rigorosamente punidos na cruz de Cristo. Nós e nossos pecados fomos castigados na Pessoa do nosso substituto __ Jesus; e b) desde que o digamos com conhecimento de causa, é correto dizer que Deus perdoa, tanto o pecado (Mt 6.12,14), como o pecador (Mt 9.2; 18.27; Ef 4.32; 1Jo 1.9). Aclarando: É porque o pecado foi punido na cruz, que o pecador pode ser absolvido. Aliás, em Soteriologia bíblica, a expressão perdoar o pecado, não tem diferença de perdoar o pecador, pois ambas retratam a absolvição que nos é conferida por Deus, mediante o fato de Jesus ter morrido por nós. Certamente ninguém ignora que é impossível perdoar um crime, sem perdoar o criminoso, já que um delito só pode ser punido na pessoa do infrator, bem como só pode ser perdoado na pessoa do delinquente. Todos os falantes da nossa língua entendem que dizer que o erro de fulano foi perdoado, é o mesmo que afirmar que fulano foi perdoado. Portanto, o exótico título desta lição, assim como todo o seu desenvolvimento, não teria razão de ser, se as pessoas não tivessem tantas dificuldades para entender o porquê da morte de Jesus.
       O leitor obviamente já notou que este autor, sem destoar dos demais evangélicos, também crê que Deus perdoa pecado. A diferença está apenas no fato de que neste livro, não me limito a confessar isso; antes, me dou também ao trabalho de explicar isso. Sim, como todos os evangélicos, também digo que Deus perdoa pecado. E se o leitor nota alguma diferença, tal se dá porque estou filosofando sobre este assunto, trazendo, por conseguinte, mais luz sobre este tão importante tema. Logo, longe de subtrair algo do que já se estabeleceu como verdade acerca do perdão, acrescento mais luz sobre este assunto, aprofundando o conhecimento acerca do mesmo. Que Deus perdoa pecado é um verdade professada por todos os evangélicos, e inclusive por mim. Mas o leitor há de convir que nem todos entendem este tema com a profundidade teológica aqui exposta.
       Relembro que o pecado é uma dívida que nunca fica sem o devido pagamento. A dívida de quem não tem Cristo, será paga pelo próprio pecador, no fogo eterno do inferno. E a dívida do Cristão, foi paga por Cristo na cruz. Logo, a dívida é sempre paga, mas o pagante nem sempre é o mesmo. Na maioria das vezes, a dívida é paga pelo próprio pecador, no inferno (Mt 7.13). Uma minoria (Mt 7.14), porém, tem um Pagante Substituto, cujo nome é Jesus.

V. Estou só, quanto ao que penso do perdão?

       Verdadeiramente, muitos são os religiosos que, na prática, também não creem que Deus perdoa pecado. A diferença é que uns creem que pagarão suas dívidas (pelo menos parcialmente) no purgatório; outros creem que se quitarão para com Deus através das boas obras e dos sofrimentos, nesta e/ou noutras encarnações; e nós, os evangélicos, cremos que Jesus nos substituiu, sofrendo em nosso lugar. Cremos que Deus, por ser justiça, lavrou a nossa sentença; e que, por ser amor, cumpriu a pena em nosso lugar. Ele é o nosso substituto na morte e no sofrimento (Is 53; Mt 26.28; 1Pe 1.18-19; 2.24; Ef 1.7; Ap 5.9, etc.), e devemos nossa salvação exclusivamente a isso. Ele desceu ao mundo, para que a Igreja suba ao Céu! Foi desamparado, para nos amparar! Sofreu, para gozarmos! Foi humilhado, para nos exaltar! Foi condenado, para nos inocentar! Foi sentenciado, para nos absolver! Foi coroado de espinhos, para nos dar a coroa da vida (Ap 2.10), a coroa de glória (1Pe 5.4) e a coroa de justiça! (2Tm 4.8). Morreu, para nos dar vida! Entrou no Hades, para entrarmos no Paraíso! Foi rejeitado, para sermos recebidos! Suportou o “inferno” da cruz, para nos livrar do eterno Lago de fogo! Compareceu diante de Pôncio Pilatos, para que não compareçamos diante do grande trono branco sobre o qual Ele se sentará para julgar no Dia do Juízo Final! Ele saiu do Céu, para que nós entremos lá! Glória, pois, a este substituto! Adoremo-Lo eternamente! Exteriorizemos ininterruptamente a eterna gratidão que se encerra em nosso peito, pela tão grande salvação que Ele nos comprou no Gólgota! Aleluia!!!

VI. Não subestime o sangue de Jesus

       Caro leitor, procure entender o que a Bíblia quer nos dizer, quando afirma que a salvação não é pelas obras, mas pela graça, por meio da fé (Ef 2.8-9; Rm 11.6)). Não descarte o precioso sangue de Jesus, engendrando seus próprios planos de salvação, ou abraçando os métodos criados por outrem. Essas ilusões não funcionam, pois só Cristo salva.
       A Bíblia afirma que as boas obras realizadas pelos salvos, estão sendo computadas por Deus para efeito de galardão (1Co 3. 10-15; Ap 22.12); mas ao mesmo tempo nos informa que os perdidos que tentam se salvar através de boas obras, estão redondamente enganados (At 10.1-6; 11.12-14), e que serão condenados. Isto prova que a fé no sangue de Jesus vale o perdão dos nossos pecados, e a consequente salvação, a qual é um presente; e que as boas ações que daí nascerem, serão recompensadas, isto é, serão “pagas”. Logo, salvação não é o mesmo que galardão. Salvação é presente; e galardão é recompensa ou pagamento, pelo serviço prestado. Salvação é por meio da fé (Rm 3.25; 11.6; Ef 2.8-9; Tt 3.5), e galardão é pelas obras (Ap 22.12; 1Co 3.14-15). Sobre estes galardões, nada sabemos agora, mas quando chegarmos lá, veremos que não são de somenos importância, pois Deus não faz sem valor. E, enquanto aguardamos por aquele Dia, sirvamos destes textos bíblicos que categoricamente nos dizem que salvação e galardão são coisas distintas e diferentes, para mantermos a verdade bíblica de que a salvação não se obtém pelas obras. Estas não possuem nenhum valor salvífico. As boas obras não salvam, nem tampouco ajudam Cristo a nos salvar. Devemos nossa salvação exclusivamente ao sangue de Jesus.
       O apóstolo Paulo disse que a salvação não é pelas obras, mas uma graça da qual se apossa exclusivamente mediante a fé (Rm 11.6; Ef 2. 8-9). Já Tiago afirma que a salvação só se concretiza mediante a soma da fé com as obras (Tg 2.20,24,26). Há contradição? Não. Então como se explica isso? Resposta: Da seguinte maneira: Paulo e Tiago não falam do mesmo tipo de fé. Paulo fala da fé salvífica, e Tiago discorre sobre a fé natural. Esta consiste em apenas crer na existência de Deus, já aquela retrata a conversão ao Evangelho. Ora, ninguém se salva só porque crê que Deus existe. A salvação é por meio fé em Jesus. E ninguém tem moral para dizer que crê em Cristo sem se arrepender de todos os seus pecados e se converter ao Cristianismo bíblico. Ora, quem está arrependido de seus pecados não vive na prática dos mesmos. Não praticar um determinado pecado é fazer uma boa obra por omissão. E fazer algo oposto a um determinado pecado é obrar por comissão.
       Muitos concluíram que Tiago e Paulo tinham opiniões diferentes. Por isso, uns ficaram com Paulo, e outros optaram por Tiago. Este autor, porém, pertence ao rol dos que concordam com os dois.
       Considerando que Paulo disse que para a efetivação da salvação basta a fé, e Tiago ter sustentado que a fé sem as obras não salva ninguém, há os que tentam harmonizar estes dois apóstolos assim: Basta a fé, mas não a fé morta, que a é a fé sem as obras, mas sim, a fé viva, que é a fé mais as obras. Os tais, que se dividem em dois grupos, esposam, respectivamente, as seguintes opiniões: Grupo a) Pela fé viva se faz as obras necessárias à salvação; grupo b) pelas obras se obtém a fé viva, e, pela fé viva obtida mediante as obras, se alcança a salvação. Mas estas duas opiniões estão erradas, visto que em ambas se atribui valor salvífico às obras. Então, qual é a sequência correta? Resposta: Pela fé viva __ a qual não existe à parte de arrependimento e conversão, sendo, por isso mesmo, três obras __, se obtém a salvação. E desta salvação decorrem as obras próprias de um salvo. A questão é que a fé viva, além de por si mesma já ser três obras, produz, no ato, a salvação, que, por sua vez, também redunda em obras inevitavelmente. De sorte que, onde faltarem as obras, terá faltado, de antemão, a salvação; e onde faltar a salvação, terá faltado, de antemão, a fé. A fé viva gera salvação; e da salvação, nascem as obras que cristo galardoará naquele Dia.
       Então, a sequência correta não é: a) Pela fé viva se faz as obras para, por conseguinte, se salvar; b) pelas obras se obtém fé viva, e, por conseguinte, a salvação. Antes, a sequência correta é: Pela fé viva se obtém o presente da salvação. E pela salvação se faz as obras que serão galardoadas por Deus naquele Dia.
       A fé viva, que é a única salvífica, é constituída de fé natural (crença na existência de Deus), arrependimento dos pecados, e, sobretudo, conversão ao Evangelho. A fé viva não salva a ninguém, mas os que a têm estão todos salvos. É que embora os tais não estejam salvos pela fé viva, são, contudo, salvos pelo único recurso salvífico há (isto é, o sangue de Jesus), o qual entra em ação tão logo ela se faz presente.
       A fé salvífica, por não ser a causa meritória da salvação, não salva; contudo, é necessária para a salvação, posto que a causa meritória, que é o sacrifício de Cristo, só funciona onde tal fé existe.
       Tornamo-nos salvos, no exato momento em que cremos em Cristo. Mas esta salvação, da qual tomamos posse ao crermos em Cristo, não vem da fé que depositamos nEle, e sim, dEle.
       O ato de crermos em Cristo não é, em si mesmo, meritório. Logo, a fé é impotente para a salvação. Entretanto, os méritos angariados por Cristo na cruz, nos são creditados, quando nEle cremos. Logo, não há ninguém salvo pela fé, nem tampouco há alguém salvo sem fé. Tal se dá porque ninguém se salva sem ir a Cristo, e ninguém vai a Cristo sem passar pela porta da fé. Logo, a fé precede a salvação, mas esta não procede daquela, nem mesmo em parte. A rigor, não somos salvos pela fé, e sim, por meio da fé. Logo, a fé apenas intermedia o nosso encontro com Cristo, ou seja, ela nos leva ao Salvador, que, por Sua vez, nos salva com o Seu sangue.

VII. “Cristãos” que prescindem da cruz

       Informei sob o tópico I, que uma das finalidades deste livro é “fazer com que os que já são salvos se convençam mais ainda, que, para não perecerem, dependem de Cristo e Sua cruz, visto que o sangue de Jesus é a única ferramenta que o Pai usa na confecção da nossa salvação.” Além disso, convém que se saiba que a ignorância do Plano de salvação impera não só entre os católicos, os espíritas, os testemunhas–de–jeová, os umbandistas, os candomblecistas, etc., mas também entre os evangélicos. Por exemplo, perguntei certo dia a uma senhora, membro de uma igreja evangélica há muitos anos, o seguinte: “Se Jesus não tivesse morrido para lhe salvar, mas a senhora fosse tudo que é, e fizesse tudo que faz, ao morrer, a sua alma iria para onde?” E ela respondeu: “Para o Céu”. Prossegui: “Então o sacrifício de Cristo lhe é supérfluo, não é mesmo? Ele morrendo ou não, o seu Céu lhe está garantido, certo? O que lhe salva é o fato de a senhora ter se arrependido, pedido perdão, se regenerado, ser uma pessoa que se esforça para fazer o melhor possível para Deus e para o próximo, estar sempre pedindo perdão dos pecados, ter abandonado a vida promíscua na qual vivia, etc., não é?”. Este exemplo me faz suspeitar que tanto nas seitas falsas, como nas igrejas evangélicas, há não poucos “Cornélios” (At 10 e 11), os quais são piedosos, tementes (isto é, reverentes) a Deus, oram continuamente, jejuam, fazem esmolas, são batizados, participam da santa Ceia do Senhor, contribuem financeiramente com dízimos e ofertas para sustento da Obra de Deus, cantam louvores ao Senhor, creem na Trindade, pregam que só Jesus salva, e assim por diante, mas nunca entenderam o porquê da morte de Jesus, e nunca fizeram da cruz sua única tábua de salvação. Temo que os tais estejam incluídos no rol daqueles que se auto justificam, embora pensem que não. Estes precisam ser socorridos já, pois são presas fáceis das seitas falsas. Eles veem em Jesus o modelo a ser seguido, o perdoador, e pensam ser isso que salva. No fundo pensam que se Jesus, ao invés de morrer, tivesse apenas ensinado a verdade, e, após isso, retornado ao Céu, sem passar pela morte, seríamos salvos do mesmo modo. “O importante” (pensam) “é a guarda dos mandamentos, bem como constantes pedidos de perdão pelas falhas cotidianas, comuns a todos os humanos, já que até os apóstolos tinham lá suas imperfeições também”.
       Estou certo de que muitos dos que não têm um profundo conhecimento soteriológico, são, de fato, salvos, visto que a Jesus se aceita mais com o coração do que com a cabeça. Mas até aonde essa falta de conhecimento não interfere na salvação? Sim, até aonde essa falta de conhecimento do Plano de Salvação não contribuirá para induzi-los à heresia da salvação pelas obras, pregada pelas falsas religiões?
       Que não somos portadores de mérito, nenhum evangélico ousa negar; antes, sem hesitação confessamos unanimemente que somos salvos pela graça. Mas no fundo no fundo, muitos pensam que a nossa indignidade é relativa, e que Deus não trata o pecador à base dela em hipótese alguma. Mas se isso fosse verdade, o espetáculo do Calvário seria supérfluo. A verdade solene, pois, é que Deus nos trata à base de nosso mérito. Conquistamos, com nossos pecados, o merecimento à condenação, e por isso Deus nos sentenciou ao Inferno; depois Cristo nos conquistou na cruz o merecimento à absolvição, e Deus nos promete o Céu à base do merecimento que nos é outorgado pela cruz de Cristo. Fica, pois, estabelecido uma vez por todas que a salvação não é uma maneira de Deus recompensar o arrependimento, a fé, a conversão, a regeneração, a obediência, etc., dos que creem em Cristo, e sim, o usufruto do mérito que nos é conferido pela cruz. Logo, Deus tem que nos salvar em Cristo, e nem podia ser diferente, visto que o que deriva da cruz não é um pedido de esmola efetuado por Cristo, e sim, o direito de posse mediante o pagamento do bem chamado salvação, pagamento este efetuado por Jesus na cruz.
       Os que prescindem da cruz, quer sejam evangélicos, quer não, certamente veem o Calvário como mero exemplo de amor a ser seguido pelos que querem angariar méritos salvíficos, mediante à prática do bem. Os tais não sabem pouco, sobre o Plano de Salvação, mas sim, não sabem nada. E o fato de haver muita gente pensando assim, justifica a existência deste livro. Peço, pois, encarecidamente, que o caro leitor me ajude a levar esta luz a todos os que dela carecem. Para tanto, ajude-me a distribuir panfletos aos milhares, em todo o solo nacional e no exterior, a título de propaganda desta obra, que já está disponibilizada gratuitamente aos internautas.

VIII. Evangelização eficiente

       Eu disse, no prólogo, que um dos objetivos das lições aqui contidas é “habilitar os que já são salvos a evangelizar os perdidos com mais eficiência.” E o exemplo abaixo narrado, é uma amostra disso.
       Por ignorar a Teologia evangélica, certo católico falou-me mais ou menos assim:

Tanto a pregação dos padres, como a dos espíritas, têm lógica. Estes pregam que a pessoa tem que sofrer nesta e/ou noutras encarnações, para, deste modo, expiar e reparar seus pecados. Aqueles ensinam que os católicos sofrerão no purgatório até expurgar suas imperfeições, antes de entrarem na bem-aventurança eterna. Mas o que os evangélicos pregam, está errado, pois faz de Deus um injusto, visto que, segundo vocês, a pessoa arrependida é absolvida de toda a punição, habilitando-se ao ingresso no Céu no ato da conversão.

       Então informei ao dito católico que ele estava equivocado, visto não crermos no que ele pensa que cremos. Ato contínuo lhe fiz a seguinte exposição: a) realmente é injustiça perdoar um criminoso deveras culpado, só porque o mesmo está arrependido e regenerado; b) Deus também pensa assim; c) este é o motivo pelo qual Ele nos deu o Seu Filho para morrer por nós; d) realmente, se Deus não achasse errado conceder perdão de mão beijada, Cristo jamais teria que morrer para nos salvar; e) de fato, a justiça divina clama pela devida punição, mesmo estando o pecador arrependido e convertido; f) por tudo isso, Cristo assumiu o nosso lugar e, por conseguinte, satisfez a justiça divina, dando plena satisfação junto ao Fórum Celestial; g) os cristãos que deveras entendem este arranjo divino, não prega salvação fiados nos méritos da fé, do arrependimento e da conversão, e sim, apoiados no fato de que Cristo fez desagravo por nós na cruz; h) é porque a ira de Deus contra o nosso pecado foi totalmente derramada sobre Cristo, nosso substituto, que podemos ficar livres do furor divino.
       O católico ora ponderado reconheceu que os espíritas e os Padres não pregam o que nós, os evangélicos, pregamos. Mas isso apenas prova que os tais estão enquadrados em Gl 1.8, isto é, não pregam o Evangelho que os apóstolos pregavam. Os tais, portanto, a) não creem no Evangelho, pois não creem nisso; b) não pregam o Evangelho, pois não pregam isso; c) negam o Evangelho, pois negam isso; d) falsificam o Evangelho, pois fazem passar por Evangelho, algo diferente disso; e) são anátemas. Eles não possuem quem os tenha substituído; e, se não se retratarem antes que seja tarde demais, terão que suportar o rojão da severa justiça de Deus, que já os sentenciou ao suplício eterno no lago de fogo.

CONCLUSÃO
       O Calvário humilha os exaltados e exalta os humildes! Ele diz aos que se justificam a si mesmos: “Eu constituo prova de que vocês nada podem sem mim”. E diz aos que nele se refugiam: “Entrem no gozo do Senhor! A Casa é de vocês! Adentrem ousadamente! Eu já comprei e paguei tudo! Mas entrem sem vanglória, visto que este bem foi conquistado por mim, o Substituto de vocês, e não angariado por vocês, mediante suas obras! Ninguém faz jus aos méritos que advém da cruz, mas os mesmos objetivam fazer com que passemos a fazer jus.”

OBSERVAÇÃO: Originalmente, a lição que você acaba de ler, mais a que vem a seguir, constituíam uma só lição. Mas, por uma questão de didática, pareceu-me conveniente dividi-la em duas lições. Logo, a próxima lição é continuidade da que ora acabamos de apreciar.


LIÇÃO 2

 

DEUS NÃO PERDOA PECADO  II



INTRODUÇÃO
        Como já deixei claro na Conclusão da lição anterior, originalmente, esta lição era o último tópico daquela, formando com a mesma uma só unidade. Logo, Deus não perdoa pecado II nada mais é que a continuação da Lição 1. Pretendo continuar expondo que só da imprescindível cruz de Cristo advém a salvação, e que o porquê disso reside no fato de que em consequência da Sua justiça, Deus não pode fazer vista grossa ao pecado, mesmo estando o pecador arrependido e regenerado. Sendo, por isso, a substituição a título de pagamento, absolutamente necessária para a salvação.

DIVERSAS CONSIDERAÇÕES SOTERIOLÓGICAS

       Prezado leitor, vamos juntos considerar a afirmações abaixo, pois as mesmas pretendem continuar lançando luz sobre o tema ora estudado.

1) ninguém é tão pecador, que não possa ser perdoado; nem tão bonzinho que não necessite do perdão;

2) Jesus não veio ensinar você a se salvar, mas sim, salvar você;

3) Jesus não veio ensinar o Caminho da salvação, e sim, construí-lo. O Seu sacrifício vicário é que é o Caminho; e apelar para esse sacrifício, é entrar na Trilha e percorrê-la; e só quem o faz, será salvo. É verdade que Ele mostrou o Caminho, mas quando o fez apontou para Si próprio (Jo 14.6).
       Jesus é Deus e homem, ao mesmo tempo. Como Deus, Ele não é o Caminho, mas sim, o alvo dos caminhantes; como homem, Ele não é o Caminho, mas o arquétipo dos viajantes, ou seja, o que o homem deveria ser para sempre, a fim de nunca necessitar da existência de um Caminho de regresso a Deus; como Deus-homem, Ele reúne em Si as condições de ser o Caminho, visto que, deste modo, Ele se habilita a oferecer um sacrifício de peso, por nós, já que a vítima é, de certo modo, o próprio Deus, mas ainda não é o Caminho; e como crucificado pelos nossos pecados, e ressuscitado para nossa justificação (Rm 4.25), Ele se constitui o Caminho de regresso à Divindade, da qual Ele é parte integrante, já que Ele é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

4) Jesus não veio ensinar o que você precisaria fazer para se salvar, mas sim, fazer o que precisava ser feito, para que você possa ser salvo;

5) Jesus não veio apontar ou indicar o Caminho da salvação, pois como apontar ou indicar algo inexistente? E, já que o Caminho é Cristo crucificado, então o Caminho não nasceu na manjedoura, e sim, no Calvário. Jesus só pôde dizer, antes de morrer por nós, que Ele era o Caminho, porque Ele ia morrer. Ele ainda não tinha morrido, mas ia morrer.

6) Quem tenta fazer por onde merecer a sua salvação, ao invés de merecê-la, efetua o aumento da sua indignidade;

7) Cristo recebeu o que não merecia - a condenação -, para que nós recebamos o que também não merecemos - a salvação;

8) Deus, por ser o Justo Juiz, não pôde perdoar a nossa dívida; e, por ser amor, não pôde se esquivar de pagá-la por nós e para nós;

9) O pecador (isto é, cada ser humano), por ser mendigo em termos espirituais, não tem com que pagar a sua dívida; daí, o tormento eterno para quem não tem Cristo como seu substituto;

10) Jesus é o Justo Juiz que nos sentenciou ao suplício eterno, bem como o Advogado que nos defendeu, cumprindo a pena em nosso lugar. Ele suportou o “fogo” da cruz, para nos livrar do fogo do Inferno;

11) Fazer por onde merecer a salvação é cometer o grave pecado de subestimar o sangue de Jesus. E, naturalmente, não é de pecado em pecado, que chegaremos lá;

12) Quem faz por onde merecer o perdão dos seus pecados, comete mais um. Logo, condena-se mais ainda;

13) A graça é de graça, e só pode ser obtida pela graça, visto que à parte da graça, só há desgraça;

14) Todos os pecadores que nada fazem para se salvar, estão indo para o Inferno na velocidade =“x”; os pecadores que dão tudo de si para merecer a salvação, estão indo para o Inferno numa velocidade > “X”; mas os que apelam para a graça que procede da Cruz, já mudaram de direção!;

15) O pecador já está atolado. Se ele não se mexer, continuará afundando. E, se ele se mexer, afundará mais ainda. Mas, se ele se valer do “mexer” de Cristo, sairá do atoleiro;

16) A salvação não depende só da parte de Deus, mas também da nossa. Jesus já fez a parte que Lhe tocava; só nos resta agora, que façamos a nossa. E a nossa parte, é crer que Cristo fez a nossa parte;

17) A única obra que produz salvação é a Obra de Cristo na Cruz;

18) No que diz respeito à salvação, há tanto uma causa meritória, quanto uma condição imposta: esta é a nossa fé na Cruz de Cristo; e aquela, a Cruz de Cristo;

19) A salvação não é pelas obras, mas sim, pela Obra. Claro, refiro-me à Obra de Jesus na cruz;

20) A salvação é tanto dádiva quanto pagamento. Quando Deus nos salva por meio da fé, Ele está pagando a Cristo pelo bom serviço prestado na cruz, bem como nos presenteando, já que a salvação não nos custa nada; aliás, se nos custasse alguma coisa, não seria presente.

21) A salvação de nossas almas é o salário de Jesus (Is 53:11);

22) Cristo é o Caminho que nos conduz a Si próprio, pois é exclusivamente pelo Seu sacrifício vicário que temos acesso à Trindade, da qual Ele é parte integrante. Seria este o motivo pelo qual Ele disse que “Ninguém vem (e não “vai”) ao Pai, senão por mim”? (Jo 14:6). Há quem creia que sim, e este autor admite esta possibilidade. Mas, de um jeito ou de outro, o contexto bíblico não deixa dúvida de que Jesus é o próprio Deus, do qual nos perdemos desde o Éden, quando em Adão caímos em pecado. Logo, se por Ele podemos ir a Deus, então Ele nos é o Caminho pelo qual regressamos a Ele próprio. Ele é o único Caminho que nos leva ao Pai, isto é, à Divindade, que é constituída por Ele e os outros dois Membros da Trindade: o Pai e o Espírito Santo. Uma prova disso é o fato de Ele haver dito que só o Pai sabe o dia e a hora da vinda do Filho (Mt 24:36). Ora, segundo a Bíblia, cada Membro da Trindade é onisciente (Cl 2:3; 1Co 2:9). Assim sendo, se entendermos que a locução “só o Pai sabe”, se refere exclusivamente à primeira Pessoa da Trindade, estaremos cometendo o grave erro de tentar limitar tanto a infinita sabedoria do lado Divino do Filho, como também negando a Onisciência do Espírito Santo. A locução “só o Pai”, significa “só Deus”. E, como sabemos, cada integrante da Trindade é Deus, assim como também toda a Trindade. Atentemos para o fato de que só Deus sonda os corações (2Crônicas 6.30), o que não impede o Filho de fazê-lo também (Ap 2.23). Portanto, a expressão “só o Pai” significa “só a Trindade”, excluindo inclusive o lado humano do Filho.

23) Da nossa passividade na transação da salvação, Cristo não abre mão. Logo, os ativos ainda não pactuaram com Cristo. O pecador não se salva, ajudando Cristo a salvá-lo, mas sim, deixando Cristo salvá-lo. Jesus não nos salva com a nossa ajuda, e sim, com a nossa aquiescência. Aceder que Cristo nos confira os méritos decorrentes do Calvário, é condição única, imposta, e imprescindível, para a nossa salvação. Agostinho acertou, quando disse que “Deus te criou sem ti, mas não te salvará sem ti”, se, com isso, ele quis dizer Deus exige que façamos a nossa parte, que é crer que Cristo fez a nossa parte na cruz, e fazermos disso nossa tábua de salvação. Cristo fez a Sua parte, que é fazer a nossa parte. Agora, só nos resta que façamos a nossa parte. E a parte que nos toca, é crer que Cristo fez a nossa parte, bem como reivindicar absolvição à base disso, entrando com a fé, o arrependimento e a conversão (At 3.19).

24) A salvação não é: a) a recompensa dos que pecam pouco; b) o galardão dos que cometem pecados menores; c) a maneira pela qual Deus retribui aos que arrependidos creem e se convertem a Cristo. Mas salvação é um dom (presente) de Deus aos que apelam para o sacrifício vicário de Jesus;

25) Já que todo o mundo peca, mas há salvos e perdidos, pergunta-se: Até aonde se pode pecar e ainda ser salvo? Quais os pecados que fariam de mim um perdido? Resposta: Tanto a salvação, quanto a condenação, não são proporcionais à quantidade e tamanho de pecado. O pecado, por menor que seja, traz no seu bojo total condenação. A pena para o menor dos pecados, é o fogo eterno. É, pois, o sangue de Cristo que nos absolve, e não o tamanho e quantidade de nossos pecados. Respondendo à pergunta em questão, digo: Todo aquele que dá tudo de si para não cometer um pecado sequer; reconhece que não está conseguindo ser perfeito, e que, por conseguinte, merece a punição; e contrito apela para o sangue de Jesus, ininterruptamente, está salvo. Mas o tal não deve sua salvação aos seus esforços para não pecar, nem tampouco ao fato de admitir que, contudo, não é perfeito; nem ainda, por ser suficientemente realista para reconhecer que merece a condenação, mas sim, ao sangue de Jesus.

26) Tudo que um homem talvez consiga, quando dá tudo de si para não cometer um pecado sequer, é pecar menos, o que não o torna menos digno da condenação. Logo, será condenado mesmo assim, visto que o Justo Juiz não pode nos dar o que não merecemos. Mas, como a cruz de Cristo nos torna dignos da absolvição, nós, os cristãos, seremos salvos, já que o Justo Juiz não pode nos dar o que não merecemos – o Inferno -- , bem como tem que nos dar o que merecemos – a salvação. Sim, somos dignos em Cristo! A cruz de Cristo nos confere mérito! Se estamos à sombra da cruz, é injusto nos condenar! É injustiça absolver quem não está sob o sangue de Jesus. Logo, Deus não fará isso. É injusto condenar quem está à sombra da cruz. Fazê-lo seria desrespeitar o respeitável sangue de Jesus. Pelo sangue de Cristo, Deus nos dá a graça do merecimento! Pelo sangue de Cristo merecemos o que não merecemos. Isto é, pelo sangue de Cristo merecemos o que, doutro modo, não mereceríamos. Sim, em Cristo, mereço o que não mereço. E, de posse deste merecimento que não tenho, mas tenho, adentro o Céu com ousadia (Hb 10.19). E, já que merecemos o Céu em Cristo, Deus seria um injusto se nos negasse o ingresso no Seu Reino, pois estaria deixando de dar-nos o que merecemos. E, como é impossível que Ele faça injustiça, está assegurada a salvação dos que se servem dos méritos que procedem da cruz. A salvação dos que se refugiam na cruz, é tão garantida quanto a perdição dos inimigos da cruz, pois se apoia na mesma base: a justiça de Deus. Deus não pode salvar os sem-cruz, pois seria injusto fazê-lo; nem condenar os com-cruz, visto que isso também seria uma injustiça, já que Cristo pagou a absolvição dos tais.
       Já vimos que, segundo a Bíblia, a salvação é pela graça. Ora, graça é, etimologicamente, favor imerecido. Portanto, não merecemos a salvação. E, se não merecemos a salvação, pergunto: Para onde foi a justiça divina, quando Deus nos salvou sem mérito? A Sua justiça permite que Ele nos dê o que não merecemos? A resposta é: Não merecemos o que Cristo fez pos nós na cruz, comprando e pagando a nossa salvação; mas, visto que Ele o fez, a nossa salvação é direito adquirido, ou seja, a cruz de Cristo é graça, mas o que dela decorre não é graça, e sim, pagamento pelo bom serviço prestado. Refiro-me ao pagamento efetuado por Deus, à Pessoa de Jesus, pelo trabalho que este prestou na cruz. Deus deve a Jesus, a salvação dos que a Cristo recorrem; e não pagá-Lo, seria calote. Mas, como a justiça divina não admite calote, nem tampouco inadimplência, a salvação é tanto subsequente como simultânea, à conversão. Logo, somos salvos, tanto por graça, como por mérito: Deus nos dá a graça da salvação, à base dos méritos que derivam da cruz. Por conseguinte, quando Deus salva um miserável pecador da minha laia, não está cometendo a injustiça de salvar um indigno da salvação, visto que a cruz de Cristo confere mérito aos que a ela recorrem. Uma prova bíblica de que a cruz de Cristo nos confere mérito, é o que jaz em Ap 3.4, que diz: “[...] pessoas que [...] comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso” (Grifo nosso). Claro que essa dignidade não é própria, mas sim, procedente da cruz. Sim, o Calvário é credor justo, ao qual a justiça divina deve respeito. E é por isso que a justiça divina sempre lhe pagou em dia, salvando sem delonga a todos os que o “escalam” pela fé, isto é, que dele se valem intuindo a salvação. A justiça divina exige de Deus que assim seja, isto é, Deus, por ser justo, não vê como ser indiferente ao Calvário. Sim, Deus não vê como ser apático à cruz de Cristo!
       Já que Deus é justo, fica subentendido que Ele não lança no Inferno, os que não merecem ir para lá. Por esta mesma razão, só irão para o Céu, os dignos desse lugar. Portanto, vou entrar no Céu porque mereço o Céu. Porém, nunca posso ignorar que mereço o Céu porque a cruz de Cristo me tornou digno do mesmo. Os meus pecados me fazem digno do Inferno; e a cruz de Cristo me faz digno do Céu. Por conseguinte, os que hoje estão no Inferno não precisam agradecer a ninguém, pois são dignos disso por si mesmos. Mas os que estão no Paraíso Celestial têm que ser gratos ao Senhor, visto não serem dignos disso por si mesmos, antes devem este mérito à cruz de Cristo. Repito: Os nossos irmãos que já dormem no Senhor, estão no Paraíso, porque merecem estar lá, visto ser óbvio que Deus não faria a injustiça de lhes dar o que eles não merecessem; mas esse mérito não foi conquistado por eles, e sim, por Cristo, na cruz. Logo, os perdido merecem o Inferno tanto quanto os salvos merecem o Paraíso. A diferença é que o mérito à condenação não nos é conferido por Deus, mas conquistado por nós mesmos. Ao passo que o mérito à vida eterna no Reino de Deus nos é conquistado por Jesus. Este compra, paga e nos dá a graça de merecermos o Seu Reino. Muitos pensam que ser salvo pela graça, significa que Deus nos leva para o Céu, embora não mereçamos isso. Mas não é bem assim. Nós não merecemos a graça de merecer o Céu, mas merecemos esta graça, pela graça que não merecemos. Se a graça nos levasse ao Céu, sem estar à altura de nos tornar dignos da vida eterna no Reino de Deus, a graça não deveria ser chamada de graça, e sim, de impunidade.
       É da competência do homem fazer por onde merecer o Inferno, e todos já fizemos isso. E, como não é da alçada do homem mudar esta situação, visto que, no que depende de nós, uma vez perdidos, perdidos para sempre, só a mobilização do próprio Deus poderia mudar este horroroso quadro. E Ele o fez, transformando-nos em dignos do Seu Reino, ao se passar por indigno do amparo divino em nosso lugar, substituindo-nos no ensanguentado lenho! (Mt 27.46). Sejamo-Lo, pois, eternamente gratos, por este milagre superior ao da água feita vinho!
       O fato de Deus, por Sua justiça, estar impossibilitado de lançar no Inferno os que não merecem esse lugar, bem como de levar para o Céu, os que não comportam mérito para tanto, nos dá uma segurança que só vendo. Isto nos assegura que a salvação dos que apelam para a cruz, está tão garantida quanto a perdição dos que rejeitam a Jesus. Sim, pois ambos os casos se apoiam na mesma base: a justiça de Deus!
       A salvação é por graça, ou por mérito? Resposta: Por graça e por mérito. Pela graça temos mérito, e pelo mérito que nos adveio da graça, somos salvos. Visto que Deus é justo, salta aos olhos que jamais entraríamos no Paraíso, se a graça não fosse capaz de nos tornar dignos do mesmo.
       Eu disse acima que “os perdido merecem o Inferno tanto quanto os salvos merecem o Paraíso”. Mas agora quero me “retratar” (retratar, entre aspas, é claro). Quero registrar agora que nós, os salvos pelo sangue de Jesus, merecemos o Céu, mais do que os perdidos merecem o Inferno, visto que o mérito ao Inferno foi conquistado por criaturas finitas, ao passo que o mérito ao Céu nos foi conquistado pelo Criador infinito. Claro, uma obra efetuada por Deus tem que valer mais do que qualquer obra realizada pelo homem. Logo, embora Deus tenha bons motivos para lançar os perdidos no Inferno, dispõe de uma razão bem maior para levar os seus redimidos para o Céu: o sacrifício de Si próprio no madeiro. Os perdidos sofrem as consequências de suas próprias obras, mas os salvos usufruem das consequências da Obra efetuada pelo próprio Deus: o Calvário.

27) Na frase Deus não perdoa pecado, por mim repetida ao longo destas duas primeiras lições, a palavra Deus não designa a primeira Pessoa da Trindade, e sim, ao Deus Trino, a saber, ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo. E a razão de ser disso, é que nenhum membro da Trindade pode perdoar pecado, já que cada integrante da Deidade está, por Sua própria natureza, impossibilitado de, abrindo mão da Sua justiça e santidade, fazer vista grossa aos nossos pecados. Esta informação me parece esclarecedora, visto que uma pessoa menos instruída em assuntos teológicos, poderia pensar que o Pai é mais rigoroso do que o Filho, o que seria um erro gritante e grave, visto que, segunda a Bíblia, cada uma das três Pessoas da Trindade é exatamente igual aos outros dois membros da Divindade (Jo 5.18; 14.16; Fp 2.6). Logo, é o Deus Trino que, não podendo nos perdoar, se mobilizou para, por intermédio da cruz, nos inocentar perante o Fórum Celestial, ou seja, perante a própria Trindade.

28) O Evangelho deve ser pregado e ensinado. Pregar o Evangelho é anunciar a eficácia da cruz; e ensinar o Evangelho é explicar o porquê da cruz.

29) Para que a salvação se concretize é necessário que o pecador se submeta à condição imposta, que é o ato de recorrer à causa meritória, que é a cruz de Cristo. E é o ato de recorrermos à causa meritória que a Bíblia chama de fé. Logo, não há fé onde não há arrependimento, conversão e obediência, já que é por este caminho que achegamos a Cristo.
       O valermo-nos da causa meritória não nos confere mérito algum; antes, o mérito que nos é concedido quando recorremos à causa meritória, deriva da própria causa meritória à qual recorremos. Portanto, duas verdades do mesmo tamanho são: a) não somos salvos sem arrependimento, conversão e obediência; b) não somos salvos pelo arrependimento, conversão e obediência. E, sendo assim, a fé não salva ninguém, sendo apenas o veículo que nos transporta Àquele que nos salva com Seu próprio recurso salvífico, que é o sofrimento substitutivo que Ele suportou na cruz.

30. Por causa da justiça divina, a graça da salvação tem que ser precedida da graça da substituição; e só o próprio Deus-homem se habilita a tanto.
       Se a salvação nos fosse concedida sem a substituição que se deu na cruz, o que chamamos de graça, seria, com mais justiça, digna do título de impunidade. E, quanto a este parecer, ombreia-me o próprio Deus, o qual fez propiciação (isto é, nos tornou propícios, aceitáveis, agradáveis...) por nós na cruz.
       Em todas as religiões do mundo, é o homem que faz sacrifícios para ser aceito pelo seu deus; no Cristianismo, porém, é o nosso Deus quem ofereceu sacrifício para nos tornar propícios a Ele (Hb 1.3; 1Jo 2.2). E vale salientar que a Vítima sacrificada é o próprio Deus. E tudo isso porque, devido à justiça divina, a graça não pode ser uma arbitragem à revelia.

31) Podemos afirmar que que à luz da Bíblia, as obras não salvam, nem tampouco ajudam na salvação. E que, portanto: a) se recorrermos só às boas obras, iremos para o Inferno; b) se recorrermos concomitantemente às boas obras e ao sangue de Jesus, para o Inferno iremos, visto que essa atitude, por dar um coadjuvante ao sacrifício de Cristo, subestima o precioso sangue do Senhor, sendo, por isso mesmo, um ultraje à graça oriunda da cruz; e c) devemos nossa salvação exclusivamente ao sangue de Jesus. Concluímos, portanto, que há três caminhos que conduzem ao Inferno: o das boas obras, o das más obras, e o das boas obras mais fé. Mas há um só Caminho que conduz à reconciliação com Deus: o sangue de Jesus. A fé, o arrependimento, a conversão, etc., são as condições impostas por Cristo, para que Ele nos confira os méritos oriundos de Seu sangue; mas não possuem nenhum mérito positivo, e sim negativo, quando lhes atribuímos qualquer valor salvífico, ainda que parcialmente, como é o caso daqueles que dizem crer no sangue de Jesus, mas sempre se pondo ao lado das obras, como se a salvação fosse o resultado da reação química da junção desses dois elementos. Nem mesmo a nossa fé, pode ser posta ao lado do sangue de Jesus, na esperança de que ambos produzam a salvação, visto que a fé é algum tipo de obra, e, como já dissemos exaustivamente, obra nenhuma salva. Repetimos que a fé, por si só, não possui mérito algum; e, por conseguinte, não possui qualquer valor salvífico. Portanto, a indispensabilidade da fé reside no fato de que tê-la, equivale a lançar mão da única coisa que possui valor salvífico: o sangue de Jesus! Hoje, basta-nos crer em Jesus para sermos salvos, mas tal se dá por que Ele foi condenado em nosso lugar. Se o fato de crermos na existência de Deus, adorarmos a Ele, servirmos a Ele, “guardarmos” os seus mandamentos, etc., pudessem nos salvar, Jesus teria morrido em vão. Não anulemos, pois, a graça oriunda da cruz de Cristo; antes apelemos só para o sangue de Jesus!
       Jesus morreu para quê? Vimos na lição anterior (Lição I) que quando formulamos esta pergunta aos que se consideram cristãos (sejam católicos, evangélicos, ortodoxos...), recebemos de imediato a seguinte resposta: “Para nos salvar”. Mas, se perguntarmos “o que tem a ver a morte de Cristo, com a nossa salvação?”, veremos que não são poucos os que ficam sem saber o que dizer. Dissemos que tal se dá porque a maioria dos cristãos sabe para quê, Jesus morreu; mas não sabe porquê, Jesus morreu. Não compreendem o arranjo de Deus.
       Bem, vimos que a maioria dos cristãos titubeia quando lhes interrogamos sobre o porquê da morte de Jesus. Todavia, do fato de afirmarmos que a maioria dos cristãos não ousa explicar o porquê da morte de Cristo, subentende-se que há uma minoria que se atreve a fazê-lo. E o fazem dizendo mais ou menos o seguinte:

O fato de o abnegado Jesus ter sofrido com resignação e amor, prova que a tábua da salvação é o verdadeiro amor, o amor incondicional. As palavras de Cristo são aulas teóricas sobre o que fazermos para sermos salvos; e a Sua morte é uma aula ilustrada sobre o verdadeiro amor a Deus e ao próximo. Em outras palavras: Enquanto sofria na cruz, Jesus estaria nos dizendo, sem palavras, o que se segue: “Imitai-me! Fazei o bem a todos, inclusive aos que vos odeiam e maltratam! Pagai o mal com o bem! Não revideis! Não pagueis na mesma moeda, e Deus vos recompensará com a salvação!”

       Porém, nada está mais longe da verdade, do que a exposição acima! A tábua da salvação não é o amor! Ninguém se salva por ser amoroso e altruísta. A tábua da salvação é o sacrifício substitutivo efetuado por Jesus! É a morte de Cristo, em si mesma, que nos inocenta para com a justiça divina. Se Cristo fosse apenas o Grande Mestre que é, não poderia nos salvar, nem mesmo com a suposta aula ilustrada. A dívida do pecador clama por um pagante, e não por um instrutor. Tanto as palavras de Cristo, como Sua morte na cruz, são relevantes, mas têm funções diferentes. O Seu sangue gera filhos para Deus, quando a ele (o sangue) recorrem os pecadores; e a Sua Palavra nos informa isso. Em outras palavras: O sangue de Cristo tem poder para nos salvar; e é pela Sua Palavra que ficamos sabendo disto. Ademais, uma vez salvos pelo sangue do Senhor, ou seja, uma vez transformados em filhos de Deus pela morte de Cristo, a Palavra do Senhor entra novamente em ação, educando-nos, para que vivamos como verdadeiros filhos do Rei, trazendo em nós o “DNA” do Pai.

                                                  ***
       Do exposto até aqui, certamente está claro que vale a pena arrependermos dos nossos pecados, curvarmos aos pés do Senhor Jesus Cristo, e aceitarmos a quitação da nossa dívida mediante o Seu sacrifício expiatório. Portanto, abramos mão de nossos próprios métodos (caso os tenhamos) e aceitemos o método de Deus (Jo 3.16; 1Jo 5.7). Peça a Cristo agora que lhe perdoe os pecados e entre no seu coração.
       O leitor certamente notou que este autor não nega que Deus perdoa, mas assevera que o perdão procede exclusivamente do sacrifício vicário de Jesus. O meu objetivo é uma maior conscientização de que devemos nossa salvação exclusivamente ao sangue de Jesus. Fé, arrependimento, conversão, pedido de perdão, regeneração, etc., não salvam a ninguém, pois não possuem nenhum valor salvífico. É verdade que ninguém se salva sem fazer isso, mas não é menos verdade que ninguém se salva por fazer isso. Esta é a condição imposta, não a causa meritória. Se isso salvasse, Jesus teria morrido em vão. Devemos a nossa salvação exclusivamente à morte expiatória de Jesus.
       Na transação da salvação, há o agente passivo (nós, os pecadores que cremos em Cristo) e o agente ativo (o Cristo que morreu pelos nosso pecados e ressuscitou para a nossa justificação [Rm 4. 25]). Logo, o agente passivo é a nossa aquiescência à operação de Deus mediante o sangue de Cristo, e o agente ativo é o sangue de Jesus. Veja que o motivo pelo qual a conversão é necessária é porque Cristo não abre mão da nossa passividade. O arrependimento e a conversão não valem nada, ou seja, não possuem em si mesmos nenhum valor salvífico, mas quando entramos com o nosso vale-nada, Cristo entra com o Seu vale-tudo. E é o vale-tudo de Cristo, que nos salva. Ora, visto que Cristo só entra com o Seu vale-tudo, se entrarmos com o nosso vale-nada, a nossa conversão a Cristo é imprescindível para a nossa salvação. Mas, uma vez salvos, não podemos esquecer que (repito) devemos nossa salvação exclusivamente à cruz de Cristo. Cristo não lança mão da nossa fé e do nosso arrependimento para efetuar em nós o milagre da salvação. Ele nem mesmo soma isso ao Seu sangue, para assim efetuar em nós a salvação. Antes nos asperge com o puro sangue carmesim. E é com essa aspersão que Ele nos salva. O irmão H. Maxwell Wrigth demonstrou conhecer muito bem este assunto, quando disse com muita propriedade, que o seu pecado fora castigado em Jesus. Disse ele:

Foi na cruz, foi na cruz, onde um dia eu vi
Meu pecado castigado em Jesus;
Foi ali, pela fé, que os olhos abri,
E agora me alegro em Sua luz.
              (Harpa cristã, op. Cit., hino 15, grifo nosso)

       Sim, ele disse castigado, e não perdoado (o que também, como já sabemos, não é errado, contanto que se fale com conhecimento de causa).


       Não podemos nos salvar, nem tampouco ajudar Cristo a nos salvar. Cristo nos salva sozinho, sem a nossa ajuda. A parte que nos toca no processo da salvação, é mais passiva do que ativa. A parte ativa é o ato de deixarmos que Cristo nos salve. A partir daí, somos apenas passivos. E quando é que deixamos Cristo nos salvar? Resposta: Quando nos convertemos ao Evangelho.
       Informamos no Prólogo, e também na Lição 1, que empreendemos, ao longo desta obra, habilitar o leitor a explicar de cadeira, tanto o para quê, quanto o porquê, da morte de Jesus. E, embora ainda estejamos na segunda aula desta série de lições versando sobre a Soteriologia Cristã, cremos que considerável luz já se lançou sobre esta questão. Certamente, o leitor já não sabe apenas para que Jesus morreu, mas também, o porquê do espetáculo da cruz.
       Glórias sejam dadas ao Senhor Jesus Cristo, o único Salvador, a quem devemos a vida eterna da qual já tomamos posse, se é que já recebemos a Cristo como nosso único e todo suficiente Salvador e Senhor pessoal, reconhecendo que só a Sua cruz (isto é, só o Seu sangue expiador, só o Seu sacrifício vicário, só a Sua morte expiatória, só o Seu sofrimento substitutivo ...) pode dar jeito em nós! O Evangelho, isto é, a Boa-Nova de salvação procedente do Imperador Jesus, da qual se toma posse exclusivamente por meio da fé no Seu sangue (Rm 3.24-26), é o (“o”, e não “um dos”) poder (ou recurso) de Deus para a nossa salvação (Rm 1.16; 1Co 1.18).
       Porque o pecador não se salva enquanto não entra com o seu vale-nada, e também porque nos salvamos tão logo entramos com o nosso vale-nada, somos tentados a pensar que o nosso vale-nada vale alguma coisa. Mas o motivo pelo qual o pecador não se salva enquanto não entra com o seu vale-nada, é porque Cristo só entra com o Seu vale-tudo, quando entramos com o nosso vale-nada. Logo, quando o pecador não entra com o seu vale-nada, continua perdido, não porque não entrou com o seu vale-nada, e sim, porque Cristo não entrou com o Seu vale-tudo. Semelhantemente, quando o pecador entra com o seu vale-nada, sai da condenação não porque entrou com o seu vale-nada, mas sim, porque Cristo entra com o Seu vale-tudo. Logo, o perdido, entrando ou não com o seu vale-nada, nada se altera, visto que o nosso vale-nada nada vale. A diferença reside exclusivamente no vale-tudo que Cristo confeccionou no Calvário: o Seu sacrifício substituinte.
       Cantemos mais estas estrofes:

Em mim mesmo, nada tenho em que possa confiar,
Mas Jesus morreu na cruz pra me salvar;
Tão-somente nEle espero, sim, e sempre esperarei,
Pois, por Sua imensa graça lá estarei.
(Harpa cristã, op. cit., hino 48).

És um grande pecador?
Eis aqui teu Salvador!
Tema do bom pregador: o Calvário,
O Cordeiro divinal
Padeceu na cruz teu mal,
E oferece graça tal, no Calvário.
(Harpa cristã, op. cit., hino 192).

      Só Cristo salva. E Ele nos salva sozinho. Não conseguimos nem mesmo ajudá-Lo a nos salvar. O que nós conseguimos muito bem é atrapalhá-Lo. Não conseguimos ajudá-Lo nunca, mas conseguimos atrapalhá-Lo na maioria das vezes. E é porque às vezes não conseguimos atrapalhá-Lo, que existem algumas poucas pessoas salvas. Estas não lhE ajudaram, nem lhE estorvaram, mas deixaram-nO salvá-las. Entraram com o seu vale-nada.
       Muitos dos que proclamam que só Cristo salva, incoerentemente tentam ajudá-Lo a salvá-los. Não percebem que a frase “só Cristo salva”, exclui a participação dos próprios salvos, no processo da salvação. Relembro que a nossa participação no processo da salvação é apenas passiva, e nunca ativa. A única coisa que podemos fazer e temos que fazer, é deixar que Cristo nos salve. Não podemos resistir ao Seu operar. Não podemos rejeitar o Seu agir. Temos que aceitar passivamente a graça que Ele nos oferece de graça. A salvação que nós, os salvos, fruímos, flui exclusivamente da cruz de Cristo. Mas isto é tão profundo que até mesmo muitos salvos ainda não entenderam isso. Infelizmente, não são poucos os salvos que ainda pensam que a salvação é a maneira pela qual Deus remunera os que se esforçam para guardar a Sua Lei. Os tais pensam que essa suposta remuneração concedida aos guardam a Lei do Senhor é o perdão das transgressões e a consequente salvação. Entretanto, reitero que embora a nossa salvação seja subsequente à obediência, não é, em hipótese alguma, consequência de nosso ajuste à Lei de Deus. “Tão-somente NEle espero, sim, e sempre esperarei ...”

CONCLUSÃO
       Esta lição, certamente contribuiu para nos habilitar a responder com sabedoria aos que querem saber sobre a razão da nossa fé. Muitos são os que ignoram a sólida base sobre a qual apoiamos a nossa esperança.
        Perdão, como sinônimo de absolvição e reconciliação com Deus, mediante o pagamento efetuado por Cristo, existe; mas perdão, como sinônimo de recompensa divina por alguma boa ação (fé, arrependimento, conversão, regeneração, etc.), inexiste.
       Neste livro, o verdadeiro Evangelho é pregado, ensinado, explicado, explanado e desmistificado. Nesta obra se aclara porque a Bíblia deixa aclaro que Jesus não salvaria a ninguém se, ao invés de morrer na cruz por nós, subisse “para onde primeiro estava” (Jo 6.62).
       Você não acha que precisamos levar este esclarecimento ao mundo inteiro? Se sim, então me contate para que eu lhe exponha meus projetos evangelísticos. Tal exposição permitirá que você tome parte neste Ministério. São muitos os meus projetos, dos quais, um é postar esta obra gratuitamente em cite e blog, bem como anunciar estes cite e blog através de folhetos, não só no Brasil, mas também no exterior. Isso fará com que os nossos irmãos confiem mais no sangue e só no sangue, valorizem mais o sacrifício do Senhor, e evangelizem com mais eficiência, o que redundará, com certeza, na salvação dos que, por nunca terem ouvido uma explicação sobre o porquê da cruz de Cristo, se auto justificam, creem em crendices como purgatório, reencarnação, indulgências, etc.
       Se estas lições glorificaram a Deus e edificaram a sua vida, fazendo com que você conhecesse o Plano de Salvação, ou se lançaram mais luz sobre o conhecimento que você já possuía sobre este assunto, alegro-me sobremaneira, e já me sinto galardoado por Deus. Porém, muito mais ainda está por vir. Passemos, pois, à Lição 3, e vejamos o que Deus ainda tem para nós, lá.


Calvário: Nome latino do monte próximo a Jerusalém, onde Jesus Cristo foi crucificado. Em termos figurativos, designa o próprio sacrifício de Jesus;

Concomitantemente: Ao mesmo tempo;

Epígrafe: Título de livro, capítulo, tópico, assunto, etc.

Expiatório: Que serve para expiar, isto é, para remir a culpa, cumprindo pena.

Gólgota: Nome grego do monte onde Jesus foi crucificado.

Imprescindível: Indispensável.

Inusitado: Não usual, estranho, exótico.

Máxima: Conceito, pensamento, etc.

Não obstante: Apesar de.

Soteriologia: Parte da Teologia que trata da Doutrina da Salvação.

Substitutivo: Que é uma substituição (não confundir com substituível que, por sua vez, significa o que pode ser substituído).

Vicário: Que faz as vezes de outrem; substitutivo; substituto; expiatório.




LIÇÃO 3


OS PASSOS DA SALVAÇÃO




INTRODUÇÃO
       Os passos que devem ser dados pelos que almejam se salvar, são:


I. Passos que conduzem à salvação


       Os passos que nos conduzem à salvação são cinco:

1.1. Reconhecer que é pecador

       A Bíblia diz que “não há homem que não peque” (II Cr. 6. 36). Este reconhecimento não nos pode salvar, mas é um passo que tem que ser dado por quem quer ser salvo.

1.2. Reconhecer que Deus é justo

       A justiça de Deus vai além do que pensamos e falamos, e às vezes entra em choque com os nossos pontos de vista.

1.3. Reconhecer que está condenado

       Sim, contrário ao que muitos pensam, a justiça divina não condenou apenas os grandes pecadores como: Os estupradores, os latrocidas, os caluniadores, os adúlteros, os homossexuais, os invejosos, os ateus, os idólatras, os necromantes, os prostitutos, os feiticeiros, etc. Não!!! Deus condenou todos ao Inferno. Disse Jesus: “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis...” (Lc. 13:5). Disse o apóstolo Paulo: “... todos pecaram e estão privados da glória de Deus” (Rm.3:23). Isto evidencia que a justiça divina vai além do que cogitamos, e não raramente diverge dos nossos padrões.

1.4. Reconhecer que a morte de Jesus foi substitutiva

       Muitos pensam que a razão pela qual Jesus morreu, é a seguinte: “Para o homem se salvar, basta-lhe ser bondoso, e Jesus veio ensinar isso. E o fez, não só com palavras, mas, sobretudo, com atos, não pagando na mesma moeda, o mal que lhe fizeram”. Nada, porém, está mais longe da verdade. O quadro que nos é apresentado pela Bíblia é diametralmente oposto. À luz da Bíblia, a razão pela qual Jesus morreu é: O homem é pecador e Deus é justo, e, por estas razões, ficamos tão perdidos, que tudo quanto fizéssemos para sairmos da perdição, não produziria o efeito desejado. Inútil seria arrependermos dos nossos pecados, pedir perdão, chorar... Porque na opinião de Deus, perdoar a culpa é tão errado quanto punir o inocente. Deus vê que o pecado é uma dívida que tem que ser paga. E por não termos com que pagá-la, fomos condenados à perdição eterna. Então Jesus desceu do Céu para cumprir a pena em nosso lugar. É por isso que Jesus é o Salvador. Ele não salva com Suas Palavras, nem com Seus brilhantes exemplos, mas sim, com o seu sacrifício substitutivo. Logo, para que servem as Suas Palavras? Servem para nos informar isso, bem como para educar àqueles que, por crerem nisso, tornarem-se cristãos. Assim está claro que Deus não perdoou a nossa dívida, e sim, que Jesus pagou-a por nós, e que, portanto, seremos quitados para com a justiça divina, se arrependidos crermos nesta verdade. O leitor talvez queira formular a seguinte pergunta: “Porque diz então a Bíblia que Deus perdoa?” A resposta a esta pergunta é que com este termo simples e de fácil compreensão, a Bíblia está dizendo que Deus nos livra da condenação, se recorrermos ao sacrifício de Jesus.
       Como o leitor sabe, substitutivo não é o mesmo que substituível. Portanto, quando afirmo que o sacrifício de Jesus foi um ato substitutivo, quero dizer que Ele nos substituiu na morte e no sofrimento, sofrendo a pena em nosso lugar; e que, por conseguinte, o Seu sacrifício nos quita para com Deus, se arrependidos cremos. É por isso que nós não cremos em purgatório, nem em reencarnação, pois não temos dívida a pagar. Jesus já pagou-a  por nós (Is 53.4–12; 1Pe 2.24; Lc 23.43).

1.5. Reconhecer e receber a Jesus como Salvador pessoal

       Já afirmei que se Jesus não morresse por nós, não seríamos salvos, por mais que implorássemos o perdão. Isto significa que não adiantaria arrependermos, se Jesus não morresse por nós. E uma verdade do mesmo tamanho desta, é que de nada nos adiantará Jesus ter morrido por nós, se não nos convertermos. É o sacrifício de Jesus, mais a nossa fé nesse sacrifício, que mudam a nossa sorte. Não que a fé, o arrependimento, a conversão, a regeneração, etc., tenham, por si mesmos, algum valor salvífico, mas sim, que os méritos oriundos da cruz de Cristo, só nos são conferidos mediante a fé no Seu sangue. A salvação depende de dois lados: do lado divino e do lado humano. De nós exige-se a passividade. E, se acedermos, o sangue de Cristo, como agente ativo, nos salvará. Em outras palavras: Não somos salvos pela fé que depositamos em Cristo, mas sim, pelo Cristo em quem depositamos a fé. Embora seja certo dizermos que somos salvos por meio da fé em Cristo, urge que entendamos que ser salvo por meio da fé em Cristo significa ser salvo pelo Cristo em quem cremos. Isto posto, salta aos olhos que a salvação advém do Cristo em quem cremos, e não da fé que temos em Cristo.
       Os cinco passos que conduzem à salvação, dos quais temos tratado até aqui, podem ser resumidos em um só passo: receber a Cristo como único e todo suficiente Salvador e Senhor pessoal. Porém, os detalhes aqui aventados se fazem necessários porque não são poucos os que pensam que já aceitaram a Jesus, mas que, de fato, não sabem nem o que é isso. E este é o motivo pelo qual há tantos evangélicos que nunca sentiram o gozo da salvação. Alguns desses “crentes” me confidenciaram que nunca sentiram esta alegria. “Nunca senti essa alegria da qual você tanto fala”, disse-me certo novo “convertido”, que já estava na igreja há mais de três meses. Então lhe perguntei: “Se Deus lhe lançasse no Inferno agora, Ele estaria sendo justo para com você, dando-lhe exatamente o que você merece, ou Ele estaria cometendo um ato de injustiça?”. Ao que ele respondeu: “Deus estaria sendo injusto para comigo, pois embora eu não seja perfeito, não sou tão mal assim”. Então eu lhe disse: “É por isso que você ainda não sentiu o gozo inefável e glorioso do qual nos fala a Bíblia (1Pe 1.8), pois o mesmo só pode ser sentido por aqueles que já aceitaram a Jesus como seu Salvador”. Então ele me refutou: “Mas eu já aceitei a Jesus como meu Salvador”. E eu lhe disse: “Não! Você nunca aceitou a Cristo como seu Salvador. Aliás, você não necessita disso” (ironizei), “visto que só os pecadores perdidos, como eu fui até o momento da minha conversão ao Cristianismo, precisam de um Salvador. As pessoas bondosas, dignas do Céu, não carecem disso. Elas já merecem o Céu, e para lá irão inevitavelmente, visto ser óbvio que Deus não fará a injustiça de lançá-las no Inferno”. E disse-lhe mais: “Para o homem se salvar, é necessário que ele dê cinco passos, e o primeiros da série, é reconhecer que é um miserável e indigno pecador. E, pelo que vejo, você ainda não deu nem o primeiro passo. Ora, se você já tivesse dado os quatro primeiros passos, ainda estaria perdido, quanto mais sem dar o primeiro.
       “Ora, se o pecado, comum a todos nós, não fosse tão asqueroso e repugnante à justiça divina, o Filho de Deus jamais viria ao mundo morrer para nos salvar. Além disso, nunca teríamos que recebê-lo como Salvador. Teríamos que adorá-Lo, cultuá-Lo, lhE obedecer, etc., mas tê-lo como Salvador, não. Até porque Ele não seria Salvador. Logo, se há algum homem bom, indigno do Inferno, por esse Cristo não morreu; e desse, Cristo não é o Salvador. E, deste modo, esse tal homem não tem porquê, nem como, aceitar a Cristo como seu Salvador”. Por conseguinte, quem vem para a igreja sem dar o primeiro passo supracitado, é como um doente terminal que não sabe que está enfermo, não sabe que sua doença está lhe matando, não sente a necessidade de um médico para diagnosticar sua doença e medicá-lo, e não toma medicamento algum. E, semelhante a esse hipotético enfermo, era o novo “convertido” acima mencionado. Mas, graças a Deus, ele reconheceu seu deplorável estado de mísero pecador, apelou para a misericórdia divina à base da cruz, e me disse poucos dias depois: “Senti! Senti a alegria da qual você fala! Oh! É coisa muito fina!”.
       Há muitas pessoas nas igrejas evangélicas, passando-se por autênticos cristãos, mas que nunca se converteram. E é digno de nota que quando falamos daqueles indivíduos que se fazem passar por cristãos, sem sê-lo de fato, pensamos logo naqueles hipócritas, invejosos, caluniadores, adúlteros, soberbos, estelionatários, mentirosos, mexeriqueiros, etc. Mas essa generalização não é inteligente, visto que muitos desses falsos crentes são pessoas amáveis, generosas, honestas, amorosas, abnegadas, resignadas, castas, altruístas, sinceras, benemerentes, etc. Entretanto, não são cristãos no sentido teológico deste termo, visto que a tábua de salvação dos mesmo não é a cruz de Cristo. Geralmente creem que embora não sejam perfeitas, são, contudo, gente boa, de moral ilibada, e que Deus, por isso mesmo, usará de bondade para com elas, já que se esforçam para fazerem o melhor possível. Creem tais pessoas, que o fato de se esforçarem para fazerem o bem, lhes confere méritos. Não se iluda, esses “crentes” não são cristãos. Cristão é aquele que reconhece que é suficientemente mau para merecer o Inferno, e implora absolvição exclusivamente à base do sangue de Jesus, sem somar a isso nenhum outro recurso. Nem mesmo nossas virtudes podem ser somadas ao sangue de Jesus.
       Perguntei certo dia a uma senhora, membro de uma igreja evangélica há anos, a qual, desde o dia que se tornou evangélica, havia abandonado a prostituição: “Se Jesus não tivesse morrido para lhe salvar, mas a senhora fosse tudo que é, e fizesse tudo que faz, ao morrer, a sua alma iria para onde?” E ela respondeu: “Para o Céu”. Prossegui: “Então o sacrifício de Cristo lhe é supérfluo, não é mesmo? Ele morrendo ou não, o seu Céu lhe está garantido, certo? O que lhe salva é o fato de a senhora ter se arrependido, pedido perdão, se regenerado, ser uma pessoa que se esforça para fazer o melhor possível, estar sempre pedindo perdão dos pecados, ter abandonado a vida promíscua na qual vivia, etc., não é?”. Este exemplo me faz suspeitar que tanto nas seitas falsas, como nas igrejas evangélicas, há não poucos “Cornélios” (At 10 e 11). Estes, são piedosos, tementes (isto é, reverentes) a Deus, oram continuamente, jejuam, fazem esmolas, são batizados, participam da santa Ceia do Senhor, contribuem financeiramente com dízimos e ofertas para sustento da Obra de Deus, cantam louvores ao Senhor, creem na Trindade, pregam que só Jesus salva, e assim por diante, mas nunca entenderam o porquê da morte de Jesus. Nunca fizeram da cruz sua única tábua de salvação. Temo que os tais estejam incluídos no rol daqueles que se auto-justificam, embora pensem que não. Estes precisam ser socorridos já, pois poder ser presas fáceis das seitas falsas. Eles veem em Jesus o modelo a ser seguido, o perdoador, e pensam ser isso que salva. Realmente pensam que se Jesus, ao invés de morrer, tivesse apenas ensinado a verdade e, após isso, retornado ao Céu sem passar pela morte, seríamos salvos do mesmo modo. Equivocadamente pensam que o importante é a guarda dos mandamentos, bem como constantes pedidos de perdão pelas falhas cotidianas, comuns a todos os humanos, já que até os apóstolos tinham lá suas imperfeições também.
       Estou certo que muitos dos que não têm um profundo conhecimento soteriológico, são, de fato, salvos, visto que a Jesus se aceita mais com o coração, do que com a cabeça. Mas até aonde essa falta de conhecimento não interfere na salvação? E até aonde esse desconhecimento não contribuirá para induzi-los à heresia da salvação pelas obras, pregada pelas seitas falsas?
       Os três último parágrafos acima, constam da Lição 2. Contudo, considerei importante reproduzi-lo.

II. Passos subsequentes à salvação

       Doravante veremos os passos que sucedem a concretização da salvação.

2.1. O passo que nos mantém na salvação

      A Bíblia afirma que a salvação é um dom (isto é, presente) que Deus nos dá pela graça, por meio da fé, sem o auxílio das nossas boas obras (Ef 2.9-8). E deixa claro que a verdadeira fé é viva, e que produz em nós real salvação; a qual, por sua vez, é uma transformação interior que invariavelmente redunda obras que de fato agradam a Deus. Logo, os que tentam se salvar pelas obras, estão como que pondo o carro adiante dos bois. E os que tentam se salvar por meio da fé mais obras, estão como que pondo o carro ao lado dos bois. O certo, porém, é deixarmos o “boi” da fé puxar o “carro” da salvação, em cujo interior devemos adicionar cada vez mais as boas obras. Isto porque não somos salvos pelas obras, mas somos salvos para as obras (Ef 2.10).
       Do exposto neste tópico se vê que as obras e a fé são importantes, mas temos que pô-las nos seus devidos lugares. Do contrário, não seremos salvos. A fé no sangue de Jesus vale a quitação da nossa dívida e a consequente salvação, a qual é um dom; e as boas ações que daí nascerem serão galardoadas, isto é, recompensadas. Sobre estes galardões (ou recompensas), só entenderemos quando chegarmos lá. Por enquanto fica claro apenas que galardão e salvação são coisas diferentes, visto que a Bíblia fala de pessoas que se salvarão, mas que não terão galardão (1Co 3.10-15).
       O passo que nos mantém na salvação é a compreensão de que Jesus já nos salvou, e que, então, mais nada precisa ser feito para sermos salvos. Jesus não precisava, não precisa e nem precisará da nossa ajudinha. O cristão é como uma árvore que foi ressuscitada: mais nada necessita fazer para ser ressuscitada. Contudo, se realmente somos árvores ressuscitadas, então temos seiva, folhas verdes, flores e frutos. Mas, se continuamos secos, fica provado que ainda não fomos ressuscitados, isto é, não somos verdadeiros cristãos, ainda que o tenhamos sido no passado. Em outras palavras: As boas obras não salvam, mas fluem de nós normalmente, quando de fato somos salvos. De modo que, quando faltam estas, é porque, de antemão, faltou aquela.
       Cristo não diz à árvore morta: “Produza frutos que eu lhe darei vida”. Mas diz: “Receba a vida, e produza frutos”. Se essa ordem fosse invertida, as “árvores” mortas entrariam num ciclo vicioso, ou num beco sem saída, já que árvore morta não produz frutos.
       O apóstolo Paulo disse que basta-nos a fé para sermos salvos (Ef 2.8-9; Rm 11.6), enquanto Tiago assevera que ninguém se salva só por meio da fé, mas sim, mediante fé e obras. Segundo Tiago, a fé sem as boas obras é morta (Tg 2.14-26) ). Há contradição entre Tiago e Paulo? Não, certamente. A Bíblia é um todo harmonioso. Então, como os teólogos protestantes explicam esta aparente contradição? Resposta: Cremos que Paulo falou daquilo que produz a salvação – a graça de Deus oriunda do sacrifício de Cristo, que nos é concedida mediante a nossa fé no sangue do Senhor -, e Tiago nos falou daquilo que a salvação produz: as obras dignas de um filho de Deus.
       Quando Tiago diz que a fé sem obras é morta, não está dizendo que a fé depende das obras para ser fé viva, mas sim, dizendo que a fé viva, isto é, a verdadeira fé, produz real salvação, a qual, por sua vez, muda o nosso estilo de vida. De maneira que, quando faltam as obras dignas de um cristão, é porque, de antemão, faltou a salvação. E que, se faltou salvação, então previamente faltou a fé viva, já que esta, inevitavelmente, aciona os méritos da cruz de Cristo, que, por sua vez, salvam invariavelmente os que deles se valem com sincera fé no sangue do Salvador.
       Portanto, se você ainda não é salvo, não faça nada para se salvar, mas usufrua do que Cristo já fez. Sirva-se do que já está feito. Desfrute. E se você é salvo, continue no usufruto da obra de Cristo no madeiro, onde Ele comprou e pagou a nossa salvação.
       Quando um perdido faz algo para se salvar, isto é, quando tenta se auto justificar, subestima o sangue de Jesus, e continua perdido. A auto justificação é apenas mais um pecado, e não um meio de alcançar o perdão. E quando um salvo decide fazer algo para se manter na salvação, nega, por isso, a fé. E o resultado disso é que o salvo se torna ex-salvo, pois regressa à perdição donde havia saído, passando a uma condição inferior àquela na qual vivera antes de conhecer a Deus (2Pe 2.20-22; Mt 12.43-45). Veja também 2Cr 15.2-4; Ez 18.24; 1Co 10.12; 2Tm 2. 11-13; Ap 3. 11.
       Quem não vive como cristão, isto é, na produção dos frutos dignos de arrependimento (Mt 3.8), ou seja, na prática das boas obras, não está salvo. Mas o motivo pelo qual não está salvo, não é porque não faz boas obras, mas sim, não faz boas obras porque não está salvo, visto que, se estivesse salvo, as faria. Não as faria para se salvar, e sim, por ser salvo. Está claro, pois, que este autor não crê nesse equívoco doutrinário, segundo o qual, uma vez salvo, salvo para sempre, incondicionalmente. Não creio na irreversibilidade da salvação. O estado de salvo é sim reversível. A salvação é, sim, reversível. Os perdidos nada precisam fazer para se salvar, a não ser lançar mão do que Jesus já fez. E os salvos nada precisam fazer para se manterem salvos, a não ser segurar com as duas mãos a salvação que já recebeu, sob pena de perdê-la (Ez 18.24; Ap 3. 11). E “segurar com as duas mãos a salvação” significa apenas manter-se na fé salvífica, que é perseverar contrito aos pés do Senhor Jesus, na dependência exclusiva da cruz.
       Na transação da salvação, Cristo faz a parte dEle, e nós fazemos a parte que nos toca. Sem esta sociedade não há salvação. Porém, paralelamente à consciência da necessidade de nossa positiva resposta ao arranjo de Deus, precisamos compreender que a parte que coube a Cristo, foi fazer a nossa parte; e que a parte que nos toca, é crer que Cristo fez a nossa parte, bem como “reivindicar” nossa absolvição à base desse arranjo de Deus. Não podemos esquecer ainda, que esta reivindicação será indeferida, se o pecador não estiver de fato arrependido de seus pecados. Além disso, embora a salvação, por ser eterna, não tenha prazo de validade, torna-se, entretanto, nula, tão logo se negue a fé (2Tm 2. 11-13). E negou a fé, quem parou de viver como cristão. Quem não vive como cristão, cristão não é. E não tente tapar o Sol com a peneira. Agostinho disse acertadamente: “Deus te criou sem ti, mas não te salvará sem ti”, se é que ele se referia ao fato de que temos que aceitar a graça que advém da cruz. Sim, pois como já vimos, Jesus não abre mão da parte que nos toca: a nossa passividade, isto é, nossa aquiescência ao Seus agir em nós.

2.2. Passos para vivermos a salvação

       Ao darmos o quinto passo, nos tornamos salvos. Ao darmos o sexto passo, nos mantemos salvos. Mas há obras que devemos fazer por sermos salvos, isto é, 100% perdoados? Isto é importantíssimo, visto que embora seja verdade que aquele que estava enfermo e já recuperou a saúde, verdadeiramente mais nada necessita fazer para ser curado, certamente o tal muito precisa fazer por ter sido curado. Quem é curado, levanta do leito, anda, trabalha, fala, come com as próprias mãos, etc. Veja, pois, a seguir, algumas das coisas que você deve fazer por ser salvo, se é que você, além de já ter dado os cinco passos que conduzem à salvação, já tenha dado também o sexto passo, a saber, o passo que nos mantém na salvação. São os seguintes:

2.2.1. Praticar a doutrina dos apóstolos

       Vejamos tais doutrinas:

2.2.2. Comungar com seus irmãos na fé

       Muitas pessoas já fizeram o que você acaba de fazer, e já se organizaram. Você é convidado a se unir a um desses grupos, porque lá você encontrará pessoas mais experientes que muito poderão ajudá-lo (Hb 10.25). Estes grupos são conhecidos pelos nomes de evangélicos ou crentes.

2.2.3. Ser batizado

       Jesus mandou pregar o Evangelho e batizar os que creem (Mc.16:16). Seja você também um seguidor de Cristo neste particular.

2.2.4. Não prestar culto aos apóstolos

       Veja o que diz At.10: 25-26; 14:11-18.

2.2.5. Cear

       A Ceia do Senhor é uma ordenança de Cristo e é constituída de pão e suco de uva, os quais simbolizam, respectivamente, o corpo e o sangue  do Senhor (1 Co11.17-34). Todo cristão deve participar deste banquete espiritual, comendo do pão e bebendo do cálice do Senhor (1Co.11. 28).

2.2.6. Orar

       Por ser Jesus o único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2:5), Ele  nos ensinou a orar direto a Deus (Mt 6. 9-13), em Seu  nome (Jo 14. 13-14). Os “intermediários” existem por invencionice dos homens. Portanto, doravante não peça mais nada aos chamados santos. Isso é idolatria. Ore só como a Bíblia ensina. Por favor, ore por mim.

2.2.7. Testemunhar de Cristo

       Conte a todo o mundo a sua nova experiência com Cristo (Mc 5.20).

2.2.8. Entregar-se à prática de todo o bem


Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é boa de fama, se há alguma virtude, se há algum louvor, nisso pensai (Fp 4. 8).

CONCLUSÃO
       Os oito passos, tratados neste segundo tópico, são, como já fiz constar, subsequentes à salvação. Logo, longe de nos conduzirem à salvação, é a salvação que nos conduzem a eles. Eles derivam da salvação, logo, a salvação não decorre deles. Aliás, a salvação não vem de nenhum dos passos abordados neste trabalho. Nem mesmo dos passos que conduzem à salvação, procede a nossa redenção. Os passos que conduzem à salvação são assim chamados porque nos levam à cruz, e não por haver neles qualquer valor salvífico. A salvação deriva exclusivamente da cruz, mas só se efetiva quando recorremos a ela. E, visto que há um hiato entre ela e o pecador endurecido, este necessita mudar de atitude, para que se possa dizer que o mesmo foi ao Calvário e se pôs ao pé da cruz, sob o sangue que dela emana. E é a esta mudança de atitude que chamamos de passos que conduzem à salvação. Com efeito, nenhum dos passos aludidos nesta lição, salva. Temos aqui dois tipos de passos: a) Passos que conduzem à salvação; e b) Passos subsequentes à salvação. Este, por sua vez, se divide em Passos que nos mantêm na salvação e em Passos para vivermos a salvação; mas em nenhum momento falei de Passos que salvam. Os PASSOS QUE SALVAM foram dados exclusivamente pelo Filho de Deus, e são ao todo, três passos: 1) Sua vinda ao mundo em forma humana; 2) Sua morte na cruz; e c) Sua ressurreição dentre os mortos.
       Bem, embora os passos abordados no segundo tópico desta lição, intitulado Passos subsequentes à salvação, não salvem, recusar a dá-los é rebelar-se contra o Senhor. E, como sabemos, fazê-lo é negar a fé. E, considerando que a salvação é por meio da fé, é coerente crermos na condenação dos que negam-na. Por conseguinte, embora seja verdade que os salvos nada precisam fazer para alcançar a salvação (visto que já a alcançaram quando deram os passos que conduzem à salvação), temos, contudo, que segurá-la com as duas mãos sob pena de perdê-la. E dar os passos que conduzem à salvação, dar o passo que nos mantém na salvação, e dar os passos para vivermos a salvação, equivale a se salvar, a se manter salvo, e a viver como salvo. E quem não vive como salvo, salvo não é, ainda que o tenha sido no passado. Cuidado, os ex-salvos existem mesmo. Estes são tão reais quanto os ex-perdidos.

LIÇÃO 4

 

SOBRE O NOVO NASCIMENTO



“Jesus [...] disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo, que aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deu. [...] aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3.3,5).


       Segundo o texto bíblico acima transcrito, o Senhor Jesus Cristo disse que se alguém “não nascer de novo, não pode entrar”, nem “ver o Reino de Deus.” O caro leitor já sabia disso? Sim, ou não, não faz diferença, pois antes que seja tarde demais, você está tomando ciência deste fato; e, portanto, está ao seu alcance tomar as medidas que lhe dizem respeito, objetivando a posse da maravilhosa experiência, a qual Jesus chamou de “nascer de novo”.
       Uma vez que Jesus disse que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus, fica claro que o novo nascimento é a maior necessidade do ser humano. Logo, urge que todos sejam informados e instruídos acerca deste tema.
       Muitos falsos profetas têm conceituado erroneamente o novo nascimento. Esta lição tem por fim aclarar, à luz da Bíblia, o que é mesmo nascer de novo, bem como orientar a quem interessar possa, a ter e viver a sua própria experiência do novo nascimento. Este assunto, ó leitor, é de seu interesse.
       Antes de entrarmos no mérito da questão quanto ao que é o novo nascimento, acho por bem mostrar o que não o é, pois saber isso facilita a compreensão deste assunto. Vejamos, então, as dissertações abaixo, obedecendo ao seguinte roteiro: 1) o que não é o novo nascimento; 2) o que é o novo nascimento; 3) a infalibilidade e segurança do novo nascimento; 4) como nascer de novo; e 5) como viver o novo nascimento.

I. O que não é o novo nascimento

       Como prometemos na introdução desta lição, neste primeiro tópico consideramos as opiniões que nos parecem inexatas, quanto ao que de fato é o novo nascimento.

1.1. Não é deixar de ser mau

       Muitos pensam que nascer de novo é deixar de ser mau. Dos que assim pensam, muitos vivem na ilusão de que já nasceram de novo. Esses são como que doentes terminais que, não obstante, vivem como se gozassem de plena saúde. Estão enfermos, mas não sabem disso, e, portanto, não recorrem ao médico, para que este os diagnostique e medique. Sim, confundir o novo nascimento com moral ilibada, não é uma boa interpretação de João 3.3, pois o Senhor não disse assim: “O assassino, ou assaltante, ou o caluniador, ou o ateu, ou o invejoso... que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Não! O que Jesus disse, foi: “Aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus” (Grifo nosso). Isto, além de provar que o novo nascimento é necessário para a salvação de todas as pessoas, independente de terem sido ou não maldosas, prova também que o mesmo não é, necessariamente, sinônimo de uma reintegração aos valores morais. Segundo as palavras de Cristo ora em análise, até a melhor pessoa do mundo precisa e pode nascer de novo. Ninguém é tão bonzinho, que não necessite do novo nascimento, nem tão mau, que não possa nascer de novo.
       O fato de um indivíduo fazer crueldades prova que o mesmo não nasceu de novo. Mas se você é uma pessoa de bem, saiba que isso não prova que você tenha nascido de novo. Há pessoas que não sabem (como experiência pessoal) o que é matar, roubar, caluniar, etc., porque nunca fizeram essas coisas. E pela mesma razão, não sabem o que é nascer de novo. Os tais desconhecem, tanto uma vida de perversidade, quanto o novo nascimento.
       Os que afirmam que o fato de Jesus haver dito que “aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus”, equivale a dizer que o homem tem que parar de fazer atrocidades para se salvar, precisam ser informados que essa equivocada opinião conduz às seguintes conclusões desastrosas:

a) quem nunca fez atrocidades, só se salvará se fizer duas coisas já: 1) fazer atrocidades; 2) parar de fazê-las. Claro que sim, pois como pode alguém parar de fazer o que nunca fez?;

b) quem nunca fez barbaridades, não precisa nascer de novo, considerando que, se até quem abandonou a criminalidade, está salvo, quanto mais quem sempre foi pessoa de bem. Ora, essa falsa conclusão pode levar uma pessoa de bem à perdição eterna, considerando que a mesma pode cruzar os braços antes de concluir a obra. Assim fica provado como 2+2 são 4, que nascer de novo não é o mesmo que abandonar as orgias, e que é uma experiência que muitas pessoas de bem ainda não tiveram. As boas obras que fluem das pessoas que nasceram de novo são, quando muito, frutos do novo nascimento; e não, o novo nascimento em si. O novo nascimento, propriamente dito, é algo muito mais profundo. E isto porque o nascido de novo é transformado (2Co. 5.17), e não, reformado. A mudança efetuada por Cristo, à qual Ele deu o nome de novo nascimento, é de dentro para fora, e não de fora para dentro. É uma mudança posicional, forense, e isto por Deus, para Deus, e diante de Deus; e nem sempre é seguida por notável mudança externa, perceptível à visão, visto que este milagre pode ocorrer na vida de uma pessoa que não tem de que se retratar perante a sociedade.

Sim, repito que à luz da Bíblia podemos afirmar que:

a) até a melhor pessoa do mundo precisa nascer de novo;
b) até a melhor pessoa do mundo pode nascer de novo;
c) até a melhor pessoa do mundo pode não ter ainda nascido de novo;
d) até a melhor pessoa do mundo corre o risco de morrer sem nascer de novo, e assim se perder para sempre. Logo, o novo nascimento, que é uma necessidade comum a todos, e está ao alcance de todos, não deve ser confundido com as mudanças externas que às vezes se consegue nas falsas religiões, visto que as “reformas” realizadas nas oficinas de Satanás não podem ser comparadas com a transformação efetuada por Jesus. Repito que Cristo não reforma, antes, transforma;
e) ninguém é tão pecador que não possa nascer de novo, nem tão bonzinho que não necessite disso.

1.2. Não é reencarnar

       Allan Kardec asseverou que Jesus era reencarnacionista. Kardec acreditava que Jesus chamou de nascer de novo, o que o Espiritismo chama de reencarnação (Allan Kardec. O livro dos espíritos. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 74 ed. 1994, P. 153).
       Segundo o Kardecismo, o que Jesus estava dizendo quando afirmou que “aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus,” é que o espírito precisa encarnar (nascer) e desencarnar (morrer) várias vezes, rumo à perfeição moral e intelectual, quando então fará parte do conjunto dos espíritos perfeitos, no mundo dos quais morará. Mas do fato de Allan Kardec citar a Bíblia para “provar” a “ortodoxia” de suas doutrinas, se subentende que ele admitia que fazê-lo é certo. Eu também penso assim, e por este motivo citarei a Bíblia para provar que João 3.3 foi mal interpretado por Kardec. É que em Lucas 23.39-43 está registrado que a um ladrão que suplicou a misericórdia do Senhor nos últimos momentos de sua vida, disse Jesus: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”.

Agora, acompanhemos o seguinte raciocínio

a) se quem não nasce de novo, não pode ver o Reino de Deus, logo, quem não nasce de novo não se salva;
b) se quem não nasce de novo, não se salva, e o ladrão se salvou, então ele nasceu de novo naquele dia;
c) e se o mencionado ladrão nasceu de novo naquele dia, então o novo nascimento não é reencarnar. Claro como o Sol do meio-dia. Só não enxerga isso quem não quer ver. Essa até cego vê.

1.3. Não é incomum aos cristãos

       Os cristãos sempre creram que a expressão “nascer de novo”, proferida por Jesus, refere-se à indispensável experiência da conversão à fé cristã, e à subsequente salvação que, por sua vez, decorre do perdão dos pecados. Mas, segundo os testemunhas–de-jeová, ninguém precisa nascer de novo para se salvar, e sim, para morar no céu. E, como eles creem que só 144.000 cristãos vão morar no céu com Jesus, deduzem dessa falsa premissa que só Jesus e mais 144.000 nasceram de novo (Raciocínios à Base das Escrituras. Cesário Lange: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. 1985, pp. 257-258). Entretanto, à luz de João 1.12-13; 1João 2.29; 5.1, todos os cristãos verdadeiros são nascidos de Deus, e, portanto, nascidos de novo. Logo, o novo nascimento, além de não ser só para 144.000 cristãos (pois como nós e os testemunhas–de-jeová sabemos, os 144.000 não são os únicos cristãos verdadeiros), enganam-se os que pensam que Jesus também nasceu de novo. Claro, Jesus é Salvador, e não salvo; Jesus é perdoador, e não perdoado; Jesus é o operador do milagre do novo nascimento, e não um nascido de novo.
       Os testemunhas–de-jeová afirmam, no seu livro supracitado, que o cristão que não nascer de novo não herdará o céu, mas somente a Terra paradisíaca. Porém, há nessa interpretação dois erros:

A) nenhum cristão pode nascer de novo, visto já ter passado por esta experiência quando de sua conversão ao Evangelho. Nada mais óbvio que só pode nascer de novo aquele que ainda não teve esta experiência. E o cristão a teve quando se tornou cristão. Logo, só os que nunca foram cristãos, assim como os ex-cristãos, podem nascer de novo;

B) quando Jesus disse que se “alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”, estava tão somente dizendo que o novo nascimento é necessário para a salvação. E que, portanto, aquele que não nascer de novo, se perderá. Isto, e mais nada. À luz de 1Coríntios 6. 9-10, pode-se ver que o não herdar o Reino de Deus, não é o mesmo que herdar apenas o Paraíso terrestre, e sim, ser condenado. Portanto, está claro que: a) o novo nascimento não é privilégio de 144.000 cristãos (como o querem os testemunhas-de-jeová), selecionados dentre os demais seguidores de Cristo, para, diferentemente daqueles, irem morar no Céu; b) nenhum cristão pode nascer de novo, pois como nascer de novo outra vez? Quem nunca foi cristão, e o ex-cristão, podem nascer de novo, mas o cristão, não; c) o novo nascimento, ao qual Cristo convida a todos os perdidos, pode ser usufruído por toda a humanidade; d) ai de quem nunca nascer de novo!; e) é blasfêmia dizer que Cristo também nasceu de novo, pois isso equivale a dizer que Ele também era um pecador perdido, e que também já se salvou.

1.4. Não é o batismo

       Abaixo expomos a equivocada crença, esposada pela Igreja Católica, quanto ao que seria o novo nascimento, e contra-argumentamos.

1.4.1. Expondo o que a “Igreja” diz

       A Igreja Católica ensina que os recém-nascidos não-batizados não são filhos de Deus; estão debaixo do poder do diabo; são escravos do poder das trevas; e os que morreram assim, ingressam num estado chamado Limbo. É doutrina católica que as almas das criancinhas que se estão no Limbo, não estão no Céu, e sim, num lugar onde não podem ver a Deus face a face. A Igreja Católica não garante que tais almas sairão um dia do Limbo, mas observa que, considerando que Deus é misericordioso, talvez ainda haja esperança. E esta insegurança justifica (segundo o clero católico) rezarmos pela salvação dos nenéns que morreram sem o batismo, confiando-os à misericórdia de Deus, bem como batizar às pressas a todos os recém-nascidos.
       Que é “poder das trevas”? Bem, segundo me consta, estas expressões referem-se ao diabo e aos demônios. Assim pensam também renomados teólogos evangélicos. Eis um exemplo: “O poder das trevas: Alusão a Satanás e às forças do mal” (Nota marginal, referente ao Evangelho Segundo Lucas, capítulo 22, versículo 53, constante da Bíblia de Estudo Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002, in loco]).
       Que é “poder do Maligno”? Ora, todos sabem que Maligno, com inicial maiúscula, é um dos títulos do diabo. Sim, pasme o leitor, mas a Igreja Católica Romana prega oficialmente que os recém-nascidos não-batizados estão debaixo do poder de Satanás.
       O que levou o clero católico à conclusão acima denunciada? Resposta: Jesus disse que o ser humano tem que nascer da água e do Espírito, para se habilitar a entrar no Reino de Deus (Jo 3.1-5). De outro modo, não terá acesso ao Reino dos céus, isto é, será condenado. Como os chefes da Igreja Católica creem que é pelo batismo que se nasce da água, concluem que o batismo é necessário para a salvção até dos recém-nascidos.
       Para que o prezado leitor veja que de fato a Igreja Católica prega o que afirmamos acima, basta ler as transcrições abaixo:
a) “Por nascerem com uma natureza humana, decaída e manchada pelo pecado original, também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de serem libertadas do poder das trevas e serem transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, para a qual todos os homens são chamados. A gratuidade pura da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das crianças. A Igreja e os pais privariam então a criança da graça inestimável de tornar-se filho de Deus se não lhe conferissem o Batismo pouco depois do nascimento” (Catecismo da Igreja Católica, Petrópolis: Vozes. 1 Ed. 1993, p. 348. Grifo nosso);
b) “Quanto às crianças mortas sem o Batismo, a liturgia da Igreja convida-nos a ter confiança na misericórdia divina, e a orar pela salvação delas” (Ibid. p. 355. Grifo nosso);
c) “A Igreja não conhece outro meio senão o batismo para garantir a entrada na bem-aventurança eterna” (Ibid., p. 350. Grifo nosso);
d) “Por que a Igreja batiza as crianças? Porque elas, tendo nascido com o pecado original, precisam ser libertadas do poder do Maligno e ser transferidas para o reino da liberdade dos filhos de Deus” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Edições Loyola, 2005, p. 90. Grifo nosso [Este livro foi aprovado pelo Papa Bento XVI, quando de seu lançamento em 2005]);
e) “A partir de Santo Anselmo [...], os teólogos propuseram o limbo como estado de felicidade natural reservada a tais crianças; elas veriam a Deus não face a face, como no céu, mas indiretamente, através do espelho das criaturas” (BETTENCOURT, Estêvão. Católicos Perguntam. Santo André: O Mensageiro de Santo Antônio. 7 ed. 2004, p. 29).
f) “Limbo [...]: Lugar em que, segundo a teologia católica, posterior ao séc. XIII, se encontram as almas das crianças muito novas que, embora não tivessem alguma culpa pessoal, morreram sem o batismo que as livrasse do pecado original” (Novo Dicionário Aurélio. in loc).

1.4.2. Refutando o que a “Igreja” diz

       Doravante, consideramos o que a Igreja Católiva diz acerca do imaginário Limbo, bem como das crianças que, supostamente, lá estão retidas.
       Vimos que o Dr. Aurélio disse que essa doutrina católica é posterior ao século XIII. Mas segundo me consta, essa crença absurda, cuja data de nascimento não sei precisar, já existia no século XI. O teólogo e filósofo católico, Anselmo, nascido no ano 1033, já acreditava nisso. Isso é confessado pelo Padre Dom Estêvão Bettencourt: “A partir de Santo Anselmo [...], os teólogos propuseram o limbo como estado de felicidade natural reservada a tais crianças; elas veriam a Deus não face a face, como no céu, mas indiretamente, através do espelho das criaturas” (Católicos perguntam. Op. cit., p. 29). Logo, se somarmos a informação que nos chega às mãos através do Dr. Aurélio, ao fato de que no século XI essa heresia já era defendida até por Santo Anselmo, concluímos que esse ensino esteve nos bastidores da “Igreja” por um período de mais ou menos 200 anos, até, finalmente, receber a configuração atual e ser incorporada no pacote das doutrinas católicas.
       O leitor certamente se lembra do argumento acima usado por mim, objetivando provar que nascer de novo não é o mesmo que reencarnar. Pois bem, aquele mesmo argumento pode ser usado para provar que o batismo e o novo nascimento são distintos e diferentes. Isto porque, se o tal bandido de que trata Lucas 23.43, se salvou sem passar pelo batismo, salta aos olhos que o referido marginal nasceu de novo sem ser batizado. Isto prova cabalmente que nascer de novo não é o mesmo que se batizar. Além disso, os capítulos 10 e 11 do livro bíblico Atos dos Apóstolos nos informam que Cornélio e os seus parentes e amigos por ele convidados à sua casa, receberam o Espírito Santo antes de serem batizados. Ora, Jesus dissera que o mundo (isto é, os perdidos) não pode receber o Espírito Santo (Jo 14.17). Logo, ter o Espírito Santo é privilégio da Igreja. E, por conseguinte, Cornélio e os que estavam na sua residência tornaram-se membros da Igreja (e, consequentemente, nascidos de novo) antes de serem batizados em água.
       O fato de Jesus haver dito que o Reino dos Céus é das criancinhas (Mt.19:14), prova que os nenéns estão automaticamente sob a proteção do sangue de Jesus. Claro, Deus não condenaria a um neném não-batizado, visto que o mesmo não tem culpa disso. As criancinhas realmente são portadoras da natureza pecaminosa hereditária, conhecida pelo nome de pecado original, mas não têm culpa disso, e são, por isso mesmo, automaticamente salvas pelo sangue de Jesus. A água de João 3:5 é a palavra de Deus (Ef. 5: 26).
       É certo que Jesus disse que “quem crer e for batizado será salvo”, porém, isto não inclui os recém-nascidos, visto que, de outro modo, eles seriam condenados inevitavelmente, já que não podem crer. Sim, batizá-los é fácil, mas fazê-los crer, foge da nossa alçada.
       Segundo o que transcrevemos acima, Bettencourt disse que “A partir de Santo Anselmo [...], os teólogos propuseram o limbo como estado de felicidade natural reservada a tais crianças; elas veriam a Deus não face a face, como no céu, mas indiretamente, através do espelho das criaturas”. Vê-se, pois, que ele está tentando remediar essa doutrina tão esdrúxula, definindo o Limbo como “estado de felicidade”, embora não possam ver a Deus face a face. Mas, será que há mesmo alguma felicidade para quem morreu sem nascer de novo, sem ser filho de Deus, como escravo do poder das trevas, e debaixo do poder do Maligno? Ademais, não provamos, com transcrições, que a Igreja Católica sustenta que “não conhece outro meio senão o batismo para garantir a entrada na bem-aventurança eterna”? E isso não prova que a Igreja Católica prega oficialmente que há, sim, uma possibilidade de tais crianças nunca saírem do Limbo? E isso pode ser chamado de “estado de felicidade”? Alguém já disse acertadamente que “o mal do sabido é pensar que todo mundo é bobo”.

1.5. Não é se tornar evangélico

       O vocábulo evangélico, que primariamente significa seguidor do Evangelho, atualmente designa adepto do movimento protestante. Este último é o significado desta palavra, constante da epígrafe do presente tópico. Logo, quando digo que nascer de novo não é se tornar evangélico, quero dizer apenas que não é se tornar membro de uma das igrejas evangélicas. Sim, o novo nascimento não está atrelado a nenhuma igreja. O pecador não necessita se vincular a uma das três principais ramificações do Cristianismo (Igreja Católica, Igreja Ortodoxa e Protestantismo), para se salvar.
       Nem mesmo a uma das ramificações do Protestantismo (Assembleia de Deus, Batista, Congregacional, Metodista, Presbiteriana...), necessita o pecador, se vincular, para se salvar. Cremos que nem todos os membros de igrejas evangélicas são salvos. Além disso, certamente há os que não pertencem a nenhuma igreja, mas que já estão de posse do perdão de seus pecados, e por conseguinte, salvos. E, se estão salvos, então já nasceram de novo. Aliás, há até aqueles que ainda são adeptos de seitas falsas, mas que, não obstante, já nasceram de novo. Eis alguns exemplos de pessoas que se salvaram entes de se filiarem a uma igreja evangélica:

A) o ex-Padre Aníbal nos informa que quando ele descobriu que a Igreja Católica é falsa, não quis abandoná-la de imediato, mas continuou lá por mais de três anos, em cujo período tentou abrir os olhos aos seus correligionários, mostrando-lhes o verdadeiro Evangelho. Ele tentou reformar a Igreja, evangelizando clérigos e leigos. Mal sabia ele, porém, que Roma sempre a mesma. Findo esse período, elaborou o seu pedido de exoneração e se dirigiu a uma Igreja Batista, onde serviu a Jesus como Pastor e Evangelista, até o dia em que o Senhor o chamou ao descanso eterno. Pergunto: Quando foi que o irmão Aníbal nasceu de novo? Quando, sem despir-se da batina, se pôs a viver o verdadeiro Evangelho, bem como a evangelizar os católicos, ou quando, após três anos, saiu da Igreja Católica e se dirigiu à Igreja Batista? Claro, ele nasceu de novo no dia em que ele parou de seguir ao Catolicismo, e passou a seguir a Cristo. Temos aqui, então, o caso de um homem que nasceu de novo antes de pertencer a uma igreja evangélica. Tal se dá porque desde o momento em que ele se converteu a Cristo, deixou de pertencer de fato à Igreja Católica, embora tenha continuado lá em termos formais. E, sendo assim, então ele se salvou dentro de uma seita falsa. Ora, se até isso é possível, então é possível se salvar sem pertencer a qualquer igreja, visto que, como bem o diz certo adágio, “antes só do que mal acompanhado”;

B) nas empresas em que trabalhei há movimentos evangelísticos promovidos pelos evangélicos. Estes, embora pertençam às mais diversas igrejas, se unem para cultuar a Deus durante os horários reservados às refeições. Nesses cultos, anuncia-se o Evangelho aos colegas de trabalho, dos quais muitos têm se convertido e produzido frutos dignos de arrependimento. Os companheiros que se convertem nesses trabalhos são aconselhados a procurar uma igreja evangélica com a qual mais se identifiquem. Acontece, porém, que vários desses novos convertidos levam muitos meses só visitando as igrejas, sem se vincular formalmente a qualquer das mesmas. Mas, depois de algum tempo, decidem por se tornar membros de uma dessas comunidades cristãs. Pergunto: Quando eles nasceram de novo? Quando, num culto interdenominacional, realizado no interior das referidas empresas, se entregaram a Cristo, ou quando se filiaram a uma igreja evangélica? Quando se entregaram a Cristo, obviamente, já que Ele é o único e todo suficiente Salvador, não necessitando, pois, da ajudinha das igrejas. Cristo não salva graças às igrejas, e sim, apesar delas.
       Do exposto até aqui, certamente está claro que se equivocam os que, porventura, pensem que todos os que não pertencem a nenhuma igreja evangélica, ainda não nasceram de novo. Igualmente equivocados são os que pensam que já aceitaram a Jesus, pelo simples fato de seguirem fielmente a uma seita falsa. E estes, realmente ainda não nasceram de novo. Mas a verdade solene e perene é:

a) há muitos salvos e não poucos perdidos dentro das igrejas evangélicas;
b) há, segundo me parece, poucos salvos e muitos perdidos dentro das seitas falsas;
c) há, também, segundo me consta, poucos salvos e muitos perdidos fora das igrejas evangélicas.
C) Muitos entram nas igrejas evangélicas perdidos, ouvem o Evangelho e se convertem. Estes se salvam dentro das igrejas evangélicas. Mas há os que se convertem dentro de suas casas, nos hospitais, nas penitenciárias, nas embarcações coletivas (ônibus, aviões, barcas, bondes ...), etc. Estes se salvam fora de todas as igrejas. Os tais devem ser orientados a fazer parte de uma igreja evangélica, isto é, de uma comunidade verdadeiramente cristã, visto que Aquele que os salvou quer que eles assim o façam (Hb 10.25). Mas precisamos deixar bem claro que eles devem fazer isso por serem salvos, e não para serem salvos. A comunhão (isto é, a prática da fraternidade, a união ...) com os demais cristãos, é mandamento bíblico; e, portanto, não pode ser negligenciada. O Pai quer que Seus filhos vivam irmanados (Sl 133). Mas o novo nascimento é distinto e diferente desta união, e sempre a precede.
       Todas as igrejas, verdadeiramente evangélicas, são comunidades de salvos, mas nenhuma delas é uma instituição salvadora. A Igreja é salva, mas não salva.
       A Igreja, por ser o conjunto dos salvos, é mais um organismo do que uma organização. E deste corpo fazem parte todos os salvos, embora nem todos os salvos já estejam formalmente ligados a uma comunidade cristã. A Igreja é o conjunto dos redimidos, não a Agência Redentora. A Igreja não é, sequer, Co-Redentora dos perdidos, visto que Cristo é o único e todo suficiente Salvador.

 

II. O que é o novo nascimento

       Vimos acima o que não é o novo nascimento; agora, vejamos abaixo o que o é.

2.1. É indescritível

       Na íntegra, o novo nascimento é indescritível. Não dispomos de palavras que nos habilitem a descrever sem parcialidade o que se passa dentro de um coração redimido. Eu jamais me esquecerei do dia em que nasci de novo. Sem nenhum romantismo, digo que a sensação que eu senti, é que tudo __ o meu quarto, o meu ambiente de trabalho, as árvores... __ estava mudado! Nada, porém, havia mudado, a não ser tão-somente o meu coração! Só quem já nasceu de novo sabe quão maravilhoso é o novo nascimento! Os que nunca nasceram de novo não sabem o que estão perdendo! Quando uma pessoa nasce de novo, sente, no âmago da alma, que aconteceu coisa! Um gozo indizível e glorioso inunda todo o seu ser! (1Pe 1.8). Os nascidos de novo têm motivos para viver, pois têm gozo, paz, alegria, esperança, amor, felicidade... Só os nascidos de novo são felizes de fato, pois só estes não terão a decepção de saber um dia, que viveram a vida toda no engano! Os que se sentem felizes sem terem nascido de novo, são infelizes e não sabem.

2.2. É um milagre divino

       Embora eu tenha afirmado que o novo nascimento é indescritível, tentarei dar um vislumbre do mesmo. A frase original traduzida por “nascer de novo” pode ser vertida também, por “nascer de cima”. Isto significa que o novo nascimento é um milagre operado por Deus, e não algo conquistado por nós pelos nossos próprios esforços e méritos (Ef 2.8,9; Rm 11.6; Tt 3. 5-7; Jo 3.16). Talvez o fato de o véu do Templo, de modo sobrenatural, rasgar-se de cima para baixo, e não, de baixo para cima (Mt 27. 51), traga no seu bojo uma mensagem a ser decodificada. Talvez seja uma ratificação, sem palavras, do que consta de João 3.16, a saber, que o próprio Deus se mobilizou para mudar a nossa sorte. Logo, não precisamos inventar moda. Aceitemos a Jesus e nasçamos de novo pelo poder de Deus!

2.3. É nascer da água e do Espírito

       Como já afirmei, neste caso a “água” é a Palavra de Deus. E quanto ao Espírito, obviamente trata-se do Espírito Santo, a terceira Pessoa da Trindade. Portanto, nascer da água e do Espírito significa o seguinte: A pregação do Evangelho, mais a operação do Espírito Santo, produzem na vida ao pecador (quando este o permite), uma transformação radical e instantânea. O indivíduo é, no ato, transformado da água para o vinho, pela Palavra de Deus aplicada no seu coração, no poder do Espírito Santo (Lc. 7: 48, 50; 19: 9). Eis o novo nascimento.

2.4. É a nomenclatura do milagre da salvação

       Novo nascimento é o cognome da salvação! É o apelido, digamos assim, do perdão! É o nome que mais se aproxima da realidade experimentada por aqueles que têm uma experiência com Deus! É um excelente nome dado à reconciliação com Deus! Se a propagada reencarnação existisse, esta não chegaria aos pés do novo nascimento. Isto porque, segundo os reencarnacionistas, o reencarnado tem que sofrer as consequências dos males praticados na (s) encarnação (ões) anterior (es). Mas, referindo-se aos nascidos de novo, diz a Bíblia: “[...] agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus [...]” (Rm 8.1). E: “[...] se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.

III. A infalibilidade e segurança do novo nascimento

       Por afirmar o Senhor Jesus que quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus, fica garantida a condenação de quem não nascer de novo, bem como a salvação de quem experimentar o novo nascimento. Se o novo nascimento não estivesse em condição de nortear nossas vidas, não faria sentido Jesus dizer que é quem não nascer de novo que não entrará no Reino de Deus; pois que então, o acesso ao Reino estaria vedado a todos. E não somente aos que não nascessem de novo. Sim, quem não nascer de novo não verá o Reino, mas quem nascer de novo entrará nele.
       O que Jesus Cristo pretendia, ao dizer que os que não nascerem de novo não entrarão no Reino de Deus, não era falar da infeliz sorte dos que não nascerem de novo, e sim mostrar a porta de acesso ao Reino - o novo nascimento. Assim fica claro que o novo nascimento funciona, e quem o disse foi Jesus. Para os nascidos de novo, já deu tudo certo. Não estamos aventurando a sorte. O perdão dos pecados e a consequente salvação de nossas almas, o selo do Espírito Santo, os dons espirituais, a comunhão com Deus... são realidades presentes na Igreja. Não estamos esperando alcançar estas coisas um dia, pois já as alcançamos. Já nos encontramos com Cristo. Daqui para frente, apenas vamos, de quando em quando, mudar de endereço, até que o novo céu e a nova Terra sejam estabelecidos (Ap 21.1). Por enquanto estamos com Jesus no planeta Terra (Mt 18.20; 28. 20); se morrermos, iremos morar com Ele no Paraíso Celestial (Fp 1.21-26; 2Co 5. 1-10); morrendo ou não, vamos morar com Ele no Céu, no dia do arrebatamento da Igreja (Jo 14.1-3; 1Ts 4. 13-17; 1Co 15. 50-52); e depois Ele nos transportará à Nova Jerusalém, à nossa eterna morada, que descerá do Céu. Assim, ora aqui, ora acolá, estaremos doravante, para sempre com o Senhor Jesus, o que equivale a dizer que, de certo modo, já chegamos onde queríamos. Já fomos, por Jesus, introduzidos à presença de Deus, com quem viveremos para sempre de hoje em diante. Já sentimos no cerne de nossas almas, a gostosa presença de Deus!

 

IV. Como nascer de novo

       Arrependido de seus pecados curve-se aos pés do Senhor Jesus, e declare-se dependente dEle e da Sua cruz para a sua salvação e força, diante de Deus, de todo o seu coração; faça dEle e Sua cruz a sua única tábua de salvação; deposite nEle toda a sua confiança e passe a viver exclusivamente para Ele. Nada precisamos fazer para nascermos de novo, a não ser tão-somente aceitarmos o que já está feito!

V. Como viver o novo nascimento

       Se você fez o que lhe recomendei acima, você já nasceu de novo, e, por conseguinte, mais nada precisa fazer para alcançar esta graça. Mas você tem muito que fazer por ter nascido de novo. Portanto, procure uma Igreja Evangélica (não evangélica apenas no nome, mas de fato) e ponha em prática o que está registrado em At 2. 41-43.

CONCLUSÃO
       Encerro esta lição relembrando que o Calvário humilha os exaltados, e exalta os humildes! Ele diz aos que se auto justificam: “Eu constituo prova cabal de que vocês nada podem sem mim”. E diz aos que nele se refugiam: “Entrem no gozo do Senhor! A Casa é de vocês! Adentrem ousadamente!”.
       Não podemos realizar em nós o milagre do novo nascimento, mas apenas deixar ou não deixar que a graça nos gere e nos dê à luz.
       A vaidade humana é uma das razões pelas quais a provisão divina mediante o sangue de Jesus é desdenhada por inúmeras pessoas. Estas querem ter o prazer de entrar no céu pelos seus próprios esforços e méritos; querem ser independentes; acham ser humilhante dependerem de Deus. Há até aqueles que aceitam que Deus lhes ajude a se salvar, mas de modo algum concordam em ser totalmente passivos na transação da salvação. Estes, a menos que se retratem, jamais nascerão de novo, e se perderão inevitavelmente. Lutemos, pois, irmãos em Cristo, orando e pregando a Palavra, para que esses infelizes mudem de atitude, abandonando seus próprios “recursos” e recorrendo à provisão divina, intitulada Novo nascimento.

CLOSSÁRIO

Adágio: provérbio; ditado;

Escolástica: Doutrinas teológico-filosóficas dominantes nos séculos IX ao XVII, que visava provar que a fé não é, necessariamente, irracional.




LIÇÃO 5

 

SOTERIOLOGIA CATÓLICA  I



INTRODUÇÃO
       A respeito do valor das boas obras, próprias dos verdadeiros cristãos, católicos e evangélicos não comungam da mesma ideia. Não obstante, ambos se julgam estar de posse da razão acerca desta questão; trocam mútuas acusações; e cada um desses segmentos defende suas respectivas teses com ardor. Tais divergências consistem no seguinte: Os evangélicos creem que a salvação só é possível mediante a fé, sem o auxílio das obras. Já o clero católico insiste em dizer que a salvação se dá mediante a fé somada às obras. Vejamos então, a seguir, o que as partes em litígio têm a dizer, acerca dessas posturas diametralmente opostas, e tomemos partido com conhecimento de causa.

5.1. A Igreja Católica nos refuta

       O Padre Luiz Cechinato criticou Martinho Lutero nestes termos:

Lutero não queria relacionar salvação com “boas obras”. Para ele a salvação não vinha de nenhuma obra boa, mas tão-somente da fé (CECHINATO, Luiz. Os vinte séculos de caminhada da Igreja. Petrópolis: Editora Vozes. 4 ed. 2001, pp. 245-246).

       Esta crítica a Lutero é, na verdade, estendível a todos os evangélicos, visto que, quanto ao papel das obras na transação da salvação, unanimemente pregamos o que também pregara o grande reformador: que a salvação não é pelas obras, e sim, unicamente pela graça, por meio fé (Ef 2.8-9; Rm 1.17; 11.6). Cremos e ensinamos que o valor salvífico das boas obras é zero. Mas se esta questão não for bem explicada, maus juízos podem, de fato, decorrer daí. Concluo, pois, que talvez a postura teológica das igrejas evangélicas, acerca da salvação, ainda não tenha sido exposta com exatidão e clareza ao Padre Cechinato. Urge, por conseguinte, que o façamos já; e, para tanto, apreciemos as linhas abaixo.

5.2. Aclarando sobre a postura evangélica

       Ora, quando afirmo que a salvação nos é dada por meio a fé, e não pelas boas obras, não estou querendo dizer que se o indivíduo crê que Deus existe, será salvo, mesmo sendo ladrão, estuprador, caluniador, assassino, adúltero, feiticeiro, idólatra, etc. A verdade é outra. O que prego é que ninguém se salvará sem antes passar por um profundo arrependimento de todos os seus pecados, e clamar em oração que Deus o absolva à base do sacrifício substituinte de Jesus. Isto prova que pregamos que a salvação se dá com a junção do elemento ativo (o sangue de Jesus) ao elemento passivo (o pecador arrependido, contrito, crente e orante). Basta isto para provarmos que não creio na salvação de quem não vive como autêntico cristão, visto que ninguém pode dizer que já se arrependeu de um determinado pecado, se ainda vive na prática do mesmo. Em nenhum compêndio teológico evangélico consta que alguém possa ter a experiência da salvação, sem passar pelo arrependimento e a conversão (At 3.19). Eis algumas das provas de que esta minha postura, longe de ser um ato isolado entre os evangélicos, goza da cumplicidade dos nossos teólogos típicos:

ARREPENDER-SE, ARREPENDIMENTO. Deixar o pecado e voltar-se para Deus, a fim de confiar no Senhor, amá-lo e obedecer-lhe. João Batista (Mt 3.8-11; Lc 3 .3-8), Jesus (Mt 4.17; Mc 1.15; Lc 5.32) e os primeiros pregadores da Igreja (At 2.38; 3.19; 17.30; 26.20) puseram ênfase na necessidade do arrependimento (Bíblia de estudo Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil. 2000. Dicionário, in loco);

       Repetindo o que dissera o famoso Pastor George Muller, disse o saudoso Pastor David Gomes:

A vida de fé precisa ser também uma vida de sã consciência. A fé pressupõe fidelidade” (LOBO, H. P. de Castro. 50 mil orações respondidas. Rio de Janeiro: Editora EBAR. 4 ed. 1995, p. 13);

       E o famoso teólogo pentecostal Donald também fez constar:

[...] fé em Deus, expressa na obediência à sua Palavra [...] (STAMPS, Donald C. Bíblia de estudo pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1 ed. 1995, p. 347).

       A salvação e as boas obras são inseparáveis. Tal se dá porque a salvação, que segundo o apóstolo Paulo, é uma graça que “Não vem das obras para que ninguém se glorie” (Ef 2.9), produz boas obras invariavelmente, visto que a mesma é uma transformação interior que, naturalmente, reflete no exterior. Além disso, a verdadeira fé, por si só já é um conjunto de três obras, visto que, neste caso, o vocábulo designa o reconhecimento dos méritos salvíficos que demandam da cruz, somado ao arrependimento dos pecados e à conversão ao Evangelho.
       Reconhecer os méritos que procedem da cruz, arrepender, e se converter ao Evangelho, é algo que até o maior dos pecadores pode fazer num piscar de olhos; e, portanto, se habilitar ao ingresso no Céu em fração de segundo. Ora, se Cristo salva em fração de segundo, então a salvação não é pelas obras, visto não ser possível obrar em tão pouco tempo. Até porque, a salvação da qual falo, é tão instantânea, quanto perfeita, profunda e radical. Com isto quero dizer que em fração de segundo, Cristo perdoa um pecador e o leva para o Céu. E se isso é possível, então a salvação não é pelas obras. Logo, pregar salvação pelas obras é negar isso; e negar isso à moda católica, é pregar salvação pelas obras. E a Igreja Católica nega isso? Sim, nega. E ela o faz, tanto implícita, quanto explicitamente. Porém, não demonstrarei isso agora, e sim, no próximo tópico intitulado Entendendo Cechinato.
       Sim, as boas obras e a verdadeira fé são inseparáveis, mas têm funções diferentes. A fé verdadeira, além de, por si mesma, ser uma boa obra, nos leva à salvação e, por conseguinte, a todas as boas obras que decorrem desta salvação. Mas, como a recíproca não é verdadeira, não cremos na salvação pelas obras. Isso, e mais nada. E o Padre Cechinato faria bem, se antes de nos criticar sem conhecimento de causa, procurasse se inteirar melhor de nossas conclusões teológicas. Isso seria bom, tanto para ele próprio, como para os seus leitores. A relação fé/obras obedece à seguinte sequência: A fé nos leva a Cristo; Cristo transforma o nosso interior; e o interior transformado, reflete no exterior, mudando o nosso viver.
       Como regra, a salvação nos impele às boas obras, quer por omissão, quer por comissão que, respectivamente, é: quer por rejeitar o mal, quer por praticar o bem, já que ser salvo implica em ser reconciliado com Deus. Aliás, não fazer o mal é praticar o bem por omissão. E o que tem a ver a salvação e o bem que dela decorre, com a reconciliação com Deus? A resposta é: Considerando que o mal nasceu em nós em consequência do fato de termos nos separado de Deus lá no Éden, é de se esperar que o mal morra, e o bem volte a fluir, quando essa emancipação é interrompida. Sendo assim, este religar à Fonte de todo o bem, redunda, naturalmente, numa profunda transformação interior. E é muito natural que o que jaz em nosso interior, reflita no exterior. Mas como se dá esta reconciliação com Deus, que nos transforma de dentro para fora? Pelas obras? Não! Mil vezes não! Mas pela fé, como o ensinou o apóstolo Paulo, conforme já vimos acima. Não uma falsa fé ou um simples reconhecimento da existência de Deus, mas a fé autêntica, sinônimo de arrependimento dos pecados e conversão a Cristo.
       Se a salvação fosse pelas obras, os evangélicos não seriam menos salvos do que os católicos, já que as “boas” obras destes não são, necessariamente, superiores às daqueles.
       As falsas religiões dão variáveis notas (ou Graus) ao sangue de Jesus. Tais variações oscilam entre notas igual ou maior que 0 e menor que 10. O Islamismo, o Judaísmo, o Hinduísmo... dão nota 0. O Catolicismo Romano, o Russellismo (Testemunhas de Jeová), o Kardecismo, e outras confissões religiosas, dão notas maior que 0 e menor que 10. E você? Que nota você dá ao sacrifício do Senhor? A nota dada por você será: a) igual a 0, se você não atribui nenhum valor salvífico ao sangue de Jesus; b) maior que 0 e menor que 10, se você, de alguma maneira, atribui algum valor salvífico ao sangue de Cristo, mas sem reconhecer a total eficácia e imediata eficiência da morte substitutiva de Cristo, por julgar que a salvação se dá pelas obras somadas à fé, como o fazem a Igreja Católica e muitas outras confissões religiosas; c) igual a 10, se você, tal qual o apóstolo Paulo, reconhecer a autosuficiência do precioso sangue do Senhor, bem como a insuficiência de tudo de bom que o homem pode fazer, intuindo com isso alcançar a salvação. Porém, se você não der nota 10 ao sangue de Jesus, ainda que a nota dada por você seja 9,99, Cristo lhe dará nota 0. E essa nota elimina, pois lá no Céu só entra discípulo nota 10.
       As seitas “cristãs” que não dão nota 10 ao sangue de Jesus, geralmente apelam para Tiago. Tentam provar através disso e daquilo outro, que Tiago disse que a salvação não se dá só pela fé, mas pelas obras também, ou seja, o que salva é a fé somada às obras. E foi exatamente isso que Cechinato fez. No intuito de “provar” que Lutero estava equivocado, disse ele:

A Bíblia Sagrada diz: “A fé sem obras é morta em si mesma” (Tg 2, 17; 2, 26). Diz ainda: “De que aproveitará, irmãos, alguém falar que tem fé, se não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo? (Tg 2,14)”. Portanto, as duas coisas são necessárias: a fé e as obras (Ibid, p. 246).

       Mas será que Cechinato sabe como os teólogos protestantes interpretam estes versículos constantes da Epístola de Tiago? Provavelmente, não. Doutro modo, ou concordaria conosco, ou traria nossos argumentos à baila, mostrando a fragilidade dos mesmos. Mas ele não fez nem uma, nem outra coisa. Ele apenas citou Tiago, sem entrar no mérito da explanação teológica esposada pelos teólogos protestantes. E isso é desconversar. É preciso saber que os teólogos evangélicos leem a Bíblia toda e, por conseguinte, leem Tiago também. Logo, dizer-nos que Tiago disse o que acima transcreveu Cechinato, é chover no molhado. Já o sabíamos. E é sabendo e crendo no que Tiago escreveu, que fazemos ecoar em todos os rincões do mundo, que as obras não salvam, visto que, segundo a Bíblia, a salvação é por meio da fé. Somos como o apóstolo Paulo, que certamente nunca discordou que a fé sem obras é morta, mas que dizia, ao mesmo tempo, que “pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef. 2.8-9). Relembro que tentar se salvar pelas obras, é dar nota 0 ao Calvário. E tentar se salvar pela fé mais obras, ainda que o grau conferido ao Calvário seja maior que zero, será sempre inferior a 10. Mas os servos de Deus creem que o sangue de Cristo não só é nota 10, mas que também confere grau 10, aos que não lhe subestimam, por se pôr ao lado das obras, ignorando que estas não possuem nenhum valor salvífico. Sim, quem não dá 10 ao Calvário, recebe zero de Cristo. E quem de Cristo recebe zero, já está reprovado.
       Quando a Bíblia diz que “a fé sem obras é morta” (Tg 2.26), não está dizendo que é a fé somada às obras que produzem salvação, mas sim, que a verdadeira fé produz salvação (que é a reconciliação com Deus), a qual, por sua vez, nos leva automaticamente à prática do bem. A verdadeira fé é viva, e produz naquele que a possui, uma transformação indisfarçável! A verdadeira fé não depende das obras para ser viva, pois tem vida própria! A fé verdadeira nos salva e nos conduz à prática das obras. “Fé sem obras é morta” não significa que a verdadeira fé dependa das obras para ser viva; antes quer dizer que a fé viva gera obras inevitavelmente. E que, portanto, quando faltam estas, é porque de antemão faltou aquela. Por meio da verdadeira fé somos transformados em filhos de Deus (Jo 1.12; 1Jo 3.2). E, como sabemos, os filhos de Deus têm, naturalmente, o “DNA” do Pai. A ausência dos traços do Pai na vida de quem se diz filho de Deus, é indício de falsa fé e subsequente falsidade ideológica; e, obviamente, não é por meio de uma “fé” dessas que seremos salvos. Não. A salvação se obtém por meio da fé viva, que é a confiança plena e exclusiva nos méritos existentes tão-somente no sangue de Jesus, somada ao arrependimento dos pecados e à conversão ao Evangelho. Pôr-se ao lado de qualquer outro expediente, ainda que somando-o ao Calvário, implica em subestimar o sacrifício vicário do Senhor. E isso, por sua vez, é ter fé morta. Logo, Cechinato não tem fé viva, antes é portador de uma “fé” que só presta para mantê-lo na perdição. Logo, a prova de que ele não está salvo, é o fato de que ele não produz as boas obras próprias dos salvos, mas sim, frutos podres (seus perniciosos livros, por exemplo) que bem retratam o estado de perdição no qual ele se encontra. A fé sem obras é morta, e essa fé morta, adicionada a frutos putrefatos, não tem vida e está podre. Logo, Cechinato não produz obras dignas de um salvo, porque é um perdido; e é um perdido, porque não tem fé viva. Nele, pois, se cumpre Tiago, que nos diz que “a fé sem obras é morta”. Sim, onde não há obras dignas de um salvo, das duas uma: Ou não há fé alguma, ou há uma falsa fé, que Tiago tacha de fé morta.
       Há dois tipos de fé morta:
a) mera crença na existência de Deus. A esse tipo de fé, nós, os acadêmicos do ramo teológico, chamamos de fé natural. Por mais incrível que possa parecer, há os que pensam que o fato de não serem ateus, os justifica perante Deus, embora nada façam em prol da sua salvação. Essa esperança será malograda, visto que se a fé natural salvasse, o Filho de Deus não teria que morrer para expiar os nossos pecados. A fé natural não é, necessariamente, uma fé morta; antes, é a mãe de todas as outras fés. Mas assassinamos essa fé, quando fazemos da mesma nossa única tábua de salvação;
b) mero teísmo somado às benemerências. Os dessa corrente entendem que a salvação é uma recompensa divina conferida aos beneméritos. Mas, como já demonstramos repetidas vezes, as boas obras podem derivar da salvação, mas a recíproca não é verdadeira em hipótese alguma. Já vimos que atribuir qualquer valor salvífico às boas obras é pecado grave, que priva da comunhão com Deus. Sim, empreender se salvar pelas obras é pecado para morte, isto é, esse tipo de pecado conduz ao Inferno. Os que o fazem serão condenados, visto que, rejeitando a justiça provida por Deus na cruz de Cristo, estabeleceram sua própria “justiça”. E “justiça” própria não tem qualquer valor diante de Deus. Não temos como nos justificar diante do Juiz de toda a Terra. Carecemos da justiça que vem da cruz, da qual se toma posse mediante a fé somente. Logo, não nos justifiquemos diante dEle; antes, deixemos que Ele mesmo nos justifique mediante o sangue remidor de Seu Filho Jesus.
       Apesar dos seus muitos erros teológicos, Barth falou verdade quando disse que “não existe nenhum caminho do homem para Deus, mas somente de Deus para o homem”. É o próprio Deus quem providenciou os meios para regressarmos a Ele, e quem se servir de outro (s) meio (s) será frustrado.
       Já fiz constar acima, que a verdadeira fé e as obras de justiça efetuadas pelos salvos, embora sejam distintas e diferentes, são inseparáveis. Consequentemente, os que morrem imediatamente após receberem a salvação, vão fazer boas obras no Paraíso Celestial; e os que continuam vivendo do lado de cá, fazem-nas por aqui mesmo. Mas estes têm consciência de que já estão salvos e que, portanto, mais nada precisam fazer, a fim de serem salvos, a não ser segurar com as duas mãos a salvação com a qual já foram presenteados desde o momento em que se tornaram portadores da fé viva. Por meio desta fé viva (não viva pelas obras, mas viva por si mesma) temos acesso a Cristo, o qual nos dá a vida. E esta vida, por sua vez, nos impele às inevitáveis boas obras. Quem já está salvo, mais nada precisa fazer para se salvar, a não ser nunca descartar na lixeira a salvação que já possui. Todo verdadeiro cristão já possui tanto a salvação como as subsequentes obras dignas de um salvo.
       As boas obras existem para andarmos nelas (“Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”, Ef 2.10. Grifo nosso), e não para sermos salvos por elas. Em Tt 3.5, Paulo nos diz textualmente: Não devido a obras de justiça que tivéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou [...]”. Por “obras de justiça” deve-se entender tudo de bom que alguém possa fazer, e inclusive, intuindo com isso a salvação.
       A fé e as obras são importantíssimas, mas devem ser postas em seus devidos lugares. Os que tentam se salvar pelas obras, como o fazem os muçulmanos, estão tentando salvar-se a si mesmos. E os que tentam se salvar pela fé mais as obras, como o fazem os Padres, os espíritas, os testemunhas-de-jeová e outros religiosos, estão querendo ajudar o Senhor a salvá-los. Mas a soteriologia bíblica não admite essa parceria. A frase “só Cristo salva” não admite coparticipação do salvando, nem tampouco do salvo. Não podemos coparticipar do processo da nossa salvação, a não ser, entrando com o nosso vale-nada, como já vimos.
      É bem verdade que o apóstolo Paulo disse que devemos operar a nossa salvação (Fp 2. 12), mas o contexto deixa claro que esta operação nada mais é que vivermos a salvação, não abrindo mão da mesma em hipótese alguma. Em outras palavras: O cristão não pode negar a fé. Quando a fé não é mantida, perde-se a salvação. E, como o leitor certamente já sabe, quem não vive como autêntico servo de Deus, ou nunca teve fé, ou a teve mas negou-a. E já fiz constar neste livro que quem nega a fé está perdido.
       O que aqui dizemos sobre o valor da fé e a importância das obras, pondo-as em seus devidos lugares, visa jogar por terra tudo quanto os líderes católicos vêm ensinando a respeito de Tg 2.14-26. E uma das provas de que estamos na trilha certa é que Tiago, enquanto argumentava que a fé sem obras é morta ou inoperante, disse que Abraão não foi justificado só pela fé, mas pelas obras também, visto ter oferecido Isaque sobre o altar (Tg 2.21-23). Mas atente para o fato de que o oferecimento de Isaque sobre o altar por parte de Abraão, está registrado em Gn 22.9-10, enquanto que o registro da justificação de Abraão pela fé, consta de Gn 15.6. Ora, sabemos que o fato registrado em Gn 15.6, que é a justificação de Abraão pela fé, ocorreu cerca de 15 anos antes de Isaque nascer. A sequência é a seguinte: a) Deus promete um filho a Abraão (Gn 15.1-5); b) Abraão é justificado pela fé (Gn 15.6); c) Deus promete a terra de Canaã a Abraão (Gn 15.7); d) Abraão oferece sacrifício ao Senhor, quando a promessa da terra lhe é ratificada (Gn 15.8-16); e) Deus faz um pacto com Abraão (Gn 15.17-21); f) Abraão entra a Agar e esta lhe gera Ismael (Gn 16.1-15) e então se diz que ele tinha 86 anos de idade (Gn 16.16); g) muitas outras coisas maravilhosas sucedem ao patriarca, as quais constam de Gn 17 – 20; h) no capítulo 21, versículo 5 do Gênesis, somos informados que Abraão tinha cem anos de idade quando Isaque nasceu; i) E só quando Isaque já era adolescente ou jovem, é que Abraão o oferece sobre o altar (Gn 22.9,10). Assim, à luz de Gn 16.16; 21.5; e 22.9-10, vemos que Abraão foi justificado pela fé cerca de três décadas antes de dispor a ofertar Isaque em holocausto a Javé. Ora, como Tiago pôde se servir de uma obra praticada por Abraão cerca de trinta anos após a sua justificação pela fé, para provar que Abraão foi justificado por fé mais obras? Só há duas respostas possíveis: Ou Tiago se equivocou, ou ele estava querendo dizer que a verdadeira fé redunda em real salvação, da qual, por sua vez, nascem inevitáveis obras de justiça. Os que creem que a Bíblia é a pura, santa, perfeita, infalível e harmoniosa Palavra de Deus, como é o caso deste autor, optam pela última alternativa.
       Sim, para sermos salvos, basta crermos no Senhor Jesus (Jo 3.16; At 16.30-31). A Bíblia diz, e os salvos o sabem por experiência própria, que o milagre da salvação é radical e instantâneo. Em fração de segundo um pecador perdido pode receber o perdão de todos os seus pecados e a consequente salvação, a qual muda o destino e o caráter (Mc 2.5; Lc 7.47-50; 23.43; Ef 2.5,8-10; Tg 2.26 etc.). Para recebermos este total e perfeito perdão, chamado também de salvação (Tt 2.11), nada precisamos fazer, a não ser clamarmos com fé e arrependimento (At 3.19; Rm 10.13). Logo, a salvação não é pelas obras. Pregar que a salvação é pela fé mais obras, é negar a totalidade e instantaneidade do perdão; equivalendo, por conseguinte, a dizer que quando um pecador arrependido suplica o perdão, recebe na hora, não o perdão, mas uma relação de normas a serem cumpridas, intuindo com isso a salvação. Sim, equivale a dizer que um pecador arrependido, convertido e orante, não é perdoado, mas sim, um candidato ao perdão.
       O “Jesus” do clero católico não salva sozinho; antes, nos dá as ferramentas para que nós O ajudemos a nos salvar. Os verdadeiros cristãos, porém, estamos cem por cento salvos, e isto sem a nossa coparticipação ativa, mas apenas passiva. Nós não conseguimos ajudar Cristo a nos salvar, mas tão-somente deixamos ou não deixamos que Ele nos salve. O nosso papel é mais passivo do que ativo. Até o que há de ativo no processo da salvação (o crer, o arrepender e o converter) tem por objetivo único nos qualificar como passivos.
       Por “cem por cento salvo” deve-se entender “cem por cento perdoado”. Isto significa que Deus e o cristão já se reconciliaram, isto é, já fizeram as pazes (Is 53.5; 2Co 5.18). Quando Jesus nos perdoa (Mc 2.5; Lc 7.48), lança os nossos pecados nas profundezas do mar (Mq 7.19), se esquece dos mesmos (Hb 10.17,18) e nos recria (2Co 5.17), produzindo em nós o que Ele chama de nascer de novo (Jo 3. 1-5). A partir daí, não há mais “nenhuma condenação para” nós (Rm 8.1). Então tomamos posse da vida eterna (Jo 5.24), e a nós são dirigidas as seguintes palavras: “...pela graça sois salvos, por intermédio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Segundo a Bíblia, o cristão não é candidato, e sim, eleito (Rm 8.33; 16.13; Ef 1.4 etc.). Mais que de qualquer político, do cristão já se pode dizer triunfalmente: “Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou!...” E isso, não porque, com certeza seremos eleitos, e sim, porque Deus já nos elegeu em Cristo. O cristão não está se esforçando para alcançar o perdão, mas sim, segurando-o com as duas mãos para não perdê-lo (Ap 3.11). Portanto, o cristão não pratica boas obras para ser perdoado, mas sim, porque já está perdoado (Ef 2.10). E, se já está perdoado, já está salvo, pois não há diferença entre perdão e salvação. Até porque o perdão de Deus é perfeito. Bem, refiro-me ao perdão bíblico, e não ao “perdão” na conceituação dos chefes da Igreja Católica, cuja definição veremos superficialmente no próximo tópico, e com profundidade, na próxima lição.
       A palavra tem pelo menos três significados diferentes nas páginas da Bíblia: a) Conversão ao Cristianismo (Ef 2.8-9). A salvação, embora subsequente a esta fé, é simultânea à mesma, visto não decorrer nenhum tempo medível entre o ato de crer e a salvação; b) um dos dons espirituais; e, como todos os leitores da Bíblia o sabem, nenhum dos dons espirituais é comum a todos os membros da Igreja (1Co 12.9); c) mera crença na existência de Deus (Tg 2.26). Isso me faz crer que é correto dizermos que todos os que têm fé, creem na existência de Deus; mas nem todos os que creem na existência de Deus, têm fé, isto é, a fé aludida em Ef 2.8. Esta fé é sinônima de conversão ao Cristianismo autêntico. Além disso, nem todos os portadores da fé salvífica abordada em Ef 2.8, têm o dom espiritual da fé.
       A rigor, podemos afirmar destemidamente que: a) A salvação não é pela fé; b) a salvação não é pelas obras; c) a salvação não é pela fé mais obras; d) a salvação é pela graça que deriva exclusivamente da cruz de Cristo. O rio da salvação nasce no Calvário, serpenteia pela evangelização, e desemboca nos corações dos que arrependidos se convertem ao Evangelho. Sim, o rio da salvação desemboca nos corações dos que com fé invocam o nome do Senhor, visto que, como já observei na Lição 3, intitulada Os passos da salvação, ninguém pode dizer que tem fé, sem dar os cinco passos lá comentados, que, em síntese significa converter-se de corpo e alma ao verdadeiro Cristianismo. Logo, repito que a fé (relembro que não me refiro à fé morta), além de produzir salvação que, por sua vez, redunda em inúmeras boas obras, por si só já é boa obra. Sim, o arrependimento e a conversão são excelentes obras. Mas a ferramenta que Cristo usa para confeccionar a nossa salvação, não é a nossa fé, não é o nosso arrependimento, não é a nossa conversão, nem tampouco é a junção dessas três coisas, mas sim, o Seu sacrifício substitutivo. E o porquê disso reside no fato de que, como já observei, a salvação não é uma recompensa divina, e sim, um presente outorgado aos que se enquadram na condição imposta. Esta condição imposta não é a causa meritória, mas apenas isso: condição imposta. É por esse motivo que, quando satisfazemos tal condição imposta, o Senhor nos salva pela graça, ou seja, por um favor imerecido. Logo, satisfazer a condição imposta não nos confere nenhum mérito. Doutro modo, a salvação não seria uma graça, mas sim, uma recompensa ou pagamento pela aquiescência à condição imposta. Ora, se após satisfazermos a condição imposta, Cristo nos salva pela graça, então a satisfação da condição imposta não nos confere mérito algum. Logo, quando satisfazemos a condição imposta, continuamos tão indignos quanto éramos antes de satisfazê-la. Portanto, nada muda quanto à nossa condição de indignos. Antes éramos indignos perdidos, e agora somos indignos salvos. E é por isso que Paulo disse que somos (presente do indicativo [não ignoro as implicações do original]) salvos pela graça. Veja que nossa indignidade não findou quando Jesus nos salvou. Nesse caso, Paulo diria fomos, e não somos. Logo, continuamos indignos; e se não o somos, é porque a própria graça nos outorgou mérito de fora para dentro. Em outras palavras, somos indignos em nós mesmos, e dignos em Cristo.
       Eu disse acima que a salvação não é pela fé. Estou em contradição com Ef 2.8? De modo nenhum, visto que quando Paulo diz que a salvação é por meio da fé, está tão-somente nos conscientizando que a fé é o canal que conduz até nós a causa meritória da salvação. Podemos dizer ainda que a fé é a porta pela qual temos acesso à causa meritória da salvação. E como já sabemos, essa causa meritória é o sangue de Cristo. Logo, nem mesmo a fé, que, segundo Paulo, é condição sine qua non para a salvação, é portadora de poder salvífico. O poder salvífico é a causa meritória, e a causa meritória é só o sangue de Jesus. A fé (isto é, o arrependimento e a conversão) não possui nenhum valor salvífico; e, por conseguinte, não salva ninguém. Mas quando damos este passo que por si só nada vale em termos salvíficos, o Senhor nos asperge com Seu sangue remidor. E é esta aspersão que produz a salvação. Com efeito, embora a fé não entre nem mesmo como coadjuvante no processo da salvação, não é impróprio afirmar que a salvação é pela fé, já que a fé é o elo que nos põe em contato com a graça salvífica que procede da cruz. A fé é o canal por onde escoa a graça que emana do Gólgota. Logo, embora a fé, por si mesma não nos possa salvar, é por ela que escalamos o Calvário e nos pomos ao pé da cruz, do alto da qual goteja o sangue remidor. Portanto, podemos afirmar que: a) ninguém se salva sem crer, e ninguém se salva por ter crido; b) ninguém se salva sem se arrepender, e ninguém se salva por se arrepender; c) ninguém se salva sem se converter, e ninguém se salva por ter se convertido; d) embora seja verdade que ninguém se salva sem crer, sem se arrepender e sem se converter, é igualmente verdadeira a afirmação de que ninguém se salva por ter crido, arrependido e se convertido. Sim, nem mesmo estes três expedientes juntos, nos salvam. Não devemos nossa salvação à fé, ao arrependimento e à conversão, mas sim, ao pagamento efetuado por Cristo na cruz. Isto, e só isto, salva.
       Lembremo-nos que o homem tem uma dívida, e que Deus só se dá por satisfeito quando a vê totalmente paga, quer pelo próprio pecador no eterno tormento, quer pelo Substituto do pecador __ Cristo __ na cruz do Calvário.
       A título de aclaração do que dissemos acima, veja as ilustrações abaixo:
Primeira ilustração __ Embora seja verdade que é pelos canos que a água chega até nós, o fato de que é bebendo água que dessedentamos, deve nos impelir a concluir que o que mata a sede é a água, não o cano, nem tampouco, o cano mais a água. Igualmente, é pela fé que tomamos posse da salvação que advém do sangue de Cristo, mas o que salva é o sangue, não a fé, nem tampouco, o sangue mais a fé;
Segunda ilustração __ Sem recipientes que retivessem a água em forma líquida, não beberíamos água; mas o que mata a sede é a água, não o recipiente, nem tampouco, o recipiente mais a água. Do mesmo modo, é pela fé que tomamos posse da salvação, mas a gênese da salvação da qual tomamos posse pela fé, é o Calvário, não a fé, nem tampouco, fé mais Calvário;
Terceira ilustração __ Para tomarmos uma refeição, normalmente necessitamos de prato e talher. Mas o que mata a fome é a comida, não o prato e o talher, nem tampouco a comida mais o prato e o talher. Sim, se o leitor já é salvo, nunca se esqueça que o que lhe salvou, não foi a fé que você depositou em Cristo, e sim, o Cristo em quem você depositou a fé; você não é salvo pela fé no sangue de Cristo, mas sim, pelo sangue de Cristo no qual você crê; o instrumento usado por Cristo para nos salvar, é, exclusivamente, o Seu sangue, e não, a nossa fé, e nem tampouco o Seu sangue mais a nossa fé no Seu sangue.

Quarta ilustração __ Era uma vez um jovem com apenas 18 anos de idade, chamado Delin, cujo pai (Rei Paião, prezado e respeitado por todos os seus súditos) era um dos mais ricos de seu país. E, embora o Código Penal desta nação prescrevesse a pena de morte aos criminosos de alta periculosidade, o dito jovem, cobiçando riquezas maiores, empreendeu o que ele supunha ser o primeiro de uma série de assaltos à mão armada. Ele não queria praticar latrocínio e, por isso, decidiu empunhar sua pistola só para intimidar os proprietários dos bens que ele pretendia tomar para si. Sua primeira vítima, porém   __ o senhor Robato, muito mais alto e robusto do que ele __, reagindo ao assalto, tentou dominá-lo. O referido jovem, tomado pelo susto, disparou sua arma, matando o senhor Robato.  Então o remorso invadiu o seu coração. Sua consciência o acusava ininterruptamente. Ele se sentia a escória da sociedade, bem como merecedor de uma severa punição. Como ele gostaria que tudo aquilo não fosse real, e sim, apenas um pesadelo! Mas, infelizmente, ele não estava sonhando! Ele deveras estava acordado e havia sim se tornado um latrocida! E, por isso mesmo, se julgava merecedor de rigoroso castigo! Seu ardente anseio pela longevidade, era mesclado com um forte desejo de ser enforcado, a bem da disciplina! E consigo mesmo tinha a certeza de que este prevaleceria sobre aquele, pois o seu crime era suficientemente hediondo para torná-lo digno da lei de talião, prevista na Carta Magna de sua nação, e pormenorizada no Código Penal do seu país. Mas integrava à Constituição de sua Pátria, que o Rei podia intervir em defesa de quem fosse sentenciado à morte, salvando-o da execução, desde que substituísse o réu, cumprindo por ele a pena. Era ainda constitucional que, uma vez que o Rei manifestasse o seu desejo de se deixar imolar pelo condenado, que ninguém podia questioná-lo, nem tampouco empreender malograr seu intento. E foi desta cláusula que o Rei Paião se valeu para dar ao seu filho Delin a chance de se regenerar, tornar-se um cidadão de bem, casar, perpetuá-lo através dos possíveis netos, usufruir das delícias da vida e, finalmente, morrer bem idoso, farto de dias! Então Delin foi convocado a comparecer diante de Sua Majestade: o Rei Paião. Delin, enquanto era levado maniatado à presença do Rei, pensava: “Como irei encarar o meu Pai?! Certamente ele, dizendo que eu sou sua vergonha e tristeza, derramará inconsoláveis lágrimas!”  E, mais rápido do que Delin desejava, viu-se diante do Rei Paião, o qual lhe falou: “Sabes que teu pai sempre primou pela justiça. Logo, não posso e nem quero perdoar o teu crime. Seria imoral e ilegal fazê-lo. Portanto, anular tua sentença, nem pensar. Contudo, quero, posso e vou livrar-te da morte, morrendo em teu lugar. Mas, para eu morrer em teu lugar, terás que fazer três coisas:1ª) Jurar-me que estás arrependido; 2ª) Prometer-me que longe de ser reincidente, serás, doravante, um cidadão de bem por todos os dias da tua vida; 3ª) Pedir-me perdão pela tristeza e vergonha que a mim me causas”. E assim foi. Delin fez o que Paião exigiu. Sem delonga, portanto, fez o Rei passar pregão por todos os rincões do território sob seu poder régio, notificando a todos os seus súditos que ele, Rei Paião, por amor do seu culpado filho, se servia de um dispositivo legal, a saber, o sacrifício vicário, objetivando salvar Delin da morte. Ademais exigiu, por escrito, que a Suprema Corte, cônscia de que dura lex, sed lex, (lei é dura, mas é lei), jamais permitisse que seu filho sofresse qualquer consequência de seu bárbaro crime, já que a substituição era, antes de mais nada, um expediente legal.
       O Rei Paião argumentava que sua atitude gozava não só de legalidade, mas também de moralidade, visto ser moral que os pais lutem por seus filhos até à morte. Então morreu Paião, e Delin foi viver a vida.
      Que salvou Delin da forca? O arrependimento? A regeneração? O pedido de perdão? Não! Estes expedientes lhe foram necessários para que o Rei morresse por ele, mas foi a morte do Rei, e só ela, que o absolveu. Ele deve, pois, a sua absolvição exclusivamente à morte de Sua Majestade. Se ele não se arrependesse, o Rei não morreria por ele, exato; mas é se o Rei não morresse por ele, que ele não seria salvo. Delin já estava arrependido e desejoso de mudar de vida, muito antes de seu pai lhe fazer a proposta de morrer em seu lugar, mas isso não alterou em nada a sua condição de condenado. Nem mesmo o amor de Paião por seu filho delinquente, anulou a sentença de Delin. Mas quando Paião foi enforcado no lugar de Delin, este foi absolvido. O crime de Delin não foi perdoado nem mesmo por seu Pai, mas castigado na pessoa de Sua Majestade, o Rei Paião, o genitor do réu.
      Sobre o presente conto informo que: 1) Delin retrata o casal Adão e Eva, bem como a toda a sua prole, da qual somos constituintes; 2) O seu hediondo crime fala dos nossos pecados. Estes são, na ótica divina, hediondos crimes, pois consistem da transgressão da justa, santa e boa Lei, cujo Legislador é o Rei do Universo - Deus; 3) A pena capital à qual Delin foi sentenciado, refere-se à condenação à eterna separação de Deus, cuja consequência é o tormento eterno no lago de fogo; 4) A morte substitutiva de Paião ilustra o sacrifício vicário de Cristo; 5) A absolvição de Delin, diz respeito à salvação da qual usufruem os cristãos; 6) O arrependimento e o pedido de perdão, exigidos do delinquente em pauta, como condição sine qua non para que Paião concretizasse o seu desejo de morrer pelo referido latrocida, representa a condição imposta por Jesus, para que os benefícios oriundos da cruz nos sejam aplicados.

      Delin tinha que se converter para Paião morrer por ele; nós, porém, temos que nos converter porque Jesus morreu por nós. Logo, porque Delin se converteu, Paião morreu por ele; e, porque Paião morreu em seu lugar, Delin foi salvo. Delin deve, pois, a sua salvação exclusivamente à morte de seu pai. É verdade que o referido Rei só morreu por seu filho porque ele se converteu, mas ele só foi salvo porque o Rei morreu. Não adiantaria ele se regenerar, se o Rei não morresse por ele. Por conseguinte, sempre que alguém inquirir a Delin sobre o porquê de sua absolvição, ele nunca poderá dizer que foi porque ele se arrependeu. A sua conversão causou a morte do Rei, não a sua absolvição. Então, acerca do caso de Delin, a sequência correta é: 1) conversão de Delin; 2) morte do Rei; e 3) absolvição de Delin. Já a salvação em Cristo obedece outra sequência. Ei-la: 1ª) morte de Cristo; 2ª) nossa conversão; 3ª) nossa salvação. Mas, tal qual Delin, não podemos atribuir nossa salvação à nossa conversão, e sim, à morte do Rei Jesus. A nossa conversão foi meramente a condição imposta por Deus para que os méritos do sangue de Cristo nos sejam creditados; não a causa meritória. Esta é a cruz de Cristo, só a cruz de Cristo, e nada mais que a cruz de Cristo. É que assim como Paião só morreria por Delin se este se convertesse, Cristo só aplica os méritos de Seu sacrifício na vida do pecador, quando este se converte a Ele. Altera-se a ordem, mas o raciocínio é o mesmo: a nossa fé, o nosso arrependimento, a nossa regeneração e as nossas boas obras, embora não atuem como coadjuvantes do sangue de Cristo na efetuação da nossa salvação, são, contudo, condições impostas e, portanto, imprescindíveis. Para nos salvar, Cristo entra com o mérito do Seu sangue, e nós entramos com o nosso vale-nada, já que este vale-nada, além de não poder nos salvar sozinho, nem mesmo ajuda Cristo a nos redimir, embora seja indispensável, visto que o Senhor impõe, como condição única, a nossa conversão, como também Paião impôs a condição supra, ao seu filho Delin. E agora, fazendo justiça, tal qual Delin reconheçamos que devemos nossa salvação exclusivamente à morte do Rei Jesus. É este, e só este sacrifício, que nos salva da ira de Deus. A ira de Deus tem que ser descarregada em algum lugar: ou sobre nós, ou sobre o nosso substituto – Jesus.
       Quando não entramos com o nosso vale-nada, Cristo não entra com o Seu vale-tudo e, por faltar o vale-tudo de Cristo, continuamos perdidos. E quando entramos com o nosso vale-nada, Cristo entra com o Seu vale-tudo e, por causa do vale-tudo de Cristo, saímos da perdição. Portanto, fica claro que não devemos a nossa salvação ao nosso vale-nada, nem mesmo parcialmente. O nosso vale-nada, realmente não vale nada. E, sendo assim, não há porque somá-lo ao vale-tudo. E por esta razão, Cristo não o faz. Donde se deve concluir que a salvação não se dá mediante a soma do vale-nada ao vale-tudo, mas sim, ao creditar do vale-tudo, na nossa conta. Embora saibamos que para recebermos o vale-tudo, temos que dar o nosso vale-nada, é o vale-tudo que nos salva. Não nos esqueçamos que o vale-tudo de Cristo nos salva sozinho.
       Mas, se o nosso vale-nada nada vale, por que Cristo o exige? Para esta pergunta temos as seguintes respostas: a) o Senhor é Soberano e, por isto, não nos deve satisfação alguma; b) Ele é o doador da salvação e, portanto, pode impor condições aos que pretendem tê-la; c) porventura, seria legal, moral e útil à sociedade, Paião morrer por Delin, se este pretendesse continuar na delinquêcia?; d) e o nosso caso não é similar ao de Delin? e) já que foi o pecado que nos arruinou, não é racional concluirmos que o homem deve se arrepender dessa maldade? f) visto que o sangue de Jesus é o remédio que nos cura, não é de se esperar que Deus exija que pelo menos tomemos o dito medicamento? e g) a maneira de usar o referido remédio que nos cura do pecado, não é de uso externo, não é via oral, nem tampouco, intravenosamente, mas sim, intrafé. E, como já fiz constar, neste caso não se deve entender por “fé”, mera crença na existência de Deus, e sim, confiança plena e exclusiva na todo-suficiência do sangue de Jesus, seguida de arrependimento e conversão (At 3.19). E tudo isso, porque Tiago não se equivocou quando exarou que “a fé sem as obras é morta”, ou seja, realmente é necessário se tornar cristão e viver como tal. Quem é cristão de fato, está pronto para entrar no Céu. E quem está pronto para entrar no Céu, é, naturalmente, diferente dos perdidos. Isso e mais nada, senhor Cechinato.
                                                       ***

       Resumindo, podemos afirmar que embora as obras realmente não sejam necessárias para a salvação, não se pode dizer o mesmo, da fé salvífica. Esta nos é imprescindível no nosso relacionamento com Deus. Mas nem mesmo desta fé, da qual podemos afirmar que é condição sine qua non para a salvação, se pode atribuir valor salvífico. Portanto, repito: Se o leitor já é salvo, nunca se esqueça que o que lhe salvou, não foi a fé que você depositou em Cristo, e sim, o Cristo em quem você depositou a fé; você não é salvo pela fé no sangue de Cristo, mas sim, pelo sangue de Cristo no qual você crê; o instrumento usado por Cristo para nos salvar, é, exclusivamente, o Seu sangue, e não, a nossa fé, e nem tampouco o Seu sangue mais a nossa fé no Seu sangue.

5.3. Entendendo Cechinato e refutando-o

       Quando um enfermo toma o medicamento que seu médico lhe receitou, e fica sarado, mais nada precisa fazer para recuperar a saúde, visto que já está são. Mas o tal terá muito que fazer por já estar curado. Para ficar são, nada a fazer; por estar curado, muito que realizar. Similarmente, quando um pecador contrito pede perdão ao Senhor Jesus, fica, na hora, perdoado de todos os seus pecados. Ora, se está perdoado, então está pronto para entrar no Céu. Com efeito, se ele morrer naquele exato momento, voará direto para o Paraíso Celestial. E é muito coerente raciocinarmos assim, já que Cristo não perdoa à prestação. Dizer que uma determinada pessoa perdoada por Cristo, ainda não está pronta para entrar no Paraíso, é ser incoerente. Quem não crê que o perdão que o Senhor nos dá, nos habilita ao Céu na hora, deve arranjar um outro nome para o que ele chama de perdão. Mas aonde quero chegar com toda esta argumentação? Que tem isso a ver com o que Cechinato disse em refutação à opinião evangélica, segundo a qual a salvação não é pelas obras, mas apenas pela fé? A resposta é: Se o leitor não é profundo conhecedor do Catolicismo, suspeito que você ainda não tenha entendido o que o clero católico quer dizer, quando afirma que para sermos salvos, não nos basta a fé; concluindo daí que os evangélicos estão equivocados. Todo esse “arrazoado” católico, tem por base uma velha crença católica, segundo a qual, o perdão dos pecados não anula a sentença, mas apenas diminui a pena. Sim, leitor, segundo a Igreja Católica, é através de boas obras e sofrimentos, que o perdoado cumpre o que essa seita chama de “pena temporal devida pelo pecado perdoado” e conclui a quitação de sua dívida para com a justiça divina, habilitando-se assim ao Céu. Prega a Igreja Católica, que ainda que uma pessoa morra com todos os pecados perdoados, mas sem cumprir a referida “pena devida pelo pecado já perdoado”, não poderá entrar no Céu até que cumpra a dita pena. Neste caso, a referida pena, segundo os clérigos católicos, será cumprida num estado de sofrimento póstumo, chamado “purgatório”. Este estado de sofrimento, somado às boas obras das rezas que o falecido fará por si e pelos seus correligionários, tanto vivos quanto mortos, pode, de acordo com a Igreja Católica, expiar os pecados graves que, embora já tenham sido perdoados, ainda não se deu plena satisfação deles à justiça divina (o que se dá através de boas obras e sofrimentos). O referido estado de sofrimento, pode também expiar os pecados veniais não-perdoados, bem como pode ainda expiar os perdoados veniais já perdoados, mas sem que se tenha dado a plena satisfação dos mesmos à justiça de Deus. E quando estes sofrimentos e boas obras a título de expiação, galgarem o seu objetivo (que no caso é: 1__ a expiação dos pecados graves já perdoados; 2__ a expiação dos pecados veniais não-perdoados; e 3__ a expiação dos pecados veniais perdoados, mas sem a plena satisfação dos mesmos à justiça divina), a alma sofredora sairá do estado de sofrimento depurativo e ingressará no Céu. Ora, claro está que é necessário entendermos isso, para compreendermos o que os clérigos católicos querem dizer, quando asseveram que para sermos salvos, não nos basta a fé. O que eles querem dizer com isso, é que o perdão dos pecados não nos basta. Que ao perdão dos pecados temos que somarmos as boas obras de expiação e reparação. E que, portanto, caso alguém morra perdoado de todos os seus pecados, mas sem a remissão da pena devida pelos pecados já perdoados, se remirá no além, no estado chamado purgatório. Logo, parece-me claro que os líderes da Igreja Católica, embora com um canto da boca diga que crê na totalidade e instantaneidade do perdão, com o outro canto da mesma boca nega este fato. Sim, nega este fato, mas sorrateira e contraditoriamente, de modo que nem todos conseguem captar a mensagem.
       Como prometi no tópico anterior, isto é, em 5.2, estou expondo que a Igreja Católica nega a totalidade e instantaneidade do perdão, tanto implícita, quanto explicitamente. Implicitamente, quando diz que para sermos salvos, não nos basta a fé; e explicitamente, quando afirma textualmente que para o pecado já perdoado, ainda há pena a ser cumprida, pena esta que terá que ser cumprida inevitavelmente. Logo, se não for cumprida aqui na Terra, sê-lo-á no além-túmulo, no estado póstumo chamado purgatório. Sim, leitor, quando Cechinato (ou qualquer outro clérigo católico) diz que a salvação não é só pela fé, mas pelas obras também, não quer dizer com isso que quem não se arrepende de seus pecados e não guarda os mandamentos, será condenado, mesmo que creia que Deus existe. Se fosse isso, eu concordaria com eles sem reserva alguma. Observação: Relembro que embora eu não atribua nenhum valor salvífico à guarda dos mandamentos, reconheço que os méritos salvíficos decorrentes da cruz, só são conferidos aos que se arrependem de seus pecados e se convertem de coração à genuína fé cristã. Ora, quem se arrepende dos seus pecados e se converte a Cristo, tem, natural e necessariamente, um estilo de vida diferente do dos perdidos.
       O clero católico não crê que o perdão que Cristo nos dá traz no seu bojo total absolvição da nossa dívida, bem como plena satisfação para com a justiça divina. Segundo o Catolicismo, a plena quitação para com Deus, assim como a total satisfação à justiça divina, se dá mediante as boas obras e sofrimentos que devem suceder o perdão, os quais podem ser realizados pelo perdoado, tanto nesta vida, como depois da morte. E é por isso que a Igreja Católica insiste em dizer que é errado pregar que para sermos salvos basta-nos a fé. É que essa seita prega com um canto da boca a instantaneidade do perdão, mas nega como o outro canto da mesma boca, a sua eficácia e eficiência bíblicas.  É uma confusão dos infernos. A “Soteriologia” católica é um emaranhado difícil de desemaranhar.
       Suponhamos as seguintes hipóteses: a) Que antes de o homem pecar, sua pele fosse verde; b) Que ao pecar, o homem tenha se tornado amarelo; c) Que para se salvar (isto é, para voltar ao convívio com Deus), ele tenha que recuperar a cor verde; e d) Que quando o homem, arrependido de seus pecados, clama a Cristo, para que este o salve à base de Seu sangue, a cor de sua pele se torne verde na hora. E, isto posto, pergunto: Admitidas como reais as quatro hipóteses acima, não é razoável concluirmos que tal homem já está salvo (ou seja, pronto para viver com Deus novamente), visto que a coloração original já lhe foi restaurada? Parece-me coerente responder positivamente a esta interrogação. E se o intervalo de tempo entre o retorno à cor original e a morte do dito homem, foi de apenas um milésimo de segundo, podemos dizer que o tal homem foi, imediatamente após a morte, para o Paraíso? Sendo sim a sua resposta, indago: É correto dizermos que o tal homem foi salvo pelas obras, ou até mesmo pela fé mais obras, já que ele não teve tempo de fazer bem algum, após dirigir seu pedido ao seu Salvador? Não, obviamente, considerando que ele nada fez para reaver a sua antiga pele verde, a não ser tão-somente suplicar que o Salvador lhe restaurasse a cor primitiva. E algo similar a isso, ocorre na prática? Segundo a Bíblia, sim, visto que ela não nos fala de perdão à prestação (Mc 2.5), muito menos de um perdão parcial, perdão ineficaz, perdão ineficiente, etc.; antes, nos assegura a Escritura que “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1. Grifo nosso). E um exemplo prático disso, é o caso do bandido de que trata Lucas 23.43, que foi para o Paraíso no mesmo dia da sua morte, embora tenha clamado por misericórdia no momento final de sua vida. Nós, os evangélicos típicos, cremos nisso. E é a isso que chamamos de salvação pela graça, por meio da fé, sem o auxílio das boas obras. Crê nisso também a Igreja Católica, só que sob outro nome, ou seja, ela também ensina exatamente isso, embora dê a isso o nome de “salvação pela graça, por meio de fé somada às boas obras”? Se fosse isso, o erro seria bem menor, visto que, neste caso, a questão seria mais de nomenclatura ou palavras, do que de fatos e substância. Principalmente se com isso ela estivesse querendo dizer que o arrependimento e a conversão ao Evangelho são as obras que o Senhor exige dos que a Ele recorrem, para então lhes conceder os méritos que procedem da cruz e, por conseguinte, salvá-los. Mas infelizmente, não é este o caso. A Igreja Católica simplesmente afirma com todas as letras que: A) Para entrarmos no Céu, não nos basta estarmos perdoados; B) para os pecados já perdoados há penas a serem cumpridas; C) que tais penas podem ser cumpridas aqui na Terra; D) se tais penas não forem cumpridas aqui na Terra, hão de sê-lo após a morte, no estado chamado purgatório; e E) que o perdoado só poderá entrar no Céu, após cumprir tais penas devidas “pelo pecado já perdoado”. Isto significa que a diferença entre católicos e evangélicos, acerca da salvação, não é apenas de palavras ou nomenclatura, mas sim, de essência. Não é que damos nomes diferentes à mesma coisa, mas sim, que não temos a mesma fé. Nós, os evangélicos, cremos na totalidade e instantaneidade do perdão, ou seja, cremos que para entrarmos no Céu, basta-nos o perdão, visto que este é perfeito, total, profundo, radical, instantâneo, etc... Nisso, porém, não creem os clérigos católicos. Sim, leitor, quando afirmo que a salvação não é pelas boas obras, estou querendo dizer, entre outras coisas, que para entrarmos no Céu, basta-nos o perdão dos pecados. E que, portanto, aquele que morreu um milésimo de segundo após entregar sua vida a Cristo e receber o perdão, foi direto para o Paraíso Celestial. E quando os clérigos católicos afirmam que a salvação não é só pela fé, mas pelas obras também, têm em mente o que a maioria das pessoas ignora. A maioria (tanto dos católicos, quanto dos evangélicos) não sabe que quando os chefes da Igreja Católica Romana sustentam que a salvação é mediante fé mais obras, têm em mente a heresia de que o perdão não nos basta. Que para os pecados já perdoados há penas a serem cumpridas, e que, consequentemente, ninguém se habilita a entrar no Céu em fração de segundo. Que aquele que morre imediatamente após se converter, vai, sim, para o Céu, mas não sem passar pelo purgatória, onde, em expiação de seus pecados já perdoados, sofrerá até dar plena satisfação de seus pecados à justiça divina.
       Talvez você pense que embora, segundo o Catolicismo Romano, o perdoado realmente tenha uma pena por cumprir, isso não significa que a Igreja Católica pregue que o tal perdoado com penas a serem cumpridas, não possa, à morte, ir direto para o Céu, mesmo sem ter cumprido tais penas. Mas se você tem esse pensamento, então ignora que: a) Se assim fosse, então os católicos cumpririam suas penas no Céu; b) A Igreja Católica não comete a incoerência de dizer que o perdoado pode entrar no Céu antes de cumprir a pena temporal devida pelo pecado já perdoado; d) a Igreja Católica nunca pregou que a pena temporal devida pelo pecado já perdoado possa ser cumprida no Céu.
       Bem, se o leitor já era profundo conhecedor do Catolicismo, então já sabia disso. Mas, se não era este o seu caso, esta informação lhe foi, certamente, de grande valia. Apesar de haver a possibilidade de você pensar assim: “Este Pastor está faltando com a verdade. A Igreja Católica não prega isso não”. Prometo-lhe, porém, provar, com exibição de cópias, o que na presente lição denuncio quanto ao que a Igreja Católica diz acerca do perdão. Todavia, não o farei aqui, mas sim, na próxima lição, que se intitula Soteriologia Católica II. Muitos católicos __ inclusive o Padre Dom Estêvão Bettencourt __ já me disseram que tais provas por mim exibidas não provam nada. Todavia, aposto na inteligência do respeitável leitor. Com efeito, leia a próxima lição e tire a sua própria conclusão. Não duvide da sua capacidade intelectual. Seja você mesmo. Não traia a sua consciência. Seja sincero a si mesmo. Tire conclusões e assuma-as, com personalidade. Você tem este direito, a pesar de a Igreja Católica dizer que o livre exame das Escrituras é um erro crucial.
       Quando certo homem perguntou a Jesus sobre que fazer “para herdar a vida eterna”, Jesus o mandou guardar os mandamentos (Lc 18.18-20). E há muitos textos bíblicos que estabelecem a guarda dos mandamentos de Deus, como condição sine qua non para a salvação (Hb 5.9; 1Jo 2.3-6 etc.). O clero católico se serve, pois, disso, no intuito de “provar” que estamos equivocados, por dizermos que a salvação não é pelas obras, mas somente pela fé. A Bíblia, porém, deixa claro que a salvação só é atrelada à guarda dos mandamentos, porque os méritos decorrentes do Calvário não são conferidos aos cínicos, e sim, aos que, compungidos, se pautam pela Palavra de Deus. Logo, a guarda dos mandamentos é condição imposta, não a causa meritória. Esta decorre exclusivamente da cruz. Considerando que Cristo só asperge com Seu sangue, os que se convertem, a guarda dos mandamentos de Deus se torna, por isso, imprescindível para a salvação. Ora, se não há salvação sem sangue, nem sangue sem conversão, salta aos olhos que a decisão sincera de guardar os mandamentos está tão atrelada à salvação, que são inseparáveis. Mas deduzir daí, que a guarda dos mandamentos tem algum valor salvífico, é suspeitar da onipotência do precioso sangue de Cristo. Este, e só este, redime da perdição eterna. É o aspergir do sangue de Cristo que nos salva, e não, a conversão. Esta não possui nenhum valor salvífico, sendo apenas o “hissopo” (Sl 51.7) do ritual purificador efetuado pelo nosso Sumo Sacerdote __ Jesus.
       Há apologistas católicos argumentando que quando a Bíblia diz que a salvação não é pelas obras, está se referindo aos preceitos cerimoniais do Antigo Testamento. Mas podemos provar que as boas obras que, segundo a Bíblia, não salvam, não dizem respeito apenas aos mandamentos cerimoniais da Lei __ sacrifícios de animais, a guarda do sábado, a circuncisão, etc. --, mas também o abster-se do roubo, da feitiçaria, do adultério, do egoísmo, etc. E o porquê disso, é que a salvação não se obtém por parar de cometer este ou aquele outro pecado, mas sim, refugiando-se em Cristo. E tal se dá porque, como eu já disse, o Senhor só asperge com Seu sangue, os que se arrependem e se convertem. Logo, a conversão canaliza o sangue de Cristo até ao perdido arrependido; e o sangue, por sua vez, efetua a sua salvação. E, sendo assim, nada mais teológico que reconhecermos que a salvação está atrelada à guarda dos mandamentos. E, de igual modo, nada mais anticristão, blasfemo e petulante que atribuirmos a nossa salvação à guarda dos mandamentos. Até porque a nossa fidelidade é muito deficiente (Tg 2.10; 3.2a; 1Jo 1.8,10). E, sendo assim, os que tentam se salvar através da guarda dos mandamentos, têm contra si três coisas: seu passado, seu presente, e seu futuro; que, respectivamente, são: O que eles fizeram de errado, os erros que eles ainda cometem, e os erros que vão cometer. Sim, não conseguimos guardar na íntegra, os mandamentos do Senhor; mas se conseguíssemos essa proeza, isso em nada nos ajudaria, visto ser lógico que a justiça divina não faz vista grossa ao passado dos que se auto justificam. Por conseguinte, ai dos que fazem da guarda dos mandamentos, sua tábua de salvação. O melhor homem do mundo nada mais é que um miserável pecador, digno, por isso, da perdição eterna. E se merece o Inferno, para lá irá, já que é lógico concluirmos que o Justo Juiz retribui exatamente segundo o mérito do réu. Deste modo, salta aos olhos que devemos desprezar mais esse falso recurso “salvífico”, esposado pela Igreja Católica. Ao invés disso, os que querem se salvar devem se refugiar no sangue de Jesus, só no Seu sangue, exclusivamente no Seu sangue, e nada mais que no Seu sangue, rejeitando tudo que não for o Seu sangue, até mesmo aqueles expedientes que os que se auto justificam, costumam somar ao sangue de Jesus.
       Pelo acima apresentado, creio que está claro que: a) o clero católico faz obras para se salvar, enquanto o verdadeiro cristão faz boas obras por ser salvo; b) o clero católico espera se habilitar ao Céu, através das penas que a justiça divina lhes infligirá, enquanto o verdadeiro cristão crê que o único castigo que nos quita para com a justiça divina, e, com efeito, nos habilita ao Céu, é o castigo infligido à Augusta Pessoa de Jesus, nosso substituto; c) ninguém precisa fazer boas obras para ter fé viva, e sim, que ter fé viva para fazer obras que deveras agradam a Deus, já que só a verdadeira fé produz real salvação, a qual, por sua vez, nos põe em contato com Deus, a fonte de todo o bem, bem este que será plasmado em nós como princípio. E essas posturas soteriológicas diferentes e diametralmente opostas, fazem enorme diferença, já que a postura evangélica glorifica a cruz de Cristo, enquanto a posição católica, além de a subestimar, afaga o ego humano, insinuando ao pecador perdido que o mesmo pode salvar-se a si mesmo, ou, pelo menos, atuar como co-autor da sua salvação. Essa heresia minimiza a cruz de Cristo, e maximiza nossos supostos recursos, insinuando ao pecador que ele é capaz de uma façanha da competência exclusiva do sangue de Jesus __ a nossa salvação. Essa insinuação pode, no presente, massagear o ego; mas finalmente ver-se-á que esse afago nada mais era que uma farsa da antiga serpente – o diabo. Contudo, nós, que sabemos que Deus não perdoa pecado (vimos isso nas páginas anteriores, especialmente nas lições 1 e 2), facilmente apercebemos que a soteriologia católica é comparável a uma canoa furada. Que, pois, não embarquem nela os que querem “atravessar o Jordão”. Se você quer se libertar do jugo de “Faraó” (Satanás), sair do “Egito” (o estado de perdição), atravessar o “Jordão” (partir desta vida em comunhão com Deus), e entrar na “Terra Prometida” à Igreja (o Céu), rejeite a soteriologia católica. O ingresso no Reino de Deus só é possível mediante o sangue do Cordeiro Pascoal - Jesus. Portanto, lancemos mão do “hissopo” da conversão a Cristo (Sl 51.7), dirijamo-nos à “bacia” da disponibilidade da graça que vem da cruz, e permitamos que as “ombreiras” e “vergas” das “portas” de nossos corações (Êx 12) __ isto é, nosso ser __, sejam “aspergidas” com o sangue da Vítima que Se imolou por nós no madeiro __ Jesus! Sim, façamos isso, pois nenhum outro recurso liberta da escravidão do pecado. Só este expediente pode conduzir um integrante da prole de Adão à “Terra Prometida” (o Feliz Estado Eterno do triunfal Reino de Deus que, por fim, devolverá aos redimidos um Novo Céu e uma Nova Terra, nos quais habitará a justiça)! Neste Novo Universo, porém, não entrará nenhuma das vítimas da soteriologia católica.
       A Igreja Católica carece de uma reforma quase que total, mas principalmente na questão soteriológica. A soteriologia católica é falsa e conduz ao Inferno. A falsa soteriologia católica é a mãe de todos os demais erros dessa seita, considerando que uma falsa soterilogia gera uma falsa salvação e, por conseguinte, mantém o indivíduo sem a sabedoria e discernimento espiritual próprios dos salvos (Mt 11. 25; 1Co 2.14). E não há limite para os erros que podem advir dessa cegueira.

5.4. Estabelecendo a sequência correta

A) A sequência não é:
a) Fazer boas obras para ter fé viva, e, por conseguinte, se salvar, visto que, se assim o fosse, a salvação seria, de alguma maneira, pelas obras, já que seria filha da fé e neta das obras. Mas como venho demonstrando, a salvação não é, em hipótese alguma, pelas obras. As obras não são as genitoras da salvação, nem tampouco as progenitoras. As obras nem mesmo auxiliam na nossa salvação. E isto porque, embora seja pela fé que chegamos à salvação, e, por conseguinte, às obras realmente boas, não é, contudo, pelas obras, que chegamos à fé viva, e, consequentemente, à salvação;
b) Ter fé viva, para fazer boas obras, e, por conseguinte, se salvar, considerando que, neste caso, a salvação seria filha das obras e neta da fé. Em outras palavras: Pela fé viva faríamos boas obras, e, mediante essas boas obras decorrentes da fé viva, alcançaríamos a salvação.
B) A sequência é: a) Ter fé viva para se salvar, e, por conseguinte, fazer boas obras. Da fé vem a salvação, da salvação vem as boas obras, e das boas obras vem o galardão. Jamais esqueça que o galardão é distinto da salvação. Esta deriva da cruz e nos é canalizada pela fé, ao passo que aquele procede das obras e será proporcional ao tamanho, quantidade, e, sobretudo, à qualidade das obras que, como salvos, fazemos em prol do Reino de Deus. Uma das muitas provas disso é o fato de a Bíblia nos falar de pessoas cujas obras serão queimadas naquele Dia, mas que, não obstante, serão salvas (1Co 3.15).
       Cechinato não está só, na sua má interpretação da Doutrina da Salvação defendida pelos evangélicos, pois sua atitude não é um ato isolado; antes, retrata com exatidão a fé católica. Por exemplo, ombreia-o o Padre D. Estêvão Bettencourt (visto como um dos maiores teólogos católicos), que, nos criticando, nos acusou de pregarmos que “[...] é desnecessário e impossível querer purificar-se dos resquícios de nossas culpas. É suficiente [...] ter fé nos méritos do Salvador” (BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Católicos perguntam. Santo André: Mensageiro de Santo Antônio. 7 ed. 2004, p. 140). Mas, das duas, uma: Ou esse infeliz é muito mal informado, ou empreende denegrir a nossa imagem inescrupulosamente. Claro, todos sabem que os verdadeiros evangélicos lutam tenazmente contra o pecado. Ninguém ignora que enquanto pregamos o Evangelho, instamos com todas as pessoas a que se arrependam e se convertam. Ora, uma pessoa arrependida e convertida adota, naturalmente, um novo estilo de vida. Nem mesmo a maioria dos poucos evangélicos que defendem a errônea doutrina de que “uma vez salvo, salvo para sempre”, crê na possibilidade de alguém se salvar vivendo desregradamente. Antes, prega que quem tem uma real experiência com Deus, jamais volta à velha vida na qual vivera antes da conversão à genuína fé cristã. Essa crença, embora errada, não confere aos nossos oponentes o direito de alardearem que pregamos que os que vivem dissolutamente, também se salvarão, conquanto creiam que Jesus existe. Realmente pregamos que “é suficiente ter fé nos méritos do Salvador”, mas Bettencourt “esqueceu” de informar aos seus leitores que os evangélicos não entendem por “fé nos méritos do Salvador” uma simples crença na existência de Jesus, mas sim, o arrependimento dos pecados e a conversão ao Cristianismo autêntico. Ademais, não creio que seja “desnecessário e impossível querer purificar-se dos resquícios de nossas culpas”, visto que os que empreendem isso à base do sangue de Jesus, não serão malogrados. Apenas observamos que enquanto estivermos neste corpo maculado pelo pecado original, teremos uma purificação 100% de direito e parcialmente de fato. E que só seremos 100% santos de fato, após partirmos desta vida. Realmente, não alimentamos a falsa esperança de sermos perfeitos no aquém-Céu, nem cremos que o fato de sermos imperfeitos, nos renda uma temporada no tal de purgatório, visto que a perfeição de direito que nos é conferida pela fé nos méritos do Salvador, é suficiente para nos habilitar ao ingresso no Céu, sem o auxílio de qualquer outro expediente. A questão é que embora todos os salvos lutem com todas as suas forças para serem perfeitos de fato, sabemos que: a) não vamos conseguir isso enquanto estivermos no aquém-Céu; b) não seremos, por isso, condenados ao Inferno, visto que a salvação dos que assim lutam, deriva dos méritos que o nosso Salvador angariou na cruz para todos os que de coração se convertem a Ele, e não disso ou daquilo outro que possamos realizar. Em outras palavras: Lutamos __ e com algum êxito __ para sermos santos de fato, mas sabemos que ainda não chegamos a tanto, e que, por ora, o somos mais de direito do que de fato. A santidade que nós, os cristãos, já desfrutamos nesta vida, é mais legal do que prática; e c) além de nossas imperfeições __ comuns até aos mais santos dos cristãos (1Jo 1.8,10) __ não nos condenarem ao Inferno, a nossa jornada rumo ao Céu não será via purgatório, visto que a cruz de Cristo dá plena satisfação à justiça divina (Lc 23.43; Rm 8.1). O Calvário é desagravo eficaz e eficiente.
       Quando o pecador se converte a Cristo, recebe uma carteira de santo (Sl 16.3; 116.15; 1Co 1.2; Jd 3), que precisa ser honrada, sob pena de a mesma lhe ser cassada. E, se a dita carteira lhe for cassada, ele será condenado. Porém, se honrarmos nossa carteira, fazendo o que se espera dos verdadeiros cristãos, entraremos na Cidade Santa pelas portas (Ap 22.14). Mas não se pode esquecer que a posse da carteira de santo, não nos faz santos de fato, e sim, de direito. Logo, não temos dignidade própria, mas apenas méritos decorrentes da cruz do Senhor, dos quais tomamos posse pela fé viva.
       Chamo de “méritos decorrentes da cruz do Senhor” a santificação forense, que nos é concedida mediante o pagamento que Jesus efetuou na cruz. Esta é a justiça superior à dos escribas e fariseus (Mt 5.20), e sem ela não há salvação, visto que ela é a própria salvação. Ela é instantânea, existe mais de direito do que de fato, e precede a santificação prática. Esta é progressiva (ou pelo menos deve ser), depende de nossos esforços, e não possui nenhum valor salvífico. Contudo, os que a negligenciam perdem a carteira de santo emitida por Cristo à base da cruz, e, por conseguinte, se desqualificam ao convívio no Reino de Deus.
       A transformação do nosso corpo abatido, objetivando torná-lo conforme o corpo glorioso de Cristo é a depuração que eliminará de nosso ser a natureza pecaminosa hereditária que nos persegue e nos afeta desde o Éden (Fp 3.21). Este expurgo purificador só será concedido aos que, ainda nesta vida, tomarem posse da carteira de santo e honrá-la até à morte.

5.5. Recapitulando

       Vimos, enquanto estudávamos as lições 1 e 2, que Deus não perdoou os pecados dos verdadeiros cristãos, mas sim, que, punindo-os em Sua própria Pessoa, nos isentou de sofrermos as consequências dos mesmos; vimos na lição 3, os passos que conduzem à salvação, e os passos subsequentes à salvação, dos quais, um é o passo que nos mantém salvos; e vimos ainda, na lição 4, o que é e o que não é o novo nascimento. E, depois de tudo isso, fica mais que claro que a “soteriologia” católica (muito bem retratada por Cechinato), embora sorrateiramente, nega a graça que emana da cruz de Cristo. No Catolicismo, o sangue de Cristo, embora visto como necessário, não é considerado como suficiente. E isso é negar o Cristianismo. Pregar salvação pelas obras, ainda que somadas à fé, é, sim, heresia de perdição. Uma “fé” somada às obras, intuindo a salvação, como a exibida por Cechinato, é fé morta. E, como bem o disse Tiago, esse tipo de “fé” não produz salvação. Ou seja, esse tipo de “fé” não produz a real salvação, mas sim, uma ilusão, que, por sua vez, não redunda na produção das obras próprias dos santos, obras estas que agradam a Deus. Logo, certamente está claro ao leitor, que quando sustento que o valor salvífico das obras é zero, não estou querendo dizer que as obras não têm valor; antes, mostro em que consiste a sua importância. O valor das obras é inestimável. O que elas não possuem é valor salvífico, ou seja, elas, além de não nos salvar, nem sequer ajudam na nossa salvação. Os salvos que as fazem serão retribuídos proporcionalmente, e os perdidos que as fazem objetivando se salvar com isso, condenam-se, por isso, mais ainda, já que sobre todos os seus pecados, acrescentam o de subestimar o sangue de Jesus. As obras que agradam a Deus, são aquelas que fluem dos salvos, visando a glória Daquele que já os salvou; e as que O desagradam, são as que os perdidos produzem, no intuito de O propiciarem com esse “trapo da imundícia” (Is 64.6).
CONCLUSÃO
       O clero católico só conhece a justiça dos escribas e fariseus (Mt 5.20), a qual não poderá salvá-los. Nós, porém, conhecemos a que emana da cruz de Cristo, mais eficaz e mais eficiente, e, por isso mesmo, muito melhor. Que o nosso Deus os livre desse engodo antes que seja tarde demais!



LIÇÃO 6

 

SOTERIOLOGIA CATÓLICA  II



INTRODUÇÃO
       Considero de grande valia conhecer previamente as crendices daqueles que queremos ganhar para Jesus. É esse conhecimento que nos possibilita elaborar uma refutação inteligente. A presente lição visa, pois, fornecer este conhecimento. E, como na Lição 5, aqui voltamos a discorrer sobre a soteriologia católica. Espero que a presente lição, que é o cumprimento do que prometi Lição 5, seja mais uma ferramenta a ser usada pelo Espírito Santo, para socorrer as vítimas da falsa soterilogia católica. E por que penso assim: A resposta é que uma soteriologia errada produz uma salvação ilusória, conduzindo as vítimas de tal engodo para onde, certamente, não querem ir: o Inferno.

6.1. Dissertando sobre a eficácia do perdão

      Tanto os católicos, quanto os evangélicos, pregam que existe o Inferno, de cuja miséria os que morrem perdidos nunca sairão. Semelhantemente, ambos aspiram morar no Céu. Mas, sobre como ir para o Céu, há divergência entre católicos e protestantes. Os evangélicos creem que os que morrem com todos os pecados perdoados, vão, na hora, para o Paraíso Celestial. Já a Igreja Católica ensina que não basta estarmos perdoados por Deus para entrarmos no Céu. Segundo ela, o perdão dos pecados não anula a sentença, mas tão-somente diminui a pena; e que, portanto, ainda que a pessoa morra com todos os pecados perdoados, não poderá entrar no Céu sem que antes cumpra a pena devida pelos pecados já perdoados. Ele prega, pois, que os que morrem na graça e na amizade de Deus (ou seja, com, pelo menos, todos os pecados graves perdoados), não entrarão no Céu antes de: 1º) cumprir a pena devida pelos pecados graves já perdoados, caso não a tenham cumprido antes da morte; 2º) expiar seus pecados veniais (ou menores), quer tenham sido ou não, perdoados antes da morte; 3º) purificar-se do prejudicial apego acarretado pelos pecados (veniais e graves) perdoados, tornando-se perfeito. Ela prega que existe a possibilidade do cristão obter a santidade necessária (isto é, tornar-se perfeito) para entrar no Céu, ainda nesta vida. E observa que, caso o perdoado não atinja este objetivo aqui na Terra, passará, após a morte, por um período de purificação (período este que varia de pessoa para pessoa), até cumprir as referidas penas e atingir a perfeição. Somente depois de alcançar estes alvos, é que o perdoado se habilitará a desfrutar da bem-aventurança eterna, isto é, só então sairá do estado de purificação póstuma, chamado purgatório, e entrará no Paraíso Celestial.
      Ainda diferentemente dos evangélicos, a Igreja Católica proclama também que ela dispõe de um expediente chamado indulgência. Há, segundo ela, dois tipos de indulgências: a indulgência parcial, que diminui a pena que o perdoado tem de cumprir antes de entrar no Céu; e a indulgência plenária, que elimina todas as marcas deixadas pelos pecados perdoados. Portanto, caso o perdoado morra imediatamente após receber uma indulgência plenária, não terá - segundo os clérigos católicos - que cumprir (no que diz respeito aos pecados perdoados e indulgenciados) nenhuma pena no além-túmulo; podendo, portanto, ir direto para o Paraíso Celestial, se é que também já tenha se tornado perfeito. Porém, aquele que, mesmo tendo morrido com todos os pecados graves e veniais perdoados, mas sem cumprir a supracitada pena (ou sem uma indulgência plenária), e sobretudo, sem atingir a perfeição, permanecerá sofrendo por um tempo no purgatório, até dar plena satisfação à justiça divinas e tornar-se perfeito. E, enquanto as almas dos perdoados falecidos estiverem purgando suas imperfeições no além, os vivos podem participar da diminuição do seu tempo de espera no purgatório, fazendo na intenção delas diversos sufrágios, a título de indulgências, como, por exemplo, esmolas, rezas e principalmente o chamado sacrifício eucarístico, isto é, as Missas, isto é, o ato de comer a hóstia. É oportuno registrar aqui, que a própria alma sofredora no purgatória, pode, de acordo com a Igreja Católica, não só sofrer a título de expiação dos seus pecados, mas também fazer a boa obra de rezar pelos que ainda estamos neste mundo. E é, pois, sofrendo, bem como fazendo boa obra no além-túmulo, que, finalmente, as almas dos perdoados que sofrem no purgatório, mais cedo ou mais tarde, se quitarão para com a justiça divina e se habilitarão à bem-aventurança eterna no Céu.

6.2. Veja as provas

      As cópias abaixo têm por objetivo provar que as declarações acima, referentes à posição católica sobre como ir para o Céu, não são calúnias.

Primeira prova:“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados ...
“A indulgência é parcial ou plenária ...
“O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado...
... “todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado purgatório” “As indulgências podem aplicar-se aos vivos e aos defuntos” (Catecismo da Igreja Católica. Petrópolis: Editora Vozes.  pp. 406 a 407. Grifo nosso);
“Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico...” (Catecismo da Igreja Católica. Op. cit., p. 291).

Segunda prova: “A Igreja recomenda também as esmolas... em favor dos defuntos” (Ibid., p. 291).

Terceira prova: “O pecado, mesmo que você se confesse, ou se arrependa, sempre deixa uma marca, e a indulgência é isso: tirar essa marca” (Padre Marcelo Rossi, jornal O Globo, 02 /01/2000);

Quarta prova: “... Para obter a indulgência... o fiel necessita antes se confessar e ser sacramentalmente absolvido...” (Ibid., Bispo Dom Fernando);

Quinta prova: "Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu" (Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 290);

Sexta prova: “Se alguém disser que, depois de receber a graça da justificação, a culpa é perdoada ao pecador penitente e que é destruída a penalidade da punição eterna e que nenhuma punição fica para ser paga ou neste mundo, ou no futuro, antes do livre acesso ao reino ser aberto, seja anátema” Seção VI” (Concílio de Trento, Seção VI, citado por OLIVEIRA, Raimundo F. de. Seitas e Heresias, um Sinal dos Tempos. Rio de Janeiro: CPAD, 9 ed. 1994, p. 25);

Sétima prova: “O escritor católico Mazzarelli”, [fez menção ao que ele chamou de] “pecados mortais absolvidos, mas não plenamente expiados” (Ibid., p. 23. Grifo nosso);

Oitava prova: O Papa Pio IV disse que vão para o purgatório as seguintes pessoas: 1) “os que morrem culpados de pecados menores, que costumamos chamar veniais, [...] sem que se tenham arrependido dessas faltas ordinárias [...]”; 2) “Os que, tendo sido [...] culpados de pecados maiores, não deram plena satisfação deles à justiça divina (A Base da Doutrina Católica Contida na Profissão da Fé)” (Ibid., grifo nosso). Observação: Morrer sem dar “plena satisfaçados pecados maiores (isto é, pecados graves, segundo a fé católica) “à justiça divina”, equivale a dizer (de acordo com o Catolicismo) que a pessoa morreu perdoada de tais pecados graves, mas, ou sem cumprir a pena devida pelos pecados já perdoados, ou sem uma indulgência planária; e, sobretudo, antes de se tornar perfeita. Esta conclusão é óbvia, pois já provamos que os Padres também pregam que o Inferno existe, e que os que morrem sem estar de posse do perdão de seus pecados graves, não vão para o Céu (nem mesmo via purgatório), e sim, para o Inferno. Sim, provamos isso, pois na Primeira prova acima consta que o Catecismo da Igreja Católica fala das “penas eternas do pecado” (Grifo nosso). E, como se não bastassem as provas acima, notifico que o referido Catecismo da Igreja Católica sustenta que “O Pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos torna incapazes da vida eterna; esta privação se chama ‘pena eterna’ do pecado” (Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 406. Grifo nosso). Ora, por “pena eterna do pecado” deve-se entender o tormento eterno no Inferno.

Nona prova: “Purgatório [...]. Lugar de purificação das almas dos justos antes de admitidas na bem-aventurança” (Novo Dicionário Aurélio. Grifo nosso). Logo, não é qualquer um que vai para o purgatório. Lá é, segundo o dicionarista Aurélio, lugar de justos. E, quanto a isso, ele não está equivocado, visto que, de fato, o clero católico não prega que a ida para o Inferno também seja via purgatório.
(Observação: Embora o Dr. Aurélio defina a palavra “purgatório” como sendo um lugar, no catolicismo este vocábulo designa antes o estado (não o lugar) no qual estão os que, no além-túmulo, se depuram para, após isso, entrarem no Céu. Em outras palavras: Segundo a teologia católica, “purgatório” não é o nome do lugar para onde vão os católicos que morrem antes de atingir a perfeição, e sim, o estado espiritual dos que, no além, aguardam, em sofrimento, pelo ditoso momento em que sairão da penosa depuração para, então, ingressarem na bem-aventurança eterna do Céu;

Décima prova: O Padre Euzébio Tintori definiu o purgatório assim: “[...] estado médio das almas, sofrendo por certo tempo em expiação dos seus pecados [...]” (Novo Testamento católico, traduzido pelo Monsenhor Vicente Zioni, editado pela Pia Sociedade de São Paulo, em 1950, e comentado pelo Padre Euzébio Tintori, página 418, grifo nosso);

Undécima prova: Dissemos há pouco que, segundo a Igreja Católica, só vão para o Céu, sem passar por uma purificação póstuma no suposto purgatório, os que, ainda nesta vida, conseguem se tornar perfeitos. E agora, veja, nada menos que cinco exemplos que comprovam isso cabalmente:

A) “[...] se alguém morre [...] portador de resquícios do pecado, como são as impaciências, as maledicências, as omissões [...], essa pessoa poderá ver Deus face a face? [...]. A lógica nos diz que não; [...]. [...] é possível extinguir toda raiz do pecado existente em nós? [...] Respondemos que sim; é possível e necessário. É o próprio São João quem no-lo diz em 1Jo 3, 2s [...]: ‘E todo aquele que nele põe esta esperança, torna-se puro como ele é puro’. [...] o sermão da montanha (Mt 5-7) nos incita a procurar sempre mais a perfeição, dizendo até: ‘Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 48). [...] ‘E se o cristão não conseguir erradicar toda raiz de pecado até a hora da passagem para a outra vida, que acontecerá?’ [...] Deus, em sua misericórdia, concederá uma chance póstuma de purificação, que é precisamente chamada ‘o purgatório’ ” (BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Católicos Perguntam. Santo André: O Mensageiro de Santo Antônio. 2004, pp. 139-141);

B) “Nossa oração pelos mortos [...] tem em vista aqueles que partiram convertidos ao Senhor, mas ainda carregados de certas incoerências ou impurezas (caso que, aliás, parece ser bastante frequente)” (BETTENCOURTT, Estêvão Tavares. Católicos Perguntam. Op. cit., p. 141. Grifo nosso). Claro que sim, senhor Bettencourt, bastante frequente, e nunca foi diferente, pois “todos tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3.2), não é mesmo? Quem não peca, não é, senhor Estêvão? E o Padre Estêvão, quanto à sua crença na possibilidade de alcançarmos a perfeição ainda nesta vida, e, por conseguinte, sermos dispensados da purificação póstuma no purgatório, não está só, pois é ombreado pelo alto clero católico. Eis as provas:

a) “Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, não subsistindo mais nenhuma pena” (Catecismo da Igreja Católica, p. 406, op. cit.). Sim, “mais nenhuma pena”, visto que (segundo a Igreja Católica), ao atingir esse patamar, o perdoado já terá cumprido-a assim: 1) através de boas obras e/ou sofrimentos suportados pacientemente; 2) através de uma indulgência parcial, mais boas obras e/ou sofrimentos suportados pacientemente; 3) através de uma indulgência plenária. E, além de tudo, ter-se á também atingido a perfeição;

b) “Com a nossa autoridade apostólica definimos que, segundo a disposição geral de Deus, as almas de todos os santos mortos antes da Paixão de Cristo (...) e de todos os fiéis mortos depois de receberem o Santo Batismo de Cristo, nos quais não houve nada a purificar quando morreram (...) ou ainda, se houve ou há algo a purificar, quando, depois de sua morte, tiverem acabado de fazê-lo, (...) antes mesmo da ressurreição nos seus corpos e do juízo geral, e isto desde a ascensão do Senhor e Salvador Jesus Cristo ao céu, estiveram, estão e estarão no Céu, no Reino dos Céus e no paraíso celeste com Cristo.” (Catecismo da Igreja Católica, p. 288, # 1.023, grifo nosso);

c) Os famosos pesquisadores e apologistas evangélicos, John Ankerberg e John Weldon, transcreveram de um catecismo católico, em inglês, o seguinte: “qualquer pessoa que seja algo menos que perfeita deve ser primeiro purificada antes que tenha direito ao céu” (ANKERBERG, John; WELDON,  John. Os Fatos Sobre o Catolicismo Romano. Porto Alegre: Chamada da Meia-Noite, 1993, p. 42).

Duodécima prova: Eu disse acima que, segundo o clero católico, as almas que sofrem no suposto purgatório em expiação dos pecados, podem, somar a esse imaginário sofrimento “remidor”, a boa obra de rezar pelos vivos. E agora, vamos à prova: “[...] o Papa Leão XIII [...] aprovou uma oração que pede às almas do purgatório que roguem pelo Papa, pela exaltação da Santa Igreja e pela paz das nações [...]. Podemos, pois, dirigir-nos às almas do purgatório” (Católicos Perguntam. Op. cit., p. 165).
                                                                                 ***
       Parece-me que deveras provei cabalmente tudo quanto afirmei no primeiro tópico desta lição. Com efeito, já demos dois importantes passos: 1) Que há controvérsia entre católicos e protestantes, sobre como ir para o Céu; 2) que, de fato, a Igreja Católica prega que, para entrarmos no Céu, não nos basta o perdão. Está, pois, então, na hora de darmos o terceiro passo, examinando o que os evangélicos dizem em refutação ao parecer católico, acerca da eficácia e eficiência do perdão dos pecados.

6.3. O argumento refutatório dos evangélicos

      Bem, vimos que há controvérsia entre católicos e evangélicos a respeito dos que morrem com todos os pecados perdoados. Diferentemente da Igreja Católica, as igrejas evangélicas pregam que:

a) para entrarmos no Céu, basta-nos o perdão que Deus nos dá;

b) para o pecado perdoado não há pena alguma a ser cumprida, visto que perdão e cumprimento de pena são termos não só antagônicos entre si, mas também mutuamente excludentes, isto é, uma coisa elimina a outra;

c) não é preciso atingir a perfeição nesta vida, para, à morte, irmos direto para o Céu, visto que se isso fosse verdade, ninguém iria direto para o Céu, já que a Bíblia diz que todos nós pecamos (1Jo 5. 8,10; 2Cr 6.36; Tg 3.2). Morrer antes de atingir a perfeição, não é algo apenas “bastante frequente”, como o supõe o Padre Estêvão, mas sim, algo inevitável e comum a todos os humanos. A prova disso, é que não há no planeta Terra, uma só pessoa perfeita;

d) as almas dos verdadeiros cristãos que já partiram desta vida, não estão aguardando maior purificação para, então, adentrarem à presença de Deus, visto que já partiram desta vida cem por cento purificados ou santificados (em termos forenses) mediante o perdão que nos é dado por meio da fé no sangue de Jesus, vertido por nós na cruz. Sim, os tais não eram perfeitos de fato (Fp 3.12a), mas o eram de direito (Fp.3.15a). E, segundo a Bíblia, todos os que partem desta vida, de posse da santificação de direito, recebem, na hora do desenlace, a santificação de fato, por cujo motivo ingressam no Paraíso no mesmo dia (Lc 23.43);

e) realmente, só os perfeitos podem entrar no Céu, mas na hora em que Cristo voltar para nos arrebatar ao Céu (Jo 14. 1-3; 1Ts 4.13-17), ou quando morrermos, o Espírito Santo eliminará de nosso ser a natureza pecaminosa, também chamada de pecado original (Rm 8.11; Fp 3.21; Ap 14.13; 1Co 15. 51,52). E é essa depuração futura, que será tão instantãnea quanto o é hoje o perdão, que nos habilitará a vermos a Deus face a face, tão logo partamos daqui, quer através da morte, quer através do arrebatamento da Igreja. Sim, todo aquele que está de posse do perdão de seus pecados, está pronto para entrar no Paraíso Celestial, tão logo morra, ou tão logo Cristo venha nos arrebatar ao Céu. Assim como, no dia do arrebatamento da Igreja, os cristãos não irão para uma sala de espera, para ali purgar suas imperfeições, mas prontamente subirão ao Céu, de igual modo, quando morre um servo de Deus, sua alma voa direto para o Paraíso Celestial. Quem não crê nisso, não crê no Evangelho; quem não prega isso, não prega o Evangelho; quem nega isso, nega o Evangelho; e quem, embora pregando algo diferente disso, alega estar pregando o Evangelho, está mesmo, é vendendo gato por lebre, isto é, falsificando o Evangelho.
       No dia do arrebatamento da Igreja, todos os que então forem perfeitos de direito (isto é, salvos, perdoados, resgatados ... pelo sangue de Jesus), tornar-se-ão perfeitos de fato, “num momento, num abrir e fechar de olhos” (1Co 15.51,52), e, deste modo, habilitados ao ingresso no Céu. Somos credenciados (ou habilitados) ao ingresso no Céu, mediante o perdão dos pecados, que já é uma realidade presente (Rm 8.1), e qualificados pela transformação futura (Fp 3.21). O perdão nos faz perfeitos de direito, e a transformação nos fará perfeitos de fato. E, deste modo, entraremos no Céu de cabeça erguida. Essa transformação depuradora, que no futuro será concedida ao nosso ser, já é, no presente, concedida às almas que partem dessa vida, no ato do desenlace (Lc 23.43);

f) não existe esse negócio de pena devida pelos pecados já perdoados, indulgência parcial, indulgência plenária, tornar-se perfeito ainda nesta vida, purgatório, missas e esmolas pelos que padecem no purgatório, etc. O purgatório do verdadeiro cristão é o sangue de Jesus. Mas em que se baseiam os evangélicos para crerem assim? A resposta é: Na Bíblia. Veja estes exemplos: Romanos 8:1: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...”; 2 Coríntios 5: 17: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”; Lucas 23: 43: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Comentando este último versículo, nós, os evangélicos, dizemos que o fato de o ladrão neste texto mencionado, não necessitar de purgatório e indulgência para se salvar, podendo ir para o Paraíso naquele mesmo dia, prova cabalmente que para entrarmos no Céu, basta-nos o perdão que Deus nos oferece em Cristo, visto que o restante é da competência do próprio Cristo. Os perdoados sofrem, sem dúvida, as consequências físicas do pecado, tanto do pecado original, como das culpas pessoais: doenças, envelhecimento, morte, danos patrimoniais e morais, etc., como ocorreu a Davi, o qual, mesmo estando perdoado, amargurou inúmeros sofrimentos neste mundo; ou, ainda, como ocorreu aos apóstolos, os quais, mesmo estando perdoados por Deus, continuaram sujeitos às mazelas já citadas: envelhecimento, doenças, morte ... Mas tão logo morre um perdoado, a sua alma voa imediatamente ao Paraíso Celestial.
       Assim como no dia da vinda de Jesus para arrebatar a Igreja, os verdadeiros cristãos subirão ao encontro do Senhor a fim de estarem para sempre com Ele (Jo 14.1-3; 1Ts 4.17), sem terem que passar por esse tal de purgatório, também quando morre um servo de Deus, sua alma vai imediatamente para o Paraíso Celestial. Quem nega isso, nega o Evangelho.
       Por mais que soframos as consequências dos nossos pecados, jamais nos quitaremos para com a justiça divina, mediante esse recurso. Esse expediente não resolve o nosso problema ocasionado pelo pecado, nem tampouco auxilia na solução do mesmo. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele”, é o que consta de Is 53.5 (Grifo nosso). Isto significa que: a) a paz, isto é, a reconciliação com Deus, está estreitamente relacionada a um castigo; b) Cristo suportou tal castigo na íntegra __ Ele suportou “o” castigo, e não “parte do” castigo; c) e é com tal sofrimento até a morte, que Ele nos quita para com a justiça divina, nos inocenta perante o fórum celestial e, por conseguinte, nos salva. Já que “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele”, e Ele já o suportou, é incoerência pregar que sofreremos parte desse castigo no além.
       Ilustrando: Imaginemos que antes do homem pecar, sua alma era verde. Que, ao pecar, ela se tornou vermelha. Vamos supor que para reaver a comunhão com Deus, o homem necessite voltar a ter a alma verde. Suponhamos ainda, que a Bíblia diga que no ato da conversão, os pecados são perdoados, o que devolve a cor verde à alma do pecador, reabilitando-o assim à comunhão com Deus e, por conseguinte, qualificando-o e credenciando-o ao Céu neste exato momento. Ora, este homem da alma tornada verde, certamente tem muito que fazer por ter alma verde, mas nada a fazer para se habilitar ao Céu, visto que a condição para tanto, é ter alma verde, e isso ele já possui. Logo, a sua alma será verde antes e depois do batismo; antes e depois da primeira Santa Ceia; antes e depois do primeiro jejum; antes e depois da primeira esmola; e assim sucessivamente. Portanto, todas estas ações não terão por objetivo torná-lo apto (nem tampouco mais apto) ao Céu, visto que a condição exigida, que no caso seria a cor verde, ele já estaria satisfazendo desde o momento da conversão, quando então recobrou a cor verde. Até porque, segundo apresente ilustração, ao se converter ele não se tornou quase verde, e sim, verde.
       Repito o que eu disse na lição anterior, a saber, que a Igreja Católica carece de uma reforma quase total, mas principalmente na questão soteriológica. Essa falsa soteriologia é a mãe das demais heresias dessa seita, visto que onde falta a salvação, não deve causar estranheza a falta dos demais tesouros, assim como a presença de todos os males.
                                                        ***
      Leitor, não sei se você diverge dos evangélicos sobre o perdão. Porém, seja como for, o seu ponto de vista tem que ser respeitado. Apenas sugiro, se você me permite, que você estude a Bíblia e apoie sua opinião nela. E se você já estudou a Bíblia, e concluiu em sua mente que realmente o perdão que Deus nos oferece nos habilita ao Céu na hora, saiba que então você não é católico. E talvez você até seja evangélico e não saiba. Em caso positivo, não viva mais como um peixe fora d’água. Procure o seu grupo! Una-se a nós! Vamos juntos adorar a Deus! Talvez você pense assim: “Os evangélicos também erram”. É verdade. Mas certamente a nossa união vai nos fazer muito bem. É que, apesar de nós e você não sermos perfeitos, temos a mesma opinião a respeito do perdão dos pecados. Não somos perfeitos, mas somos membros da Igreja de Cristo. E precisamos usufruir dessa simpatia de ideias. Isto também é bíblico (Hb 10.25; Mt 21.13; Sl 122; 133).
      Convenhamos que uma instituição que nega a totalidade e instantaneidade do perdão, bem como a sua eficiente eficácia e eficiência, não é uma igreja errada, nem tampouco uma igreja certa; ela simplesmente não é Igreja. Portanto, não compre mais gato por lebre. Torne-se um membro da Igreja de Cristo. Muitas das arapucas de Satã se fazem passar por igrejas de Cristo; mas, como o diabo não consegue esconder o rabo, é possível desvencilharmos de seus enganos.
      Finalizando, opino, com a sua devida permissão, o seguinte: Abra uma Bíblia e leia os seguintes versículos: (Gálatas 1. 8; João 8.24; 14.6; Atos 4.12). Não confie cegamente em homem algum, mas leia a Bíblia, e siga-a.

                                                ***

EPÍLOGO

       Creio que estou contribuindo para a glória de Deus, edificação da Igreja (tanto quantitativa, quanto qualitativamente) e subsequente derrota do poder das trevas.
       Empreendi trazer mais luz sobre um assunto que merece toda a nossa atenção: salvação. E, esteja certo, o presente tema não foi esgotado nestas páginas. Espero que Deus nos dê novas inspirações, bem como use outros para darem continuidade a este trabalho, para que os perdidos alcancem a salvação, e os salvos, além de não voltarem à perdição, se habilitem a socorrer os que não confiam no sangue de Cristo, bem como aqueles que, embora já depositem relativa confiança no sacrifício de Jesus, ainda se põem ao lado das obras, como se a cruz de Cristo necessitasse de coadjuvante. Estes precisam entender urgente, que a cruz de Cristo só funciona na vida dos que a ela não somam seus esforços e invencionices.
       Só Cristo salva!
                                                                     Pr. Joel Santana



Neste livro, provo que quando compreendemos com profundidade o Plano de Salvação do qual trata a Bíblia, chegamos à conclusão de que Deus não perdoa pecado. E é deste entendimento que decorre a verdadeira compreensão do porquê da morte de Cristo.
Eu consigo perdoar aos meus ofensores sem ter que morrer numa cruz. Pergunto, pois: Por que Jesus não fez o mesmo? A resposta é que Deus, por ser justo, não pode deixar de punir o pecado. A crucificação de Cristo se deu então pela seguinte razão: O Deus que lavrou a nossa sentença por ser justo, cumpriu a pena em nosso lugar por ser amor. Ele não perdoou nossa dívida, mas pagou-a. Ele não perdoou os nossos pecados, mas castigou-os na Sua própria Pessoa. E devemos a nossa salvação exclusivamente a este recurso divino.

1) Analisando a congregação cristã no Brasil; 2) Análise bíblica do catolicismo romano; 3) Análise da “cristologia” dos testemunhas-de-jeová; 4) A teoria da evolução à luz da Bíblia, da Ciência e da razão;
5) A “Virgem” Maria é uma deusa?; 6) Igreja adventista do sétimo dia: que seita é essa?; 7) Igreja messiânica: que seita é essa?; 8) Igreja mórmon: que seita é essa? 9) Os testemunhas-de-jeová e a grande multidão; 10) O culto a Maria à luz da Bíblia e da história; 11) O espiritismo kardecista e suas incoerências; 12); Pode um cristão ser maçom?; 13) Sinopse escatológica em ordem cronológica; 14) Só 144.000 vão morar no céu?; 15) Transfusão de sangue não é pecado.

DADOS DO AUTOR
       O autor pertence à assembleia de Deus de Angra dos Reis/RJ e colou os seguintes graus de teólogo: 1) Bacharelado (livre), 2) Bacharelado (mequiano), e 3) Mestre honoris Causa. Ademais, é acadêmico de letras; conferencista (tendo, pois, conferenciado no Brasil e no exterior sobre diversos temas: Apologética, Escatologia, Evangelismo e Discipulado, Soteriologia, Cristologia, Questões Familiares, etc.); Professor de Teologia Sistemática, História Eclesiástica, Apologética e Hermenêutica; e pregador em cruzadas evangelísticas.